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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 214 - 19 de Junho de 2011

SIDNEY FRANCEZ FERNANDES
1948@uol.com.br

Bauru, São Paulo (Brasil)

Realengo, Bullying
e Bin Laden

 
Na tragédia de Realengo ocorrida em abril de 2011 consta que uma das motivações dos crimes teria sido o bullying sofrido pelo autor por parte de colegas da Escola Municipal Tasso da Silveira. E que ele pesquisava muito sobre atentados terroristas e grupos religiosos fundamentalistas.

Tragédias como a de 11 de setembro de 2001, ao que tudo indica arquitetada pelo saudita Osama Bin Laden, e a ocorrida na escola municipal de Realengo, na data de 7 de abril de 2011, causam indignação e revolta. No entanto, se bem analisarmos o comportamento das pessoas, tanto no Brasil como em outros países, talvez cheguemos a conclusões não muito confortáveis.

Pessoas do mundo inteiro, particularmente jovens americanos, comemoraram nas ruas a morte de Bin Laden. Na minha infância, lembro-me da euforia das pessoas quando souberam da morte de Hitler. Foram festas e mais festas, em função das mortes de vilões responsáveis por dores e sofrimentos infligidos a um sem-número de inocentes. Sem dúvida, quando nos livramos de uma ameaça, alegramo-nos com o alívio do retorno à tranquilidade e à segurança. Embora compreensíveis, esses comportamentos contemplam a lei de talião. Isto é, quem com ferro feriu, merece com ferro ser ferido.

Embora aceitáveis sob o ponto de vista humano, nada mais são do que a celebração da violência que atualmente grassa por todas as nações, desde os mais poderosos líderes, estende-se pelas relações comerciais, permeia os jovens, tanto em suas relações sociais como nos estabelecimentos de ensino, invade nossos lares e contamina nossas famílias.

A mesma violência utilizada por Bin Laden em seus inúmeros ataques terroristas por todo o mundo caracterizou a sua captura. Consta que o ataque dos americanos ao seu esconderijo encontrou-o desarmado e ele teria sido morto já depois de dominado, sem possibilidade de reação. “– Mereceu!” – Argumenta o mundo. Mas, não foi feito com ele exatamente o que ele costumava fazer com os outros? Só que ele era bárbaro. E nós pretendemos ser corretos e justos.

A mesma violência utilizada pelo jovem ex-aluno da escola municipal de Realengo caracteriza o comportamento de inúmeros grupos que provocam sofrimento, dor, fobia e violência quando a sociedade insiste em não combater o bullying. Essa mesma violência lembra os massacres em escolas americanas como Columbine e Virginia Tech. Mas lembra também a brutal diferença de condições de vida entre o sul maravilha do Brasil e nossos irmãos do interior nordestino. Essa mesma violência caracteriza a vida maravilhosa dos europeus que assistem, de camarote, encostadas, além do Mar Mediterrâneo, a inúmeras populações africanas que sofrem de AIDS, febre amarela, falta de alimentos, de estudo, condições mínimas de sobrevivência como água potável, energia elétrica e moradias, sem falar da opressão de seus ditadores.

Basta que o indivíduo tenha poder, dinheiro, posição ou prestígio para se considerar “superior” ao pobre ou ao ignorante. A violência financeira de Wall Street faz lembrar “a lei do mais forte”, onde maquiavelicamente tudo é permitido. “Os fins passaram, de uns tempos para cá, a justificar todos os meios”. E se não fazem as coisas conforme a minha vontade “eu prendo e arrebento”, como diria um conhecido general de triste memória.

O estado de direito que pretendemos que exista não pode coexistir pacificamente com a violência e com a impunidade. Sem nos determos longamente na moral do Cristo que veio substituir a lei da vingança preconizada pela Lei de talião de Moisés, para não incorrermos em deslocada pieguice, é preciso entender que uma sociedade justa não pode mais tolerar nem violência, nem maquiavelismos, nem impunidade.

Se queremos que nossos jovens passem a ter bom comportamento nas escolas, nos lares, na sociedade, enfim, nós adultos precisamos dar o exemplo. O verbo edifica, mas o exemplo arrasta. Impulsionados pelo “modus operandi” das tropas americanas, muitos “justiceiros” serão despertados e, oxalá  eu esteja errado, começarão a repetir o infeliz episódio de Realengo em várias partes do mundo.  

Violência gera violência. Se queremos que nossos filhos e netos sejam pacíficos, a partir de agora temos que combater a intenção de fazer sofrer do bullying, evitar a opressão sobre subordinados e pessoas social ou financeiramente inferiores a nós e repudiar comportamentos de maus líderes, administradores gananciosos, políticos corruptos e desonestos detentores do poder econômico que insistem em cuidar dos seus próprios interesses e o resto que se dane.

Se queremos uma sociedade melhor, esta é a hora de nos unirmos e darmos o bom exemplo. Precisamos, à medida do possível, começar a superar o trio terrível responsável por todas as dores da humanidade: egoísmo, vaidade e orgulho. Compactuar com o mal é perpetuá-lo. 



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita