ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
O Espiritismo perante a
Ciência
Gabriel
Delanne
(Parte
15)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do livro O
Espiritismo perante a
Ciência,
de Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme devant la
science,
publicada originalmente
em Paris em 1885.
Questões preliminares
A. Na Alemanha os fatos
espíritas tiveram
acolhida igual à
recebida na França?
Não. Cientistas de
renome radicados na
Alemanha se interessaram
pelo assunto e puderam
comprovar a realidade
das manifestações, a
exemplo do ilustre
astrônomo Zöllner que,
em suas memórias
científicas, narra as
experiências que fez com
Ulrici, professor de
filosofia do maior
valor; de Weber, célebre
fisiologista; de Fechner,
professor da
Universidade de Leipzig,
que trabalhou com Slade,
o médium americano.
Ressalta dos estudos e
das experiências
conscienciosas
instituídas por esses
sábios, não só que as
manifestações espíritas
são reais, como são
dignas, ainda, no mais
alto grau, de atrair a
atenção dos cientistas.
(O Espiritismo perante
a Ciência, Terceira
Parte, Cap. I - Provas
da imortalidade da alma
pela experiência.)
B. Para fazer a mesa
girar é preciso que as
pessoas estejam com os
dedos em contato e fixem
o mesmo ponto do móvel?
Não. Isso é inteiramente
inútil. Na produção do
fenômeno, basta colocar
as mãos, levemente,
sobre a mesa, e esperar
que se manifestem os
movimentos. Ao fim de
certo tempo, ouvem-se
estalidos, indicando que
o fenômeno vai
produzir-se. Em dado
momento, a mesa se ergue
num dos pés e dá uma ou
muitas pancadas; pode
então ser interrogada
pelo processo ordinário.
(Obra citada, Terceira
Parte, Cap. II - As
teorias dos incrédulos e
o testemunho dos fatos.)
C. No fenômeno das mesas
girantes a mesa é um
objeto indispensável, ou
o fato pode produzir-se
com outros objetos?
A mesa não é um móvel
indispensável nesse
gênero de fenômeno.
Qualquer objeto pode
servir a ele, e se
escolheu a mesa somente
por ser mais cômoda que
qualquer outro
instrumento quando são
muitos a experimentar.
(Obra citada, Terceira
Parte, Cap. II - As
teorias dos incrédulos e
o testemunho dos fatos.)
Texto para leitura
382. Na França,
diferentemente da
Inglaterra, quer-se
aparentar tudo saber e
tudo conhecer sem jamais
ter-se estudado. Vejamos
uma prova: Um deputado,
o Senhor Naquet,
anunciou, há alguns
anos, que iria fazer uma
conferência sobre o
Espiritismo e seus
adeptos. Esperava-se do
eloquente orador uma
refutação em regra,
apoiada em bons
argumentos. Não houve
nada disso; limitou-se
ele a reeditar os
lugares comuns, já fora
da moda, e levou a
audácia a ponto de dizer
que nenhum homem de
certa notoriedade se
havia ocupado do
assunto. Levantou-se,
então, uma senhora e lhe
fez chegar às mãos a
lista dos sábios
estrangeiros que haviam
publicado obras sobre o
Espiritismo. Naquet
confessou ingenuamente
sua ignorância.
383. Podemos ainda citar
na Inglaterra, entre os
adeptos do novo
espiritualismo, alguns
homens eminentes:
Augusto de Morgan,
presidente da Sociedade
Matemática de Londres;
Oxon, professor da
Faculdade de Oxford; P.
Barkas, membro do
Instituto Geológico de
Newcastle, e o professor
Tyndall, autor de
notáveis estudos
físicos. Todos se
tornaram espiritistas,
depois de verificarem
de visu as
manifestações dos
Espíritos.
384. Depois da
enumeração de tantos
nomes ilustres, podemos
sorrir da ingênua
pretensão dos que, sem
estudos preliminares,
querem repelir o
Espiritismo, tendo-o
como vulgar superstição,
ou melhor, como “uma
sandice de mundo
nascente”, na opinião
graciosa de Dupont
White, reproduzida por
Jules Soury.
385. Se há sandice,
estamos em boa
companhia, porque a
estudiosa Alemanha nos
oferece, também,
respeitável contingente.
Vemos, à frente, o
ilustre astrônomo
Zöllner que, em suas
memórias científicas,
narra as experiências
que fez com Ulrici,
professor de filosofia
do maior valor; Weber,
célebre fisiologista,
Fechner, professor da
Universidade de Leipzig,
com Slade, o médium
americano. Ressalta
desses estudos e das
experiências
conscienciosas
instituídas por esses
sábios, não só que as
manifestações espíritas
são reais, como são
dignas, ainda, no mais
alto grau, de atrair a
atenção dos cientistas.
386. Na França, pelas
razões supracitadas, não
contamos em nossas
fileiras tantas
notabilidades oficiais,
mas os nomes de
Flammarion, Victor Hugo,
Sardou, Girardin, de
Vacquerie, de Louis
Jourdan, de Maurice
Lachâtre e de outros têm
algum valor e formam
belo contingente, no
qual Dupont White e
Jules Soury não poderão
encontrar, jamais,
lugar.[i]
387. Enunciaram-se, a
propósito das mesas
girantes e do
Espiritismo, os mais
contraditórios juízos.
Entre os mais severos,
encontra-se Bersot, que
já vimos tão bem
informado sobre o
magnetismo. Ouçamo-lo:
“Enfim, o Espiritismo, é
preciso dizê-lo
claramente, explica-se
por causas muito
naturais: ilusão,
trapaçaria, credulidade.
Como se não fosse
bastante a fraqueza da
razão, opuseram-lhe o
coração humano, e aqui
nos dividimos entre a
indignação contra os que
zombam desses sagrados
sentimentos e a simpatia
pelos que assim se
deixam enganar.”
388. Para dar formal
desmentido às imputações
caluniosas, vamos
examinar cuidadosamente
os fatos, não os que
temos observado, mas os
narrados pelos sábios de
que falamos. Citaremos
muitas vezes Wallace e
Crookes, homens cuja
boa-fé, honestidade e
valor intelectual
respondem vitoriosamente
às acusações de
credulidade, trapaçaria
ou ilusão, que, com
tanta generosidade, nos
prodigalizam os êmulos
de Jules Soury.
389. Segundo certas
lendas, é preciso,
quando se quer fazer
girar a mesa, que as
pessoas estejam com os
dedos em contacto e
fixem, com ininterrupta
atenção, o mesmo ponto
do móvel. Isso é
inteiramente inútil.
Basta colocar as mãos,
levemente, sobre a mesa,
e esperar que se
manifestem os
movimentos. Ao fim de
certo tempo, ouvem-se
estalidos, indicando que
o fenômeno vai
produzir-se. Em dado
momento, a mesa se ergue
num dos pés e dá uma ou
muitas pancadas; pode
então ser interrogada
pelo processo ordinário.
390. Os deslocamentos do
móvel são, por vezes,
violentos. Conta Eugène
Nus, no livro
encantador, intitulado
Choses de l'Autre
Monde, como
conseguiu, em companhia
de amigos, fazer com que
a mesa girasse:
“Trouxemos para o meio
do quarto uma pesada e
maciça mesa de jantar;
assentamo-nos em torno,
aplicamos as mãos,
esperamos seguindo as
formalidades e, depois
de alguns minutos, ela
oscila sob nossos dedos.
– Quem é o gracejador?
Todos protestam
inocência, mas cada um
desconfia do vizinho,
quando, de repente, a
mesa se levanta em dois
pés. Desta vez não há
dúvida possível. Ela é
bastante pesada para que
o esforço, mesmo
aparente, possa
incliná-la assim. Além
disso, como para zombar
de nós, permanece
imóvel, em equilíbrio,
nas duas pernas de trás,
formando com o assoalho
um ângulo quase reto, e
resiste sob os braços
que a querem fazer
voltar à posição
natural, o que
conseguem, enfim, depois
de enérgico esforço.”
“Nós nos olhávamos
espantados” – acrescenta
o autor; devemos fazer
notar que esse espanto
muito natural foi
partilhado por Babinet,
ao ver uma mesa
elevar-se no ar, sem que
alguém a tocasse.
