MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Ação e Reação
André Luiz
(Parte
15)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo da obra
Ação e Reação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1957 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Por que Silas repeliu
Aída, a segunda esposa
de seu pai?
O motivo foi sovinice,
ambição, paixão pelo
dinheiro. Silas, vendo o
pai enfermo, não
concordava em dividir a
herança com a madrasta,
uma mulher bem mais
jovem que ele julgava
haver-se casado com seu
pai somente por
interesse. Ele pensou
então em desmoralizá-la
aos olhos do pai e assim
tramava, quando surgiu a
oportunidade esperada. O
plano surtiu resultado e
Aída, em determinado
dia, foi surpreendida
pelo marido em um
inexplicável flagrante
de adultério.
(Ação e Reação, cap. 9,
pp. 121 a 123.)
B. A cena do adultério
teve maiores
consequências?
Sim. Aída abateu-se
muito e teve de ser
atendida por dois
médicos de confiança da
família. Dias depois,
ela apareceu morta... Os
clínicos positivaram um
envenenamento
fulminante e,
constrangidos,
notificaram ao marido
tratar-se de suicídio,
motivado talvez pela
insofreável neurastenia
de que a doente se via
objeto. Mas, em verdade,
fora o pai de Silas quem
envenenou a esposa,
administrando-lhe
violento tóxico no
calmante habitual.
(Obra citada, cap. 9,
pp. 123 e 124.)
C. Em face da tragédia
familiar, que ocorreu a
Silas, responsável
direto pelos
acontecimentos?
O remorso não demorou a
vir. Com a morte do pai,
ocorrida pouco depois,
ele decidiu viajar e,
quando voltou, não teve
coragem de retornar à
antiga residência.
Hospedou-se, então, na
casa de velho amigo de
seu pai, por alguns
dias, até que pudesse
pensar numa
transformação radical da
existência. Certa noite,
visando a amenizar uma
insistente dor no
estômago, tomou de um
frasco de arsênico na
adega de seu anfitrião,
acreditando usar o
bicarbonato de sódio que
ali deixara na véspera,
e o veneno expulsou-o do
corpo, impondo-lhe
sofrimentos terríveis,
tal como sucedera à sua
madrasta, enquanto que
na casa de seu
hospedeiro pensou-se que
ele buscara no suicídio
a extinção das penas
morais que castigavam
sua alma entediada.
(Obra citada, cap. 9,
pp. 124 e 125.)
Texto para leitura
54. A
sovinice na vida de
Silas
- Sentindo que Leonel e
Clarindo ficaram
comovidos com sua
narrativa, dando ensejo
à assimilação de
pensamentos novos, Silas
convidou-os a retirar-se
daquele ambiente, pois
pretendia dizer-lhes
algo mais de sua
experiência, mas não
ali. E diante dos dois
irmãos que o observavam,
submissos, o Assistente
começou, em voz
pausada: "Tanto quanto
posso abranger com a
minha memória presente,
lembro-me de que, em
minha última viagem
pelos domínios da carne,
desde a meninice, me
entreguei à paixão pelo
dinheiro, o que hoje me
confere a certeza de
que, por muitas e muitas
vezes, fui usurário
terrível entre os homens
da Terra. Hoje sei, por
informações de
instrutores abnegados,
que, como de outras
ocasiões, renasci na
derradeira existência
num lar bafejado por
grande fortuna, a fim de
sofrer a tentação do
ouro farto e vencê-la, a
golpes de vontade firme,
na lavoura incessante
do amor fraterno,
caindo, porém,
lamentavelmente, por
minha infelicidade. Era
eu o filho único de um
homem probo que herdara
dos avoengos
consideráveis bens. Meu
pai era um advogado
correto que, por excesso
de conforto, não se
dedicava aos misteres da
profissão, mas,
profundamente estudioso,
vivia rodeado de livros
raros, entre obrigações
sociais, que, de alguma
sorte, lhe subtraíam a
personalidade às
cogitações da fé. Minha
mãe, porém, era católica
romana, de pensamento
fervoroso e digno, e,
embora sem descer
conosco a qualquer
disputa na esfera
devocional, tentava
incutir-nos o dever da
beneficência". Silas
lembrou-lhes, então, os
reiterados convites que
sua mãe dirigira a ele e
a seu pai, no sentido de
palmilharem as tarefas
da caridade cristã, e o
estímulo que ela lhe deu
relativamente aos
estudos da Medicina,
onde poderia encontrar
as melhores
oportunidades de
auxiliar o próximo. Ele,
no entanto, jamais
chegaria a ingressar na
prática da profissão
conquistada, embora
concluísse a faculdade,
chafurdando-se cada vez
mais na sovinice, que
chegava a surpreender o
próprio pai. (Capítulo
9, pp. 118 a 120)
55. O adultério de
Aída - No
relato feito por Silas,
cujo apego ao dinheiro
constituía efetivamente
verdadeira doença,
lembrou ele que tudo fez
para dissuadir seu pai
de contrair segundas
núpcias -- a mãe do
Assistente falecera
pouco antes da conclusão
do curso de Medicina.
Seu genitor, na época
com quase sessenta anos,
era, porém, um homem
resoluto e desposou
Aída, uma jovem da idade
do filho, que mal se
avizinhava dos trinta
anos. A madrasta foi
considerada uma intrusa
e aventureira comum, à
caça de fortuna fácil, e
Silas jurou vingar-se.
Poucos meses após o
casamento, seu pai foi
obrigado a procurar
socorro médico,
recolhendo-se, então, a
prolongado repouso.
"Acompanhava-lhe a
decadência orgânica --
disse Silas --, tomado
de vivas apreensões. Não
era a saúde paterna que
me feria a imaginação,
mas sim a extensa
reserva financeira de
nossa casa. Na hipótese
do súbito falecimento do
homem que me trouxera à
existência, de modo
algum me resignaria a
partilhar a herança com
a mulher que, aos meus
olhos, indebitamente
ocupava o espaço de
minha mãe." André estava
perplexo. Afinal, Silas
mentia ou era aquela a
sua verdadeira história?
O Assistente, no
entanto, prosseguiu:
"Passei a arquitetar
planos delituosos,
quanto à melhor maneira
de alijar Aída de
qualquer possibilidade
de ingresso futuro ao
nosso patrimônio, sem
melindrar meu pai
doente... E nos projetos
criminosos que me
visitavam a cabeça, a
própria morte da
madrasta comparecia
como solução.
Entretanto, como
suprimi-la sem causar
maior sofrimento ao
enfermo que eu desejava
conservar?..." Ele
pensou então em
desmoralizá-la aos olhos
do pai e assim tramava,
quando surgiu a
oportunidade esperada.
Seu pai lhe pediu que
fosse, com Aída,
representá-lo em
determinava festividade
pública. Funestos
propósitos nasceram-lhe
na mente e foi a partir
daí que introduziu em
sua casa um primo de
Aída -- Armando -- que a
havia cortejado em
solteira. Armando era um
pouco mais velho que
eles, perdulário e
fanfarrão, que dividia
seu tempo entre mulheres
e taças espumantes. A
praia, o teatro, o
cinema, bem como
passeios de variados
matizes, eram agora os
pontos costumeiros de
seus encontros, nos
quais intencionalmente
Silas deixava os dois
primos nos braços um do
outro... Aída não
percebeu a manobra e,
embora resistisse por
mais de um ano à
galanteria do
companheiro, acabou por
ceder às constantes
ofensivas. Um dia, em
sua própria casa, o
velho pai, avisado por
Silas, pôde presenciar
com os seus olhos o
flagrante do
adultério... (Capítulo
9, pp. 121 a 123)
56. Crime e
remorso -
Armando, cínico, embora
desapontado,
afastou-se, lépido,
certo de que não poderia
esperar qualquer golpe
grave de um sexagenário
abatido, mas Aída,
profundamente ferida em
seu amor próprio,
dirigiu ao velho esposo
acusações humilhantes,
procurando os seus
aposentos particulares,
numa explosão de
amargura. "Completando a
obra terrível a que me
devotara -- acentuou
Silas --, mostrei-me
mais carinhoso para com
o enfermo, intimamente
aniquilado... Duas
semanas arrastaram-se
pesadas para a nossa
equipe familiar...
