Nos
Bastidores da Obsessão
Manoel
Philomeno de Miranda
(Parte
17 e final)
Concluímos nesta edição o
estudo do livro Nos Bastidores da
Obsessão, de Manoel Philomeno de
Miranda, obra psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada no ano de 1970
pela Editora da FEB.
Questões preliminares
A. Se Henriette era hanseniana, como
explicar sua cura?
Henriette, agora reencarnada com o nome
de Ana Maria, não era efetivamente
hanseniana; sua doença era apenas um
simulacro.
(Nos Bastidores da Obsessão, cap. 15,
pp. 261 a 264.)
B. É válido promover cerimônia religiosa
espírita por ocasião do matrimônio de
confrades que a desejem?
Não. A essa pergunta, José Petitinga
respondeu: O Espiritismo é a Doutrina de
Jesus, em espírito e verdade, sem
fórmulas nem ritos, sem aparências nem
representantes, sem ministros, e não há
qualquer culto externo no Espiritismo,
mesmo nas ocasiões de casamento. Se
alguém quiser fazer uma oração, que o
faça em particular, para que não
transformemos a festividade num culto
exterior inadmissível.
(Obra citada, cap. 16, pp. 267 a 272.)
C. Que desfecho tiveram os casos
Mariana–Guilherme e
Teofrastus–Henriette? E que postura
deveriam adotar ante a vida para
lograrem sucesso na programação
encetada?
Como sabemos, Guilherme renasceria no
lar de Mariana e Adalberto. Ao ser
apresentado ao futuro pai, Guilherme
baixou os olhos e, trêmulo, não
conseguiu dominar as lágrimas
abundantes. Mariana avançou e envolveu-o
em abraço de pura ternura e, subitamente
adornada de tênue luz que se lhe
originava do plexo solar, com coloração
opalina, falou a Guilherme
comovidamente: "Incapaz de ser-te esposa
vigilante, tentarei ser-te mãe
cuidadosa. Ajuda-me com o teu perdão e
favorece-me com esta oportunidade".
Ambrósio chamou Dona Rosa e o Sr. Mateus
e a matrona tocou o futuro neto com mãos
delicadas, dizendo: "Serás, meu filho, a
alegria da nossa velhice, como foste a
preocupação dos nossos dias já
passados".
Quanto a Teofrastus, seria ele filho de
Ana Maria, a mesma Henriette dos tristes
acontecimentos da época inquisitorial.
Ele teria incontáveis limitações de
muita natureza, exigindo sacrifícios e
vigílias de sua mãe. Ao reencontrá-lo,
Ana Maria tocou a face do inditoso afeto
e misturou as suas nas lágrimas dele,
que fluíam silenciosas e doloridas:
"Ajuda-me, amado Teo – disse lenta,
laconicamente. Ajuda-me com o teu vigor,
o teu entusiasmo e a tua sabedoria, tu
que sempre foste mais eloquente do que
eu. Socorre-me com a tua presença e não
me deixes mais sozinha... pois eu não
suportaria, agora que te reencontrei..."
A resposta dele foi emitida com grande
humildade. Dizia-se muito fraco, vencido
por si mesmo, e pediu a Ana Maria que
ela rogasse a Deus por ambos.
Glaucus advertiu a todos que os
compromissos redentores nos desenham
também aflições e resgates e, no final,
lembrou a importância da oração e do
trabalho no bem como sustentáculos da
fé. "Repontarão à nossa frente outros
amores e outros desafetos. O nosso
pretérito não está aqui todo
representado, definido...
Fortaleçamo-nos no bem, pois que só o
bem nos fortalecerá devidamente para os
embates porvindouros", concluiu o
Instrutor espiritual.
(Obra citada, cap. 16, pp. 273 a 281.)
Texto para leitura
82. De novo no Lazareto -
Por recomendação de Saturnino, Petitinga
e Miranda foram ao Lazareto visitar Ana
Maria, a antiga noiva atormentada e
inditosa do irmão Teofrastus.