391. Lemos, com efeito,
na Revue
Spiritualiste de
1868: “Um fato notável e
de grande importância
para as ideias que
representamos acaba de
produzir-se em Paris. O
ilustre sábio Babinet,
apresentado a Montet,
foi testemunha da
ascensão de uma mesa,
isolada de todo contato.
O acadêmico ficou por
tal forma surpreendido,
que não pôde deixar de
exclamar: – É
assombroso! Sabemos isto
de várias testemunhas de
vista, entre as quais o
honrado General Barão de
Brévern, que nos
autorizou a dar desse
fato e dessa palavra a
garantia do seu nome.
Ele está pronto a
renovar seu testemunho a
quem o quiser e diante
de quem quer que seja.”
392. As mesas manifestam
sinais de inteligência,
ora batendo com um pé
certo número de vezes,
ora fazendo ouvir na
madeira pequenos estalos
quando se pronuncia a
letra que o Espírito
quer designar. Pode-se
assim estabelecer uma
conversa.
393. Não se presuma que
a mesa é um móvel
indispensável e que o
Espírito se venha alojar
na madeira, como se tem
dito. Qualquer objeto
pode servir a esse
gênero de fenômeno, e se
escolheu a mesa por ser
mais cômoda que qualquer
outro instrumento,
quando são muitos a
experimentar.
394. Nesse estudo,
seguiremos William
Crookes, que catalogou
os fenômenos, passando
dos mais simples aos
mais complexos. Salvo as
raras exceções, que ele
indica, os fatos se
produziram em sua casa,
à luz, em presença do
médium e de alguns
amigos:
1 - Movimento de
corpos pesados com
contato, mas sem esforço
mecânico. “É um dos
fenômenos mais simples
que observei. Ele varia
desde os abalos num
quarto e no seu
mobiliário até a
ascensão de um corpo
pesado, quando a mão
está em cima. Pode-se
objetar a isso que
quando se toca um objeto
em movimento, é possível
puxá-lo, impeli-lo, ou
levantá-lo: Provei
pela experiência
que, em numerosos casos,
isso não podia suceder;
mas, como elementos de
prova, ligo pouca
importância a essa
classe de fenômenos e só
os menciono como
preliminares a outros
movimentos do mesmo
gênero, porém,
produzidos sem contato.”
2 - Fenômenos de
percussão e outros sons
da mesma natureza.
“O nome popular de
pancadas dá uma ideia
muito falsa desse gênero
de fenômenos. Por
diferentes vezes, em
nossas experiências,
ouvi sons delicados, que
se diriam produzidos
pela ponta de um
alfinete; uma cascata de
sons intensos como os de
uma máquina de indução,
em pleno movimento;
detonações no ar,
ligeiros ruídos
metálicos, agudos;
crepitações como as que
se ouvem quando uma
máquina de atrito está
em ação; sons que se
assemelham a raspagens,
gorjeios como de
pássaro... Esses ruídos,
que observei com quase
todos os médiuns, têm
cada um suas
particularidades
especiais. Com Home são
mais variados; mas,
quanto à intensidade e à
regularidade não
encontrei ninguém que se
pudesse comparar a Kate
Fox. Durante muitos
meses, tive o prazer, em
inúmeras ocasiões, de
verificar os variados
fenômenos que ocorriam
em presença dessa
senhora, e foram esses
ruídos que estudei
particularmente. Com
outros médiuns, é
geralmente necessário,
para a regularidade da
sessão, que todos se
sentem antes que os
ruídos se façam ouvir;
mas em relação à Srta.
Fox, basta colocar-lhe a
mão, não importa em que,
para que se escutem sons
vigorosos, como um
choque tríplice e
algumas vezes com força
suficiente para serem
percebidos através de
vários aposentos.
