O
Espiritismo perante
a Ciência
Gabriel
Delanne
(Parte 17)
Damos continuidade
nesta edição ao
estudo do livro O
Espiritismo perante
a Ciência, de
Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme devant la
science,
publicada
originalmente em
Paris em 1885.
Questões
preliminares
A. Quem é
considerado o
pioneiro na pesquisa
da chamada escrita
direta?
O pioneiro no
tocante a esse
fenômeno foi o Barão
de Guldenstubbé, que
publicou, em 1857,
um livro curioso,
intitulado La
Réalité des Esprits
et le phénomène
merveilleux de leur
écriture directe.
Nesse volume, conta
o autor como foi
levado a fazer essa
experiência.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Terceira Parte, Cap.
II - As teorias dos
incrédulos e o
testemunho dos
fatos.)
B. Que diz Gabriel
Delanne a propósito
da escrita direta?
Delanne a considera
o mais
extraordinário
dentre os fenômenos
espíritas, e cita, a
propósito, vários
fatos colhidos nas
experiências de
William Crookes com
a médium Kate Fox.
(Obra citada,
Terceira Parte, Cap.
II - As teorias dos
incrédulos e o
testemunho dos
fatos.)
C. Por que os
cientistas,
provavelmente a
maioria, resistem em
admitir a
participação dos
Espíritos nos
fenômenos que
colegas deles
comprovaram e
descreveram?
O fato se explica
pela dificuldade que
existe em
modificarmos nossas
crenças milenares.
“A velha muralha das
crenças deve ser
abatida à força dos
golpes”, disse a
Crookes um de seus
amigos, e Delanne
pensa de igual modo.
(Obra citada,
Terceira Parte, Cap.
I - Provas da
imortalidade da alma
pela experiência.)
Texto para leitura
416. Como está
muito espalhada a
objeção da
transmissão pelo
pensamento, vamos
citar outros
exemplos que
mostrarão quanto ela
é absurda quando se
quer aplicá-la às
manifestações
espíritas.
417. Refere Crookes
que, numa sessão com
Home, uma pequena
régua, que se achava
na mesa, a pouca
distância das mãos
do médium,
atravessou a mesa,
sozinha,
veio, em plena luz,
até ele e lhe deu
uma comunicação
(é assim que se
denominam as
mensagens dos
Espíritos),
batendo-lhe numa das
mãos. “Soletrei –
diz Crookes – o
alfabeto, e a régua,
cuja extremidade
assentava na mesa,
me batia às letras
necessárias. As
pancadas eram tão
nítidas, tão
precisas, e estava a
régua sob tão
evidente influência
de um poder
invisível, que
perguntei: – A
inteligência que
dirige os movimentos
dessa régua poderá
mudar o caráter
desses movimentos e
dar-me, por meio de
pancadas na minha
mão, uma mensagem
telegráfica no
alfabeto de Morse?
Tenho razões para
crer que o alfabeto
Morse era
inteiramente
desconhecido dos
presentes, e eu
mesmo sabia mal.
Apenas pronunciara
aquelas palavras,
mudou o caráter das
pancadas; a mensagem
continuou na forma
em que eu pedira. As
letras eram dadas
rapidamente, de
maneira que se
apanhava uma ou
outra palavra, e a
mensagem perdeu-se;
vi, porém, o
bastante para
convencer-me de que
havia, na outra
extremidade da
régua, um bom
operador de Morse,
quem quer que possa
ser.”
418. Não há aqui
sombra de
transmissão de
pensamento, e
desafiamos Chevreul,
Thury e os demais a
nos explicarem o que
se dá no caso,
excluída a
intervenção
espiritual.
419. Um último fato,
igualmente probante,
é lembrado por
Crookes: “Certa
senhora escrevia,
automaticamente, por
meio da prancheta.
Procurei descobrir o
meio de provar que o
que ela escrevia não
era devido à ação
inconsciente do
cérebro. A prancheta
afirmava, como o faz
sempre, que, embora
ela fosse posta em
movimento pela mão e
pelo braço dessa
senhora, a
inteligência que a
dirigia era a de um
ser invisível, que
se utilizava do
cérebro da senhora
como de um
instrumento de
música, e assim lhe
fazia mover os
músculos. Perguntei,
então, à
inteligência:
– Vê o que há neste
aposento?
– Sim, escreveu a
prancheta.
– Vê esse jornal e o
pode ler? – ajuntei,
colocando o dedo num
número do Times,
que estava em uma
mesa, atrás de mim,
mas sem o olhar.
– Sim, respondeu a
prancheta.
– Bem – acrescentei
eu –, se pode vê-lo,
escreva, agora, a
palavra que está
coberta por meu
dedo, e crer-lhe-ei.
A prancheta começou
por mover-se
lentamente e com
muita dificuldade
escreveu a palavra
honra (honour);
voltei-me e vi que a
palavra honra era a
coberta pela ponta
de meu dedo. Quando
fiz essa
experiência,
evitara,
propositadamente,
olhar o jornal,
e era impossível
à senhora, ainda que
o tivesse tentado,
ver uma única
palavra impressa,
porque ela estava
sentada a uma mesa,
o jornal ficava em
outra, atrás de mim,
e meu corpo o
encobria.”
420. O testemunho de
sábios como Crookes
e Wallace é de
grande valor, porque
seria difícil
acreditar que esses
grandes homens
estivessem a
divertir-se,
mistificando, como
vulgares farsistas,
os seus
contemporâneos. Por
outra parte, seu
saber, o profundo
hábito da
experiência, os põem
ao abrigo da
acusação de
credulidade.
421. É preciso,
pois, concluir que
eles realmente
viram, que os
fatos são bem
reais e que os
Espíritos se
manifestam aos
homens. Se não
temêssemos
sobrecarregar a
discussão,
citaríamos ainda um
grande número de
fatos, mas
preferimos
encaminhar o leitor
desejoso de
instruir-se aos
volumes publicados
por esses sábios.
422. As
manifestações
espíritas não se
limitam ao movimento
das mesas; a
experiência revelou
que os Espíritos
agem sobre os
homens, de
diferentes modos,
para ditar suas
comunicações. Mas,
qualquer que seja o
seu modo de operar,
é preciso que haja
entre os assistentes
um indivíduo que
possa ceder parte de
seu fluido vital. Os
que têm essa
propriedade são
chamados médiuns.
423. O mais
extraordinário entre
os fenômenos
espíritas é,
indubitavelmente, o
da escrita direta.
Citemos novamente
Crookes: “A escrita
direta é a expressão
empregada para
designar a escrita
que não é produzida
por nenhuma das
pessoas presentes.
Obtive, muitas
vezes, palavras e
mensagens escritas
em papéis marcados
com o meu sinete
particular e sob a
mais rigorosa
fiscalização. Ouvi,
no escuro, o lápis
mover-se no papel.
As precauções
preliminares tomadas
por mim foram tão
grandes que o meu
espírito se
convencera, como se
eu tivesse visto os
caracteres se
formarem. Mas,
por falta de espaço,
limitar-me-ei a
citar os casos em
que meus olhos e
meus ouvidos foram
testemunhas da
operação. O primeiro
fato, é verdade, se
realizou numa sessão
escura, mas o
resultado não foi
menos satisfatório.
Eu estava junto da
médium, a Srta. Kate
Fox; não havia mais
pessoas presentes,
além de minha mulher
e outra senhora,
nossa parenta; eu
segurava as mãos da
médium numa das
minhas enquanto que
seus pés estavam
sobre os meus. Havia
papel na mesa e em
minha mão livre
mantinha um lápis.
Uma mão luminosa
desceu do teto e
depois de haver
planado perto de
mim, alguns
segundos, tomou-me o
lápis da mão,
escreveu rapidamente
numa folha de papel,
deixou o lápis e, em
seguida, elevou-se
acima de nossas
cabeças e, pouco a
pouco, se perdeu na
obscuridade.”
424. Não é a
primeira vez que
tais fatos se
produzem. O Barão de
Guldenstubbé
publicou, em 1857,
um livro curioso,
intitulado La
Réalité des Esprits
et le phénomène
merveilleux de leur
écriture directe.
Nesse volume, conta
o autor como foi
levado a fazer essa
experiência. Estava
à procura de uma
prova, ao mesmo
tempo, inteligente e
palpável, da
realidade do mundo
dos Espíritos, para
demonstrar a
existência da alma
com fatos
irrefutáveis.
Colocou, pois, um
papel de carta,
branco, e um lápis
numa caixa; fechou-a
a chave e nada disse
a ninguém. Para
maior segurança, pôs
a chave no bolso.
Esperou 12 dias em
vão, sem notar algo
de novo; qual não
foi, porém, a sua
surpresa, quando, a
13 de agosto de
1856, viu certos
caracteres no papel.
Não podia crer em
seus olhos e repetiu
a experiência dez
vezes no mesmo dia,
a fim de
convencer-se de que
não era joguete de
uma ilusão.
425. Contou a seu
amigo, o conde
Ourches, o
maravilhoso
descobrimento;
experimentaram ambos
e, depois de várias
tentativas, obteve o
conde uma
comunicação de sua
mãe, morta cerca de
20 anos antes; a
escrita e a
assinatura foram
reconhecidas como
verdadeiras. Isso
afasta qualquer
interpretação
sonambúlica do
fenômeno.
426. Tem-se dito que
as mensagens
recebidas por esse
processo são, na
maior parte,
insípidas. Responde
Oxon, professor da
Faculdade de Oxford:
“Quanto à
inteligência das
mensagens escritas
fora dos processos
comuns, não quero
saber se é ou não
digna de apreço,
pelo conteúdo das
comunicações. O
escrito pode ser tão
insensato quanto
aprouver aos
críticos. Se nada há
mais tolo, isso
favorece meu
argumento. Está ou
não está escrito?
Deixemos de lado os
absurdos do
pensamento e nos
atenhamos apenas ao
fato.”
427. É o que
fazemos, notando,
entretanto, que
esses escritos estão
longe de ser tão
ridículos, como se
pretende. A
propósito da escrita
direta, escreve Oxon,
sábio professor, que
a estudou durante 5
anos: “Há cinco anos
que me é familiar o
fenômeno da
psicografia (escrita
dos Espíritos).
Observei-o em grande
número de casos, ou
com psíquicos
(médiuns) conhecidos
do público, ou com
pessoas que possuíam
o dom de produzir
esse resultado. No
curso de minhas
observações, vi
psicografias obtidas
em caixas fechadas
(escrita direta); em
papel
escrupulosamente
marcado e colocado
em posição especial,
donde não podia ser
deslocado; em papel
marcado e colocado
sobre a mesa, no
escuro; em papel
colocado sob meu
cotovelo ou coberto
por minha mão; em
papel, num envelope
fechado e lacrado;
em ardósias ligadas.
Vi escritas
produzidas também
quase
instantaneamente e
essas experiências
me demonstraram que
tais escritas não
eram sempre obtidas
pelo mesmo processo.
Enquanto se vê,
algumas vezes, o
lápis escrever como
se fosse conduzido
por mão, ora
invisível, ora a
dirigir-lhe os
movimentos de
maneira visível, em
outras, a
escrita parece
produzida por um ato
instantâneo, sem
auxílio do lápis.”
428. Ao de Crookes
se junta o
testemunho de Oxon.
Estes sábios,
operando sem ciência
um do outro, chegam
aos mesmos
resultados. Afirmam
ambos terem visto
mãos conduzirem os
lápis e escreverem
frases. Não há aí
com que fazer
refletir os mais
incrédulos?
429. Vejamos o
testemunho de sábios
de outras partes da
Europa. Quanto mais
mostrarmos o caráter
universal das
manifestações dos
Espíritos, mais elas
terão valor aos
olhos dos homens de
boa-fé. Zöllner, na
Alemanha, acaba de
confirmar as
experiências de seus
colegas e apoia sua
narrativa em
autoridades como
Fechner, Weber e
Schreibner. Vejamos,
ainda de Eugênio
Nus, que o traduziu
diretamente do
alemão, o seguinte
trecho: “Na noite
seguinte – é Zöllner
quem fala –
sexta-feira, 16 de
novembro de 1876,
coloquei uma mesa de
jogo com quatro
cadeiras, em um
quarto onde Slade
ainda não tinha
entrado. Depois que
Fechner, o professor
Braune, Slade e eu
colocamos as mãos
entrelaçadas sobre a
mesa, ouviram-se
pancadas nesse
móvel; eu comprara
uma ardósia, que
assinalamos; nela
colocamos um
fragmento de lápis e
Slade os pôs à beira
da mesa; minha faca
foi atirada,
subitamente, à
altura de um pé e
recaiu na mesa.
Repetindo-se a
experiência, viu-se
que o fragmento do
lápis, cuja posição
foi marcada com um
sinal, ficou no
mesmo lugar na
ardósia. A dupla
ardósia, depois de
limpa e munida de um
duplo lápis, foi
segura por Slade,
sobre a cabeça do
Professor Braune;
ouviu-se uma
arranhadura e,
aberta a ardósia, lá
se encontraram
muitas linhas
escritas. Uma cama
colocada no
aposento, por trás
de um biombo,
transportou-se
inopinadamente até
ficar a dois pés de
distância da parede
e afastou o biombo.
Slade estava longe
da cama e lhe dava
as costas; tinha as
pernas cruzadas, o
que todos viam”.
430. Mas então, se
os Espíritos puderam
agitar guéridons,[i]
se lhes foi possível
escrever fazendo ver
suas mãos, por que
não se tornariam
eles próprios
visíveis?
Impressionado por
estas considerações,
Crookes foi levado a
constatar resultados
esplêndidos que
analisaremos no
capítulo em que
tratamos
especialmente da
mediunidade.
