Simoni Privato
Goidanich:
“O Espiritismo é
um diamante
que não deve ser
fragmentado”
A autora da
série
Mediunidade e
Espiritismo,
que vem sendo
apresentada no
canal
TheEstudiosEspiritas
do Youtube, fala
sobre sua
iniciação no
Espiritismo e
conta como vai o
movimento
espírita no
Uruguai, onde
atualmente
reside
|
Vencendo os
preconceitos da
própria família
e de muitas
pessoas com quem
conviveu ao
longo de sua
vida como
trabalhadora
espírita, Simoni
Privato
Goidanich
(foto),
natural de São
Paulo, capital
do Estado de São
Paulo, não mede
esforços para
não se deixar
abater e
defender suas
convicções.
Vivendo no
exterior desde
1999, atualmente
no Uruguai,
sempre trabalhou
arduamente na
seara espírita
em todos os
países pelos
quais passou,
como conta na
entrevista a
seguir:
Onde você mora
atualmente?
|
Resido em
Montevidéu,
capital do
Uruguai.
|
Por que, havendo
nascido no
Brasil, você
reside no
Uruguai?
Meu marido e eu
somos diplomatas
de carreira.
Desde 1999
residimos no
exterior em
função de nosso
trabalho
profissional. Já
moramos nos
Estados Unidos,
no Equador e,
por duas vezes,
no Uruguai, país
ao qual voltamos
no início de
agosto de 2010.
Qual a sua
formação
escolar?
Graduei-me em
Direito pela
Universidade de
São Paulo, onde
também obtive o
Mestrado em
Direito
Internacional.
Posteriormente,
concluí o Curso
de Preparação
para a Carreira
de Diplomata do
Instituto Rio
Branco do
Ministério das
Relações
Exteriores e
realizei um
curso de
extensão
universitária na
área de Governo
na Harvard
University, em
Cambridge,
Estados Unidos.
Que cargos você
já exerceu no
movimento
espírita?
Fui membro
fundador da
Bezerra de
Menezes
Spiritist
Society, de
Maryland,
Estados Unidos;
do Grupo
Espírita Caridad
de Montevideo,
Uruguai; do
Centro de
Estudios
Espíritas Allan
Kardec de Quito,
Equador; do
Núcleo de
Divulgación
Espírita Clara
de Asís de Lima,
Peru; do Grupo
Virtual de
Estudios
Espíritas en
Español.
Qual é, no
momento, a sua
atividade?
Tenho a
felicidade de
ser trabalhadora
espírita. Essa é
a posição a que
sempre aspirei
no movimento
espírita, onde
quer que eu
esteja
residindo.
Atualmente
trabalho no
Grupo Espírita
Caridad de
Montevideo, além
de dedicar-me a
pesquisas e a
estudos
doutrinários,
que já
resultaram em
cinco livros
espíritas
publicados em
espanhol. Também
ministro
seminários e
conferências,
que me permitem
intenso
intercâmbio de
conhecimentos e
experiências com
irmãos espíritas
de vários países
e me têm ajudado
muito nessas
pesquisas
doutrinárias. Em
janeiro de 2011,
por ocasião da
celebração dos
150 anos da
publicação de
O Livro dos
Médiuns,
iniciei uma
tarefa com
vídeos espíritas
apresentados no
idioma espanhol.
Quando você teve
seu primeiro
contacto com o
Espiritismo?
Desde criança
tinha grande
interesse em
conhecer o
Espiritismo. Via
Espíritos,
recebia
intuições sobre
Allan Kardec,
mas cresci em um
meio católico.
Assim, na
presente
encarnação,
somente pude ter
o primeiro
contacto com o
Espiritismo
quando contava
com 17 anos de
idade. Nessa
ocasião, conheci
os primeiros
espíritas – dois
colegas de
trabalho na
Associação
Paulista de
Medicina.
