A. Por que entre o
corpo e a alma é
necessário um
mediador, a que
Kardec chama
perispírito?
Compreende-se a
necessidade desse
mediador fazendo-se
o paralelo entre a
espiritualidade da
alma e a
materialidade do
corpo. A alma é
imaterial, porque os
fenômenos que produz
não se podem
comparar a qualquer
propriedade da
matéria. O
pensamento, a
imaginação, a
lembrança não têm
forma, nem cor, nem
duração, nem
maleabilidade; essas
produções do
Espírito não estão
adstritas a lei
alguma que reja o
mundo físico, elas
são puramente
espirituais, não se
podem medir nem
pesar. A alma
escapa, por sua
natureza, à
destruição, pois que
se manifesta, em
toda sua plenitude,
após a desagregação
do corpo; é, pois,
imaterial e imortal.
Por isso, para
integrar-se a um
corpo material é
necessária a
intervenção de um
princípio
intermediário, de um
mediador, o
perispírito.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap. I
– Que é o
perispírito?)
B. A ideia de um
mediador entre corpo
e alma foi concebida
por outras pessoas
fora do meio
espírita?
Sim. Um filósofo
inglês, Cudworth,
imaginou uma
substância
intermediária entre
o corpo e a alma, a
que ele chamava
mediador plástico
e cujo papel
consistia em unir o
Espírito à matéria,
participando da
natureza de ambos.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. I – Que
é o perispírito?)
C. De acordo com a
doutrina espírita,
que é o Espírito?
A alma é o princípio
inteligente e está
sempre envolvida,
circunscrita por um
corpo fluídico que a
torna, depois da
morte, um ser
distinto e
individual. É ela a
força que age e
pensa e que, só como
abstração, poderemos
considerar isolada
da matéria.
Revestida de seu
invólucro fluídico
ou perispírito,
constitui o ser
chamado Espírito.
O Espírito – unido a
um corpo material –
constitui o homem.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. I – Que
é o perispírito?)
Texto
para leitura
521. A
realidade é que o
vácuo de um balão
Crookes se enche em
menos de hora e
meia, o que prova
que a exiguidade das
partículas é tão
grande, que devem
passar por segundo,
na mais fina
abertura, não 100
milhões, mas 300
quintilhões. Que
pequenez infinita
devem ter essas
partículas!
522. Pois bem, por
mais quintessenciada
que seja a matéria,
por minúscula e
impalpável que a
Ciência no-la
mostre, ela é,
ainda, grosseira em
relação ao Espírito,
que é uma essência,
um ser ainda
infinitamente mais
sutil. É neste
sentido que
entendemos a palavra
imaterial, aplicada
à alma; esta é de
tal forma
imponderável, que
não pode ter nenhum
ponto de contato com
a matéria que
conhecemos na Terra.
Entretanto,
constatamos no homem
a ligação destes
dois elementos: o
corpo e a alma. Eles
estão unidos de
maneira íntima e
reagem um sobre o
outro, como o
demonstra o
testemunho diário
dos sentidos e da
consciência. Depois
do que dissemos da
alma, parece haver
nisso contradição;
ela, porém, é mais
aparente do que
real, porque o homem
não é formado só do
corpo e da alma, mas
ainda de um terceiro
princípio
intermediário entre
um e outro chamado
perispírito,
isto é, invólucro do
Espírito.
523.
Compreender-se-á, em
seguida, a
necessidade desse
mediador fazendo-se
o paralelo entre a
espiritualidade da
alma e a
materialidade do
corpo. A alma é
imaterial, porque os
fenômenos que produz
não se podem
comparar a qualquer
propriedade da
matéria. O
pensamento, a
imaginação, a
lembrança não têm
forma, nem cor, nem
duração, nem
maleabilidade; essas
produções do
Espírito não estão
adstritas a lei
alguma que reja o
mundo físico, elas
são puramente
espirituais, não se
podem medir nem
pesar. A alma
escapa, por sua
natureza, à
destruição, pois que
se manifesta, em
toda sua plenitude,
após a desagregação
do corpo; é, pois,
imaterial e imortal.
524. O corpo é esse
invólucro do
princípio pensante,
que vemos nascer,
crescer e morrer. Os
elementos que o
compõem são tirados
da matéria que forma
o nosso Globo.
Depois de demorarem
certo tempo no
organismo, cedem
lugar a outros que
os vêm substituir.
Essas operações se
renovam até a morte
do indivíduo; os
átomos, então, que
compunham, em último
lugar, o corpo
humano, são
retomados pela
circulação da vida e
entram em outras
combinações, em
virtude da grande
lei de que nada se
cria, nada se perde
na Natureza.