431. Deve ter-se
notado que
contentamo-nos, até
agora, em referir as
experiências, sem
lhes dar qualquer
explicação; é que
não queremos
enfraquecer-lhes o
alcance por
comentários, que
poderiam dar lugar à
crítica. Por mais
estranhos, bizarros,
perturbadores que
possam parecer esses
fenômenos, há uma
coisa certa,
evidente, é que
existem, pois que
foram verificados
pelas sumidades da
Inglaterra, da
Alemanha e da
América. Além disso,
em nenhum caso podem
ser atribuídos à
intervenção humana,
porque foram tomadas
as precauções para
afastar essa
eventualidade.
432. Em um século de
positivismo
intransigente como o
nosso, tais
revelações eram
indispensáveis para
firmar a crença na
imortalidade;
desaparecida a fé
com as religiões
abandonadas,
tornava-se
necessário o fato
brutal, para
restabelecer a
verdade. Hoje ela se
nos impõe a todos, e
apesar das negações
interessadas do
materialismo,
triunfará de todos
os obstáculos
amontoados à sua
frente.
433. Os fenômenos
espíritas têm sido
tão ridicularizados
que é útil insistir
muito nos fatos que
militam em seu
favor. Os cientistas
de nosso país, por
tendência natural ou
temor do ridículo,
não ousam
entregar-se a essas
investigações. Não
temos a pretensão de
convencê-los,
referindo-lhes os
trabalhos dos seus
colegas do mundo
inteiro, mas se essa
leitura lhes pudesse
inspirar o desejo de
verificar o que há
de verdadeiro ou
falso em tais
asserções, nosso fim
seria atingido.
434. Pintaram os
adeptos do
Espiritismo com tão
absurdas cores, que
muitas pessoas
supõem tratar-se de
doentes ou
alucinados. Há
dificuldade em se
apresentar, de
público, um
partidário de Allan
Kardec, como um bom
burguês prosaico;
entretanto, é o que
é fácil de
verificar,
frequentando-se a
sociedade espírita.
Em vez de
fisionomias
desfiguradas, com os
olhos a brilharem de
febre, veem-se
pessoas honestas,
que experimentam,
tranquilamente, e
discutem os
resultados obtidos
com tanto sangue
frio e lucidez como
em qualquer outro
meio em que se
estude.
435. O preconceito
tem tão poderoso
império sobre os
homens, ainda os
mais distintos, que
não nos devemos
espantar da vigorosa
oposição, quando
trazemos as mãos
cheias de ideias em
antagonismo com as
vistas gerais. Eis a
carta de um amigo de
Crookes, que
descreve
perfeitamente esse
estado psicológico:
“Não posso –
respondia ele ao
célebre químico –
achar resposta
razoável aos fatos
que V. expõe. E é
curioso que eu
mesmo, ainda com
tendência e desejo
de crer no
Espiritismo, com fé
em seu poder de
observação e sua
perfeita
sinceridade,
experimente a
necessidade de ver
por mim e me é
penoso pensar que
preciso de muitas
provas. Digo penoso,
porque noto que não
há razões que possam
convencer um homem,
a menos que o fato
se repita tantas
vezes, que a
impressão pareça
tornar-se um hábito
do espírito, um
velho conhecimento,
uma coisa conhecida
há tanto tempo, que
dele não se possa
mais duvidar. É uma
das faces curiosas
do espírito humano e
os homens de ciência
a possuem em alto
grau, mais que os
outros, creio eu.
Não devemos, por
isso, dizer que um
homem é desleal
porque resiste muito
tempo à evidência. A
velha muralha das
crenças deve ser
abatida à força dos
golpes.”
436. É esta também a
nossa opinião, e
assim se explica a
persistência com que
reunimos o maior
número possível de
documentos, para
implantar a
convicção nas almas
sinceras. Se
recusarem seguir-nos
em todas as
consequências que
tiramos da
observação, ao menos
não se poderá dizer
que nossas crenças
não tenham um ponto
sério de partida.
437. Os espiritistas
não são fanáticos
nem sectários; não
querem impor a quem
quer que seja a
teoria que deduziram
da imparcial
apreciação dos
fatos. Se lhes
demonstrarem amanhã
que estão em erro,
abandonarão
imediatamente sua
maneira atual de
ver, para se
colocarem ao lado da
verdade, porque o
seu método é, antes
de tudo, o
racionalismo. Até
agora, porém,
consideram sua
doutrina a mais
provável e continuam
a ensiná-la.
(Continua
no próximo número.)
[i]
Guéridon - mesa
pequena de um só
pé.
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