MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Ação e Reação
André Luiz
(Parte
5)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo da obra
Ação e Reação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1957 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. As palavras de
consolo e carinho ajudam
o Espírito torturado
pelo remorso?
Sim, mas não são capazes
de apagar a lembrança
dos atos praticados. O
caso Antônio Olímpio é
um exemplo expressivo do
que realmente ocorre.
Seus irmãos, que ele
supunha mortos, se
faziam visíveis à sua
frente e, mesmo depois
dos inúmeros flagelos a
que foi submetido, ele
ainda via o barco que
usou para matá-los e
ouvia seus brados. “Ai
de mim!... estou preso
à terrível embarcação...
sem que me possa
desvencilhar... Quem me
fará dormir ou
morrer?..." Estas
palavras revelam o que
efetivamente acontece em
casos semelhantes.
(Ação e Reação, cap. 3,
pp. 44 e 45.)
B. Onde ficava a região
cujas sombras não
permitiam saber se era
dia ou noite?
Segundo André Luiz,
tratava-se de uma região
encravada nos domínios
do próprio globo
terrestre, submetida,
portanto, às mesmas leis
que regulam o tempo. Um
grande relógio no pátio
em que se encontravam
apontava as horas. Ali
era aguardado um grupo
de Espíritos
recém-desencarnados em
desequilíbrio mental que
seriam assistidos por
servidores da Mansão
Paz.
(Obra citada, cap. 4,
pp. 47 a 49.)
C. Os Espíritos
recém-desligados do
corpo traziam ainda os
sinais das moléstias que
lhes haviam imposto a
desencarnação?
Sim, esse fato é, aliás,
bastante comum. Além
disso, muitos deles,
movidos pelo remorso dos
erros cometidos na
existência recém-finda,
diziam que não queriam
morrer, suplicando para
isso a ajuda dos
servidores da Mansão que
ali se encontravam.
(Obra citada, cap. 4,
pp. 49 e 50.)
Texto para leitura
17. O caso Antônio
Olímpio -
Antônio Olímpio revelou
ali, de forma comovente,
a sua triste história:
"O fogo tortura minhalma
sem consumi-la... É o
remorso, bem sei... Se
eu soubesse, não
teria... cometido a
falta... entretanto, não
pude resistir à
ambição... Depois da
morte de meu pai...
vi-me obrigado... a
partilhar nossa grande
fazenda com meus dois
irmãos mais novos...
Clarindo e Leonel...
Trazia, porém, a
cabeça... dominada de
planos... Pretendia
converter a
propriedade... que eu
administrava... em larga
fonte de renda,
contudo... a partilha me
estorvava... Notei que
os manos... tinham
ideias diferentes das
minhas... e comecei a
maquinar o projeto que
acabei... executando..."
(Uma crise de soluços
embargou-lhe a voz, mas
Druso, amparando-o
magneticamente,
insistiu para que
continuasse.) "Admiti –
prosseguiu a Entidade
enferma – que somente
poderia ser feliz,
aniquilando meus irmãos
e... quando o inventário
estava prestes a
decidir-se, convidei-os
a passear comigo... de
barco... inspecionando
grande lago de nosso
sítio... Antes, porém,
dei-lhes a beber um
licor entorpecente...
Calculei o tempo que a
droga reclamaria para um
efeito seguro e...
quando a nossa
conversação ia acesa...
percebendo-lhes os
sinais de fadiga... num
gesto deliberado
desequilibrei a
embarcação, em conhecido
trecho... onde as águas
eram mais fundas... Ah!
que calamidade
inesquecível!... Ainda
agora, escuto-lhes os
brados arrepiantes de
horror, implorando
socorro... mas... de
nervos dormentes... a
breves minutos...
encontraram a morte...
Nadei de consciência
pesada, mas firme em
meus aloucados
propósitos... abordando
a praia e clamando por
auxílio... Com atitudes
estudadas, pintei um
imaginário acidente...
Foi assim que me apossei
da fazenda inteira,
legando-a, mais tarde, a
Luís... o meu filho
único... Fui um homem
rico e tido por
honesto... O dinheiro
granjeou-me
considerações sociais e
privilégios públicos que
a política distribui
com todos aqueles que se
fazem vencedores no
mundo... pela sagacidade
e pela inteligência...
De quando em quando...
recordava meu crime...
nuvem constante a
sombrear-me a
consciência... mas... em
companhia de Alzira... a
esposa inolvidável...
procurava distrações e
passeios que me tomavam
a atenção..." (Capítulo
3, pp. 43 e 44)
18. Os irmãos se
vingam - Olímpio
prosseguiu sua
narrativa: "Quando meu
filho se fez jovem...
minha mulher adoeceu
gravemente... e da febre
que a devorou por muitas
semanas... passou à
loucura... com a qual se
afogou no lago... numa
noite de horror.
Viúvo... perguntava a
mim mesmo se não estava
sendo joguete... do
fantasma de minhas
vítimas...
entretanto... temia
todas as referências em
torno da morte... e
busquei simplesmente
gozar a fortuna que era
bem minha..." (Fez-se
ligeira pausa.) "Ai
de mim, porém!... –
informou a Entidade. –
Tão logo cerrei os
olhos físicos... diante
do sepulcro... não me
valeram as preces
pagas... porque meus
irmãos que eu supunha
mortos... se fizeram
visíveis à minha
frente... Transformados
em vingadores,
ladearam-me o túmulo...