525. Corpo e alma
são, portanto,
essencialmente
distintos: um,
notável por suas
transformações
incessantes; a
outra, pela
imutabilidade de sua
essência. Apresentam
qualidades
radicalmente
opostas, mas
verificamos que
vivem em perfeita
harmonia e exercem
influências
recíprocas. O ódio,
a cólera, a piedade,
o amor refletem-se
no rosto e imprimem
caráter particular à
fisionomia. Nas
emoções violentas é
todo o organismo que
se perturba: uma
alegria súbita ou
uma dor imprevista
podem provocar
abalos que conduzem
à morte. A
imaginação age
também sobre o
físico, com grande
violência; é o que
demonstram as obras
de medicina sobre o
assunto, de sorte
que, de um lado,
estando bem
determinados esses
efeitos e, do outro,
verificando-se a
imaterialidade da
alma, fica insolúvel
para os filósofos o
problema da ação
mútua da alma sobre
o corpo.
526. Os maiores
Espíritos
aplicaram-se a
explicar a ação da
alma sobre o corpo,
mas nem Descartes,
Malebranche, Spinosa,
Leibnitz ou Euler
chegaram a uma
explicação
satisfatória desses
fatos. Segundo
Descartes, a alma e
o corpo, por sábio
desígnio da
Providência, seguem,
em todo o curso da
vida, duas linhas
paralelas e,
entretanto, sua
natureza os torna
estranhos um ao
outro. Deus modifica
a alma, conforme os
movimentos do corpo,
e dá movimento ao
corpo em
consequência das
vontades da alma.
Cada substância é,
pois, não a causa,
mas parte
conjuntural dos
fenômenos que se
manifestam na outra.
Eis por que a teoria
cartesiana foi
chamada pelos
historiadores a
hipótese das causas
ocasionais.
527. Segundo
Leibnitz, corpo e
alma, vivendo
separadamente,
receberam tal
organização, que as
modificações de uma
são reproduzidas no
outro, mais ou menos
como os ponteiros de
dois relógios bem
regulados, que
marcam a mesma hora.
Essa harmonia é mais
antiga que o Mundo,
tem seu fundamento
na inteligência
divina e daí a
denominarem,
conforme Leibnitz,
preestabelecida.
528. Euler, o
matemático, tinha
uma teoria muito
mais vulgar, a do
influxo físico,
que admite a ação
direta e recíproca
do corpo sobre a
alma.
529. Todos esses
sistemas levantam
graves objeções e
não resistem à
crítica. Como
conciliar as
hipóteses de
Descartes e de
Leibnitz com o
sentimento do nosso
eu, de nossa
atividade pessoal;
com a experiência
diária do império
que o homem exerce
sobre a Natureza e
que esta possui
sobre o homem? Quem
nos persuadirá,
quando estendemos o
braço, que não somos
a causa desse
movimento?
530. Sabemos, por
experiência, que o
menor ato de nossa
vontade, por fugaz
que seja, se traduz
por um gesto, e
quando sentimos uma
dor, sinal é que se
produziu uma
alteração orgânica,
e não a intervenção
de Deus para
infligir à alma o
sofrimento
experimentado pelo
corpo.
531. As doutrinas de
Descartes e
Leibnitz,
absolutamente
insuficientes para
explicar os fatos,
estão, além disso,
em contradição com a
experiência. A
doutrina do influxo
físico é menos
afastada do senso
comum, mas deixa a
desejar, porque não
oferece prova alguma
e avilta a alma,
tirando-lhe a
imaterialidade. Como
se vê, o problema é
espinhoso, desde que
homens desse valor
não puderam
resolvê-lo.
532. Vejamos outros
filósofos, que se
aproximam de nossa
maneira de ver. Um
inglês, Cudworth,
imaginou uma
substância
intermediária entre
o corpo e a alma, a
que ele chamava
mediador plástico
e cujo papel
consistia em unir o
Espírito à matéria,
participando da
natureza de ambos.
533. Esta teoria
poderia ser aceita,
porém com algumas
modificações, porque
não podemos admitir
que a alma, essência
indivisível, se alie
ao corpo, cedendo
parte de sua
substância. Além
disso, a definição
de Cudworth é muito
vaga: preferimos a
opinião de alguns
fisiologistas,
quando dizem: “Toda
ação, quer contínua
e inconsciente, quer
intermitente e
voluntária da alma
sobre a matéria
ponderável do corpo,
se exerce por certas
ondulações do fluido
imponderável,
ondulações que têm
por condutor o
sistema nervoso,
tanto cerebrospinal
como ganglionar.” É
esse perfeitamente o
nosso pensamento e
não podemos definir
melhor o papel do
perispírito, senão
assimilando-o à ação
de um fluido
imponderável que
exerce sua ação
pelos nervos.
534. A
melhor prova da
existência do
perispírito é
mostrar que o homem
pode desdobrar-se em
certas
circunstâncias. Se,
de um lado, vê-se o
corpo material, e do
outro a reprodução
exata desse corpo,
mas fluídica, não é
mais permitida a
dúvida.
535. O perispírito,
como veremos a
seguir, serve não só
para explicar a ação
recíproca da alma
sobre o corpo, como
também para nos
fazer compreender
qual é a vida do
Espírito desprendido
da matéria e
habitando o espaço.
536. Até então, só
havia ideias vagas
sobre o futuro da
alma. As religiões e
as filosofias
espiritualistas
contentavam-se em
afirmar a sua
imortalidade, sem
dar qualquer
esclarecimento sobre
o seu modo de vida
no além-túmulo. Para
uns, a eternidade
espiritual
passava-se em um
paraíso mal
definido, onde se
encontrariam as
delícias reservadas
aos eleitos; para
outros, o inferno
era um lugar
terrível, onde as
almas passavam por
horríveis torturas.
537. Além disso, as
observações da
Ciência detinham-se
na matéria tangível;
daí resultava entre
o mundo espiritual e
o mundo corporal um
abismo que se diria
intransponível. Esse
abismo, os novos
descobrimentos e o
estudo de fenômenos
pouco conhecidos
vêm, em parte,
preencher.
538. Ensina-nos o
Espiritismo que as
relações entre os
dois mundos não são
interrompidas, que
há permuta constante
entre os vivos e os
que chamamos mortos.
Pelo nascimento, o
mundo espiritual
fornece almas ao
mundo corporal, e
pela morte este
restitui ao espaço
as almas que vieram
temporariamente
habitar a Terra. Há,
pois, numerosos
pontos de contacto
entre a humanidade e
a espiritualidade, e
a distância que
parecia separar o
mundo visível do
invisível está
consideravelmente
diminuída. Se
demonstrarmos que
esse mundo é formado
de matéria como o
nosso, que os
Espíritos também têm
um corpo material,
as diferenças que
pareciam tão
radicais se
reduzirão a simples
nuanças, que vão do
muito ao menos, mas
não mais
encontraremos
chocantes anomalias.
539. A
natureza da alma nos
é desconhecida, mas
sabemos que ela está
envolvida,
circunscrita por um
corpo fluídico que a
torna, depois da
morte, um ser
distinto e
individual. A alma,
segundo Allan
Kardec, é o
princípio
inteligente,
considerado
isoladamente; é a
força que age e
pensa e que, só como
abstração, poderemos
considerar isolada
da matéria.
Revestida de seu
invólucro fluídico
ou perispírito,
constitui o ser
chamado Espírito,
como, revestida do
invólucro corporal,
constitui o homem.
Ora, se bem que em
estado de espírito
goze de faculdades e
propriedades
especiais, não cessa
de pertencer à
humanidade. São,
pois, os Espíritos
seres semelhantes a
nós, visto que cada
um de nós se torna
Espírito depois da
morte do corpo, e
cada Espírito vem
novamente a ser
homem depois do
nascimento.
540. Esse invólucro
não é de modo algum
a alma, porque não
pensa; não é mais
que uma vestimenta;
sem alma, o
perispírito, assim
como o corpo, não
passam de matéria
inerte, privada de
vida e de sensação.
Dizemos matéria,
porque, com efeito,
o perispírito, posto
que de natureza
etérea e sutil, não
deixa de ser
matéria, tanto como
os fluidos
imponderáveis, e,
além disso, matéria
da mesma natureza e
da mesma origem que
a matéria tangível
mais grosseira. É o
que demonstraremos
no 2º capítulo.
541. A
alma não possui essa
veste somente em
estado de espírito;
ela é inseparável
desse invólucro que
a segue na
encarnação e na
erraticidade.
Durante a vida
humana, o fluido
perispiritual
identifica-se com o
corpo e serve de
veículo às sensações
vindas do exterior e
às vontades do
Espírito; penetra o
corpo em todas as
suas partes; mas com
a morte o
perispírito se
desprende com a
alma, de que
partilha a
imortalidade.
542. Poder-se-ia,
talvez, contestar a
utilidade desse
órgão, dizendo-se
que a alma pode agir
diretamente sobre o
corpo e estaria
destruída nossa
teoria. Mas como nos
apoiamos sobre
fatos, como nossa
convicção é fruto do
estudo e da
observação, e não
uma concepção
arbitrária, não
depende de nós
mudá-la. Isto
sobressai claramente
dos fatos que serão
expostos no capítulo
seguinte.
(Continua no próximo
número.)