Nos Bastidores da
Obsessão
Manoel Philomeno de
Miranda
(Parte
11)
Damos prosseguimento ao
estudo do livro Nos
Bastidores da Obsessão,
de Manoel Philomeno de
Miranda, obra
psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada no
ano de 1970 pela Editora
da FEB.
Questões preliminares
A. Em que lugar
Teofrastus reviu sua
amada Henriette?
O encontro ocorreu em um
Lazareto, onde ela
estava internada, o qual
albergava mais de 200
portadores do mal de
Hansen.
(Nos Bastidores da
Obsessão, cap. 9, pp.
167 a 174.)
B. Que motivo levou o
confessor de Henriette a
tramar a morte de
Teofrastus?
A paixão. Seu objetivo
era tê-la para si mesmo,
porquanto se encontrava
avassalado pelas
paixões. Ele próprio
relatou-lhe sua furiosa
paixão, dizendo ter sido
ela o móvel de toda a
desgraça que o levara a
montar o processo
inquisitorial que levou
Teofrastus ao
sacrifício, em nome da
fé e da religião.
(Obra citada, cap. 9,
pp. 171 a 182.)
C. Quem, efetivamente,
comandava a Organização
de que Teofrastus fazia
parte?
O próprio Teofrastus
disse estar vinculado a
uma poderosa Organização
e, embora em posição de
comando, ele era, por
sua vez, comandado. Ele
fazia parte do grupo dos
Doze, doze Mentes
Dominadoras que se
encontravam submetidos a
uma equipe de dez
Magistrados que
habitavam Regiões
Infernais, onde os
mínimos desvios da
Justiça recebem longas
punições.
(Obra citada, cap. 10,
pp. 184 a 188. )
Texto para leitura
55. No leprosário
- Para convencer o seu
interlocutor de que
dizia a verdade, Glaucus
historiou o drama vivido
por Henriette nos idos
do século XV, quando
fora a amada de
Teofrastus. Este pede,
sob ameaças, que seja
informado o local onde
ela se encontra, mas
Glaucus não o atende,
explicando que sua
tarefa ali era conseguir
a ajuda do Chefe do
Anfiteatro para libertar
Henriette. Para tanto,
seria necessário que ele
os acompanhasse numa
visita que seria feita,
em seguida, à antiga
companheira do mago
grego, presentemente
internada num Lazareto,
que albergava mais de
200 portadores do mal de
Hansen. A cena no
leprosário era
confrangedora. Três
mulheres hansenianas
encontravam-se a dormir,
assistidas por pequena
malta de obsessores
impiedosos que as
dominavam. Estes
mantinham-se em guarda,
invectivando e
atormentando os
Espíritos das enfermas
semidesligadas do
invólucro físico e quase
tresloucadas de
angústia. Henriette
contava menos de 20 anos
na presente existência
e, embora muito magra e
desfalecida, a doença
não produzira nela os
sinais da sua presença.
Saturnino aplicou passes
na jovem, despertando-a
e libertando seu
Espírito do obsessor
implacável que a
vampirizava. Depois, o
benfeitor espiritual
atendeu às demais
internas, afastando do
recinto os seus
adversários
desencarnados. (Cap. 9,
págs. 167 a 171)
56. O caso
Henriette - A
moça relanceou o olhar
pelo recinto e, ao ver
Teofrastus, foi
acometida de súbito
choque, desejando
evadir-se. Assistindo-a
carinhosamente, Glaucus
vitalizou-a com fluidos
calmantes e sugeriu que
o ex-mago se
aproximasse. O chefe do
Anfiteatro não conseguiu
evitar um choro
convulsivo. A jovem
pareceu registrar a voz
de seu amado que a
chamava pelo antigo nome
e respondeu: - "Quem me
chama? Que desejam de
mim?" E, à medida que
despertava para o
passado longínquo, seu
perispírito registrava
os sinais das tragédias
que lhe sucederam
através do tempo,
apresentando-se
consideravelmente
mudada, envelhecida, com
as marcas da
desencarnação e as
características da
antiga personalidade.
Henriette relatou,
então, os episódios que
se seguiram à morte de
Teofrastus, levado à
fogueira da Inquisição,
na praça do Mercado
Velho, em Ruão (França),
no final do século XV.
