CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Desapego
Quando lá ia eu
toda contente
com o meu novo
horário de
trabalho,
entrando pela
manhã e saindo à
tarde, vai a
Justiça e revê
as suas
determinações,
devolvendo-nos à
velha rotina de
se entrar às
onze da manhã e
sair às seis ou
sete horas da
noite!
Não me pegou tão
despreparada,
nem me deixei
arrebatar por
inconformação,
porque já faz
tempo que a vida
me conduziu à
sábia aplicação
daqueles refrões
da legendária
canção de Lulu
Santos: "Nada
do que foi será
/ de novo do
jeito que já foi
um dia / Tudo
passa, tudo
sempre passará /
A vida vem em
ondas como o
mar, num indo e
vindo infinito /
Tudo que se vê
não é / igual ao
que a gente viu
há um segundo /
Tudo muda o
tempo todo no
mundo / Não
adianta fugir /
nem mentir pra
si mesmo agora /
Há tanta vida lá
fora / aqui
dentro, sempre /
Como uma onda no
mar!
Desapego,
meu caro leitor
ou leitora! Como
nos é útil, e ao
mesmo tempo tão
difícil em
muitos momentos!
E em relação a
mais coisas do
que talvez você
imagine!
Imprescindível
esta
conscientização,
para adotarmos
um modo de se
viver mais leve!
As mudanças, por
vezes bruscas,
nas
circunstâncias
de trabalho! As
guinadas
familiares. As
transformações
naturais que
arredam para
longe de nós
pessoas e
situações
confortáveis às
nossas
comodidades e
preferências...
O amigo que se
foi. O parente
que fez a
passagem... A
mudança de
comportamento
gradativa nos
nossos filhos...
As modificações
diárias,
imperceptíveis,
no nosso próprio
corpo e
temperamento,
conduzindo-nos
paulatinamente,
da infância à
juventude, e daí
à maturidade e à
velhice...
Como ficaremos,
se nos apegarmos
ferrenhamente às
coisas, pessoas,
e às
características
transitórias de
momento?
E de que nos
adiantará, eu
lhes pergunto,
meus amigos,
este esforço?!
Será o mesmo que
se tentar reter
o ar entre os
dedos!
Sem que nos
apercebamos, o
apego é um dos
fatores
desencadeadores
de sofrimento
mais recorrente!
Porque nos
apegamos a
objetos, pessoas
e condições!
Enchemo-nos de
verve para
proclamar que
somos isto ou
aquilo, ou que
temos isto,
aquilo, ou
alguém... Nomes
e títulos.
Circunstâncias!
E então, as
ondas impetuosas
da vida nos
colhem de
improviso, de
tempos em
tempos,
arrastando para
longe tudo
aquilo que
tomávamos como
sustentáculo,
como identidade
e referência de
vida,
emprestando-nos
a sensação de
que nos falta o
chão!
Os títulos,
dadas vezes os
perdemos, ou
eles mesmos se
esvaem, de si,
de importância
ou utilidade. As
pessoas ficam
durante um tempo
por perto e
depois se vão,
de um ou de
outro modo: por
vontade própria
ou do destino,
pela passagem da
morte, pelos
lances
ocasionais que
as situam longe
de nós.
Objetos se
desgastam, se
quebram, ou se
perdem. Posses
mudam de feição
ou de mão. O
carro vai para
outro, a casa é
herdada por
aquele, ou nos
mudamos dela.
Pessoas novas
chegam, outras
se vão. O
dinheiro "quica"
em nossas contas
bancárias, para
logo depois se
transmudar em
pagamento de
contas ou em
compras de
mercado, que
logo são
consumidas e
somem...
Finalmente,
apegamo-nos a
nossos nomes,
famílias e
países. Mas
quantos nomes já
tivemos, com
quantas famílias
convivemos, e em
quantos países
reencarnamos
durante o
percurso pela
eternidade?!
O ser humano
comete o erro
temerário de
visão de se
considerar
intrínseca e
definitivamente
branco ou negro,
pardo,
brasileiro,
paulista ou
inglês, e nunca
lhe ocorre que o
limite
inexorável
destas
referências de
identidade, às
quais tanto se
apega, e que lhe
deveriam
funcionar não
mais como
utilitarismo de
momento, é o
túmulo!
Sim! Eis o fatal
divisor de
águas, a partir
do qual
desaguamos na
realidade mais
autêntica de nós
mesmos e de
tudo!
Somos cidadãos
universais! E,
em nosso belo
planeta azul,
deveríamos nos
considerar não
muito mais ou
além de meros
habitantes de
uma mesma raça
planetária: a
raça humana!
Tudo o mais,
leitor e leitora
amiga, são
fogos-fátuos,
que nos
hipnotizam
durante um
momento mais ou
menos breve,
emprestando-nos
a ilusão de
posse e de
permanência,
para, nalgum
momento
inevitável, logo
ali, se esvair
de nossas vistas
e alcance, sem
apelação!
Não quero
significar com
estas assertivas
que devemo-nos
imbuir de frieza
e isenção de
sentimentos para
com a nossa
situação, e para
com aqueles que
nos acompanham,
porque todo este
contexto de
coisas, fatos,
paisagens e
pessoas
representam
valioso presente
da Vida com que
interagimos em
compasso de
evolução
conjunta.
Merecem, sem
margem a
dúvidas,
reverência!
Amar ao próximo
como a si mesmo,
e a Deus sobre
todas as coisas!,
já nos
asseverava o
Cristo com esta
máxima que é o
próprio
mantenedor do
equilíbrio da
Vida no
Universo!
Todavia, não se
deveria jamais
confundir amor
com posse. Em
princípio,
porque não somos
donos de nada
nem de ninguém,
e mais cedo ou
mais tarde
descobriremos
esta verdade,
pelos caminhos
da dor ou da
sabedoria!
A mãe, ou os
filhos, maridos
e esposas, quem
seja..., um dia
se vão! Então,
procuremos
amá-los na sua
presença ou na
sua ausência,
mas de forma
sábia:
reverenciando-os,
naquele recanto
sagrado de
nossos corações!
Compreendendo-os,
o mais possível.
Convivendo de
maneira
harmoniosa, e
auxiliando-os -
mas sempre
compenetrados da
necessidade de
isentá-los de
possessividade
doentia, e de se
entender que são
eles, como nós
mesmos, filhos
da Vida! Vida
concedida por
este mesmo
Criador dos
mundos, porque é
para Ele que
todos somos
destinados!
As situações, as
contingências,
bons e maus
momentos vêm e
se vão. Deixemos
que partam, sem
maiores dores ou
constrangimentos.
Sejamos
agradecidos.
Certamente, nos
legaram a sua
cota preciosa de
amadurecimento...
Amigos ou amores
nos deixaram,
desapareceram
nas curvas do
longo caminho?
Foi um
aprendizado
mútuo. Irradie o
seu carinho, a
sua gratidão!
Quase certo que
um dia a Lei da
Sintonia nos
reunirá
novamente, para
instantes de
alegria e
efusões de
afetividade!
Mas, por
enquanto, os
caminhos da
liberdade e do
livre-arbítrio
nos reservam
novas lições.
Renovadas
oportunidades de
crescimento e de
aprendizado!
E isto vale,
meus queridos,
tanto para os
que nos deixam
para a
continuidade da
vida noutras
esferas ou
dimensões,
quanto para
coisas, fatos,
situações,
condições
passageiras de
agora. Não somos
nada definitivo,
não temos nada
em definitivo.
A Vida nos
empresta tudo!
Mas a única
coisa que
permanece é esta
mesma Vida em
nós, em forma de
consciência!
Viemos sem nada
a este mundo; e,
na despedida
dele,
carregaremos
apenas a nós
mesmos! Mas não
os nossos nomes,
profissões,
posses e
títulos! Isto de
nada nos
serviria nos
parâmetros
radicalmente
diferentes nos
quais seremos
chamados a
viver.
Devolveremos a
este mundo o que
este mundo nos
emprestou!
Carregaremos,
quando muito, o
que somos em
essência. O
tanto que
dedicamos e
continuaremos
dedicando em
contribuição à
Luz da Vida.
Quando muito,
talvez
preferências
sutis, mas
também
passageiras.
Afinidades
pessoais, que
tendem a se
modificar, ou a
se expandir!
Nossas atitudes,
sentimentos e
iniciativas nos
situarão no
palco do
capítulo
seguinte. Eis
tudo!
Não somos, não
temos, nem
retemos nada,
meus amigos –
num universo
onde, eterna e
paradoxalmente,
o Criador nos
herda com tudo!