O
Espiritismo
perante a
Ciência
Gabriel
Delanne
(Parte 18)
Damos
continuidade
nesta edição ao
estudo do livro
O Espiritismo
perante a
Ciência, de
Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme
devant la
science,
publicada
originalmente em
Paris em 1885.
Questões
preliminares
A. Depois da
fase das mesas
girantes, que
tipo de fenômeno
foi registrado
na Europa?
Foi o fenômeno
da escrita
automática, por
meio do qual os
Espíritos
escrevem frases
e textos sobre
os mais diversos
assuntos e com o
emprego de
línguas muitas
vezes
desconhecidas do
médium, ao qual
se deu o nome de
mediunidade
mecânica.
(O Espiritismo
perante a
Ciência,
Terceira Parte,
Cap. III - As
objeções.)
B. Os textos
obtidos na
escrita
automática não
podem ser o
resultado de uma
ação reflexa da
inteligência do
médium?
Muitos
incrédulos acham
que sim, isto é,
que a ação de
escrever
automaticamente
é devida a um
modo de ação
particular do
sistema nervoso,
a uma espécie de
ação reflexa da
inteligência do
médium. Mas os
fatos provam que
tal explicação é
inaceitável
diante de fatos
como o que foi
relatado por
Crookes, no qual
a médium
escreveu uma
palavra que fora
ocultada pelo
dedo do ilustre
cientista, que
não podia
transmitir à
senhora o seu
pensamento, pois
que ele também
ignorava a
palavra
ocultada. Em
outros casos,
como o relatado
pelo Sr. Des
Mousseaux, a
mensagem foi
grafada em
língua
hebraico-siríaca,
que ninguém
conhecia, a
qual, levada à
escola de
línguas
estrangeiras,
verificou-se
tratar-se de um
dialeto fenício,
que se empregava
há mais de 2.000
anos, nos
arredores de
Tiro.
(Obra citada,
Terceira Parte,
Cap. III - As
objeções.)
C. Quais são as
faculdades
medianímicas
menos sujeitas a
suspeita?
Segundo Delanne,
as faculdades
menos sujeitas a
suspeita são a
vidente e a
auditiva. Ora,
se o médium
descreve a
figura, as
vestes, os
gestos habituais
de um ser que
nunca viu, e se
se reconhece que
essa descrição é
precisamente a
do parente
morto, em quem
ninguém pensava,
é preciso
admitir que a
visão é real, e
ainda, que a
personalidade
descrita existe,
de maneira
positiva, diante
dos olhos do
médium.
(Obra citada,
Terceira Parte,
Cap. III - As
objeções.)
Texto para
leitura
438. Na
experiência
narrada por
Crookes, em que
ficou provado
que a
inteligência que
se manifesta é
capaz de ler uma
palavra
desconhecida do
médium e do
experimentador,
pôde-se ver a
frase seguinte:
“Uma senhora
escrevia
automaticamente
por meio da
prancheta.”
Expliquemos esse
novo gênero de
mediunidade.
439. Como já o
dissemos, as
primeiras
manifestações se
deram em
Hydesville por
pancadas nas
paredes; depois,
passou-se ao
emprego da mesa,
mas esse
processo era
longo e
incômodo, de
sorte que os
Espíritos
indicaram outro.
Certa vez, um
dos seres
invisíveis que
produzia a
manifestação
ordenou ao
médium que
apanhasse uma
cesta e lhe
fixasse um
lápis, que os
colocasse sobre
uma folha de
papel branco e
pusesse as mãos
na borda da
cesta, sem
premi-la.
Seguidas as
recomendações,
com grande
espanto dos
assistentes
obtiveram-se
algumas linhas
de uma escrita
indecisa. O
fenômeno se
reproduziu
muitas vezes e
logo se
espalhou.
440. Os
Espíritos, em
lugar de se
servirem da mesa
e de responderem
por pancadas,
agiam
diretamente
sobre a cesta,
com o fluido
fornecido pelo
operador. O
processo foi
rapidamente
aperfeiçoado;
viu-se que a
cesta era apenas
um instrumento,
não importando a
forma e a
natureza, e
construiu-se uma
prancheta, isto
é, uma pequena
placa de madeira
sobre três pés,
com um lápis na
extremidade.
441.
Obtiveram-se,
assim,
verdadeiras
cartas ditadas
pelos Espíritos,
com tal rapidez,
como se tivessem
eles próprios
escrito. Mais
tarde viu-se
ainda que a
cesta ou a
prancheta eram
simples
acessórios,
apêndices
inúteis e o
médium, tomando
diretamente o
lápis, escreveu
mecanicamente
sob a influência
dos Espíritos. A
faculdade de
escrever
inconscientemente
sobre os mais
diversos
assuntos,
ciência,
filosofia,
literatura, e
com o emprego de
línguas muitas
vezes
desconhecidas do
médium, tomou o
nome de
mediunidade
mecânica.
Verificou-se,
com o exercício,
que todos os
sentidos se
podiam prestar
às manifestações
de além-túmulo e
logo se contaram
os médiuns
videntes,
auditivos,
sensitivos e
outros.
442. Para um
incrédulo, é
incontestável
que a
mediunidade
mecânica está
sujeita às mais
graves objeções.
Afastando
qualquer ideia
de embuste, ele
pode acreditar
que a ação de
escrever
automaticamente
é devida a um
modo de ação
particular do
sistema nervoso,
a uma espécie de
ação reflexa da
inteligência do
médium. É
verdade que isto
é bem
hipotético, mas
essa teoria, já
bastante difícil
de conceber, é
inútil e
inaceitável
diante da
experiência de
Crookes já
relatada. O
médium
escrevente não
podia ver a
palavra do
Times,
oculta pelo dedo
do ilustre
químico; este
não podia
transmitir à
senhora o seu
pensamento, pois
que ignorava a
palavra
indicada; a
intervenção de
uma inteligência
estranha,
manifestada pela
Senhorita Fox, é
a única
explicação
plausível.
443. O Sr. Des
Mousseaux conta
que estava em
casa de uma
família onde
costumava passar
as tardes e que
aí se fez uma
experiência em
presença de
muitos sábios
linguistas.
Nessa época, só
se conheciam as
comunicações
pela mesa, mas o
resultado não
foi por isso
menos
convincente.
Obteve-se por
esse processo um
ditado em língua
hebraico-siríaca,
que ninguém
conhecia, o
qual, levado à
escola de
línguas
estrangeiras,
verificou-se
tratar-se de um
dialeto fenício,
que se empregava
há mais de 2.000
anos, nos
arredores de
Tiro. O Sr. Des
Mousseaux, muito
cético a
princípio,
declarou-se
convencido da
intervenção de
uma inteligência
estranha à dos
assistentes, mas
concluiu
atribuindo ao
Diabo essas
maravilhosas
manifestações.
Nós, que não
acreditamos nem
em Satã, nem nos
demônios,
preferimos
admitir que um
Espírito se
manifestou desse
modo para dar um
testemunho
brilhante da
existência do
mundo oculto.
444. Fomos nós
próprios
testemunhas, em
Paris, de uma
comunicação
escrita em
caracteres
árabes, por uma
pessoa que nunca
saiu da França,
e cuja instrução
não deixa supor
uma trapaça. O
mesmo fato se
reproduziu de
outra forma.
Desta vez, o
ditado dos
Espíritos foi
feito em dialeto
italiano, em
resposta a uma
pergunta
formulada nesse
idioma. Convém
dizer que o
médium não
conhece mais o
italiano que o
árabe.
445. Acontece,
por vezes, que o
Espírito
comunicante,
desejoso de se
fazer
reconhecer,
emprega a mesma
escrita que
tinha em vida e
se assina como
costumava
fazê-lo. Se não
há sempre provas
tão palpáveis, o
que é bastante
raro, aliás,
verifica-se,
muitas vezes,
nas comunicações
dos Espíritos,
um caráter de
sabedoria, uma
altura de
vistas, e tão
sublimes
pensamentos, que
não poderiam
emanar do
médium,
comumente um ser
vulgar e que não
se distingue dos
seus semelhantes
por qualidades
especiais.
446. Eis, a
propósito, o que
refere Sarjeant
Cox, distinto
jurisconsulto,
escritor e
filósofo de
grande valor.
Narra ele ter
ouvido um moço
de escritório,
sem
conhecimentos,
sustentar,
quando estava em
transe,
conversação com
um grupo de
filósofos sobre
a presciência, a
vontade e a
fatalidade, e
lhes levar
vantagem.
“Propus-lhe –
diz Sarjeant –
as mais difíceis
questões de
psicologia, e
recebi respostas
sempre sensatas,
cheias de vigor,
e expressas
invariavelmente
em linguagem
escolhida e
elegante. Um
quarto de hora
depois,
entretanto, em
seu estado
natural, era
incapaz de
responder à mais
simples questão
filosófica e,
com dificuldade,
conseguia achar
a linguagem para
exprimir ideias
comuns.”
447. As
faculdades
medianímicas
menos sujeitas a
suspeita são,
inegavelmente, a
vidente e a
auditiva. Como o
nome indica, a
primeira
consiste no
poder de que são
dotadas certas
pessoas, de ver
os Espíritos.
Neste caso, não
há dúvida,
porque se o
médium descreve
a figura, as
vestes, os
gestos habituais
de um ser que
nunca viu, e se
se reconhece que
essa descrição é
precisamente a
do parente
morto, em quem
ninguém pensava,
é preciso
admitir que a
visão é real, e
ainda, que a
personalidade
descrita existe,
de maneira
positiva, diante
dos olhos do
médium.
448. Diz Allan
Kardec, na
Revue Spirite,
que o Sr. Adrien
possuía esse
poder no mais
alto grau.
Conhecemos,
também, em
Paris, uma
parteira, a Sra.
R., que vê
continuamente os
Espíritos, a tal
ponto que custa
a distingui-los
dos vivos.
449. Aqui não se
deixará de
apontar
imediatamente a
grande palavra
alucinação:
é o refúgio dos
incrédulos, o
cavalo de
batalha de todos
os que combatem
o Espiritismo.
Mas, atribuir os
fenômenos a essa
causa é
conhecê-los bem
pouco. A
alucinação é um
fato anormal,
que se produz,
quase sempre, em
consequência de
acidentes
patológicos, ou
nos momentos que
precedem o sono
ou o acompanham,
enquanto que nos
médiuns a vista
dos Espíritos é,
por assim dizer,
permanente. Não
se deve
esquecer,
também, que
aquele estado
mórbido só pode
apresentar à
imaginação
doente quadros
que nada têm de
comum com a vida
real, fenômenos
puramente
subjetivos, e em
nenhum caso pôde
um alucinado dar
os sinais exatos
de pessoa que
nunca viu, de
forma a fazê-la
reconhecer por
seus parentes ou
amigos.
450. Já citamos
muitos sábios
que partilham de
nossas ideias,
nomes ilustres e
reverenciados,
para poder
afirmar nossa
crença na
imortalidade da
alma, sem temor
da zombaria.
Procuramos
colocar à vista
do leitor esse
majestoso
conjunto de
testemunhas a
fim de
patentear,
àqueles que o
ignoram, que o
Espiritismo é
uma ciência,
cujas bases
estão assentes
na hora atual de
maneira
inabalável. Não
se pode dizer
que sejam
superstições
grosseiras as
nossas ideias,
como o faziam
outrora, porque
se um erro
pudesse
propagar-se tão
universalmente,
se homens de
estudo,
autoridades
científicas,
filósofos,
pudessem, em
todas as partes
do mundo e
simultaneamente,
delas ser
vítimas, seria
preciso convir
que havia aí um
fenômeno mais
estranho que os
fatos
espiríticos.
451. Afinal, que
existe de tão
extraordinário
em crer nos
Espíritos? Todas
as filosofias
espiritualistas
demonstram que
temos uma alma
imortal, as
religiões o
ensinam em toda
a superfície da
Terra.
Demonstrado que
essas almas se
podem manifestar
aos vivos,
parece natural
que nossa
convicção se
espalhe, com
rapidez, pelo
Universo
inteiro. Por
meio das mesas
girantes, dos
médiuns
mecânicos ou
outros, podemos
ter a convicção
de que os seres
que nos foram
caros, os mortos
que havemos
chorado, estão a
nosso lado,
velam
solicitamente
pela nossa
felicidade e nos
sustentam
moralmente na
vida. Nada vemos
aí que possa
ferir a razão.
452. O
Espiritismo tem,
é verdade,
muitos inimigos
interessados em
sua perda; de um
lado os
materialistas,
de outro os
sacerdotes de
todas as
religiões, de
sorte que seus
infelizes
partidários
estão entre o
martelo e a
bigorna, a
receber rudes
golpes de todos
os lados.
453. Os
materialistas
têm argumentos
extraordinários;
não concebem a
boa-fé nos seus
adversários e
declaram que os
fenômenos
espiritistas são
todos devidos à
mistificação ou
à
prestidigitação.
Para essas
pessoas, só
existem duas
classes no
mundo: a dos
enganadores e a
dos enganados.
Ora, não
partilhando
dessa opinião,
seremos,
necessariamente,
enganadores, e
nossos médiuns
vulgares
charlatães.
454. Para que
não se nos acuse
de tisnar
intencionalmente
o quadro,
poderíamos citar
numerosos
extratos onde se
pede nada menos
que a prisão
para punir as
práticas
espiritistas.
Alguns, havendo
notado que o
século não se
presta mais à
perseguição
brutal, fizeram
vibrar outra
corda:
pretenderam que
todos os adeptos
da nova doutrina
fossem loucos e
que somente eles
possuíssem a
sabedoria
impecável.
Arrogaram-se o
direito de
somente eles
terem bom senso
e assim nos
maltratam em
seus escritos,
da pior maneira.
455. Vamos dar
uma amostra
dessas
amenidades,
citando dois
artigos de Jules
Soury,
aparecidos na
République
Française,
de 7-10-1879. O
método do
jornalista é
simples:
consiste em
negar sem
provas, como
sempre, em
proceder por
afirmações sobre
os assuntos em
litígio e em
insinuar que os
espíritas, mesmo
os mais
autorizados
sábios, estão
atingidos de
mania
arrazoante, como
consequência de
sua avançada
idade, que não
lhes permite
mais julgar de
maneira sã o que
se passa sob
seus olhos.
Ouçamos esta
obra-prima de
má-fé: “Ele
(Zöllner)
precisamente fez
acompanhar por
Weber e Fechner
as experiências
que crê ter
instituído com
Slade; nunca
esquece de citar
esses sábios
ilustres, como
testemunhas
dessas
experiências, e
de fato, o
testemunho deles
não deixaria de
ter peso, se um
não tivesse 66
anos e o outro
79!”
456. Nosso
crítico não se
contenta em
suprimir
moralmente as
ilustrações que
o incomodam; ele
chama Zöllner de
louco lúcido e
declara que o
professor Ulrici
está atacado de
mania
discursadora.
457. Se Jules
Soury se
limitasse a
dizer
semelhantes
coisas,
poder-se-ia ter
complacência com
ele, porque o
bom senso
público faz
justiça a essas
insanidades, mas
ele vai mais
longe e trata o
médium Slade
como um
explorador
vulgar. Vamos
citar alguns
trechos de uma
brochura de
Fauvety e da
Sra. Cochet,
muito bem
escrita, onde
são postos a nu
os artifícios do
nosso crítico:
“Não hesitais em
apresentar Slade,
na França, como
um refinado
velhaco;
vejamos,
entretanto, as
vossas provas.
Credes ter
denunciado à
perspicácia de
vossos leitores
que Henry Slade
tem alta
estatura, braços
compridos, mãos
compridas, dedos
compridos.
Estendei-vos com
prazer sobre
sua palidez de
espectro, seus
olhos
brilhantes, seu
riso silencioso.
De sorte que
esse retrato
lembra o do lobo
do chapeuzinho
vermelho e o do
Mefisto de
Fausto. As
pessoas
imaginativas
irão até colocar
garras no fim
desses longos,
longos, longos
membros, e os
espíritos
positivos
suporão que se
trata de um dom
que deve
auxiliar
singularmente as
agilidades de
passe-passe de
um
prestidigitador.
Chama-se a isso
proceder por
insinuação;
muito hábil,
senhor,
passemos.
Lembrais o
processo
intentado contra
Slade, na
Inglaterra, em
outubro de 1876.
Há ainda aí uma
prova de
habilidade,
sabendo-se como
há inclinação
para se ver um
culpado num
acusado.
Entretanto,
todas as vossas
pesquisas não
vos põe na traça
do embuste. A
acusação é
pueril e não
repousa em
nenhum dado
positivo,
enquanto a
defesa traz à
barra do
tribunal os
homens mais
notáveis da
Inglaterra e,
principalmente,
aquele a quem
chamais ‘o
grande êmulo de
Darwin’, Alfred
Wallace. Mais um
louco lúcido.
Não devo
insistir nesse
processo que
acabou, na Corte
de Apelação, por
uma absolvição.
Sigo-vos, agora,
a Berlim. Em
Berlim, Slade
teve a seu favor
todos os sábios.
E contra quem?
Um
prestidigitador,
que imita o que
chamais ‘as
ligeirezas de
Slade’.”
458. É assim que
procedem os
detratores do
Espiritismo:
afirmam, sem
provas, fatos de
nenhuma forma
demonstrados e
partem dessas
afirmações
falsas para
tirar
consequências
contra a
doutrina. Tal
modo de agir
denota ideia
preconcebida ou
ignorância do
assunto.
Inclinamo-nos a
crer que aí
predomina a
paixão, porque,
quando se propõe
aos nossos
aristarcos
(1)
produzirem-se os
fenômenos diante
deles, eles se
esquivam
prudentemente
para não se
inclinarem
diante da
evidência. Foi o
que aconteceu
com Jules Soury:
convidaram-no
para uma sessão
espírita e ele
recusou-se
obstinadamente.
(2)
(1)
Aristarco [do
antr. Aristarco,
gramático e
crítico grego
que viveu no
séc. II a.C.]
significa:
crítico ou
censor severo,
mas judicioso.
(2) Um
moderno êmulo
de Soury, Paul
Heuzé,
empregou os
mesmos
processos e
teve a mesma
atitude.
Cabem-lhe as
mesmas
respostas.
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