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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 207 - 1° de Maio de 2011

JOSÉ REIS CHAVES
jreischaves@gmail.com
Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil)

 

Só evolui o que já existe, e só existe o que já foi criado


Agradeço ao professor João Trindade Marques, membro da Academia Brasileira de Ciências e professor da UFMG, pela matéria “A Teoria da Evolução e o criacionismo”, na Opinião de O TEMPO, de 22-2-2011, comentando a de minha coluna “O criacionismo e o evolucionismo são duas verdades possíveis”, de 14-2-2011.

É sabido que nos Estados Unidos é grande a polêmica entre os criacionistas e os evolucionistas. Muitos pais apelam até para a justiça, a fim de exigirem que, nas escolas, seja ensinada aos seus filhos a sua teoria criacionista ou evolucionista.

Para Aristóteles, as coisas existem antes das ideias. Para Platão, as ideias vêm antes das coisas. Sigo Platão. As invenções negam a teoria aristotélica, pois o inventor pensa na coisa antes de ela existir.

Os adeptos do criacionismo não são apenas os cristãos. Os judeus não são cristãos, e adotam-no. E todos os espiritualistas teístas e deístas, de um modo geral, são criacionistas. Quanto aos cientistas, principalmente os ocidentais, eles olham o cristianismo com uma certa desconfiança, porque no passado houve muita incompatibilidade entre a ciência e algumas doutrinas da Igreja, o que ainda existe, mas hoje a Igreja é mais tolerante. Concordo, pois, com o professor João Trindade Marques, quando ele afirmou que os cientistas cristãos são uma minoria.

Mas, em sua maioria, apesar de eles não seguirem uma religião cristã e terem, pois, uma visão filosófica de Deus diferente daquela da visão dos cristãos, eles creem na criação do Universo por um Ser Superior. Em outras palavras, além de eles serem evolucionistas, filosoficamente são também criacionistas.

O filósofo Huberto Rohden faz diferença entre os verbos criar e o não reconhecido pela ortografia oficial “crear”. “Crear” é a manifestação da essência em forma de existência, ou seja, o que ainda é inexistente ou protótipo do que vem a ser “creado”. E criar é a transição de uma existência para outra existência. O fazendeiro cria gado. A conhecida máxima de Lavoisier, de acordo com Rohden, deve ser escrita assim: “Nada se ‘crea’, nada se perde, tudo se transforma”, pois o que vai se transformando é uma existência que vem de outra existência (manifestação duma existência em outra existência). E essa transformação não deixa de ser também uma espécie de evolução.

Deus “creou” o Cosmos, que significa beleza pela sua originalidade, magnitude e perfeição. A palavra cosmético, que as mulheres usam para ficarem mais belas, deriva-se de cosmos. Porém, quando se diz que o mundo foi “creado”, essa “creação” não é direta, pronta e acabada, mas em estado potencial, ou seja, como uma espécie de semente, que se atualiza, transformando-se na planta.

O que existe (do verbo latino “exsistere”, colocar para fora de) é o que é posto para fora de algum ser. Faz-se uma estátua de madeira, colocando-a para fora da madeira. O que evolui, primeiro tem que existir, mesmo que seja na hipótese da polêmica criação espontânea, que não deixaria de ser também uma espécie de evolução. Não existe evolução sem a criação.

Muitos cientistas materialistas entendem a criação na Bíblia e outras questões, literalmente. E, assim, Deus para eles se torna um monstro. Se eu interpretasse a Bíblia do jeito deles, eu seria também materialista.

Defendo filosoficamente as duas teorias, criacionista e evolucionista, que não são aceitas em conjunto, é verdade, por uma parte dos cientistas, mas é verdade, também, que é aceita por uma outra parte deles!



 


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