MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Ação e Reação
André Luiz
(Parte
7)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo da obra
Ação e Reação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1957 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Fora da Mansão Paz
havia muitas criaturas
em grande sofrimento.
Como a Mansão as
assistia?
Primeiro, Silas explicou
que aquelas pessoas não
apresentavam os
necessários requisitos
para serem assistidas
dentro da Mansão, que
não lhes podia abrir as
portas de imediato, em
face do desespero e da
revolta em que se
compraziam. A
assistência lhes era
dada por meio de
entidades recuperadas
que desenvolviam
preciosas tarefas em
largos setores daquela
região. Por intermédio
delas, o instituto podia
atender milhares de
consciências
necessitadas e saber com
segurança quais os
irmãos em sofrimento
dignos de acesso à Casa,
após a transformação
gradual a que se
ajustavam.
(Ação e Reação, cap. 5,
pp. 59 a 61.)
B. Quem era Orzil e que
tarefa desempenhava?
Orzil era um dos guardas
da Mansão, em serviço
nas sombras. Numa
pequena casa localizada
fora dos muros da
Mansão, ele tinha aos
seus cuidados três
Espíritos em franca
situação de
inconsciência. As
acomodações usadas por
eles eram bem rústicas:
as celas lembravam boxes
de confortável
cavalariça, construídas
com toda a segurança, em
atenção aos objetivos
de contenção. O
tratamento ali precedia
uma futura internação na
própria Mansão, quando
tivessem condições de
serem por ela acolhidos.
(Obra citada, cap. 5,
pp. 62 a 64.)
C. Por que um dos
internos na casa, de
nome Veiga, estava
revoltado com os
próprios filhos?
O motivo era usura.
Veiga lutara por vinte e
cinco anos para reaver
uma herança dos avós.
Quando a recebeu, foi
colhido pela morte. Ele
permaneceu em casa,
desejando acompanhar,
pelo menos, a partilha
do espólio, mas seus
filhos amaldiçoaram-lhe
a influência,
impondo-lhe, a cada
passo, frases venenosas
e hostis. Além disso,
começaram a perseguir
sua segunda esposa, que
lhes fora mãe ao invés
de madrasta,
administrando-lhe
tóxicos por medicação
inocente, até que a
pobrezinha foi internada
numa casa de loucos, sem
esperança de
recuperação. Aí residiam
o motivo de sua revolta
e o desejo de que forças
infernais punissem os
próprios descendentes. (Obra
citada, cap. 5, pp. 66 e
67.)
Texto para leitura
25. Vastação
purificadora
(1)
- O aparente descaso
para com aquelas
criaturas tão sofridas
levou Hilário a
perguntar se não seria
razoável que a Mansão as
amparasse. O Assistente
explicou que aquelas
Entidades não
apresentavam os
necessários requisitos
para serem assistidas.
"Firme na execução do
programa que lhe assiste
– informou Silas – ,
nossa casa não lhes
podia abrir as portas de
imediato, em face do
desespero e da revolta
em que se comprazem, mas
também não desdenhava a
possibilidade de
prestar-lhes a ajuda
possível, fora do campo
de ação em que vive
sediada." Ali se
reuniam, de maneira
indiscriminada,
milhares de entidades,
vítimas de seus
pensamentos desvairados
e sombrios. "Quando
superam a crise de
perturbação ou de
angústia de que são
portadoras, o que pode
perdurar por dias, meses
ou anos, são trazidas à
nossa instituição que,
tanto quanto possível,
evita abrir-se às
consciências ainda
positivamente encravadas
na revolta
sistemática", informou
Silas. Uma coisa é
atender a Espíritos
inconscientes e
devedores; outra é lidar
com criaturas insensatas
e rebeladas. Aquelas
entidades, embora
vivessem fora dos muros
do instituto, contavam,
porém, com o amparo da
Mansão, através de
Entidades recuperadas
que ali desenvolviam
preciosas tarefas,
incumbindo-se da
assistência fraterna, em
largos setores daquela
região. Através destas,
o instituto podia
atender milhares de
consciências
necessitadas e saber com
segurança quais os
irmãos em sofrimento
dignos de acesso à Casa,
após a transformação
gradual a que se
ajustam. O amparo não
impedia, porém, os
assaltos por parte de
Inteligências perversas,
que ali eram também
constantes,
principalmente em torno
das Entidades que
largaram cúmplices
bestializados em antros
infernais ou em núcleos
de atividades
terrestres. Nesses
casos, as vítimas dessas
feras humanas padecem
longos e inenarráveis
suplícios, através da
fascinação hipnótica de
que muitos gênios do mal
são cultores exímios.
Silas refere-se a esses
fatos como "fenômenos de
flagelação compreensível
que alguns místicos do
mundo, em desdobramento
mediúnico, no reino das
trevas, classificaram
como sendo vastação
purificadora".
(Capítulo 5, pp. 59 a
61)
26. Uma casinha em
meio ao nevoeiro
- Como Hilário não
entendesse o porquê da
flagelação imposta
àqueles Espíritos, Silas
ponderou:
"Compreendo-lhe o pesar.
Indiscutivelmente, tanta
dor reunida não seria
justa se não viesse de
quantos preferiram no
mundo o trato diário com
a injustiça. Não é
claro, porém, que todos
venhamos a colher o
fruto da plantação que
nos pertence?" E
informou: "Não
encontraremos aqui neste
imenso palco de angústia
almas simples e
inocentes, mas sim
criaturas que abusaram
da inteligência e do
poder, e que,
voluntariamente surdas
à prudência, se
extraviaram nos abismos
da loucura e da
crueldade, do egoísmo e
da ingratidão,
fazendo-se
temporariamente presas
das criações mentais,
insensatas e
monstruosas, que para si
mesmas teceram". Nesse
ponto da conversa, o
grupo chegou à frente de
pequena casa, de cujo
interior brotava
reconfortante jorro de
luz. Cães enormes
ganiam de estranho modo,
sentindo-lhes a
presença. De súbito, um
companheiro de alto
porte e aspecto rude
apareceu e saudou-os,
abrindo-lhes passagem.
Era Orzil, um dos
guardas da Mansão, em
serviço nas sombras. Já
dentro da casa, dois dos
seis grandes cães, aos
ralhos do guardião,
acomodaram-se junto do
grupo. De constituição
agigantada, Orzil
parecia um urso em forma
humana, em cujos olhos
límpidos viam-se
sinceridade e
devotamento. Silas
informou que Orzil era
um companheiro de
cultura ainda escassa,
que se comprometeu em
delitos lamentáveis no
mundo. Sofreu muito sob
o império dos antigos
adversários, mas, após
longo estágio na Mansão,
prestava valioso
concurso naquela região.
Na casa, Orzil mantinha
algumas celas, ocupadas
por Entidades em
tratamento, prestes a
serem recebidas pelo
instituto. Interpelado
pelo Assistente, o
companheiro informou que
a tempestade ocorrida na
véspera trouxera imensa
devastação e provocara
muito sofrimento nos
pântanos, referindo-se,
nesse caso, aos
precipícios abismais em
que se debatiam milhares
de almas infelizes e
conturbadas. (Capítulo
5, pp. 62 e 63)
27. O caso Veiga
- Hilário indagou se
seria possível atingir
semelhantes lugares,
para aliviar os quem ali
padecem. Orzil, muito
triste e resignado,
respondeu:
"Impossível..." Silas
complementou: "Os que se
agitam nestas furnas
jazem, de modo geral,
quase sempre
extremamente revoltados
e, na insânia a que se
entregam, fazem-se
verdadeiros demônios de
insensatez". "É
necessário se disponham
à conformação clara e
pacífica para que, ainda
mesmo
semi-inconscientes,
consigam acolher com
proveito o auxílio que
se lhes estende aos
corações." Na casa,
havia três doentes
internados, em franca
situação de
inconsciência. De fato,
ao visitá-los, o grupo
ouviu uma gritaria
estentórica. As
acomodações usadas por
eles eram bem rústicas:
as celas lembravam boxes
de confortável
cavalariça, construídas
com toda a segurança, em
atenção aos objetivos
de contenção. À medida
que o grupo se
aproximava, desagradável
odor lhes afetava as
narinas. O Assistente
explicou: "Vocês não
ignoram que todas as
criaturas vivem cercadas
pelo halo vital das
energias que lhes vibram
no âmago do ser e esse
halo é constituído por
partículas de força a se
irradiarem por todos os
lados,
impressionando-nos o
olfato, de modo
agradável ou
desagradável, segundo a
natureza do indivíduo
que as irradia". "Assim
sendo, qual ocorre na
própria Terra, cada
entidade aqui se
caracteriza por exalação
peculiar." Nas
imediações da cela do
irmão Corsino, o cheiro
era semelhante ao da
carne em decomposição. É
que referido Espírito –
cujo pensamento
continuava enrodilhado
ao corpo sepulto –
vivia imerso na
lembrança dos abusos a
que se entregara na vida
física e trazia a
imagem do próprio
cadáver à tona de todas
as suas recordações.
Noutro abrigo, a porta
gradeada permitiu que o
grupo visse um homem
envelhecido, de cabeça
pendida entre as mãos, a
clamar: "Chamem meus
filhos! chamem meus
filhos..." Era o irmão
Veiga, que mantinha fixa
a ideia na herança que
perdera ao desencarnar:
vasta quantidade de ouro
e bens que passou à
propriedade dos filhos,
três rapazes que
concorriam no mundo ao
melhor e maior quinhão,
prevalecendo-se, para
isso, de juizes venais e
rábulas inconsequentes.
A psicosfera do enfermo
mostrava
formas-pensamentos,
criadas pelas
reminiscências do amigo,
em que três jovens
apareciam e
desapareciam, vagueando
entre documentos
esparsos, cédulas e
cofres cheios de
valores... (Capítulo 5,
pp. 63 a 65)
28. Vítima da
usura - Logo que
viu o grupo, Veiga
avançou e, apoiando-se
nas grades, gritou,
dementado: "Quem sois?
Juízes? juízes?..." E
derramou-se em lamúrias
que sensibilizaram a
todos: "Lutei por vinte
e cinco anos para reaver
a herança que me cabia
por morte de meus
avós... E, quando a vi
nas mãos, a morte me
arrebatou ao corpo, sem
piedade... Não me
resignei a essa injunção
e permaneci em minha
velha casa... Desejava,
pelo menos, acompanhar a
partilha do espólio que
me interessava, mas meus
rapazes amaldiçoaram-me
a influência,
impondo-me, a cada
passo, frases venenosas
e hostis... Não
satisfeitos com as
agressões mentais que me
infligiam, começaram a
perseguir minha segunda
esposa, que lhes foi mãe
ao invés de madrasta,
administrando-lhe
tóxicos por medicação
inocente, até que a
pobrezinha foi internada
numa casa de loucos, sem
esperança de
recuperação... Tudo por
causa do nosso rico
dinheiro que os
malandros querem
pilhar... Diante de tal
injustiça, pensei
suplicar o favor dos
seres que povoam as
trevas, porque somente
os gênios do mal devem
ser os fiéis executores
da grande vingança..."
Veiga enxugou as
lágrimas de desespero e
continuou:
"Dizei-me!... por que
motivo terei alimentado
infelizes ladrões,
julgando acariciar
filhos de minhalma?
Casei-me quando moço,
acalentando sonhos de
amor, e gerei
espinheiros de ódio!..."
Silas pediu-lhe calma,
mas o infeliz vociferou,
desabrido: "Nunca! nunca
perdoarei!... Recorri
aos infernos sabendo que
os santos me
aconselhariam
conformidade e
sacrifício... Quero que
os demônios torturem
meus filhos, tanto
quanto meus filhos me
torturam..." E,
transformando o choro em
gargalhadas
estridentes, passou a
bradar: "Meu dinheiro,
meu dinheiro, exijo meu
dinheiro!" Na cela
seguinte havia um homem
profundamente triste,
sentado ao fundo da
prisão, de cabeça
pendida entre as mãos e
de olhos fixos em parede
próxima. Seguindo-lhe a
atenção no ponto que
concentrava os seus
raios visuais, como
espelho invisível
retratando-lhe o próprio
pensamento, André viu
larga tela viva em que
se destacava enluarada
rua de grande cidade, na
qual, ele, no volante de
um carro, perseguia um
transeunte bêbado, até
matá-lo sem compaixão.
Tratava-se, pois, de um
homicida preso a
constrangedores quadros
mentais que o
aprisionavam a punitivas
lembranças. (Capítulo 5,
pp. 66 e 67)
(Continua no próximo
número.)
(1)
Vastação [do lat.
vastatione] significa:
estrago, assolação,
devastação.