Singularmente desfeita, com sinais de
arroxeamento na face e nas orelhas, Ana
Maria comovera os visitantes pela
tristeza que refletia nos seus olhos
angustiados e rosto melancólico. Naquele
tempo, as visitas aos portadores do mal
de Hansen eram raras e difíceis e os
pacientes viviam entregues a quase total
abandono, em que os medicamentos eram
também insuficientes. Petitinga,
valendo-se de suas amizades, conseguiu
permissão para visitar Ana Maria e
levou-lhe de presente, na primeira
visita, um exemplar d' O Evangelho
segundo o Espiritismo. Saturnino
aproveitava essas oportunidades para,
utilizando as forças ectoplásmicas dos
visitantes, aplicar recursos salutares
na paciente e nas suas companheiras,
continuando a assistência espiritual nos
dias seguintes. O antigo obsessor já
fora deslocado desde a primeira visita e
recolhido por Glaucus e Ambrósio a
Hospital na esfera espiritual. Seis
meses depois, por insistência de
Petitinga, Ana Maria foi submetida a
rigoroso exame e considerada curada,
porque, como se sabia, ela não era
hanseniana; sua doença era apenas um
simulacro. Depois, Petitinga conseguiu
localizá-la em casa de uma família
espírita que, embora soubesse do local
de onde ela procedia, não recusou a mão
caridosa dirigida à sua recuperação
total. (Cap. 15, págs. 261 a 264)
83. A
mediunidade de Marta
- A filha mais velha de Mateus, após
experimentar desequilíbrios
perfeitamente compreensíveis, em que
passou a sofrer um cerco nefando dos
ex-comparsas espirituais, passou a
estudar o Espiritismo com interesse,
instruindo-se nas suas lições preciosas,
através do que armazenou argumentação
para uso próprio e confiança ilimitada
no auxílio divino. Submetendo-se a
carinhoso tratamento de passes
magnéticos e fazendo-se membro atuante
dos trabalhos doutrinários, foi, por
fim, convidada a atuar nas experiências
mediúnicas, em que se tornaria, aos
poucos, um instrumento disciplinado, por
cuja mediunidade diversos dos membros
das suas anteriores crenças receberam a
luz esclarecedora da razão, desertando
dos propósitos acalentados e iniciando
nova trajetória em suas vidas. (Cap. 15,
págs. 264 e 265)
84. O noivado de Mariana -
A renovação espiritual no lar dos
Soares, cinco meses após iniciado o
repouso do Sr. Mateus, era visível.
Aproximava-se o décimo sétimo
aniversário de Mariana, e Adalberto
queria aproveitar a data para anunciar o
seu noivado. O milagre da dor produzira
a bênção da misericórdia da união de
todos. O noivo quis saber de Petitinga
se era válido fazer uma cerimônia
espírita por ocasião do casamento. A
resposta do notável líder espírita
baiano foi muito clara: o Espiritismo é
a Doutrina de Jesus, em espírito e
verdade, sem fórmulas nem ritos, sem
aparências nem representantes, sem
ministros, e não há qualquer culto
externo no Espiritismo, mesmo nas
ocasiões de casamento. Se alguém quiser
fazer uma oração, que o faça em
particular, para que não transformemos a
festividade num culto exterior
inadmissível. (Cap. 16, págs. 267 a
272)
85. Reencontro de Espíritos em
resgate - À noite, aproveitando
o repouso do corpo, o grupo reuniu-se na
União Espírita Baiana para um encontro
provocado pelos Instrutores. Alguns
estavam lúcidos, outros pareciam
sonâmbulos em inquietação. Após a
recepção de passes, todos se mostravam
tranquilos. A reunião foi presidida por
Glaucus, cujo prazo de permanência entre
o grupo chegava ao fim. Glaucus falou a
todos, esclarecendo o objetivo daquele
encontro, onde se reuniam vários
desafetos de há pouco, amores do
passado, irmãos do futuro e de sempre,
no caminho da evolução. Ele convocou a
todos para o perdão e o esquecimento das
mágoas, explicando que as circunstâncias
e os locais são bancos e lições da
Grande Escola da Evolução. "Todos
nascemos e renascemos para sublimar até
à libertação", asseverou o nobre
Instrutor Espiritual. Convidando Mariana
e Adalberto, que em breve se casariam,
Glaucus apresentou Guilherme ao jovem,
solicitando-lhe a receptividade
fraterna, pois que aquele deveria
renascer em seu lar. Guilherme baixou os
olhos e, trêmulo, não conseguiu dominar
as lágrimas abundantes. Mariana avançou
e envolveu-o em abraço de pura ternura
e, subitamente adornada de tênue luz que
se lhe originava do plexo solar, com
coloração opalina, falou a Guilherme
comovidamente: "Incapaz de ser-te esposa
vigilante, tentarei ser-te mãe
cuidadosa. Ajuda-me com o teu perdão e
favorece-me com esta oportunidade".
Ambrósio chamou Dona Rosa e o Sr. Mateus
e a matrona tocou o futuro neto com mãos
delicadas, dizendo: "Serás, meu filho, a
alegria da nossa velhice, como foste a
preocupação dos nossos dias já
passados". Mateus, sem palavras, meio
acanhado, desajeitadamente tocou o
antigo adversário e permaneceu mudo.