Ouvi-os em uma árvore
viçosa, em uma vidraça,
num fio de ferro
estendido, numa membrana
esticada, num tamboril,
na coberta de um
cabriolé e no assoalho
de um teatro. Ainda
mais, o contato imediato
não é sempre necessário;
percebi os ruídos saindo
do soalho, das paredes,
quando a médium tinha
pés e mãos ligados,
quando em pé numa
cadeira, quando ela se
encontrava num balanço
suspenso do teto, quando
estava encerrada numa
gaiola de ferro, e
quando em síncope, num
canapé. Ouvi-os numa
harmônica, senti-os em
meus ombros e em minhas
mãos. Ouvi-os numa folha
de papel segura entre os
dedos e suspensa pela
extremidade de um fio
que passava pelo canto
dessa folha. Tinha
conhecimento das teorias
expostas, sobretudo na
América, para explicar
esses sons.
Experimentei-os por
todas as formas que pude
imaginar, até que não
houve como fugir à
convicção de que eram
reais e que não se
produziam pela fraude ou
por meios mecânicos.”
395. Desde que esses
fenômenos foram
verificados, sábios
notáveis, como Faraday,
Babinet, Chevreul
procuraram explicá-los
por hipóteses mais ou
menos racionais; não
lhes era fácil, porque a
ciência, que repeliu com
tanto desdém o fluido
magnético, não podia
aqui lhe arranjar um
papel.
396. A
fim de sair do embaraço,
Faraday fez muitas
experiências para
demonstrar que a
aderência dos dedos à
superfície da mesa era
condição do seu
movimento, porque, dizia
ele, uma vez
estabelecida esta
aderência, as
trepidações nervosas e
musculares dos dedos
acabam por se tornar
bastante potentes para
imprimir um movimento à
mesa.
397. É isto verdade? –
responde Crookes que
não, e prova-o. Imaginou
ligar a extremidade de
uma comprida tábua a uma
balança muito sensível,
enquanto a outra
extremidade repousava em
alvenaria. Destarte, a
balança indicava certo
peso, de que se tomou
nota. O médium pôs as
mãos na parte da tábua
sobre a alvenaria, por
forma que qualquer
pressão faria levantar a
tábua, o que logo seria
visto pela diminuição de
peso, que a balança
acusaria. Em vez disso,
a tábua abaixou com uma
força de seis libras e
meia. Home, o médium,
para provar que não
exercia pressão, colocou
sob os dedos uma frágil
caixa de fósforos, e o
mesmo fato se
reproduziu. Nesta última
circunstância, qualquer
aderência dos dedos
seria destruída e, ainda
que se desse,
perturbaria, em vez de
favorecer o fenômeno.
398. Faz ainda notar
Crookes que não publicou
suas observações, senão
depois de haver visto os
fatos se produzirem uma
meia dúzia de vezes,
de forma a bem
verificá-los. Para tirar
à teoria da aderência
qualquer probabilidade,
o sábio químico
construiu um segundo
aparelho, tendo idêntico
princípio, mas no qual o
contato se produzia por
meio d'água, de modo que
houvesse impossibilidade
absoluta de
transmitir-se à prancha
qualquer movimento
mecânico. Notou, aliás,
que a balança acusava,
muitas vezes, aumento de
peso, quando Home
conservava as mãos
muitas polegadas acima
do aparelho. A
hipótese de Faraday é,
pois, absolutamente
falsa.
399. Babinet encontrou
uma outra hipótese, ou
melhor, formulou a mesma
que Faraday, mas em
outros termos. Segundo
ele, os deslocamentos da
mesa eram produzidos por
movimentos nascentes
e inconscientes,
isto é, que,
involuntariamente, as
pessoas reunidas em
torno da mesa lhe
comunicariam, de maneira
automática, certos
movimentos. Estabeleceu
ele esta teoria antes de
ter observado todos os
casos que se podem
apresentar, pois que a
elevação de um móvel
sem contato é
inexplicável pelo seu
método. Ademais, a
experiência de Crookes,
citada acima, reduz a
nada essas
pseudoexplicações. (Continua no próximo
número.)
[i]
Depois da
primeira edição
deste livro foi
criado em Paris
o Instituto
Metapsíquico
Internacional,
para o estudo
dos fenômenos
espíritas, e a
partir disso
numerosos sábios
afirmaram a
autenticidade
dos fatos.