CLAUDIA
GELERNTER
claudiagelernter@uol.com.br
Vinhedo, SP
(Brasil)
A fala e a
escrita
espírita:
uma
reflexão
“Temos, em
'Nosso Lar', no
que concerne à
literatura, uma
enorme vantagem;
é que os
escritores de
má-fé, os que
estimam o veneno
psicológico, são
conduzidos
imediatamente
para as zonas
obscuras do
Umbral. Por aqui
não se
equilibram, nem
mesmo no
Ministério da
Regeneração,
enquanto
perseveram em
semelhante
estado d’alma”.
(André Luiz, no
livro Nosso Lar,
página 98.)
O Apóstolo
Paulo, na parte
final de O Livro
dos Espíritos,
questão 1009,
comenta que
nosso objetivo
final é o de
gravitarmos em
torno do
Criador. É o
mesmo que dizer
que, em
determinado
tempo de nossa
evolução, quando
conseguirmos nos
libertar de
todas as nossas
imperfeições,
seremos tão
sábios que,
felizmente,
comungaremos com
o Pai. Será o
tempo de
compreender toda
a verdade e
seguirmos
adiante,
realizando a
arte da
cocriação,
trabalhando pelo
Universo, num
espírito de
total irmandade,
auxiliando aos
que ainda não
atingiram tal
patamar.
Falando sobre o
processo de
evolução da
humanidade, o
Espírito Lázaro
comenta que “no
seu ponto de
partida, o homem
só tem
instintos; mais
avançado e
corrompido, só
tem sensações;
mais instruído e
purificado, tem
sentimentos; e o
amor é o
requinte do
sentimento”.
(LÁZARO, p.
111)
Aprendemos a
pensar e nos
tornamos
humanos. Quando
aprendermos a
amar, teremos
atingido a
grande meta.
Nesta escada que
nos leva à
perfeição,
ocupamos degraus
variados, mas
com
características
em comum: todos
estamos ainda
distantes do
topo,
apresentando,
portanto,
inúmeras
dificuldades,
exteriorizando
desequilíbrios,
complicações,
próprios de
nossa
personalidade
ainda
imperfeita. Uns,
mais adiantados,
já conseguem
dominar suas más
tendências, numa
luta intima
constante.
Outros se
demoram nas
atitudes
recalcitrantes,
promovendo
desequilíbrios
em torno de si,
graças a seus
próprios
desequilíbrios.
“A boca fala
daquilo que o
coração está
cheio”,
disse-nos Jesus
(Mt. 15,18).
Pois bem. E do
que está cheio
nosso coração?
Para obtermos a
resposta,
analisemos nossa
forma de nos
comunicar. No
caminho da
evolução é
imprescindível
passarmos pela
esquina do
autoconhecimento.
Se existe tanta
morosidade em
nossa caminhada,
é por conta de
nossa falta de
reflexão
existencial.
Santo Agostinho,
o bispo
argeliano, em
seu tempo já
refletia sobre
este problema:
"os homens se
vão a contemplar
os topos das
montanhas, as
vastas ondas do
mar, as amplas
correntes dos
rios, a
imensidão do
oceano, o curso
dos astros, e
não pensam em si
mesmos".
(AGOSTINHO,
1955)
“Conseguimos
fotografar
Marte, mas ainda
não deciframos
nossos defeitos.
Descobrimos
novas espécies,
mas não
descortinamos
nossas
tendências. O
exterior nos
deslumbra, o
interior nos
atemoriza. E com
isso seguimos,
muita vez
pronunciando
palavras
ásperas, verbos
envenenados,
difamação
irresponsável –
facetas de uma
mesma causa.” (GELERNTER,
2007)
Se por um lado
temos
responsabilidades
diante da
palavra e de
acordo com a
forma com que
realizamos a
comunicação de
nossas ideias,
temos, quando
conhecedores da
Doutrina
Espírita, tais
responsabilidades
muito mais
ampliadas.
Reconhecemos, ao
estudarmos
Espiritismo, que
toda a pedagogia
Espírita é
voltada para o
amor. Sua
metodologia
prevê o foco no
educando,
promovendo,
através da
empatia, a
construção do
conhecimento.
Neste campo não
cabe a forma
agressiva de se
comunicar.
Diz-nos Kardec
que se reconhece
o verdadeiro
espírita “pela
sua
transformação
moral e pelos
esforços que faz
para domar as
suas más
inclinações".
(KARDEC, p.
171)
Vale citar que,
buscando
desculpar tais
atitudes,
costumamos
explicar nossa
agressividade
verbal como
sendo resultado
de uma ‘vontade
boa’: a de nos
fazermos
compreender
pelos que
“pensam de forma
errada”. Ledo
engano.