Pedi-lhes que me
informassem
sobre o
Espiritismo e,
por intermédio
deles, fui à
Federação
Espírita do
Estado de São
Paulo. Assisti a
uma palestra
pública e, no
dia seguinte,
matriculei-me no
curso oferecido
por essa
instituição,
onde estudei até
minha
transferência
para Brasília,
em função de
minha aprovação
no concurso para
a carreira
diplomática.
Embora somente
tenha entrado em
contacto com o
Espiritismo na
juventude, posso
dizer, com toda
a franqueza, que
sempre fui
espírita. E
sempre o serei.
Houve algum fato
ou circunstância
especial que
haja propiciado
esse contacto?
Como sabemos,
não há
casualidade, mas
sim causalidade.
Desde que
comecei a
trabalhar na
Associação
Paulista de
Medicina, senti
afinidade
especial por
esses dois
colegas
espíritas. Era
realmente uma
afinidade
espiritual. Eu
era bem jovem e,
ambos, muito
mais velhos: um
deles contava
com mais de 80
anos de idade
naquela época.
Certamente, esse
encontro já
estava previsto
em minha
programação
reencarnatória.
Evidentemente,
desejaria ter
tido a
oportunidade de
estudar o
Espiritismo,
frequentar um
centro espírita
e realizar
tarefas
doutrinárias
muito antes. Mas
tudo tem sua
hora certa para
ocorrer.
Qual foi a
reação de sua
família ante sua
adesão ao
Espiritismo?
Minha mãe foi
educada para
temer o
Espiritismo. Se
ela caminhava
por uma calçada
onde havia um
centro espírita,
atravessava a
rua com medo.
Naquela época, o
único espírita
da família havia
sido um tio-avô
desencarnado,
que não cheguei
a conhecer.
Apesar de ser
muito querido
por seus
parentes mais
próximos e
reconhecidamente
uma boa pessoa,
foi vítima de
preconceito,
chegando a ser
considerado como
alguém estranho,
que poderia não
estar em seu
juízo perfeito.
Minha família
não se opôs à
minha convicção
espírita, porque
sentia que a
oposição não me
faria desistir
do Espiritismo.
Simplesmente não
me incentivou.
Mas aqueles que
me conhecem
sabem muito bem
que não me
importo com o
que pensem de
minha convicção
espírita, seja
quem for, e que
o incentivo de
que necessitamos
provém de nossa
consciência
tranquila pelo
cumprimento do
dever. Até hoje,
vinte e cinco
anos depois,
dependendo de
onde estou e do
tipo de pessoa
com quem tenho
contacto, passo
por bruxa ou
louca. Já ouvi
da boca de
pessoas
intelectualizadas
comentários
sarcásticos
relacionados com
minha convicção
espírita. No
entanto,
sinceramente,
isso não me
afeta. Sei que o
Espiritismo será
uma crença
universal: é uma
questão de
tempo. Aqueles
que ainda não
compreendem o
Espiritismo
terão seu
momento para
compreendê-lo.
Pessoalmente,
agradeço a Deus,
do fundo de meu
coração, por já
ter tido a
oportunidade de
conhecer o
Espiritismo e
sou
especialmente
agradecida a
todos os
pioneiros, que
enfrentaram
tantos
preconceitos,
mas que jamais
desanimaram e
legaram-nos esse
tesouro
precioso, que
nos esclarece e
consola.
Dos três
aspectos do
Espiritismo -
ciência,
filosofia,
religião - qual
mais a atrai?
Os três. O
Espiritismo é um
diamante que não
deve ser
fragmentado. Os
três aspectos
inter-
relacionam-se e
complementam-se.
Procuro estudar,
praticar e
divulgar o
Espiritismo,
portanto, em
seus três
aspectos. Às
vezes há uma
compreensão
incompleta do
aspecto
religioso do
Espiritismo. Mas
Allan Kardec foi
bem claro em seu
discurso na
Sociedade
Parisiense de
Estudos
Espíritas de 1°
de novembro de
1868, intitulado
justamente: O
Espiritismo é
uma religião?
Que autores
espíritas mais
lhe agradam?