Enquanto Aída ocupava o
leito, assistida por
dois médicos de nossa
confiança, que nem de
longe nos conheciam a
tragédia oculta, afagava
meu pai com lamentações
e sugestões indiretas
para que os bens de
nossa casa fossem, na
maioria, guardados em
meu nome, já que o
segundo matrimônio não
poderia desfazer-se,
perante as autoridades
legais. Prosseguia em
minha faina delituosa,
quando minha madrasta
apareceu morta... Os
clínicos de nossa
amizade positivaram um
envenenamento
fulminante e,
constrangidos,
notificaram a meu pai
tratar-se de um
suicídio, decerto
motivado pela
insofreável neurastenia
de que a doente se via
objeto." Na verdade,
lembrou o Assistente,
fora seu pai quem
envenenou a esposa,
administrando-lhe
violento tóxico no
calmante habitual. E ele
mesmo, doente e
carregando consigo o
fardo intolerável do
remorso, morreria poucos
meses depois. "Pela
primeira vez minha
consciência doeu,
fundo", admitiu Silas.
"O apego aos bens da
carne arrasava-me a
vida..." (Capítulo 9,
pp. 123 e 124)
57. Morte e
sofrimento de Silas
- O velho querido morreu
nos braços de Silas,
que passou a sentir-se o
mais infortunado dos
seres, pois o ouro
integral do mundo não
lhe garantia o mais leve
consolo. "Achava-me
sozinho, sozinho e...
infinitamente
desgraçado. Todos os
recantos e pertences de
nossa habitação
falavam-me de crime e
remorso...", lembrou
Silas, dizendo que
muitas vezes a sombra
noturna pareceu-lhe
povoada de fantasmas
horripilantes a
escarnecerem de sua dor,
e, em meio da malta de
insensíveis demônios,
a investirem contra ele,
tinha então a ideia de
escutar a voz
inconfundível de seu
pai, clamando: "Meu
filho! meu filho! recua
enquanto é tempo". Silas
fez-se assim arredio e
desconfiado... "Em
pavorosa crise moral,
demandei à Europa, em
longa viagem de recreio
-- recordou o Assistente
--, mas o encanto das
grandes cidades do Velho
Mundo não conseguiu
aliviar-me as chagas
interiores. Em toda a
parte, a refeição mais
nobre amargava-me na
boca e os mais belos
espetáculos artísticos
deixavam-me apenas
ansiedade e desolação."
De volta ao Brasil, sem
coragem de retornar à
antiga residência,
hospedou-se na casa de
velho amigo de seu pai,
por alguns dias, até que
pudesse pensar numa
transformação radical da
existência. Ele ficaria
ali, contudo, por longos
meses, tentando
imerecida fuga mental,
até que, em certa noite,
visando a amenizar uma
insistente dor no
estômago, tomou de um
frasco de arsênico na
adega de seu anfitrião,
acreditando usar o
bicarbonato de sódio que
ali deixara na véspera,
e o veneno expulsou-o do
corpo, impondo-lhe
sofrimentos terríveis,
tal como sucedera à sua
madrasta, enquanto que
na casa de seu
hospedeiro pensou-se que
ele buscara no suicídio
a extinção das penas
morais que castigavam
sua alma entediada.
Dementado, depois da
morte física atravessou
meses cruéis de terror e
desequilíbrio, até que
foi socorrido por
amigos de seu pai, que
se achava igualmente a
caminho da recuperação,
passando então a
empenhar todas as suas
energias na preparação
do futuro. "Como veem --
concluiu Silas --, a
fascinação pelo ouro
foi o motivo de minha
perda. Tenho a
necessidade de grande
esforço no bem e de fé
vigorosa para não cair
outra vez, porquanto é
indispensável me
consagre a nova
experiência entre os
homens..." (Capítulo 9,
pp. 124 e 125)
(Continua no próximo
número.)