JOSÉ REIS CHAVES
jreischaves@gmail.com
Belo Horizonte,
Minas Gerais
(Brasil)
Só evolui o
que já existe, e
só existe o que
já foi criado
Agradeço ao
professor João
Trindade
Marques, membro
da Academia
Brasileira de
Ciências e
professor da
UFMG, pela
matéria “A
Teoria da
Evolução e o criacionismo”,
na Opinião de O
TEMPO, de
22-2-2011,
comentando a de
minha coluna “O criacionismo e o
evolucionismo
são duas
verdades
possíveis”, de
14-2-2011.
É sabido que nos
Estados Unidos é
grande a
polêmica entre
os criacionistas
e os
evolucionistas.
Muitos pais
apelam até para
a justiça, a fim
de exigirem que,
nas escolas,
seja ensinada
aos seus filhos
a sua teoria criacionista ou
evolucionista.
Para
Aristóteles, as
coisas existem
antes das ideias. Para
Platão, as ideias vêm antes
das coisas. Sigo
Platão. As
invenções negam
a teoria
aristotélica,
pois o inventor
pensa na coisa
antes de ela
existir.
Os adeptos do
criacionismo não
são apenas os
cristãos. Os
judeus não são
cristãos, e
adotam-no. E
todos os
espiritualistas
teístas e
deístas, de um
modo geral, são
criacionistas.
Quanto aos
cientistas,
principalmente
os ocidentais,
eles olham o
cristianismo com
uma certa
desconfiança,
porque no
passado houve
muita
incompatibilidade
entre a ciência
e algumas
doutrinas da
Igreja, o que
ainda existe,
mas hoje a
Igreja é mais
tolerante.
Concordo, pois,
com o professor
João Trindade
Marques, quando
ele afirmou que
os cientistas
cristãos são uma
minoria.
Mas, em sua
maioria, apesar
de eles não
seguirem uma
religião cristã
e terem, pois,
uma visão
filosófica de
Deus diferente
daquela da visão
dos cristãos,
eles creem na
criação do
Universo por um
Ser Superior. Em
outras palavras,
além de eles
serem
evolucionistas,
filosoficamente
são também
criacionistas.
O filósofo
Huberto Rohden
faz diferença
entre os verbos
criar e o não
reconhecido pela
ortografia
oficial “crear”.
“Crear” é a
manifestação da
essência em
forma de
existência, ou
seja, o que
ainda é
inexistente ou
protótipo do que
vem a ser “creado”.
E criar é a
transição de uma
existência para
outra
existência. O
fazendeiro cria
gado. A
conhecida máxima
de Lavoisier, de
acordo com
Rohden, deve ser
escrita assim:
“Nada se ‘crea’,
nada se perde,
tudo se
transforma”,
pois o que vai
se transformando
é uma existência
que vem de outra
existência
(manifestação
duma existência
em outra
existência). E
essa
transformação
não deixa de ser
também uma
espécie de
evolução.
Deus “creou” o
Cosmos, que
significa beleza
pela sua
originalidade,
magnitude e
perfeição. A
palavra
cosmético, que
as mulheres usam
para ficarem
mais belas,
deriva-se de
cosmos. Porém,
quando se diz
que o mundo foi
“creado”, essa
“creação” não é
direta, pronta e
acabada, mas em
estado
potencial, ou
seja, como uma
espécie de
semente, que se
atualiza,
transformando-se
na planta.
O que existe (do
verbo latino “exsistere”,
colocar para
fora de) é o que
é posto para
fora de algum
ser. Faz-se uma
estátua de
madeira,
colocando-a para
fora da madeira.
O que evolui,
primeiro tem que
existir, mesmo
que seja na
hipótese da
polêmica criação
espontânea, que
não deixaria de
ser também uma
espécie de
evolução. Não
existe evolução
sem a criação.
Muitos
cientistas
materialistas
entendem a
criação na
Bíblia e outras
questões,
literalmente. E,
assim, Deus para
eles se torna um
monstro. Se eu
interpretasse a
Bíblia do jeito
deles, eu seria
também
materialista.
Defendo
filosoficamente
as duas teorias,
criacionista e
evolucionista,
que não são
aceitas em
conjunto, é
verdade, por uma
parte dos
cientistas, mas
é verdade,
também, que é
aceita por uma
outra parte
deles!
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