Em primeiro
lugar, Allan
Kardec. Em
seguida, existem
vários autores
espíritas
admiráveis,
entre eles: Léon
Denis, Bezerra
de Menezes, José
María Fernández
Colavida, Amalia
Domingo Soler,
Emmanuel, André
Luiz, Manoel
Philomeno de
Miranda, Joanna
de Ângelis,
Francisco
Thiesen, Marco
Prisco, Vianna
de Carvalho.
Entre os autores
espíritas
encarnados,
mencionaria:
Suely Caldas
Schubert,
Adilton Pugliese,
Marlene Nobre,
Geraldo Campetti
Sobrinho e a
Equipe do
Projeto Manoel
Philomeno de
Miranda. É uma
lista
exemplificativa
e não exaustiva.
Felizmente, a
humanidade conta
com muitos
autores
espíritas
excelentes. É
impossível citar
todos eles.
Que livros
espíritas que
tenha lido você
considera
indispensáveis
ao confrade
iniciante?
A obra de Allan
Kardec é
indispensável
para todo aquele
que deseja
verdadeiramente
conhecer o
Espiritismo,
seja iniciante
ou não. Há
muitos livros
espíritas
excelentes, mas
nenhum substitui
o estudo das
obras de Allan
Kardec.
Quando e como se
originou o
movimento
espírita no
Uruguai?
Segundo informam
periódicos
espíritas da
época, o
movimento
espírita no
Uruguai
iniciou-se no
século XIX por
influência
europeia,
especialmente do
Kardec espanhol,
José María
Fernández
Colavida.
Atualmente, o
movimento
espírita
uruguaio
encontra-se
organizado por
meio da
Federación
Espírita
Uruguaya, à qual
estão afiliados
dez grupos e
centros
espíritas do
país. O Grupo
Espírita Caridad
de Montevideo
surgiu em 28 de
abril de 2004 e
atualmente
realiza as
seguintes
atividades
principais: dois
grupos de estudo
doutrinário, uma
reunião de
prática da
mediunidade, uma
reunião de
vibrações, um
trabalho de
assistência e
promoção social
espírita, além
do atendimento
fraterno. Fora
essas atividades
regulares,
promove outras
de caráter
específico, como
cursos para a
formação de
trabalhadores
espíritas e
tarefas de
divulgação
doutrinária. O
Grupo Espírita
Caridad de
Montevideo
caracteriza-se
por enfatizar o
estudo
doutrinário,
sobretudo das
obras de Allan
Kardec, e a
prática da
caridade a
encarnados e a
desencarnados.
Como está a
aceitação da
doutrina
espírita no
Uruguai?
Tenho vivido em
vários países,
conhecido
pessoas de
culturas
diversas, que
falam diferentes
idiomas.
Entretanto,
tenho observado
que os desafios
do ser humano
são os mesmos em
qualquer lugar:
a necessidade de
esclarecimento e
de consolo
baseados na fé
racional,
propiciados pelo
Espiritismo. No
entanto, há
irmãos para quem
ainda não chegou
o momento de
desprender-se do
“homem velho” e
existem outros
que permanecem
presos a
preconceitos que
os impedem,
momentaneamente,
de
esclarecer-se.
Entretanto,
acima de tudo,
em qualquer
lugar, a semente
sempre encontra
terreno propício
para germinar,
corações
dispostos a
compreender e a
servir a Jesus,
como revela a
Parábola do
Semeador.
Corresponde-nos
prosseguir
semeando com o
compromisso de
esforçar-nos
para sermos
jardineiros
fiéis.
Como lhe surgiu
a ideia de fazer
os vídeos
Mediunidade
e Espiritismo
- 150 de O
Livro dos
Médiuns?
Durante o
processo de
elaboração de
algumas das
obras que
publicamos, a
Espiritualidade
amiga
mostrou-nos
livros
existentes no
plano espiritual
que, além do
formato escrito,
possibilitam a
projeção do
conteúdo na
forma de uma
espécie de filme
em três
dimensões. Com
base nessas
experiências,
mediante
orientação
espiritual,
passamos a
trabalhar também
com alguns
recursos
audiovisuais. A
série de vídeos
Mediunidade e
Espiritismo
nasceu desse
trabalho.
Escolhemos o
tema em
homenagem aos
150 anos de O
Livro dos
Médiuns para
incentivar ainda
mais seu estudo
e a prática
correta da
mediunidade, assim
como para
divulgar o
Espiritismo para
o público em
geral.
Como é esse
projeto? Quantos
vídeos já foram
feitos e quantos
mais serão
apresentados?
A série
Mediunidade e
Espiritismo
compõe-se de
doze vídeos, que
estão sendo
divulgados de
janeiro a
dezembro de
2011, sempre na
última semana de
cada mês, no
canal
TheEstudiosEspiritas
do Youtube. Eis
o link que
remete o
internauta a
esses vídeos:
http://www.youtube.com/results?search_query=TheEstudiosEspiritas&aq=f
Qual tem sido a
repercussão
desses estudos?
A repercussão
dos vídeos tem
sido excelente,
muito rápida e
ampla. Pouco
mais de um mês
desde sua
divulgação no
Youtube, o
primeiro vídeo,
por exemplo, já
havia sido
reproduzido mais
de 1.000 vezes e
em vários
continentes.
Temos recebido
mensagens de
pessoas de
muitos países.
Isso ressalta a
grande
responsabilidade
que devemos ter
ao realizar esse
tipo de tarefa.
Além de estudar,
temos procurado
sempre orar e
meditar muito.
É necessário
que a mensagem
espírita seja
transmitida
adequadamente
por meio desses
vídeos.
A criminalidade
e a violência
estão crescendo
realmente no
mundo ou a mídia
é que tem dado
um destaque ao
tema maior que o
devido? De
qualquer modo,
como agir para
que a paz se
implante no
planeta?
Sabemos que há
uma tendência em
ressaltar o
aumento da
criminalidade.
Mas não devemos
esquecer que, ao
lado da
violência
retumbante, há
sempre corações
trabalhando pelo
bem, muitas
vezes em
silêncio e
anonimamente.
Tenho observado,
pelo mundo, um
aumento
impressionante
do trabalho de
verdadeiros
missionários do
amor e da paz.
No tocante à
violência
especificamente,
sejamos
instrumentos de
paz, como
recomenda
Francisco de
Assis. Para
isso,
necessitamos
primeiramente
construir a paz
em nós mesmos. A
paz do mundo
começa em nossos
corações.
Sejamos homens e
mulheres de bem,
verdadeiros
espíritas e
assim poderemos
levar a paz a
nossos lares, a
nossos locais de
trabalho, aos
grupos sociais
que
frequentamos.
A preparação do
advento do mundo
de regeneração
em nosso planeta
já deu, como
sabemos, seus
primeiros
passos. Sua
conclusão está
ainda distante?
O tempo
necessário para
o advento do
mundo de
regeneração
depende do que
fazemos a cada
momento. Podemos
antecipar ou
atrasar esse
advento. Depende
de nosso esforço
em favor de
nosso progresso
individual e
geral.
Em face dos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade dos
que dirigem o
movimento
espírita e nele
atuam?
Em minha modesta
opinião, a
prioridade para
todos nós,
dirigentes ou
não, é a
vivência dos
ensinamentos de
Jesus.
Para finalizar,
diga-nos: O que
o Espiritismo
representa para
você? Qual é a
importância que
ele tem em sua
vida?
Paulo de Tarso
afirmou que não
era ele que
vivia, mas sim o
Cristo que vivia
nele. Para mim,
assim deve
ocorrer com o
espírita: o
Espiritismo não
deve ser
simplesmente uma
crença, mas
deve, sim,
incorporar-se
plenamente em
nossas vidas
transformando-nos
em manifestações
constantes dos
ensinamentos que
professamos. Não
posso,
evidentemente,
afirmar o mesmo
que Paulo de
Tarso, mas tenho
isso como meta.
Apesar de minhas
muitas
dificuldades
íntimas,
tenho-me
esforçado para
alcançá-la
futuramente.