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Clássicos do Espiritismo
Ano 5 - N° 222 - 14 de Agosto de 2011
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


O Espiritismo perante a Ciência

 Gabriel Delanne

(Parte 15)

Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la science, publicada originalmente em Paris em 1885.

Questões preliminares

A. Na Alemanha os fatos espíritas tiveram acolhida igual à recebida na França?

Não. Cientistas de renome radicados na Alemanha se interessaram pelo assunto e puderam comprovar a realidade das manifestações, a exemplo do ilustre astrônomo Zöllner que, em suas memórias científicas, narra as experiências que fez com Ulrici, professor de filosofia do maior valor; de Weber, célebre fisiologista; de Fechner, professor da Universidade de Leipzig, que trabalhou com Slade, o médium americano. Ressalta dos estudos e das experiências conscienciosas instituídas por esses sábios, não só que as manifestações espíritas são reais, como são dignas, ainda, no mais alto grau, de atrair a atenção dos cientistas. (O Espiritismo  perante a Ciência, Terceira Parte, Cap. I - Provas da imortalidade da alma pela experiência.)

B. Para fazer a mesa girar é preciso que as pessoas estejam com os dedos em contato e fixem o mesmo ponto do móvel?

Não. Isso é inteiramente inútil. Na produção do fenômeno, basta colocar as mãos, levemente, sobre a mesa, e esperar que se manifestem os movimentos. Ao fim de certo tempo, ouvem-se estalidos, indicando que o fenômeno vai produzir-se. Em dado momento, a mesa se ergue num dos pés e dá uma ou muitas pancadas; pode então ser interrogada pelo processo ordinário. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. II - As teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos.)

C. No fenômeno das mesas girantes a mesa é um objeto indispensável, ou o fato pode produzir-se com outros objetos?

A mesa não é um móvel indispensável nesse gênero de fenômeno. Qualquer objeto pode servir a ele, e se escolheu a mesa somente por ser mais cômoda que qualquer outro instrumento quando são muitos a experimentar. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. II - As teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos.)

Texto para leitura

382. Na França, diferentemente da Inglaterra, quer-se aparentar tudo saber e tudo conhecer sem jamais ter-se estudado. Vejamos uma prova: Um deputado, o Senhor Naquet, anunciou, há alguns anos, que iria fazer uma conferência sobre o Espiritismo e seus adeptos. Esperava-se do eloquente orador uma refutação em regra, apoiada em bons argumentos. Não houve nada disso; limitou-se ele a reeditar os lugares comuns, já fora da moda, e levou a audácia a ponto de dizer que nenhum homem de certa notoriedade se havia ocupado do assunto. Levantou-se, então, uma senhora e lhe fez chegar às mãos a lista dos sábios estrangeiros que haviam publicado obras sobre o Espiritismo. Naquet confessou ingenuamente sua ignorância.

383. Podemos ainda citar na Inglaterra, entre os adeptos do novo espiritualismo, alguns homens eminentes: Augusto de Morgan, presidente da Sociedade Matemática de Londres; Oxon, professor da Faculdade de Oxford; P. Barkas, membro do Instituto Geológico de Newcastle, e o professor Tyndall, autor de notáveis estudos físicos. Todos se tornaram espiritistas, depois de verificarem de visu as manifestações dos Espíritos.

384. Depois da enumeração de tantos nomes ilustres, podemos sorrir da ingênua pretensão dos que, sem estudos preliminares, querem repelir o Espiritismo, tendo-o como vulgar superstição, ou melhor, como “uma sandice de mundo nascente”, na opinião graciosa de Dupont White, reproduzida por Jules Soury.

385. Se há sandice, estamos em boa companhia, porque a estudiosa Alemanha nos oferece, também, respeitável contingente. Vemos, à frente, o ilustre astrônomo Zöllner que, em suas memórias científicas, narra as experiências que fez com Ulrici, professor de filosofia do maior valor; Weber, célebre fisiologista, Fechner, professor da Universidade de Leipzig, com Slade, o médium americano. Ressalta desses estudos e das experiências conscienciosas instituídas por esses sábios, não só que as manifestações espíritas são reais, como são dignas, ainda, no mais alto grau, de atrair a atenção dos cientistas.

386. Na França, pelas razões supracitadas, não contamos em nossas fileiras tantas notabilidades oficiais, mas os nomes de Flammarion, Victor Hugo, Sardou, Girardin, de Vacquerie, de Louis Jourdan, de Maurice Lachâtre e de outros têm algum valor e formam belo contingente, no qual Dupont White e Jules Soury não poderão encontrar, jamais, lugar.[i]

387. Enunciaram-se, a propósito das mesas girantes e do Espiritismo, os mais contraditórios juízos. Entre os mais severos, encontra-se Bersot, que já vimos tão bem informado sobre o magnetismo. Ouçamo-lo: “Enfim, o Espiritismo, é preciso dizê-lo claramente, explica-se por causas muito naturais: ilusão, trapaçaria, credulidade. Como se não fosse bastante a fraqueza da razão, opuseram-lhe o coração humano, e aqui nos dividimos entre a indignação contra os que zombam desses sagrados sentimentos e a simpatia pelos que assim se deixam enganar.”

