Ação da prece
Ensina-nos O
Evangelho
segundo o
Espiritismo
que “a prece é
uma invocação,
mediante a qual
o homem entra,
pelo pensamento,
em comunicação
com o ser a quem
se dirige. Pode
ter por objeto
um pedido, um
agradecimento,
ou uma
glorificação.
Podemos orar por
nós mesmos ou
por outrem,
pelos vivos ou
pelos mortos. As
preces feitas a
Deus escutam-nas
os Espíritos
incumbidos da
execução de suas
vontades; as que
se dirigem aos
bons Espíritos
são reportadas a
Deus...”.
O texto acima,
belíssimo e
inspirador, no
entanto, ele é
ponto de
discórdia entre
adeptos das
diversas
religiões
professadas pela
humanidade.
Vejamos a
seguinte
realidade, que
se passa em uma
escola de jardim
de infância na
região central
de Brasília. Uma
oração feita
pelos alunos
diariamente,
antes do início
das aulas, é o
principal motivo
da discórdia. De
um lado está um
grupo de pais
que pede a
exclusão de
referências
religiosas das
atividades
escolares. Do
outro, os que
apoiam o ritual
diário e
consideram que a
direção da
escola está
sendo
perseguida.
Todos os dias
antes das aulas
os alunos se
reúnem no pátio
da escola para o
momento chamado
de acolhida.
“Nessa hora, são
estimulados a
fazer uma
‘oração
espontânea’”,
como define a
diretora
Rosimara
Albuquerque. “A
cada dia,
crianças de uma
turma ficam
responsáveis por
fazer os
agradecimentos a
Deus ou ao Papai
do Céu. Pode
agradecer pelo
parquinho, pelos
colegas. Mas
houve um
questionamento
por parte dos
pais para que
fosse um momento
de acolhida um
pouco mais amplo
já que algumas
famílias não
comungam dessa
religião (a
diretora é
católica), que
seria
basicamente
cristã”, conta
Rosimara, que
está à frente da
escola há seis
anos.
A prática existe
há 40 anos desde
que a escola foi
fundada. Vejamos
as opiniões
divergentes e
favoráveis. Para
a radialista
Eliane Carvalho,
integrante da
Associação de
Pais e Mestres
do colégio, a
escola está
ultrapassando os
limites
permitidos pela
legislação. Ela
e outros pais
que protestam
contra essas
atividades se
apoiam no
princípio
constitucional
da laicidade
para pedir que
práticas de
cunho religioso
fiquem de fora
do ambiente
escolar. Além do
momento da
acolhida, ela
conta que notou
outros sinais de
violação, a
partir de
informações que
o filho de 4
anos levava para
casa. "Não posso
dizer que
existem dentro
da sala de aula
práticas
religiosas. Mas
meu filho não
aprendeu em casa
a orar em nome
de Jesus. Um
dia ele me disse
que o telefone
para falar com
Jesus era dobrar
o joelho no chão",
relata Eliane.
Do lado oposto,
ou seja, os que
são favoráveis à
prática salutar
da prece, um
grupo maior de
pais organizou
um
abaixo-assinado
a favor da
escola e da
oração no início
das aulas. “A
forma como eles,
professores e
direção, estão
atuando não é
nada abusiva ou
direcionada a
uma crença
específica. Eles
colocam a
palavra de Deus,
como entidade
superior, e
agradecem à
família. São só
coisas boas,
frutos bons.
Quem está
incomodado é uma
minoria",
defende Thiago
Meirelles, que é
católico e pai
de um aluno.
Eliane Carvalho
(associação de
pais) lamenta
que a discussão
tenha ficado
polarizada. "Não
é uma discussão
pessoal, mas de
currículo. O
grupo que fez o
abaixo-assinado
passou a nos ver
como
perseguidores de
cristãos e hoje
somos vistos
como pessoas
absurdas que não
querem a palavra
de Deus na
escola. Todos
têm o direito de
fazer suas
orações, mas eu
questiono o fato
de a escola
aceitar uma
prática que,
para mim, se
configura em
arrebanhar
fiéis", diz.
Na última semana
a reza foi
substituída por
cantigas de roda
e outras
atividades. "Aí,
sim, parecia uma
escola, antes
parecia uma
igreja. Como pai
que tem a
obrigação de dar
uma orientação
religiosa à
filha, não posso
permitir que
haja
divergência. O
mais triste é
que, apesar de
essas pessoas
dizerem que
estão pregando o
amor e o
respeito, elas
não têm respeito
nenhum pela
minha liberdade
de que não haja
essa
interferência
religiosa", diz
Mafá Nogueira,
pai de uma
aluna. Este pai
se esquece do
oposto da sua
fala, que seria
o fato de ele
respeitar a
prática de se
levar às
crianças a
oportunidade do
aprendizado da
oração,
independente de
convencer a
criança a
professar
qualquer
religião.
Para resolver o
problema, a
escola vai
convocar
reuniões com
pais,
professores,
funcionários e
representantes
da Secretaria de
Educação. "Vamos
discutir como a
gente pode
abordar a
pluralidade e a
diversidade sem
agredir ninguém
e que todos
possam sair
satisfeitos.
Polêmicas à
parte, devemos
refletir a
respeito do
quanto ainda a
humanidade não
busca
compreender boas
ações e boas
práticas.
Independente da
crença e da fé
religiosa, a
prece é
instrumento
universal e
incontestável
meio de nos
ligarmos ao bem.
A questão é que
cada segmento
religioso quer
crer que suas
preces e suas
práticas são
melhores e mais
apropriadas do
que a dos
demais, o que
naturalmente
leva ao
conflito, na
crença de que
‘meu’ Deus é
melhor do que o
seu e outros que
não têm Deus
nenhum.”
O simples ato de
ensinar crianças
a orar gerou
toda uma
polêmica, pois
ainda há muitos
no mundo que não
compreendem e
nem aceitam a
existência de
Jesus como
modelo e guia
para o homem na
Terra, ensinando
que nos
amássemos uns
aos outros.