MARCELO
BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
Ação e Reação
André Luiz
(Parte
25)
Damos continuidade nesta edição ao
estudo da obra
Ação e
Reação,
de André Luiz, psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier e
publicada em 1957 pela Federação
Espírita Brasileira.
Questões
preliminares
A. Como Silas impediu que Ildeu, com a
arma na mão, matasse a própria esposa?
Silas, ao ver a cena, chamou a pequena
Márcia, filha de Ildeu, então
desprendida do corpo físico em razão do
sono corpóreo. A criança, ao ver a cena,
experimentou tremendo choque e retornou,
de pronto, ao corpo físico, bradando,
desvairada, como quem se furtasse ao
domínio de asfixiante pesadelo:
"Papai!... Paizinho! Não mate! Não
mate!..." Os gritos da menina ecoaram em
toda a casa, provocando alarido. A
esposa, num átimo, pôs-se de pé,
surpreendendo o marido ao pé da filha,
e, junto deles, o revólver. Incapaz de
suspeitar das intenções dele, ela
recolheu a arma e, pensando que ele
pretendera suicidar-se, implorou em
pranto: "Oh! Ildeu, não te mates! Jesus
é testemunha de que tenho cumprido
retamente todos os meus deveres...
(...) Procede como quiseres, mas não te
despenhes no suicídio”.
(Ação e Reação, cap. 14, pp. 190 a
193.)
B. Que razões levaram Silas a apoiar o
divórcio entre Marcela e Ildeu?
Explicando suas razões a André Luiz,
Silas lembrou inicialmente a passagem
evangélica em que Jesus afirma que o
divórcio na Terra é permitido a nós
outros pela dureza dos nossos corações.
No caso em tela, o divórcio era
compreensível como providência contra o
crime, seja ele o assassínio ou o
suicídio. Evidentemente, a separação
não soluciona o problema da redenção,
porque ninguém se reúne no casamento
humano sem o vínculo do passado, e esse
vínculo quase sempre significa débito ou
compromisso vivo no tempo. Desse modo, o
divórcio não os liberaria da dívida em
que se achavam incursos, cabendo-lhes
voltar ao pagamento respectivo, tão logo
fosse oportuno.
(Obra citada, cap. 14, pp. 194 a 196.)
C. Por que Ildeu tinha aversão por seu
próprio filho?
Ildeu e Marcela já haviam sido casados
numa anterior existência em que também
fracassaram. Com o amparo de Abnegados
Benfeitores, o casal regressou à Terra
para o doloroso resgate, com Ildeu à
frente das responsabilidades, por ter
maiores culpas, tendo Marcela, que
concordou em auxiliá-lo, na condição de
esposa. O filho Roberto era o
ex-companheiro de Marcela que, por
ciúme, Ildeu havia assassinado. As
meninas Sônia e Márcia eram as duas
irmãs que Ildeu havia arrojado ao vício
e à delinquência. Ildeu, como se via,
continuava displicente e surdo aos
avisos da vida, a buscar a suposta
felicidade fora do lar, desprezando
novamente a esposa, querendo
estremecidamente às filhas e mantendo
instintiva aversão pelo filho, seu rival
e vítima na anterior existência.
(Obra citada, cap. 14, pp. 196 e 197.)
Texto para leitura
91. O crime frustrado -
Silas e André acompanharam-lhe a
evolução do tresloucado plano, porquanto
é sempre fácil penetrar o domínio das
formas-pensamentos, vagarosamente
construídas pelas criaturas que as
edificam, apaixonadas e persistentes, em
torno dos próprios passos. Assim, embora
sorrisse, Ildeu exteriorizava ao olhar
dos benfeitores o inconfessável projeto,
armando detalhadamente o quadro
criminoso, detalhe por detalhe. Silas
reforçou, então, na casa o serviço de
vigilância, porquanto Marcela tinha a
existência amparada pela Mansão. Dois
Espíritos, zelosos e abnegados,
alternativamente passaram a velar ali,
dia e noite, de modo a entravar o
pavoroso delito. Um dia, o irmão em
serviço foi, inquieto, até Silas, para
comunicar-lhe a precipitação dos
acontecimentos. De alma aturdida pela
influência de homicidas desencarnados
que lhe haviam percebido os pensamentos,
Ildeu resolveu aniquilar a esposa
naquela mesma noite. Silas não vacilou.
Empregando o concurso de entidades
amigas, em trabalho nas vizinhanças,
inicialmente baniu os alcoólatras e
delinquentes desencarnados que se
acolhiam na casa. De madrugada, com o
coração precipite, Ildeu examinava o
pente de uma pistola, disposto à
consumação do ato execrável.
Revestindo-lhe todo o cérebro, surgia a
cena do crime, movimentando-se em
surpreendente sucessão de imagens... Ele
pensava demandar o aposento das
crianças, para trancá-las à chave, de
maneira a evitar-lhes o testemunho,
quando Silas, adiantando-se, avançou
para o leito das meninas e chamou a
pequena Márcia, em corpo espiritual, a
rápida contemplação dos pensamentos
paternos. A criança, ao ver aquelas
cenas, experimentou tremendo choque e
retornou, de pronto, ao corpo físico,
bradando, desvairada, como quem se
furtasse ao domínio de asfixiante
pesadelo: "Papai!... Paizinho! Não mate!
Não mate!..." Ildeu, nesse momento, já
estava à porta, com a arma na mão. Os
gritos da menina ecoaram em toda a casa,
provocando alarido. Marcela, num átimo,
pôs-se de pé, surpreendendo o marido ao
pé da filha, e, junto deles, o
revólver... A mulher bondosa, incapaz de
suspeitar das intenções dele, recolheu
a arma e, pensando que ele pretendera
suicidar-se, implorou em pranto: "Oh!
Ildeu, não te mates! Jesus é testemunha
de que tenho cumprido retamente todos
os meus deveres... (...) Procede como
quiseres, mas não te despenhes no
suicídio. Se é de tua vontade, monta
nova casa em que vivas com a mulher que
te faça feliz... Consagrarei minha
existência aos nossos filhos.
Trabalharei, conquistando o pão de nossa
casa com o suor de meu rosto...
entretanto, suplico, não te mates!..."
(Capítulo 14, pp.190 a 193)
92. Pagamos caro nossa deserção ao
dever - A generosa atitude de
Marcela sensibilizou os Espíritos
presentes e o próprio Ildeu sentiu-se
tocado de piedade, agradecendo, no
íntimo, a versão que a esposa oferecera
aos acontecimentos, cuja direção não
conseguira prever. Encontrando a
escapatória que, de há muito, buscava,
ele exclamou então: "Realmente, não
posso mais... Agora, para mim, só restam
dois caminhos, suicídio ou desquite..."
Marcela, com o auxílio de Silas,
descarregou o revólver, reconduziu as
crianças ao sono e deitou-se,
atribulada. Nos seus olhos tristes,
lágrimas borbulhavam na sombra,
enquanto orava, súplice, na torturada
quietude do seu martírio silencioso:
"O' meu Deus, compadece-te de mim, pobre
mulher desventurada!... que fazer,
sozinha na luta, com três crianças
necessitadas?..." Silas aplicou-lhe
passes balsamizantes, hipnotizando-a,
com o que a flagelada mulher, em
desdobramento, se colocou, inquieta,
diante dele e de André. O Assistente
falou-lhe, então: "Marcela, somos apenas
teus irmãos... Reanima-te! Não te
encontras sozinha. Deus, Nosso Pai,
jamais nos abandona... Concede, sim,
liberdade ao teu esposo, embora saibamos
que o dever é uma bênção divina da qual
pagaremos caro a deserção... Que Ildeu
rompa os laços respeitáveis dos seus
compromissos, se é que julga seja essa a
única maneira de adquirir a experiência
que deve conquistar... Haja porém o que
houver, ajuda-o com tolerância e
compreensão. Não lhe queiras mal algum.
Antes, roga a Jesus o abençoe e ampare,
onde esteja, porque o remorso e o
arrependimento, a saudade e a dor para
os que fogem das obrigações que o Senhor
lhes confia convertem-se em fardos
difíceis de carregar". (Cap. 14, pp. 193
e 194)
93. O divórcio é mero paliativo
- Silas explicou à desventurada mulher
que se o esposo esmorecia, à frente da
luta, em pleno exercício da faculdade de
escolher, não seria justo violentar-lhe
o livre arbítrio. Ildeu ausentava-se
dos contratos que abraçou e interrompia
o resgate das contas que lhe eram
próprias... Mais tarde, porém, voltaria
aos débitos olvidados, mais onerado
talvez perante a Lei. "Sejam quais forem
as lutas que te descerem ao coração –
recomendou-lhe Silas –, resigna-te e
não temas. Faze dos filhinhos o apoio
firme na caminhada. Todo sacrifício
edificante no mundo expressa
enriquecimento de nossas almas na Vida
Eterna... Renuncia, pois, ao homem
querido, respeitando-lhe os caprichos do
coração, e aguarda o futuro com
esperança." Como Marcela chorasse,
receando o porvir, em face das
contingências materiais, Silas
asseverou, prestimoso: "Para mãos
dignas jamais faltará trabalho digno.
Contemos com a proteção do Senhor e
marchemos com desassombro. Enxuga o
pranto e ergue-te em espírito à Fonte
do Sumo Bem!..." Nesse momento, parentes
desencarnados da jovem senhora
assomaram ao recinto, estendendo-lhe as
mãos. Silas confiou-lhes Marcela e
retirou-se. A mente de André fervilhava
de indagações: por que Ildeu desdenhava
o menino? por que Marcela era odiada
tanto assim pelo marido? seria justo
fortalecê-la para o desquite, ao invés
de incentivá-la à recuperação do amor
do companheiro? Silas lembrou
inicialmente a passagem evangélica em
que Jesus afirma que o divórcio na Terra
é permitido a nós outros pela dureza dos
nossos corações. No caso em tela, o
divórcio era compreensível como
providência contra o crime, seja ele o
assassínio ou o suicídio... Claro que a
separação não soluciona o problema da
redenção, porque ninguém se reúne no
casamento humano sem o vínculo do
passado, e esse vínculo quase sempre
significa débito ou compromisso vivo no
tempo. Desse modo, o divórcio não os
liberaria da dívida em que se achavam
incursos, cabendo-lhes voltar ao
pagamento respectivo, tão logo fosse
oportuno. O ódio de Ildeu tinha raízes
no pretérito. Ele e Marcela eram duas
almas em processo de reajuste, havia
vários séculos. Na última existência,
foram também marido e mulher, em outro
casamento fracassado, porque, dado a
aventuras, Ildeu seduziu duas moças,
filhas do mesmo lar, abandonando a
esposa. (Capítulo 14, pp. 194 a 196)
94. A
recapitulação necessária
- Ildeu, primeiramente, enganou uma das
moças e passou a conviver com ela, a
cujo cuidado ficara a irmã menor,
entregue pelos pais, à beira da morte.
Ildeu esperou a floração juvenil da
menina para submetê-la igualmente aos
seus caprichos inconfessáveis. Entrando
depois em franca decadência moral,
precipitou-as no meretrício, em cujas
correntes de sombra as pobres moças se
viram quais andorinhas presas à lama...
Marcela, após cinco anos de solidão,
aceitou a companhia de um homem digno e
trabalhador, com quem passou a viver
maritalmente... Os dias correram e um
dia, Ildeu, relativamente moço, mas
doente, retornou à cidade onde se casara
com Marcela, buscando o aconchego do
primitivo lar, que ele mesmo destruíra.
Pôde rever então a ex-companheira feliz,
junto de outro, e movido de
incompreensível ciúme, porque fora ele
que renegara o lar sem motivo justo,
matou-lhe o eleito do coração. Anos
depois, todo o grupo infelicitado
reuniu-se na Esfera Espiritual e, com o
amparo de Abnegados Benfeitores,
regressou à Terra para o doloroso
resgate, com Ildeu à frente das
responsabilidades, por ter maiores
culpas, tendo Marcela, que concordou em
auxiliá-lo, na condição de esposa.
Roberto é o companheiro assassinado;
Sônia e Márcia são as duas irmãs que ele
arrojou ao vício e à delinquência. A
reencarnação no resgate é recapitulação
perfeita. "Se não trabalhamos por nossa
intensa e radical renovação para o bem –
disse Silas –, através do estudo
edificante que nos educa o cérebro e do
amor ao próximo que nos aperfeiçoa o
sentimento, somos tentados hoje pelas
nossas fraquezas, como éramos tentados
ainda ontem, porquanto nada fizemos
pelas suprimir, passando habitualmente a
reincidir nas mesmas faltas." Ildeu,
como se via, continuava displicente e
surdo aos avisos da vida, a buscar a
suposta felicidade fora do lar,
desprezando a esposa, querendo
estremecidamente às filhas e mantendo
instintiva aversão pelo filho, seu rival
e vítima na anterior existência.
(Capítulo 14, pp. 196 e 197)
(Continua no próximo número.)
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