388. Para dar formal desmentido às imputações caluniosas, vamos examinar cuidadosamente os fatos, não os que temos observado, mas os narrados pelos sábios de que falamos. Citaremos muitas vezes Wallace e Crookes, homens cuja boa-fé, honestidade e valor intelectual respondem vitoriosamente às acusações de credulidade, trapaçaria ou ilusão, que, com tanta generosidade, nos prodigalizam os êmulos de Jules Soury.

389. Segundo certas lendas, é preciso, quando se quer fazer girar a mesa, que as pessoas estejam com os dedos em contacto e fixem, com ininterrupta atenção, o mesmo ponto do móvel. Isso é inteiramente inútil. Basta colocar as mãos, levemente, sobre a mesa, e esperar que se manifestem os movimentos. Ao fim de certo tempo, ouvem-se estalidos, indicando que o fenômeno vai produzir-se. Em dado momento, a mesa se ergue num dos pés e dá uma ou muitas pancadas; pode então ser interrogada pelo processo ordinário.

390. Os deslocamentos do móvel são, por vezes, violentos. Conta Eugène Nus, no livro encantador, intitulado Choses de l'Autre Monde, como conseguiu, em companhia de amigos, fazer com que a mesa girasse: “Trouxemos para o meio do quarto uma pesada e maciça mesa de jantar; assentamo-nos em torno, aplicamos as mãos, esperamos seguindo as formalidades e, depois de alguns minutos, ela oscila sob nossos dedos. – Quem é o gracejador? Todos protestam inocência, mas cada um desconfia do vizinho, quando, de repente, a mesa se levanta em dois pés. Desta vez não há dúvida possível. Ela é bastante pesada para que o esforço, mesmo aparente, possa incliná-la assim. Além disso, como para zombar de nós, permanece imóvel, em equilíbrio, nas duas pernas de trás, formando com o assoalho um ângulo quase reto, e resiste sob os braços que a querem fazer voltar à posição natural, o que conseguem, enfim, depois de enérgico esforço.” “Nós nos olhávamos espantados” – acrescenta o autor; devemos fazer notar que esse espanto muito natural foi partilhado por Babinet, ao ver uma mesa elevar-se no ar, sem que alguém a tocasse.

391. Lemos, com efeito, na Revue Spiritualiste de 1868: “Um fato notável e de grande importância para as ideias que representamos acaba de produzir-se em Paris. O ilustre sábio Babinet, apresentado a Montet, foi testemunha da ascensão de uma mesa, isolada de todo contato. O acadêmico ficou por tal forma surpreendido, que não pôde deixar de exclamar: – É assombroso! Sabemos isto de várias testemunhas de vista, entre as quais o honrado General Barão de Brévern, que nos autorizou a dar desse fato e dessa palavra a garantia do seu nome. Ele está pronto a renovar seu testemunho a quem o quiser e diante de quem quer que seja.”

392. As mesas manifestam sinais de inteligência, ora batendo com um pé certo número de vezes, ora fazendo ouvir na madeira pequenos estalos quando se pronuncia a letra que o Espírito quer designar. Pode-se assim estabelecer uma conversa.

393. Não se presuma que a mesa é um móvel indispensável e que o Espírito se venha alojar na madeira, como se tem dito. Qualquer objeto pode servir a esse gênero de fenômeno, e se escolheu a mesa por ser mais cômoda que qualquer outro instrumento, quando são muitos a experimentar.

394. Nesse estudo, seguiremos William Crookes, que catalogou os fenômenos, passando dos mais simples aos mais complexos. Salvo as raras exceções, que ele indica, os fatos se produziram em sua casa, à luz, em presença do médium e de alguns amigos: 

1 - Movimento de corpos pesados com contato, mas sem esforço mecânico. “É um dos fenômenos mais simples que observei. Ele varia desde os abalos num quarto e no seu mobiliário até a ascensão de um corpo pesado, quando a mão está em cima. Pode-se objetar a isso que quando se toca um objeto em movimento, é possível puxá-lo, impeli-lo, ou levantá-lo: Provei pela experiência que, em numerosos casos, isso não podia suceder; mas, como elementos de prova, ligo pouca importância a essa classe de fenômenos e só os menciono como preliminares a outros movimentos do mesmo gênero, porém, produzidos sem contato.”

2 -  Fenômenos de percussão e outros sons da mesma natureza. “O nome popular de pancadas dá uma ideia muito falsa desse gênero de fenômenos. Por diferentes vezes, em nossas experiências, ouvi sons delicados, que se diriam produzidos pela ponta de um alfinete; uma cascata de sons intensos como os de uma máquina de indução, em pleno movimento; detonações no ar, ligeiros ruídos metálicos, agudos; crepitações como as que se ouvem quando uma máquina de atrito está em ação; sons que se assemelham a raspagens, gorjeios como de pássaro... Esses ruídos, que observei com quase todos os médiuns, têm cada um suas particularidades especiais. Com Home são mais variados; mas, quanto à intensidade e à regularidade não encontrei ninguém que se pudesse comparar a Kate Fox. Durante muitos meses, tive o prazer, em inúmeras ocasiões, de verificar os variados fenômenos que ocorriam em presença dessa senhora, e foram esses ruídos que estudei particularmente. Com outros médiuns, é geralmente necessário, para a regularidade da sessão, que todos se sentem antes que os ruídos se façam ouvir; mas em relação à Srta. Fox, basta colocar-lhe a mão, não importa em que, para que se escutem sons vigorosos, como um choque tríplice e algumas vezes com força suficiente para serem percebidos através de vários aposentos. Ouvi-os em uma árvore viçosa, em uma vidraça, num fio de ferro estendido, numa membrana esticada, num tamboril, na coberta de um cabriolé e no assoalho de um teatro. Ainda mais, o contato imediato não é sempre necessário; percebi os ruídos saindo do soalho, das paredes, quando a médium tinha pés e mãos ligados, quando em pé numa cadeira, quando ela se encontrava num balanço suspenso do teto, quando estava encerrada numa gaiola de ferro, e quando em síncope, num canapé. Ouvi-os numa harmônica, senti-os em meus ombros e em minhas mãos. Ouvi-os numa folha de papel segura entre os dedos e suspensa pela extremidade de um fio que passava pelo canto dessa folha. Tinha conhecimento das teorias expostas, sobretudo na América, para explicar esses sons. Experimentei-os por todas as formas que pude imaginar, até que não houve como fugir à convicção de que eram reais e que não se produziam pela fraude ou por meios mecânicos.”

395. Desde que esses fenômenos foram verificados, sábios notáveis, como Faraday, Babinet, Chevreul procuraram explicá-los por hipóteses mais ou menos racionais; não lhes era fácil, porque a ciência, que repeliu com tanto desdém o fluido magnético, não podia aqui lhe arranjar um papel.

396. A fim de sair do embaraço, Faraday fez muitas experiências para demonstrar que a aderência dos dedos à superfície da mesa era condição do seu movimento, porque, dizia ele, uma vez estabelecida esta aderência, as trepidações nervosas e musculares dos dedos acabam por se tornar bastante potentes para imprimir um movimento à mesa.

397. É isto verdade? – responde Crookes que não, e prova-o. Imaginou ligar a extremidade de uma comprida tábua a uma balança muito sensível, enquanto a outra extremidade repousava em alvenaria. Destarte, a balança indicava certo peso, de que se tomou nota. O médium pôs as mãos na parte da tábua sobre a alvenaria, por forma que qualquer pressão faria levantar a tábua, o que logo seria visto pela diminuição de peso, que a balança acusaria. Em vez disso, a tábua abaixou com uma força de seis libras e meia. Home, o médium, para provar que não exercia pressão, colocou sob os dedos uma frágil caixa de fósforos, e o mesmo fato se reproduziu. Nesta última circunstância, qualquer aderência dos dedos seria destruída e, ainda que se desse, perturbaria, em vez de favorecer o fenômeno.

398. Faz ainda notar Crookes que não publicou suas observações, senão depois de haver visto os fatos se produzirem uma meia dúzia de vezes, de forma a bem verificá-los. Para tirar à teoria da aderência qualquer probabilidade, o sábio químico construiu um segundo aparelho, tendo idêntico princípio, mas no qual o contato se produzia por meio d'água, de modo que houvesse impossibilidade absoluta de transmitir-se à prancha qualquer movimento mecânico. Notou, aliás, que a balança acusava, muitas vezes, aumento de peso, quando Home conservava as mãos muitas polegadas acima do aparelho. A hipótese de Faraday é, pois, absolutamente falsa.

399. Babinet encontrou uma outra hipótese, ou melhor, formulou a mesma que Faraday, mas em outros termos. Segundo ele, os deslocamentos da mesa eram produzidos por movimentos nascentes e inconscientes, isto é, que, involuntariamente, as pessoas reunidas em torno da mesa lhe comunicariam, de maneira automática, certos movimentos. Estabeleceu ele esta teoria antes de ter observado todos os casos que se podem apresentar, pois que a elevação de um móvel sem contato é inexplicável pelo seu método. Ademais, a experiência de Crookes, citada acima, reduz a nada essas pseudoexplicações.  (Continua no próximo número.) 

 

[i]    Depois da primeira edição deste livro foi criado em Paris o Instituto Metapsíquico Internacional, para o estudo dos fenômenos espíritas, e a partir disso numerosos sábios afirmaram a autenticidade dos fatos.

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita