SIDNEY FRANCEZ
FERNANDES
1948@uol.com.br
Bauru, São Paulo
(Brasil)
Realengo,
Bullying
e Bin
Laden
Na tragédia de
Realengo
ocorrida em
abril de 2011
consta que uma
das motivações
dos crimes teria
sido o bullying
sofrido pelo
autor por parte
de colegas da
Escola Municipal
Tasso da
Silveira. E que
ele pesquisava
muito sobre
atentados
terroristas e
grupos
religiosos
fundamentalistas.
Tragédias como a
de 11 de
setembro de
2001, ao que
tudo indica
arquitetada pelo
saudita Osama
Bin Laden, e a
ocorrida na
escola municipal
de Realengo, na
data de 7 de
abril de 2011,
causam
indignação e
revolta. No
entanto, se bem
analisarmos o
comportamento
das pessoas,
tanto no Brasil
como em outros
países, talvez
cheguemos a
conclusões não
muito
confortáveis.
Pessoas do mundo
inteiro,
particularmente
jovens
americanos,
comemoraram nas
ruas a morte de Bin Laden. Na
minha infância,
lembro-me da
euforia das
pessoas quando
souberam da
morte de Hitler.
Foram festas e
mais festas, em
função das
mortes de vilões
responsáveis por
dores e
sofrimentos
infligidos a um
sem-número de
inocentes. Sem
dúvida, quando
nos livramos de
uma ameaça,
alegramo-nos com
o alívio do
retorno à tranquilidade e
à segurança.
Embora
compreensíveis,
esses
comportamentos
contemplam a lei
de talião. Isto
é, quem com
ferro feriu,
merece com ferro
ser ferido.
Embora
aceitáveis sob o
ponto de vista
humano, nada
mais são do que
a celebração da
violência que
atualmente
grassa por todas
as nações, desde
os mais
poderosos
líderes,
estende-se pelas
relações
comerciais,
permeia os
jovens, tanto em
suas relações
sociais como nos
estabelecimentos
de ensino,
invade nossos
lares e
contamina nossas
famílias.
A mesma
violência
utilizada por
Bin Laden em
seus inúmeros
ataques
terroristas por
todo o mundo
caracterizou a
sua captura.
Consta que o
ataque dos
americanos ao
seu esconderijo
encontrou-o
desarmado e ele
teria sido morto
já depois de
dominado, sem
possibilidade de
reação. “–
Mereceu!” –
Argumenta o
mundo. Mas, não
foi feito com
ele exatamente o
que ele
costumava fazer
com os outros?
Só que ele era
bárbaro. E nós
pretendemos ser
corretos e
justos.
A mesma
violência
utilizada pelo
jovem ex-aluno
da escola
municipal de
Realengo
caracteriza o
comportamento de
inúmeros grupos
que provocam
sofrimento, dor,
fobia e
violência quando
a sociedade
insiste em não
combater o
bullying. Essa
mesma violência
lembra os
massacres em
escolas
americanas como
Columbine e
Virginia Tech.
Mas lembra
também a brutal
diferença de
condições de
vida entre o sul
maravilha do
Brasil e nossos
irmãos do
interior
nordestino. Essa
mesma violência
caracteriza a
vida maravilhosa
dos europeus que
assistem, de
camarote,
encostadas, além
do Mar
Mediterrâneo, a
inúmeras
populações
africanas que
sofrem de AIDS,
febre amarela,
falta de
alimentos, de
estudo,
condições
mínimas de
sobrevivência
como água
potável, energia
elétrica e
moradias, sem
falar da
opressão de seus
ditadores.
Basta que o
indivíduo tenha
poder, dinheiro,
posição ou
prestígio para
se considerar
“superior” ao
pobre ou ao
ignorante. A
violência
financeira de
Wall Street faz
lembrar “a lei
do mais forte”,
onde
maquiavelicamente
tudo
é permitido. “Os
fins passaram,
de uns tempos
para cá, a
justificar todos
os meios”. E se
não fazem as
coisas conforme
a minha vontade
“eu prendo e
arrebento”, como
diria um
conhecido
general de
triste memória.
O estado de
direito que
pretendemos que
exista não pode
coexistir
pacificamente
com a violência
e com a
impunidade. Sem
nos determos
longamente na
moral do Cristo
que veio
substituir a lei
da vingança
preconizada pela
Lei de talião de
Moisés, para não
incorrermos em
deslocada
pieguice, é
preciso entender
que uma
sociedade justa
não pode mais
tolerar nem
violência, nem
maquiavelismos,
nem impunidade.
Se queremos que
nossos jovens
passem a ter bom
comportamento
nas escolas, nos
lares, na
sociedade,
enfim, nós
adultos
precisamos dar o
exemplo. O verbo
edifica, mas o
exemplo arrasta.
Impulsionados
pelo “modus
operandi” das
tropas
americanas,
muitos
“justiceiros” serão
despertados e,
oxalá eu esteja
errado,
começarão a
repetir o
infeliz episódio
de Realengo em
várias partes do
mundo.
Violência gera
violência. Se
queremos que
nossos filhos e
netos sejam
pacíficos, a
partir de agora
temos que combater a
intenção de
fazer sofrer do
bullying,
evitar a
opressão sobre
subordinados e
pessoas social
ou
financeiramente
inferiores a nós
e repudiar comportamentos
de maus líderes,
administradores
gananciosos,
políticos
corruptos e
desonestos
detentores do
poder econômico
que insistem em
cuidar dos seus
próprios
interesses e o
resto que se
dane.
Se queremos uma
sociedade
melhor, esta é a
hora de nos
unirmos e darmos
o bom exemplo.
Precisamos, à
medida do
possível,
começar a
superar o trio
terrível
responsável por
todas as dores
da humanidade:
egoísmo, vaidade
e orgulho.
Compactuar com o
mal é
perpetuá-lo.