ANIR BATISTA BARRETO
anirbarreto@ig.com.br
Juiz de Fora, MG (Brasil)
A Caminho da Luz
O livro, com o título acima, ditado por Emmanuel, através de Francisco Cândido Xavier nos dias 17 a 21 de agosto de 1938, é uma obra que não deve ser olvidada pelos espíritas que desejem formar um posicionamento convicto sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
Localiza-se noticiado logo na introdução da obra o alerta de Emmanuel: “Aproxima-se o momento em que se efetuará a aferição de todos os valores terrestres para o ressurgimento das energias criadoras de um mundo novo, e natural é que recordemos o ascendente místico de todas as civilizações que surgiram e desapareceram, evocando os grandes períodos evolutivos da Humanidade, com as suas misérias e com os seus esplendores, para afirmar as realidades espirituais acima de todos os fenômenos transitórios da matéria...”
O objetivo do autor espiritual é nos chamar a uma reflexão introspectiva e ao mesmo tempo durante a leitura nos propiciar um reexame sobre a criação do orbe terrestre com uma viagem mental por todo o seu percurso, desde os primeiros tempos quando da criação da lua e todo o seu magnetismo indispensável à criação e reprodução de todas as espécies, ocasião em que Jesus reuniu nas alturas os intérpretes divinos do seu pensamento lançando sobre a Terra uma nuvem de forças cósmicas a envolver o imenso laboratório planetário em repouso.
Narra o autor que, decorrente disso, algum tempo depois podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a terra e com essa massa gelatinosa nascia no planeta o protoplasma (matéria-prima de todo organismo vivo) e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens, estando, assim, dados os primeiros passos no caminho da vida organizada.
Esclarece-nos ainda que depois de muitas transições e decorridos muitos milênios, com o auxílio dos “Exilados de Capela”, que mantinham fixados em suas consciências o reflexo do “Paraíso Perdido”, iniciou-se na Terra a fixação dos caracteres raciais, surgindo os quatro grandes povos, o Grupo dos Árias, a civilização do Egito, o povo de Israel e as castas da Índia.
Apresenta-nos a China Milenária, constituída dos antigos árias, como a árvore mais antiga das civilizações terrestres, depois nos mostra a unidade substancial das religiões e a preparação para o Cristianismo com a vinda do missionário Sócrates e outros luminosos na região da Grécia, até que os auxiliares de Jesus projetaram a fundação de Roma e a preparação para a vinda do mestre do exemplo para declarar em definitivo a era da maioridade espiritual da Humanidade Terrestre.
Assim, nascia a era cristã e as lutas espirituais para a implantação do Cristianismo quando os esforços dos missionários do Cristo se misturavam às Guerras, aos equívocos humanos e aos resgates inerentes ao ser em evolução, sendo que nesse enredo vieram as cruzadas no século XI, o martírio de Joana D’Arc, e o fim da idade medieval com a queda de Constantinopla em 1453.
Nesse ínterim, o mundo espiritual influencia o descobrimento da América, onde o Cristo localiza suas fecundas esperanças e grande esforço de seleção espiritual foi levado a efeito no seio das lutas europeias, no intuito de criar no “Novo Mundo” outro sentido de evolução e, para isso, partiram do mundo invisível caravanas inúmeras de almas de boa vontade e reencarnaram como filhos dos degredados habitantes da América com missão definida pelo Mundo Invisível.
Assim narra o autor espiritual: “Os operários de Jesus, porém, abstraídos da crítica ou do aplauso do mundo, cumprem seus grandes deveres no âmbito das novas terras. Sob a determinação superior organizam as linhas evolutivas das nacionalidades que aí teriam que florescer no porvir. Nesse campo de lutas novas e regeneradoras, todos os Espíritos de boa vontade poderiam trabalhar pelo advento da paz e da fraternidade do futuro humano, e foi por isso que, laborando para os séculos porvindouros, definiram o papel de cada região no continente, localizando o cérebro da nova civilização no ponto onde hoje se alinham os Estados Unidos da América do Norte, o seu coração na extensão da terra farta e acolhedora onde floresce o Brasil, na América do Sul. Os primeiros guardam os poderes materiais; o segundo detém as primícias (prelúdios) dos poderes espirituais, destinadas à civilização planetária do futuro.” (meu grifo.)
Indica o autor que a essa reforma necessária não poderia escapar a Igreja então desviada do caminho cristão e o Plano Invisível, sob a orientação de Jesus, conduzia para a América todos os Espíritos sinceros e trabalhadores, que não necessitassem de reencarnação no mundo europeu, onde indivíduos e coletividades se prendiam, cada vez mais, na cadeia das existências de provações expiatórias.
O século XIX nasce com uma torrente de claridade que floresce na face do novo mundo, encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas. As lições sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus na sua magnanimidade repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos os corações.
A tarefa de Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização às suas profundas bases religiosas. Atento à missão de concórdia e fraternidade da América, o plano invisível localizou aí as primeiras manifestações tangíveis do mundo espiritual, no famoso lugarejo de Hydesville, provocando os mais largos movimentos de opinião. A fagulha partira das plagas americanas, como partira igualmente delas a consolidação das conquistas democráticas.
O autor destaca ainda a defecção espiritual da Igreja, que não consolidou as realizações cristãs iniciadas no império de Constantino e faz crítica à utopia do socialismo apontada por alguns idealistas como solução para a Humanidade. Enfatiza que a América está destinada a receber o cetro (bastão) da civilização e que o esforço sincero de cooperação no trabalho de construção da paz não é aí uma utopia, como na Europa saturada de preconceitos multisseculares.
Assenta finalmente o benfeitor espiritual, que ao Espiritismo compete a tarefa do restabelecimento da verdade e que, por isso, veio na hora psicológica das grandes transformações, alentando o espírito humano para que se não perdesse o fruto sagrado daqueles que trabalharam e sofreram no esforço penoso da civilização. Veio, portanto, reabilitar o cristianismo nascituro e, com as verdades da reencarnação, explicar o absurdo das teorias igualitárias absolutas e ainda para cooperar na restauração do verdadeiro caminho do progresso humano.
Meus irmãos: ligeira e parcial reflexão sobre o conteúdo desta obra leva-nos inevitavelmente a um questionamento no sentido de apurarmos se realmente aceitamos e entendemos a missão da América, seja para compreender a tarefa designada aos Estados Unidos, guardião das riquezas materiais do planeta e responsável pela implantação do sistema democrático participativo, seja para aceitar e entender a tarefa do Brasil, coração do mundo Pátria do Evangelho.
De outra vertente cumpre analisar se enquanto espíritas não estamos cometendo erros semelhantes àqueles cometidos pela Igreja Romana, principalmente enquanto atados ao moralismo exterior nos ocupamos em criticar novelas televisivas, programas de reality shows, peças teatrais, seitas, religiões, instituições ou mesmo os vícios sociais comuns, uma vez que por essa via não conseguiremos modificar pessoas nem reformar instituições.
Ao mesmo tempo em que extraímos desta obra escrita há 73 anos, que se aproxima o momento em que se efetuará a aferição dos valores terrestres, constatamos com grande apreensão as tragédias naturais com desencarnes coletivos que vemos ocorrer de forma cada vez mais frequente.
Vivemos enfileirados nos engarrafamentos de trânsito e quando chegamos ao destino somos, por vezes, compelidos a retornar para próximo de onde partimos para podermos estacionar, mas, iludidos na vaidade, olvidamos a realidade que nos mostra que brevemente não será mais possível o trânsito individual de veículos nos centros urbanos, o que recomenda desde já ao aprendizado do uso do transporte coletivo.
Residimos em lugares cada vez mais apertados, congestionados e barulhentos, mas isso não nos convida a repensar o modo de viver e nem mesmo os constantes terremotos nos desperta o interesse em residências térreas, ainda que mais afastadas.
Demonstramos fadiga e visíveis dificuldades de nos acomodar nesta grande NAU que se chama “planeta Terra” e que se agita na imensidão cósmica, mas não compreendemos ainda que “tragédias”, como aquela recentemente ocorrida no Japão, se examinadas em contexto mais amplo, serão vistas como meros furos na embarcação em movimento.