– Como devemos, à luz da
doutrina espírita,
tratar o tema
descriminalização das
drogas, que alguns
indivíduos, de diversas
capas sociopolíticas,
vêm propugnando, sob o
argumento de que seus
governos não conseguiram
vencer o tráfico?
Raul Teixeira:
A questão das drogas é
uma questão de
moralidade. Enquanto
vivermos numa condição
de agigantada hipocrisia
social, encontraremos
esses embates para que
se deixe de considerar
como um crime aquilo que
já se haja tornado
comum, usual e, para
muitos até, natural, no
caso em tela, o uso e a
distribuição de
substâncias psicoativas,
capazes de gerar
dependência e
destruição.
O grande problema é que
vivemos num mundo em que
as drogas são
intensamente lucrativas,
rendendo cifras
altíssimas, ganhos
financeiros
inabordáveis, e quem as
chancela como seus
donos, e que estão por
detrás da sua
proliferação na malha
social, são indivíduos
sem qualquer escrúpulo,
sem nenhuma
sensibilidade, que
afivelam ao rosto
máscaras de cinismo e
desfilam em todas as
ramas do poder político
e econômico, sem que
sejam admoestados,
enquanto compram o
silêncio conivente de
autoridades que deveriam
ser leais defensoras da
saúde pública.
Desgraçadamente, em
razão da grande
ansiedade por obter
dinheiro, por consumir o
que consomem a classe
média e os ricos e por
gozar de uma vida
financeira confortável,
magotes de criaturas,
jovens e velhos, homens
e mulheres, se lançam à
inglória lida de
representar esses
poderes sombrios do
tráfico de drogas onde
quer que vivam ou até
onde possam se distender
seus tentáculos.
Todos os argumentos
apresentados pelos
defensores da
descriminalização de
qualquer droga são
falsos, sofismáticos e
oportunistas. A grande
cartada sociomoral seria
o engajamento das
pessoas de boa vontade
no sentido de incentivar
os processos sérios e
bem acompanhados da
educação, que precisaria
ter começo nos lares,
onde, infelizmente,
costuma ter início o uso
das mais diversificadas
drogas, considerando-se
os vícios inocentes de
pais, mães e outros
familiares de fumar e de
ingerir bebidas
alcoólicas
abundantemente junto das
crianças e, às vezes,
oferecendo-lhes ou
permitindo-lhes os
“tragos” que, de
ingênuos a princípio,
acabam por desgovernar a
criatura em função da
instalação do vício.
A situação espiritual
preocupante é que
ninguém sabe quem são os
filhos ou de que
realidades
reencarnatórias procedem
eles. Muitos
reencarnam-se exatamente
para superar a
influência nefasta do
tabagismo, do alcoolismo
ou de qualquer outra
forma de dependência
psicoquímica que
desenvolveram no
pretérito e, uma vez
renascidos, são
confrontados pelo acesso
fácil a esses usos sob
aplauso da sociedade
eminentemente
dinheirista em que
vivemos, marcados os
tempos do mundo por um
cruel materialismo que
tem invadido todas as
instâncias sociais e até
mesmo os arraiais de
muitas crenças
religiosas.
Não há como
descriminalizar algo que
é um crime em si mesmo.
Serão feitos tão-somente
jogos de palavras e
criaremos novos
conceitos para
justificar o
injustificável. Aí nos
daremos conta de que,
ainda que os
legisladores aprovassem
tal descriminalização –
como é forte tendência
–, entraríamos nas
considerações de que nem
tudo o que é legal é
obrigatoriamente moral.
Na visão do mundo,
então, tudo estaria bem,
com os discursos de
enfraquecimento do
tráfico, com a suposta
diminuição de mortes e
de tudo que a
clandestinidade propicia
aos comerciantes e
usuários. Entretanto,
ninguém escaparia dos
conflitos e
comprometimentos de
ordem moral, uma vez que
as leis de Deus se acham
situadas em nossa
intimidade, em nossa
consciência, de cujas
imposições e cobranças
ninguém consegue se
evadir.
Entrevista concedida em
17 de setembro de 2011 à
revista “O Consolador”.
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