Ela se refugiara desde
aqueles dias em um
Convento, buscando o
esquecimento e o
abandono de tudo. Fora
seu próprio confessor
quem tramara tudo, com
um único objetivo: tê-la
para si mesmo, porquanto
se encontrava avassalado
pelas paixões. Algum
tempo depois, ele
relatou-lhe a sua
furiosa paixão, dizendo
ter sido ela o móvel de
toda a desgraça que o
levara a montar o
processo inquisitorial
que levou Teofrastus ao
sacrifício, em nome da
fé e da religião... O
ódio que dela se apossou
foi superior a tudo que
se possa imaginar.
Investida dos hábitos da
Ordem a que se
recolhera, ela o fez
acreditar que se
submeteria aos seus
caprichos e, quando
visitada pelo
ex-confessor, serviu-lhe
vinho a que adicionara
violento veneno.
Enquanto o padre se
retorcia na dor, ela lhe
manifestou o sentimento
de desprezo e de horror
que nutria por ele e,
ali mesmo, também sorveu
o veneno que a consumiu,
sem, no entanto,
matá-la, porque – tão
logo se reconheceu no
mundo dos Espíritos –
reencontrou sua vítima,
que a esperava. (Cap. 9,
págs. 171 a 179)
57. Suplícios no
além-túmulo - Os
sofrimentos que
aguardavam a assassina
são inenarráveis. Foram
sucessões de noites em
que parecia viajar ao
inferno mil vezes, e
dele retornava, ora
vencida por forças
satânicas, dentre as
quais o ex-confessor se
destacava, ora possuída
pelo vermina que corrói
e destrói
progressivamente, para
depois tudo recomeçar de
novo, incessantemente,
doloridamente... Naquele
momento mesmo, a jovem
relata: "agora eu o
sinto na sua ronda
vingadora e o vejo
devorando-me por dentro
– eu que o odeio sem
remorso –, enquanto a
doença me destrói por
fora". A seu turno,
Teofrastus descreveu-lhe
sua triste sina,
fazendo-se rei de
domínios em que o horror
predomina sobre a
piedade e em que a
vingança é a lei de toda
hora. Contou-lhe então
que, ferido, retornou ao
local onde viveram e
buscou-a, sem jamais
lograr encontrá-la. Não
soubera que ela havia
fugido pelo caminho do
suicídio, em cujo curso
ele não tinha meios de
interferir, já que o
suicídio – lembrou – se
depara com outras
construções da justiça.
Relatou, porém, que se
vingara do Bispo de... e
outros asseclas seus,
longe de saber que o
causador de tudo fora o
confessor de sua amada.
Promete-lhe, no entanto,
vingança, ao que Glaucus
responde que só o amor
resolve o problema do
ódio. "Quando
parareis?", indaga-lhe
Glaucus. "A queda não
tem patamar inferior:
sempre se pode baixar
mais..." O benfeitor
explicou-lhe, nesse
ensejo, que a ideia de
desforço fará com que
ele e Henriette se
separem outra vez. Além
disso, o algoz a quem
ambos odeiam, foi também
sua vítima no passado, à
espera de perdão, para
igualmente perdoar. O
infeliz desde há muito
perdeu a faculdade de
discernir. Escravo do
ódio, é vítima dele
mesmo. Feri-lo é
arrematada loucura, pois
ele já não sofre; perdeu
a faculdade de
experimentar a dor.
Ajudá-lo é ajudar a si
mesmo; socorrê-lo com a
piedade significa
libertar-se. (Cap. 9,
págs. 179 a 182)
58. Na Casa
espírita - De
noite, aproveitando o
breve momento do
desprendimento
propiciado pelo sono,
José Petitinga e seus
amigos do grupo espírita
se encontraram com
Saturnino, Glaucus e
demais companheiros na
sede da Casa espírita.
Saturnino preparou as
atividades da noite com
uma prece e Petitinga, a
seu pedido, leu um
trecho do Evangelho de
Marcos, cap. 9,
versículos. 17 a 29, que
ele mesmo comentou. O
trecho lido fala do
Espírito que atormentava
um menino e foi dele
afastado por Jesus, que
ensinou: "Esta espécie
só pode sair à força de
oração". Pouco depois,
Teofrastus deu entrada
na sala, conduzido por
Glaucus. O visitante
tinha o semblante velado
por singular melancolia.
Os olhos, antes
brilhantes, traduziam
estranha ferocidade, se
apresentavam baços e
ele, como se suportasse
algum fardo invisível,
caminhava com
dificuldade. Firmados os
objetivos da reunião,
Teofrastus informou que
não poderia aquiescer
com quaisquer
compromissos que
objetivassem afastá-lo
dos muros do seu campo
de ação. Disse estar
vinculado a uma poderosa
Organização e, embora em
posição de comando, ele
era, por sua vez,
comandado. Ele fazia
parte do grupo dos Doze,
doze Mentes Dominadoras
que se encontravam
submetidos a uma equipe
de dez Magistrados que
habitam Regiões
Infernais, onde os
mínimos desvios da
Justiça recebem longas
punições. (Cap. 10,
págs. 184 a 188)
Frases e
apontamentos importantes
CX. Não ignorais,
através do conhecimento
das "leis de força", na
Física, que a
resistência está na
razão direta do
movimento produzido pelo
impulso dado ao objeto
arremessado. Toda ação,
por isso mesmo, produz
reações que se sucedem e
avançam, chocando-se com
os ditames da Sabedoria
Divina e logo retornando
na direção de quem as
imprime. A violência,
portanto, somente
consegue destruição, e
como nada se aniquila, a
colheita do ódio é
sempre ácido e chuva de
amargura. (Glaucus,
falando a Teofrastus,
cap. 9, pág. 175)
CXI. Se fôsseis humilde
e se acolhêsseis o amor,
ter-vos-ia libertado e
hoje seríeis livre. No
entanto, convertestes a
oportunidade em fardo de
horror e, enlouquecido,
acreditastes no poder da
força, sempre
transitória, porque
somente perene é a força
do amor, que ainda
desdenhais. (Glaucus,
falando a Teofrastus,
cap. 9, pág. 176)
CXII. O próprio Mestre,
mesmo perseguido e
condenado, lecionou
perdão ao invés de
revide, compaixão diante
do ofensor, misericórdia
em relação ao revel e
caridade em toda
circunstância... E
ofereceu-se a si mesmo,
Ele que é o Excelso Rei
Solar, diretor dos
nossos destinos.
(Glaucus, cap. 9, pág.
176)
CXIII. Não esqueçais de
que só o amor pode
resolver o problema do
ódio. Vindes-vos
arrastando pela senda do
tempo, descendo à
animalidade inferior,
consumido pelo
desespero. Quando
parareis? A queda não
tem patamar inferior:
sempre se pode baixar
mais... Também o
planalto da redenção:
sempre se pode ascender
na direção da Vida até à
glorificação imortal.
(Glaucus, falando a
Teofrastus, cap. 9, pág.
181)
CXIV. Insistimos em
elucidar que Chefe
somente um há: Jesus, o
Rei Sublime das nossas
vidas, a Quem devemos as
dádivas oportunas da
evolução e do progresso
atual, em nossa nova
condição de viandantes
da luz. Entregando-nos
ao Seu comando afável,
nenhuma força possuirá
meios de alcançar-nos,
porque sombra alguma,
por mais densa,
conseguirá suplantar a
luz mais insignificante,
submetendo-a...
(Glaucus, cap. 10, págs.
187 e 188)
CXV. O amor é concessão
que se manifesta com mil
faces. (Glaucus, cap.
10, pág. 189)
CXVI. (...) só à Justiça
Divina compete os casos
da justiça. Disse Jesus:
"Vós julgais segundo a
carne (ou a aparência),
eu a ninguém julgo", por
conhecer Ele o nosso
ontem e as perspectivas
do nosso amanhã. Todo
agressor inconsciente
cai hoje ou mais tarde
nas armadilhas da
agressão. (Glaucus, cap.
10, pág. 190)
CXVII. Os nossos erros
hoje ou mais tarde nos
voltam em caráter de
necessária reparação.
Adiar o reajustamento
significa, também,
aumentar os gravames que
o tempo lhes
acrescentará,
impondo-nos mais elevada
dose de sacrifício.
(Glaucus, cap. 10, pág.
191)
CXVIII. Para Ele
<referindo-se a Jesus>
não há perseguidor nem
perseguido, mas
Espíritos enfermos em
estados diferentes,
caminhando por vias
diversas na direção do
Bem Infinito. (...) o
mal é somente ausência
do bem e à chegada deste aquele esmaece,
porquanto só uma força
existe: a do Amor
triunfante! (Glaucus,
cap. 10, pág. 191)
CXIX. O Cristianismo não
teima em aparecer ou
reaparecer: não
desapareceu nunca,
conquanto as
interpolações e
desrespeitos de que foi
vítima através dos
séculos. Refletindo o
pensamento do Cristo, é
a esperança dos homens e
o pão das vidas.
Combatê-lo é
envenenar-se;
persegui-lo significa
dilatar-lhe os
horizontes que se perdem
nas fronteiras do
Sistema Solar. Vã
loucura da ignorância
pelejar contra o
conhecimento e da
estultice investir
contra a sabedoria...
Jesus vive e vence, meu
amigo. (Glaucus, cap.
10, págs. 191 e 192)
CXX. Jesus é o amor
inexaurível: não
persegue: ama; não
tortura: renova; não
desespera: apascenta!
(...) A verdadeira
coragem se manifesta,
também, quando o ser
reconhece o que é e o
que possui, refazendo o
caminho por onde deseja
seguir, reunindo forças
para retemperar o ânimo,
e, qual criança,
aprender o amor desde as
suas primeiras lições.
(Glaucus, cap. 10, pág.
192)
CXXI. O temor descende
da consciência em culpa.
(...) Jesus, porém, é a
expressão do amor e sua
não-violência oferece a
confiança que agiganta
aqueles que o seguem em
extensão de devotamento.
(Glaucus, cap. 10, pág.
192)
CXXII. O ódio é o amor
que enlouqueceu...
(Glaucus, cap. 10, pág.
192)
CXXIII. A construção do
amanhã tem início agora.
Sombras e receios,
mágoas e recriminações
devem ser superados e a
eles se faz necessário
antepor esperança e paz,
fé e trabalho na
reconstrução da
felicidade que tem
demorado. Muitas vezes,
ou quase sempre, quanto
nos ocorre é
consequência do que
realizamos. (Glaucus,
cap. 10, pág. 196)
CXXIV. O ódio, filha,
somente desaparece na
pira do sacrifício do
amor. (...) Jesus,
embora nossa ingratidão,
continua amando-nos.
Quando na Cruz,
conquanto escarnecido,
esteve amando e, agora,
apesar de
propositadamente
ignorado por milhões de
seres, prossegue amando.
Sigamos-Lhe, filha, o
exemplo, e
transformemo-nos em
célula de amor, a fim de
que as nossas
construções se assentem
em alicerces de
segurança. (Glaucus,
falando a Ana Maria,
cap. 10, pág. 197)
CXXV. Para o espírita
decidido, a
tranquilidade de
consciência, ante o
dever retamente
cumprido, é o melhor
prêmio que ele pode
oferecer a si mesmo.
(Manoel P. de Miranda,
cap. 11, pág. 199)
CXXVI. Religião do amor
e da esperança, pábulo
eucarístico pelo qual o
homem pode comungar com
a imortalidade, é <o
Espiritismo> o lenitivo
para a saudade do
desconforto ante a
ausência dos seres
amados que o túmulo
arrebatou (...);
esperança dos padecentes
que sofrem as ácidas
angústias de hoje,
compreendendo serem elas
o resultado da própria
insânia do passado
(...); praia de paz, na
qual repousam em
dinâmica feliz os nautas
aflitos e cansados do
trânsito difícil no mar
das lutas carnais;
santuário de refazimento
através da prece
edificante; escola de
almas, que aprendem no
estudo das suas
informações preciosas e
das suas lições
insuperáveis a técnica
de viver para fruírem a
bênção de morrer
nobremente; hospital de
refazimento para os
trânsfugas do dever, que
nele encontram o bálsamo
para a chaga física,
mental ou moral (...);
"colo de mãe" generosa,
é o amparo da orfandade,
preparando-a para o
porvir luminoso, já que
ninguém é órfão do amor
do Nosso Pai; abrigo da
velhice, portal que logo
abrirá de par-em-par a
aduana da Imortalidade;
oficina de reeducação
onde a miséria desta ou
daquela natureza
encontra a experiência
do trabalho modelador de
caracteres a serviço das
fortunas do amor; traço
de união entre a
criatura e o Criador,
religando-os e
reaproximando-os, até
que a plenitude da paz
possa cantar em cada
criatura, à semelhança
do que o Apóstolo das
Gentes afirmava: "Já não
sou eu o que vivo, mas é
o Cristo que vive em
mim". (Manoel P. de
Miranda, cap. 11, págs.
200 e 201)
(Continua no próximo
número.)