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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 228 - 25 de Setembro de 2011

FELINTO ELÍZIO DUARTE CAMPELO
felintoelizio@gmail.com
 
Maceió, Alagoas (Brasil)
 

 Um homem persistente

 

Chovia torrencialmente. Precária no verão, a estrada de barro castigada pela enxurrada não oferecia condições de tráfego.

Premidos pela necessidade, pai e filho enfrentavam todos os obstáculos expondo o velho caminhão a sérios danos em sua estrutura desgastada e obsoleta.
 

Vencida a terça parte do percurso, ocorreu o primeiro contratempo: o motor começou a falhar.


Agastado, Otávio resmungou:


¾
Pai, estamos “fritos”!  A bobina aqueceu, não funciona e não temos outra para substituí-la.


¾
O que você sugere, filho?


¾
Aguardarmos socorro de algum outro louco que se arrisque a passar por aqui.


¾
De jeito nenhum, Otávio. Esperar o que, se a solução está caindo do céu? Molhe a flanela com a água da chuva, ponha-a em volta da bobina e vamos adiante. Repita a operação toda vez que for preciso.


Mais meia hora de viagem e o motor voltou a falhar.


Desta vez, um tanto assustado, Otávio indagou:


¾
Seu Donato, e agora? O platinado está com uma “bexiga”, na caixa de peças não tem nenhum sobressalente, também não encontrei lixa ou coisa parecida. Assim não dá!  Entrego os pontos, pai.


¾
Filho, eu não penso assim. Cabeça não serve apenas para se pôr chapéu; é importante acionar a imaginação. Esta é uma região de muitos seixos, pegue uma pedrinha, dê um polimento no platinado. O problema ficará resolvido.


Ainda não haviam chegado à metade do caminho quando outro incidente aconteceu: com tremendo estrondo, um pneu “baixou”, impossibilitando a continuação da viagem.


A câmara de ar ficou em frangalhos. Não havia conserto, era necessária a sua substituição.


Desolado, Otávio lamentou:


¾
Pai, está tudo perdido! Não temos outra câmara, só nos resta desistir.


¾
Esta palavra não consta do meu vocabulário ¾ replicou Donato com toda segurança. ¾ Desistir, nunca. Encontraremos uma solução viável, filho.


¾
Como, meu pai? Somos nós três, o calhambeque, a estrada enlameada, muita chuva acompanhada de raios e trovões. Que fazer?


¾
Se não podemos encher o pneu com ar, encheremos com folhas secas.

Apanhe-as enquanto eu pego a marreta, vamos “socar” as folhas dentro do pneumático, montar a roda e prosseguir.


Rodados mais alguns quilômetros, comprovada a eficácia da improvisação,

Donato, em tom solene, comentou:


¾
Filho, a perseverança é característica do homem robustecido na fé e a fé é o canal pelo qual Deus inspira os homens de boa vontade.


Otávio quedou-se pensativo para logo depois readquirir o bom humor.


Avistavam-se as primeiras casas da cidadezinha. Restava pouco mais de um quilômetro para alcançarem o destino, porém, um novo desafio surgiu para os audazes viajores: o motor deu sinais de “engasgo”, em seguida, “apagou”.


O péssimo estado da estrada exigiu um esforço maior da máquina e um consumo extra de combustível. Faltou gasolina.


Sem abalar-se com a nova dificuldade, Donato gracejou:


¾
Nada de desânimo, Otávio!


¾
É, meu pai, não vou desesperar, entretanto, sei que a água da chuva resfriou a bobina, mas, acredito, não dá “queima” ao motor. Como vai se sair desta?


¾
No começo da rua, existe uma mercearia bem sortida. Vá até lá, compre uns dez litros de álcool e traga também...


¾
Será que o “São” Donato quer fazer milagre?  Motores a gasolina não “engolem” de bom grado o álcool, ainda mais um de qualidade duvidosa. Pra complicar, o tempo frio!...  Pai, vai funcionar?


¾
Calma, Otávio, deixe-me concluir o pensamento para, então, fazer suas observações.


¾
Estou aflito, papai! Perdoe-me.


¾
Muito bem. Depois da mercearia, na segunda rua à esquerda, você encontra a Farmácia Salvação. Peça em meu nome ao Sr. Padilha que ceda meio litro de éter.


Em hora e meia, nossos heróis chegaram à porta do Hospital Regional onde internaram o conterrâneo Juca cujo fêmur direito sofrera séria fratura.


A missão de solidariedade cristã a que se propuseram estava cumprida. O ancião, naquele momento, recebia a assistência médica necessária.


Otávio, sorridente, confidenciou ao experiente Donato:


¾
Hoje, meu pai, aprendi que a persistência bem conduzida, acompanhada de fé, é uma qualidade de grande valia na vida do homem. Obrigado, papai.


¾
Ensinaram-me, desde cedo, que Deus ajuda aquele que trabalha. Peço sempre a inspiração divina para poder solucionar todos os problemas, contudo, não dispenso o esforço pessoal para consecução dos meus objetivos.


Assim é o homem. Através de múltiplas experiências reencarnatórias, aliando fé e suor, vontade e disciplina, vai desbastando arestas, corrigindo erros, melhorando-se interiormente, em permanente aprendizado, até consolidar o aperfeiçoamento próprio na grande busca de Deus
¾ META MAIOR DO ESPÍRITO.


 


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita