Na senda
Bento Pereira
Enquanto o
discípulo apenas
se enlevava na
meditação,
acerca do
Mestre, tudo se
lhe afigurava
harmonia... Cada
ensinamento era
para ele uma
nascente de luz,
rasgando
horizontes
novos. E, por
isso, a vida
nunca lhe
pareceu tão
suave e risonha.
Ébrio de júbilo,
dividia-se entre
o firmamento
povoado de
estrelas e a
Terra de flores,
a repetir:
-
Que não farei
por ti, Senhor?
Muitas luas
decorreram,
assinalando a
passagem do
tempo, quando o
Mestre deliberou
chamá-lo à sua
presença
augusta.
Escutando a
divina voz, o
aprendiz pôs-se
em marcha,
transbordante de
contentamento.
Que não faria
para testemunhar
amor e gratidão?
Em plena
estrada,
contudo,
arrefeceu-se-lhe
o ânimo: é que
lhe era enorme o
dispêndio de
energia,
ressumando-lhe o
suor em grossas
bagas. Erguia-se
a poeira,
fustigando-lhe o
rosto. De espaço
a espaço,
desabava um
temporal,
dardejando-lhe
em torno raios
deslumbrantes e
aterradores; e
então a lama se
enovelara e
esparzia em
todas as
direções. Quando
a sede o
escaldava, não
via senão água
barrenta, e, se
a fome o
corroía, somente
encontrava
frutos amargos e
ervas venenosas.
Ele, que
começara a
viagem à marcha
batida,
arrastava-se
agora passo a
passo. Serpentes
e ciladas
multiplicavam-se
na dificultosa
jornada. E ele,
que prometera
amor a todos e a
tudo, lançava-se
ao ódio; ele,
que louvava a
humildade,
entregava-se à
revolta; ele,
que enxergava no
mundo o templo
magnificente do
Eterno, passara
a considerar a
Natureza taça de
fel...
Incapaz de
compreender a
necessidade da
luta para o
crescimento da
própria alma,
ele, que se
afirmara
apaixonado pela
perfeição do
Mestre, duvidou
de Sua Sabedoria
e previdência.
Por que não
vinha o Senhor
em seu auxílio?
Por que
abandonar um
aspirante da luz
em plena
desesperação?
Depois de longa
reflexão,
recolheu-se a
extrema tristeza
e fugiu à
estrada real da
redenção,
arrojando-se,
espavorido, aos
formidáveis
desfiladeiros
das margens.
*
Assim decorre na
jornada cristã.
Enquanto o
seguidor do
Evangelho apenas
dorme e sonha,
falando e
imaginando, fora
das realidades
que lhe dizem
respeito, é como
o bateleiro em
lago plácido, a
vogar de manso à
brisa
acariciante, sob
um céu azul;
mas, se desperta
e resolve
navegar no largo
oceano, ao
encontro da
Claridade
Divina, pensando
e agindo,
conscientemente,
de acordo com as
lições do
Mestre, os
recifes e os
evangelhos lhe
sobranceiam o
batel, em
desafio ao
aventureiro.
Trava-se, então,
a grande
batalha. Somente
a fé ungida de
amor conseguirá
vencer.
Do livro
Falando à Terra,
ditado por
Espíritos
Diversos, obra
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.