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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 229 - 2 de Outubro de 2011

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS 
afv@uol.com.br 
São Paulo, SP (Brasil)


Algumas reflexões sobre a transição planetária


À medida que nos aproximamos do ano 2012 tornam-se crescentes as especulações a respeito do que, de fato, ocorrerá com o nosso mundo, sobretudo por conta do calendário Maia que encerra a sua contagem exatamente aí. Com efeito, há considerável quantidade de material publicado sobre o tema, apresentando as mais variadas e desconcertantes previsões. Além disso, canais de TV a cabo, como History Channel e o National Geographic, têm exibido documentários em suas grades explorando o lado profético e o científico do tema. Vale ressaltar ainda o filme 2012, produzido e dirigido por Roland Emmerich, que constitui, sem dúvida, um ícone do chamado “cinema catástrofe”. Numa perspectiva mais ampla, esclarecedoras obras espíritas enfocando a questão da transformação do planeta têm sido trazidas a lume, tais como Herdeiros do Novo Mundo, do Espírito Lucius (psicografia de André Luiz Ruiz), e Transição Planetária, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda (médium Divaldo Pereira Franco), entre outras. 

De modo geral, o que se observa é muita dúvida, elucubração e nenhuma certeza. Não há consenso algum em relação ao que poderá ocorrer em 21 de dezembro do próximo ano. Pelo menos é o que se deduz dos comentários feitos por cientistas e estudiosos do tema. Os mais otimistas, entretanto, deixam entrever o início de um período de mudanças. Na verdade, ao observador mais atento não faltará razões para acreditar que as transformações já se encontram em curso. Afinal de contas, chegamos num patamar aparentemente crítico da nossa civilização e que requer intervenções profundas. Recordemos alguns fatos presentes sugestivos de tal percepção. Líderes políticos estão sendo sistematicamente apeados do poder por levantes populares no mundo árabe. Homens que governavam as suas nações com mãos de ferro estão caindo um a um. No entanto, ainda é cedo para se saber se o que virá – pelo menos num primeiro momento – será alvissareiro.

A admirável nação da América do Norte, a seu turno, se viu numa luta renhida entre os seus partidos políticos mais proeminentes, que culminou no abandono de importantes reformas sociais que iriam beneficiar os mais vulneráveis socialmente. Os membros do partido mais conservador negaram-se peremptoriamente a aceitar a proposta de aumento de impostos aos mais ricos. Em consequência, a plataforma reformista do governo atual foi praticamente inviabilizada, gerando fissuras nas relações partidárias e sociais que poderão levar muito tempo para cicatrizar. Na Europa o quadro é igualmente sombrio, dado que muitas nações estão com as suas finanças altamente debilitadas e os programas de recuperação, como sói acontecer nestas circunstâncias, são demasiadamente amargos. Em decorrência, pode-se observar elevadas taxas de desemprego gerando desespero e pesar nas populações atingidas. Além disso, jovens vão frequentemente às ruas para extravasar o seu inconformismo por meio de protestos violentos.

Em nossa pátria, por outro lado, somos diuturnamente bombardeados por uma pletora de notícias negativas e chocantes. Como subproduto desse cenário lúgubre, assistimos atônitos ao crescente número de casos de corrupção envolvendo autoridades públicas. E o descalabro é tão chocante que a mais importante revista de interesse geral, há poucos dias atrás, indagava: onde está a indignação? Não bastasse isto, a violência campeia de tal forma que, em grandes cidades como São Paulo, as pessoas temem uma prosaica saída à noite para saborear uma tradicional pizza ou ir a um restaurante em função dos constantes arrastões. Crianças viciadas em drogas, por sua vez, fazem arruaças e destroem o patrimônio público – como se viu recentemente pela TV – e o poder público nada pode fazer, pois o sistema jurídico-penal produziu tamanhas aberrações que agora está engessado. Por fim, pessoas vivem cada vez mais escondidas atrás de muros altos, cercas e sistemas de vigilância, como verdadeiras prisioneiras, mas que – paradoxalmente – não lhes garante segurança completa.

Fatos como os citados e muitos outros eventos observáveis na atualidade demonstram, a nosso ver, que a transição planetária é, antes de qualquer outra consideração, um imperativo. Diante de tantas incertezas, o mais sensato é entender a transição como um amplo e multifacetado processo constituído de muitas fases, como as obras espíritas citadas estão, aliás, sugerindo. Não faz sentido imaginar que haverá um dia e hora específica para que determinados eventos apocalípticos aconteçam. Nesse sentido, previa-se que o ano de 1999 seria palco de desgraças terríveis e inimagináveis que sacudiriam o planeta. No entanto, felizmente, não foi o que se viu. Considerando as tragédias que vêm ocorrendo em praticamente todas as latitudes do globo – e que não dão pistas de que vão cessar – pode-se inferir a favor da tese acima explicitada. Portanto, precisamos nos acostumar a conviver com catástrofes rotineiras que poderão nos atingir direta ou indiretamente. Desse modo, ainda, o melhor a fazer é: continuarmos a seguir as nossas vidas fazendo o bem onde estivermos; nos esforçarmos para ser cada vez mais seres íntegros e virtuosos; e exemplificar através das nossas atitudes o aprendizado obtido.

A nossa hora vai chegar mais dia ou menos dia, como tem sido, aliás, ao longo de nossa trajetória milenar. Assim sendo, o fato é que vamos desencarnar por uma razão ou por outra. A questão capital é que estamos vivendo as experiências necessárias ao nosso progresso espiritual e, desta vez, a transição planetária é o pano de fundo. A maioria de nós – Espíritos altamente endividados perante as leis divinas – está tendo a chance de mostrar o quanto aprendeu, de testemunhar a sua fé e confiança em Deus. Para muitos de nós atualmente vivendo no mundo corpóreo, aliás, a oportunidade é derradeira, pois, se não formos bem, deveremos retomar as lições em condições nada favoráveis, provavelmente em um mundo ainda mais atrasado do que a Terra. Mas se ao longo do caminho formos vitimados por tragédias coletivas é porque assim deveria ser. Seja como for, preparemo-nos para aceitar a vontade do Criador, porque Ele sabe o que é melhor para nós.     
 


 


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