Glaucus interveio para explicar que
Guilherme seria, ainda, conduzido a
tratamento necessário em Organização
especializada no plano espiritual. (Cap.
16, págs. 273 a 277)
86. O destino de Teofrastus
- Glaucus conduziu o antigo mago de
Ruão, que se apresentava desfeito,
contraído, com indizível sofrimento
estampado na face, e o aproximou de Ana
Maria, a mesma Henriette dos tristes
acontecimentos da época inquisitorial. E
disse-lhe: "Devolvo-te o amor não
fruído. Tê-lo-ás no seio materno e nos
braços da ternura. Amamentá-lo-ás e lhe
fornecerás a forma orgânica. Ele, porém,
terá incontáveis limitações de muita
natureza, exigindo-te sacrifícios e
vigílias. Talvez não consiga firmar-se
na primeira tentativa de renascimento.
Os seus fluidos possivelmente
intoxicarão venenosamente a forma débil
do feto... Mas voltará, sim, aos teus
anelos, às tuas ansiedades". Ana Maria
tocou a face do inditoso afeto. Misturou
as suas nas lágrimas dele, que fluíam
silenciosas e doloridas: "Ajuda-me,
amado Teo – disse lenta, laconicamente.
Ajuda-me com o teu vigor, o teu
entusiasmo e a tua sabedoria, tu que
sempre foste mais eloquente do que eu.
Socorre-me com a tua presença e não me
deixes mais sozinha... pois eu não
suportaria, agora que te
reencontrei..." A resposta de
Teofrastus foi emitida com grande
humildade. Dizia-se muito fraco, vencido
por si mesmo, e pediu a Ana Maria que
ela rogasse a Deus por ambos. Seguiu-se
um diálogo comovente, em que Ana
informou que seria mãe também de Jean
Villemain, o responsável pela tragédia
de Ruão. Ela esclareceu: "Ajudando-o,
ajudar-nos-emos. Ele foi mau porque
deixou que o seu amor por mim o
enlouquecesse". E fortemente inspirada
por Glaucus, Ana Maria arrematou:
"Aprendi, quando estudava o Evangelho,
em criança, em Ruão, este conceito que
nunca esqueci: `Quando eu buscava Deus
fora de mim, não O achava; quando o
procurava dentro de mim, tinha-O
perdido; resolvi amar e ajudar o meu
próximo e deparei-me comigo, com Deus e
com o meu irmão'. Buscando Jean e o
ajudando, achar-nos-emos os três na
felicidade..." Teofrastus, que a tudo
ouvia, assentiu, cansado, com a cabeça
caída sobre o ombro da noiva antes
infortunada. (Cap. 16, págs. 277 a 279)
87. O sustentáculo da fé -
Glaucus, explicando em seguida por que
Jean não estava presente, devido ao
tratamento a que ele se submetia no
plano espiritual, advertiu a todos que
os compromissos redentores nos desenham
também aflições e resgates. "Não serão
incursões românticas ao jardim das
delícias ou ao oásis do repouso. Serão
tarefas e responsabilidades que
assumimos perante nós mesmos. Poderemos
lograr êxito, poderemos falhar,
dependendo exclusivamente de como
refaçamos a senda", asseverou o
Benfeitor Espiritual. Concluindo suas
palavras, Glaucus lembrou a importância
da oração e do trabalho no bem como
sustentáculos da fé. "Repontarão à nossa
frente outros amores e outros desafetos.
O nosso pretérito não está aqui todo
representado, definido...
Fortaleçamo-nos no bem, pois que só o
bem nos fortalecerá devidamente para os
embates porvindouros", concluiu o
Instrutor espiritual, que, em seguida,
concentrando-se demoradamente, começou a
refletir luz prateada que lhe fluía do
cérebro, vestindo-o totalmente. A sala
humilde fez-se brilhante e tinha-se a
impressão de que sutil aroma perfumava o
ar. Glaucus, então, orou a Jesus. (Cap.
16, págs. 279 a 281)
Frases e apontamentos importantes
CLXXVIII. O Espiritismo é a Doutrina de
Jesus, em espírito e verdade, sem
fórmulas nem ritos, sem aparências nem
representantes, sem ministros. É a
religião do amor e da verdade, na qual
cada um é responsável pelos próprios
atos, respondendo por eles, conforme o
conhecimento que tenha da Imortalidade,
dos deveres. "É a religião da Filosofia,
a Filosofia da Ciência e a Ciência da
Religião", conforme predicou Vianna de
Carvalho... (José Petitinga, cap. 16,
pág. 271)
CLXXIX. Não se firma <o Espiritismo> em
enunciados estranhos à Boa Nova e tudo
quanto os Espíritos informaram ao
Missionário Allan Kardec se encontra
fundamentado nos Evangelhos. (José
Petitinga, cap. 16, pág. 271)
CLXXX. Os Espíritos sempre se
comunicaram e falaram dos renascimentos,
das Leis de Causa e Efeito, conhecidas
desde remotíssimas civilizações, sob a
designação sânscrita de Carma. Em todos
os tempos encontramos os chamados
"mortos" falando aos chamados "vivos"...
O que os sábios conseguiram nestes
tempos foi constatar a legitimidade da
existência post-mortem e comprovar a
preexistência do Espírito, antes do
corpo, com a consequente sobrevivência
após a morte do corpo. (José Petitinga,
cap. 16, pág. 271)
CLXXXI. Não há, porém, em toda a
Codificação um só item que se não
alicerce nos ensinos do Cristo, ora
confirmados universalmente pelos
Espíritos. (José Petitinga, cap. 16,
pág. 272)
CLXXXII. Não, não há qualquer culto
externo no Espiritismo e se houvera
teríamos a sua morte anunciada já para
breve. Sendo Doutrina dos Espíritos,
revive o Cristianismo, repitamos: em
espírito e verdade! (José Petitinga,
cap. 16, pág. 272)
CLXXXIII. E não poderíamos formular uma
oração de ação de graças em momentos que
tais? <Adalberto fez essa pergunta
referindo-se ao casamento>. – Sim,
orar, podemos fazê-lo, porém, na
intimidade dos corações, no silêncio do
quarto. Uma oração pública requer sempre
alguém mais bem adestrado, de verbo
fácil e inspirado. Assim, iremos
transferindo para outrem o que nos cabe
fazer. E como orar é banhar-se de luz e
penetrar-se de paz, pela decorrente
comunhão com o Alto, devemos fazê-lo,
nós mesmos, cada um, em particular.
(José Petitinga, cap. 16, pág. 272)
CLXXXIV. O Espiritismo é a religião que
religa, permitam-nos a redundância, a
criatura ao Criador, interiormente. Que
tenhamos mais atitudes do que
palavras!... (José Petitinga, cap. 16,
pág. 272)
CLXXXV. Ódios e paixões, anseios e
ternuras são etapas a vencer na rota do
grande amor que um dia nos unirá a todos
como irmãos verdadeiros. Não nos
importem as sombras, considerando a luz
soberana que brilha sobre nós,
concitando-nos ao avanço. Esqueçamos as
mágoas que são nuvens perturbadoras,
abramos o coração e a mente à esperança
que é semente de vida, germinando no
solo dos nossos Espíritos a benefício
nosso. (Glaucus, cap. 16, pág. 274)
CLXXXVI. O verdadeiro amor não se
enclausura em determinadas expressões do
sentimento, que desenvolvem o egoísmo e
a posse anestesiante; antes se dilata em
múltiplas manifestações encarregadas de
ampliar os recursos entesourados da
afeição, jornadeando nas manifestações,
através da família, em posições
diversas: filhos, pais, irmãos,
parentes, ou, fora dela, na condição de
amores que se abraçam em novas comunhões
e efusões, experimentando, aprendendo,
valorizando oportunidades. (Glaucus,
cap. 16, pág. 274)
CLXXXVII. "Quando eu buscava Deus fora
de mim, não O achava; quando o procurava
dentro de mim, tinha-O perdido; resolvi
amar e ajudar o meu próximo e deparei-me
comigo, com Deus e com o meu irmão."
(Ana Maria, citando um conceito que ela
aprendeu em Ruão, França, cap. 16, págs.
278 e 279)
CLXXXVIII. Os nossos compromissos
redentores nos desenham, também,
aflições e resgates. Não serão incursões
românticas ao jardim das delícias ou ao
oásis de repouso. Serão tarefas e
responsabilidades que assumimos perante
nós mesmos. Poderemos lograr êxito,
poderemos falhar, dependendo
exclusivamente de como refaçamos a
senda. O amor nos ajudará, sem dúvida.
(...) Tenhamos em mente a necessidade da
oração e do trabalho como meios de
sustentação da fé, nos momentos ásperos
que surgirão indubitavelmente.
Repontarão à nossa frente outros amores
e outros desafetos. (...)
Fortaleçamo-nos no bem, pois que só o
bem nos fortalecerá devidamente para os
embates porvindouros. (Glaucus, cap. 16,
pág. 279)
- Fim -