FELINTO ELÍZIO
DUARTE CAMPELO
felintoelizio@gmail.com
Maceió, Alagoas
(Brasil)
Um
homem
persistente
Chovia
torrencialmente.
Precária no
verão, a estrada
de barro
castigada pela
enxurrada não
oferecia
condições de
tráfego.
Premidos pela
necessidade, pai
e filho
enfrentavam
todos os
obstáculos
expondo o velho
caminhão a
sérios danos em
sua estrutura
desgastada e
obsoleta.
Vencida a terça
parte do
percurso,
ocorreu o
primeiro
contratempo: o
motor começou a
falhar.
Agastado, Otávio
resmungou:
¾
Pai, estamos
“fritos”! A
bobina aqueceu,
não funciona e
não temos outra
para
substituí-la.
¾
O que você
sugere, filho?
¾
Aguardarmos
socorro de algum
outro louco que
se arrisque a
passar por aqui.
¾
De jeito nenhum,
Otávio. Esperar
o que, se a
solução está
caindo do céu?
Molhe a flanela
com a água da
chuva, ponha-a
em volta da
bobina e vamos
adiante. Repita
a operação toda
vez que for
preciso.
Mais meia hora
de viagem e o
motor voltou a
falhar.
Desta vez, um
tanto assustado,
Otávio indagou:
¾
Seu Donato, e
agora? O
platinado está
com uma
“bexiga”, na
caixa de peças
não tem nenhum
sobressalente,
também não
encontrei lixa
ou coisa
parecida. Assim
não dá! Entrego
os pontos, pai.
¾
Filho, eu não
penso assim.
Cabeça não serve
apenas para se
pôr chapéu; é
importante
acionar a
imaginação. Esta
é uma região de
muitos seixos,
pegue uma
pedrinha, dê um
polimento no
platinado. O
problema ficará
resolvido.
Ainda não haviam
chegado à metade
do caminho
quando outro
incidente
aconteceu: com
tremendo
estrondo, um
pneu “baixou”,
impossibilitando
a continuação da
viagem.
A câmara de ar
ficou em
frangalhos. Não
havia conserto,
era necessária a
sua
substituição.
Desolado, Otávio
lamentou:
¾
Pai, está tudo
perdido! Não
temos outra
câmara, só nos
resta desistir.
¾
Esta palavra não
consta do meu
vocabulário
¾
replicou Donato
com toda
segurança.
¾
Desistir, nunca.
Encontraremos
uma solução
viável, filho.
¾
Como, meu pai?
Somos nós três,
o calhambeque, a
estrada
enlameada, muita
chuva
acompanhada de
raios e trovões.
Que fazer?
¾
Se não podemos
encher o pneu
com ar,
encheremos com
folhas secas.
Apanhe-as
enquanto eu pego
a marreta, vamos
“socar” as
folhas dentro do
pneumático,
montar a roda e
prosseguir.
Rodados mais
alguns
quilômetros,
comprovada a
eficácia da
improvisação,
Donato, em tom
solene,
comentou:
¾
Filho, a
perseverança é
característica
do homem
robustecido na
fé e a fé é o
canal pelo qual
Deus inspira os
homens de boa
vontade.
Otávio quedou-se
pensativo para
logo depois
readquirir o bom
humor.
Avistavam-se as
primeiras casas
da cidadezinha.
Restava pouco
mais de um
quilômetro para
alcançarem o
destino, porém,
um novo desafio
surgiu para os
audazes viajores:
o motor deu
sinais de
“engasgo”, em
seguida,
“apagou”.
O péssimo estado
da estrada
exigiu um
esforço maior da
máquina e um
consumo extra de
combustível.
Faltou gasolina.
Sem abalar-se
com a nova
dificuldade,
Donato gracejou:
¾
Nada de
desânimo,
Otávio!
¾
É, meu pai, não
vou desesperar,
entretanto, sei
que a água da
chuva resfriou a
bobina, mas,
acredito, não dá
“queima” ao
motor. Como vai
se sair desta?
¾
No começo da
rua, existe uma
mercearia bem
sortida. Vá até
lá, compre uns
dez litros de
álcool e traga
também...
¾
Será que o “São”
Donato quer
fazer milagre?
Motores a
gasolina não
“engolem” de bom
grado o álcool,
ainda mais um de
qualidade
duvidosa. Pra
complicar, o
tempo frio!...
Pai, vai
funcionar?
¾
Calma, Otávio,
deixe-me
concluir o
pensamento para,
então, fazer
suas
observações.
¾
Estou aflito,
papai!
Perdoe-me.
¾
Muito bem.
Depois da
mercearia, na
segunda rua à
esquerda, você
encontra a
Farmácia
Salvação. Peça
em meu nome ao
Sr. Padilha que
ceda meio litro
de éter.
Em hora e meia,
nossos heróis
chegaram à porta
do Hospital
Regional onde
internaram o
conterrâneo Juca
cujo fêmur
direito sofrera
séria fratura.
A missão de
solidariedade
cristã a que se
propuseram
estava cumprida.
O ancião,
naquele momento,
recebia a
assistência
médica
necessária.
Otávio,
sorridente,
confidenciou ao
experiente
Donato:
¾
Hoje, meu pai,
aprendi que a
persistência bem
conduzida,
acompanhada de
fé, é uma
qualidade de
grande valia na
vida do homem.
Obrigado, papai.
¾
Ensinaram-me,
desde cedo, que
Deus ajuda
aquele que
trabalha. Peço
sempre a
inspiração
divina para
poder solucionar
todos os
problemas,
contudo, não
dispenso o
esforço pessoal
para consecução
dos meus
objetivos.
Assim é o homem.
Através de
múltiplas
experiências
reencarnatórias,
aliando fé e
suor, vontade e
disciplina, vai
desbastando
arestas,
corrigindo
erros,
melhorando-se
interiormente,
em permanente
aprendizado, até
consolidar o
aperfeiçoamento
próprio na
grande busca de
Deus
¾
META MAIOR DO
ESPÍRITO.