Atiraram-me o crime em
rosto... cobriram-me de
impropérios e
flagelaram-me sem
compaixão... até que...
talvez... cansados de
me espancarem...
conduziram-me a
tenebrosa furna... onde
fui reduzido ao pesadelo
em que me encontro... Em
meu pensamento... vejo
apenas o barco no
crepúsculo sinistro...
ouvindo os brados de
minhas vítimas... que
soluçam e gargalham
estranhamente... Ai de
mim!... estou preso à
terrível embarcação...
sem que me possa
desvencilhar... Quem me
fará dormir ou
morrer?..." (Aliviado
pela confissão, o doente
arrojou-se a enorme
apatia.) Druso
enxugou-lhe o pranto e
dirigiu-lhe palavras de
consolo e carinho,
recomendando ao
Assistente recolhê-lo em
enfermaria
especializada, quando um
mensageiro avisou que
uma caravana de
recém-desencarnados
estava prestes a chegar
à Mansão. (Capítulo 3,
pp. 44 e 45)
19. A
caravana
- André, logo em
seguida, acompanhou
Druso a um largo recinto
construído à feição de
um pátio inferior de
proporções bem amplas.
Dezenas de entidades em
franca expectativa ali
se encontravam, mas não
havia sinais de alegria
completa em rosto algum.
Os grupos variados
dividiam-se entre a
preocupação e a
tristeza. Num deles,
uma senhora dizia a um
rapaz de semblante
agoniado: "Meu filho,
guarde serenidade.
Segundo informações do
Assistente Cláudio, seu
pai não virá em
condições de
reconhecer-nos.
Precisará muito tempo
para retornar a si".
Druso, porque tinha
obrigações urgentes a
cumprir, confiou André
aos cuidados de Silas,
prometendo reencontrá-lo
no dia seguinte. A
sombra reinante não
permitia saber se era
dia ou noite. Por isso,
o grande relógio ali
existente, com largo
mostrador abrangendo as
vinte e quatro horas,
funcionava aos seus
olhos como a bússola
para o viajante. (O
autor do livro lembra
que se tratava de
região encravada nos
domínios do próprio
globo terrestre,
submetida às mesmas leis
que regulam o tempo.)
Sons de campanas
invisíveis cortavam o
ar, o que indicava,
segundo Silas, que a
caravana penetraria no
recinto em minutos. O
companheiro espiritual
informou que as
entidades prestes a
entrar integravam uma
equipe de 19 pessoas,
acompanhadas por dez
servidores da Mansão,
que lhes orientavam a
excursão. Tratava-se de
recém-desencarnados em
desequilíbrio mental,
mas credores de
imediata assistência,
uma vez que não se
achavam em desesperação,
nem se haviam
comprometido de todo com
as forças dominantes nas
trevas. (Capítulo 4, pp.
47 a 49)
20. A
moça que não queria
morrer
- A caravana se
constituía de
trabalhadores
especializados que, sob
a chefia de um
Atendente, viajavam com
simplicidade, sem carros
de estilo, conduzindo
apenas o material
indispensável à
locomoção no pesado
ambiente das sombras,
auxiliados por alguns
cães inteligentes e
prestimosos. A Mansão
contava com dois grupos
dessa natureza, que se
revezavam no labor
socorrista: diariamente
um deles atingia aquele
pouso de reajuste, mas
não se obedecia a
horário certo para a
chegada, uma vez que a
peregrinação pelos
domínios das trevas
dependia de fatores
circunstanciais. Quando
a caravana chegou,
André observou que os
cooperadores
responsáveis estavam
aparentemente calmos. Os
enfermos recolhidos à
Casa, com exceção dos
que foram conduzidos de
maca, desmemoriados e
dormentes, revelavam,
porém, perturbações
manifestas que, em
alguns, se expressavam
por loucura
desagradável, embora
pacífica. Os cães se
deitaram, extenuados.
Afeiçoados e parentes
dos recém-chegados os
cercavam com expressões
de alegria e sofrimento;
alguns derramavam
lágrimas discretas. As
criaturas
recém-desligadas do
corpo denso, conturbadas
ainda, traziam consigo
todos os sinais das
moléstias que lhes
haviam imposto a
desencarnação. Uma
jovem recém-liberta da
vida física rogava,
abraçada à própria mãe
que a aguardara: "Não me
deixem morrer!... não me
deixem morrer!..." E,
enclausurada na
lembrança dos
derradeiros momentos no
corpo terrestres,
avançou para Silas,
exclamando: "Padre!
padre, deixa cair sobre
mim a bênção da
extrema-unção; contudo,
afasta de minhalma a
foice da morte!...
Tentei apagar minha
falta na fonte da
caridade para com os
desprotegidos da sorte,
mas a ingratidão,
praticada com minha mãe,
fala muito alto em minha
consciência infeliz!...
Ah! por que o orgulho me
encegueceu, assim tanto,
a ponto de condená-la à
miséria?!... Por que
não possuía eu, há vinte
anos, a compreensão que
tenho agora?
Pobrezinha, meu padre!
Lembra-se dela? Era uma
atriz humilde que me
criou com imensa
doçura!... Concentrou em
mim a existência... Da
ribalta festiva, desceu
a rude labor doméstico
para conquistar nosso
pão... Tinha a sociedade
contra ela, e meu pai,
sem ânimo de lutar pela
felicidade de todos nós,
deixou-a arrastar-se na
extrema pobreza,
acovardado e infiel aos
compromissos que
livremente assumira..."
(Capítulo 4, pp. 49 e
50)
(Continua no próximo
número.)