Impossível
impulsionar algo
para o bem
utilizando-nos
do mal.
Toda expressão
desequilibrada
reflete a
essência daquele
que a pronuncia.
E não há
aprendizagem
positiva com
ações negativas.
A única
aprendizagem
possível,
através de
exemplos
deploráveis, é a
imitação dos
mesmos métodos,
o que promove a
manutenção do
problema.
E é nesta linha
de pensamento
que vários
Benfeitores
Espirituais,
através de
Médiuns idôneos,
nos esclarecem:
“Desta feita,
destaca-se, no e
do mundo, a
literatura
espírita que,
embora inserida
no âmbito da
arte, pode ser
levada à arte
divina, uma vez
que seu conteúdo
é a Revelação.
Com isso, não se
consorcia senão
à Verdade e seu
estilo é, e
precisa ser,
elegante,
instrutivo,
lúcido,
pacificador,
consolador,
moralizante e
respeitador”.
(PEREIRA, p. 28)
Toda obra
espírita, todos
os textos
redigidos dentro
do âmbito
espírita devem
ser revestidos
de amor, mesmo
que seja para
tratar de
assuntos da mais
alta gravidade,
ou ainda para a
defesa de ideias
ou pessoas.
Não podemos
admitir que a
palavra,
articulada ou
escrita, promova
o mal, a
desarmonia, o
desequilíbrio,
pois “torna-se
inútil à
elevação dos
objetivos,
sempre que haja
rebaixamento
moral nos
meios”.
(EMMANUEL,
p.24)
Salientemos
ainda que a
firmeza nas
ideias não se
traduz por
ataques. Podemos
ser firmes em
nossas opiniões
sem, contudo,
sermos
deselegantes,
deseducados.
“(...) o
expositor
espírita
representa o
próprio
Espiritismo bem
como o movimento
espírita. Assim,
tudo que o
expositor disser
ou fizer
repercutirá,
ante o público,
em favor ou
descrédito para
a Doutrina e a
coletividade
espíritas. Se
realiza bem o
seu trabalho,
consegue, junto
ao público, os
objetivos
visados pela
divulgação
doutrinária. Se
sua atuação se
ressente de
graves falhas
(doutrinárias,
morais ou
técnicas), deixa
de agradar aos
ouvintes, não
lhes passa a
mensagem
espírita
corretamente e
não os motiva ao
progresso
moral.” (LUZ, p.
3).
Compreendemos,
portanto, que
todo aquele que
abraça a
Doutrina
ensinada pelos
Espíritos
Superiores e
codificada por
Allan Kardec
deve buscar se
comportar de
acordo com o
conhecimento
doutrinário que
possui, ou seja,
não deve tentar
ensinar algo,
atuando de forma
equivocada.
Finalizando,
destacamos,
novamente em
Emmanuel: “A
imprensa
espírita cristã
representa um
veículo de
disseminação da
verdade e do
bem”. (EMMANUEL,
p. 26)
Não devemos
abrir mão destes
cuidados quando
nos comunicamos
com o mundo à
nossa volta.
Recordemos que a
responsabilidade
está de acordo
com nossos
conhecimentos e
que, quanto
maior o nosso
conhecimento,
maior nosso
compromisso
diante de Deus.
Referências
bibliográficas:
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Santo.
Confissões.
Tradução de J.
Oliveira e A.
Ambrósio de
Pina. Livraria
Apostolado da
Imprensa, 5ª
edição. Porto,
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CRISTIANO, E./
pelo Espírito de
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Trovão; A
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Conhecimento
Espírita;
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Ed. Allan
Kardec, 2010;
GELERNTER, C.
Estudo do
Falatório,
artigo
disponível no
site Somos Todos
Um, no link:
http://www.stum.com.br/clube/artigos.asp?id=9662,
acessado em 15
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KARDEC, A.; O
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segundo o
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pelo Espírito
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Amor, tradução
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Gentile, IDE,
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____________ O
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segundo o
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Sede Perfeitos,
tradução de
Salvador Gentile,
IDE, 365ª
edição, Araras,
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LUZ, C. E. C.;
artigo O que É
uma Exposição
Espírita,
disponível no
site Portal do
Espírito,
através do link:
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/celuz/cursos/como-fazer-palestra.html,
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2011;
XAVIER, F. C.;
Conduta
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Emmanuel, Ed.
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Janeiro, 21ª
edição, 1998;
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Nosso Lar,
Espírito André
Luiz, Ed. FEB,
Rio de Janeiro,
2005.