A. No fenômeno da
bicorporeidade há
semelhança entre o
corpo físico da
pessoa e seu duplo
fluídico?
Sim. Os fatos
mostram que o duplo
fluídico reproduz,
identicamente, os
traços do indivíduo
no qual o fenômeno
se processa. A
semelhança é de tal
modo frisante que
permite aos outros
reconhecer a pessoa
que ali se
apresenta.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap.
II - Provas da
existência do
perispírito – Sua
utilidade – Seu
papel.)
B. No caso citado
por Dassier que
refere a aparição de
um marinheiro em um
outro navio, que
característica digna
de nota é mencionada
por Delanne?
Trata-se da mensagem
escrita pelo duplo
fluídico, que se
revelou, portanto,
não só pela visão,
mas também por meio
da escrita, o que
pressupõe a ideia de
que houve no caso
materialização da
segunda
personalidade do
indivíduo, fato que,
em muitos casos, é
precisamente o que
ocorre.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. II -
Provas da existência
do perispírito – Sua
utilidade – Seu
papel.)
C. Como o
Espiritismo explica
esses fatos? |
Para explicar essa
ordem de fenômenos,
o Espiritismo diz
que o perispírito ou
invólucro fluídico
da alma pode, em
certas
circunstâncias,
separar-se do corpo,
ao qual ele fica,
entretanto, retido
por um cordão
fluídico. O
perispírito reproduz
a forma do
indivíduo, porque é
a ele que devemos a
conservação do nosso
tipo material e a
constituição física
do nosso corpo. A
alma, nesse caso,
goza de parte das
faculdades que
possui quando está
inteiramente
desprendida da
matéria; assim se
explica a rapidez do
seu deslocamento.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. II -
Provas da existência
do perispírito – Sua
utilidade – Seu
papel.)
Texto
para leitura
543. Entre os
numerosos casos de
bicorporeidade do
ser humano, vamos
fazer uma escolha,
não só pela
abundância da
matéria, como para
apresentar ao leitor
tão-só fenômenos bem
verificados e de
incontestável
certeza.
544. Dassier conta a
seguinte história,
que lhe fora
referida durante sua
passagem pelo Rio de
Janeiro:
“Foi em 1858;
falava-se, ainda, na
colônia francesa
dessa capital, de
uma singular
aparição, havida
alguns anos antes.
Uma família
alsaciana, composta
de marido, mulher e
uma filha menor,
estava de vela para
o Rio de Janeiro,
onde ia reunir-se a
patrícios ali
estabelecidos. A
travessia foi longa;
a mulher adoeceu e,
por falta, sem
dúvida, de cuidados
e de alimentação
conveniente,
sucumbiu antes da
chegada. No dia em
que morreu, caiu em
síncope, ficou muito
tempo nesse estado,
e quando recuperou
os sentidos, disse
ao marido, que lhe
estava ao lado:
– Morro contente,
porque sei, agora,
que está assegurada
a sorte de nossa
filha. Venho do Rio
de Janeiro, onde
encontrei a rua e a
casa de nosso amigo
Fritz, o
carpinteiro. Ele
estava no limiar da
porta:
apresentei-lhe a
pequena; estou certa
de que, à tua
chegada, ele a
reconhecerá e a
tomará a seu
cuidado.
Alguns instantes
depois ela expirava.
O marido
surpreendeu-se com a
narrativa, sem lhe
dar, entretanto,
importância. No
mesmo dia e à mesma
hora, Fritz, o
carpinteiro – o
alsaciano de quem
acabo de falar –
encontrava-se à
soleira da porta de
sua casa, no Rio de
Janeiro, quando
acreditou que vira
passar na rua uma de
suas compatriotas,
tendo nos braços uma
menina. Ela o
encarava com ar
suplicante e parecia
apresentar-lhe a
criança. A figura
era de grande
magreza e lembrava
os traços de Lota, a
mulher do seu amigo
e compatriota
Schmidt. A expressão
do rosto, a
singularidade do
andar, que se diria
mais de fantasma que
da realidade,
impressionaram
vivamente Fritz.
Querendo
assegurar-se de que
não estava sendo
vítima de uma
ilusão, chamou um
dos seus operários,
que trabalhava na
loja, e que era
também alsaciano e
da mesma localidade.
– Olha – disse lhe –
não vês passar uma
mulher na rua, com
uma filha nos
braços, e não parece
Lota, a mulher do
nosso patrício
Schmidt?
– Não sei dizer, não
distingo bem –
respondeu o
operário.
Fritz calou-se, mas
as diversas
circunstâncias dessa
aparição real ou
imaginária
gravaram-se
fortemente em seu
espírito,
notadamente a hora e
o dia. Algum tempo
depois, vê ele
chegar seu
compatriota Schmidt,
trazendo uma criança
nos braços.
Retraça-se, então,
em seu espírito, a
visita de Lota, e
antes que Schmidt
tivesse aberto a
boca, disse-lhe:
– Meu pobre amigo,
já sei tudo; tua
mulher morreu
durante a travessia
e antes de morrer
veio apresentar-me
sua filha para que
eu velasse por ela.
Eis a data e a hora.
Eram exatamente o
dia e a hora
consignados por
Schmidt a bordo do
navio.”
545. Façamos algumas
observações. Vemos,
primeiro, que o
duplo fluídico
reproduz,
identicamente, os
traços do indivíduo
no qual o fenômeno
se processa. A
semelhança é de tal
modo frisante que
permite a Fritz
reconhecer a mulher
do amigo, que ele há
muito não via. O
segundo caráter a
notar é a rapidez
com que se move a
aparição, pois o
momento em que foi
vista por Fritz
coincide com o da
síncope da doente, a
bordo do navio.
Terceiro, é preciso
reter esta
particularidade, a
de que a alsaciana
estava mergulhada em
uma espécie de
letargia, enquanto
sua alma viajava ao
longe.
546. Para explicar
esse fato, os
espíritas admitem
que o perispírito ou
invólucro fluídico
da alma pode, em
certas
circunstâncias,
separar-se do corpo,
ao qual ele fica,
entretanto, retido
por um cordão
fluídico. O
perispírito reproduz
a forma do
indivíduo, porque,
como veremos mais
adiante, é a ele que
devemos a
conservação do nosso
tipo material e a
constituição física
do nosso corpo. A
alma, nesse caso,
goza de parte das
faculdades que
possui quando está
inteiramente
desprendida da
matéria; assim se
explica a rapidez do
deslocamento da
alsaciana. O estado
doentio ou a síncope
não são sempre
necessários ao
desdobramento.
547. Vejamos outro
fato relatado por
Gouguenot des
Mousseaux, citado
por Dassier: “Robert
Bruce, de ilustre
família escocesa
desse nome, é
imediato de um
navio; navega ele um
dia perto da Terra
Nova e, quando se
entregava aos
cálculos, julga
notar seu capitão
sentado à sua
escrivaninha;
olhando com atenção,
verifica que a
pessoa a quem vê é
um estranho, cujo
olhar friamente
fixado sobre ele o
surpreende. O
capitão percebe seu
espanto e o
interroga.
– Mas quem está em
sua escrivaninha? –
pergunta Bruce.
– Ninguém.
– Sim, está lá um
estranho, e como?
– Você sonha ou
moteja?
– De modo algum.
Desça e venha ver.
Desceram e não se
viu ninguém na
escrivaninha; o
navio é revistado em
todos os sentidos;
nenhum estranho se
encontrou.
– Entretanto, quem
eu vi escrevia em
sua ardósia; sua
escrita deve ter
ficado lá
– acrescentou Bruce.
Examinou-se a lousa;
ela tinha estas
palavras: steer
to the north-west,
isto é, governe para
noroeste.
– Mas esta escrita é
sua ou de alguém de
bordo?
– Não é!
Pediu-se a todos que
escrevessem a mesma
frase e nenhuma se
assemelhava à da
ardósia.
– Pois bem,
obedeçamos e
aproemos o navio
para noroeste; o
vento está bom e
permite a
experiência.
Três horas depois, o
vigia assinalava uma
montanha de gelo e
via ali um navio de
Quebec,
desmantelado, cheio
de gente, com
destino a Liverpool;
seus passageiros
foram trazidos em
chalupas para a
embarcação de Bruce.
Quando um dos homens
subia para o navio
libertador, Bruce
estremeceu e recuou,
muito comovido. Era
o estranho que ele
vira traçando as
palavras na lousa.
Narrou ao capitão
esse novo incidente.
– Peço escrever
steer to the
north-west,
nesta ardósia –
disse o capitão ao
recém-vindo,
apresentando-lhe o
lado onde não havia
escrita. O estranho
traçou as palavras
pedidas.
– Bem. É esta a sua
letra? – perguntou o
capitão,
impressionado com a
identidade das duas
escritas.
– Mas o senhor mesmo
me viu escrever;
seria possível
duvidar? Como única
resposta, o capitão
virou a pedra e o
estranho ficou
confuso, vendo sua
letra de ambos os
lados.
– Teria o senhor
sonhado que escrevia
nesta lousa? –
perguntou ao autor
do escrito o capitão
do navio naufragado.
– Não; pelo menos
não me lembro.
– Que fazia, ao
meio-dia, esse
passageiro? –
indagou o capitão
salvador ao seu
colega.
– Estando muito
fatigado, esse
passageiro dormiu
profundamente e,
tanto quanto me
recordo, isso foi
antes do meio-dia.
Uma hora depois, ele
acordou e me disse:
– Capitão, seremos
salvos hoje mesmo! –
e acrescentou: –
Sonhei que estava a
bordo de um navio e
que ele vinha em
nosso socorro.
Descreveu o navio e
sua aparelhagem, e
foi grande a nossa
surpresa quando
singrastes para nós
e reconhecemos a
justeza de sua
descrição.
Enfim, o passageiro
disse por seu turno:
– O que me parece
singular é que aqui
tudo me é conhecido
e, entretanto, nunca
vim aqui.”
548. O desdobramento
da personalidade é
tão manifesto neste
caso como no
primeiro; as
condições são quase
as mesmas: o corpo
está profundamente
adormecido. Dois
reparos, entretanto,
nos levam um pouco
mais longe, no
caminho dos
descobrimentos.
549. Em primeiro
lugar, a lembrança
do que se passou
durante essa viagem
da alma parece
apagada, ou, pelo
menos, só apresenta
ao Espírito vagas
reminiscências; o
passageiro reconhece
o navio que visita,
sem saber como tal
acontece, pois que
antes nunca estivera
nele. Não é mais um
desejo ardente, como
no caso de Lota, o
que determinou o
fenômeno; o fato tem
menos nitidez, no
ponto de vista da
memória, mas
apresenta outra
particularidade que
é preciso assinalar.
No exemplo da
alsaciana, Fritz vê
sua compatriota, ela
lhe apresenta a
criança com ar
suplicante, mas o
carpinteiro seria
incapaz de dizer se
era uma aparição ou
realmente se fora a
mulher do seu amigo
quem ele viu.
550. No segundo
caso, a personagem
fluídica escreve;
não é, pois, somente
vaga aparência, mas
uma pessoa tangível,
que tem certa força
para dirigir um
lápis numa ardósia.
Este ponto é
certamente
importante, porque
há materialização da
segunda
personalidade do
indivíduo, e vamos
ver que, em muitos
casos, é assim que
sucede.
551. Eis uma
descrição tomada ao
Curso de
Magnetismo, do
Barão du Potet: “O
fato seguinte está
bem atestado e pode
ser classificado
entre os fenômenos
mais difíceis de
explicar, na ordem
do Espiritismo. Foi
publicado no manual
dos amigos da
religião, para 1814,
por Jung Stilling,
ao qual foi narrado
pelo Barão de Sulza,
Camarista do Rei da
Suécia, como uma
experiência pessoal.
Conta o Barão que,
indo fazer visita a
um vizinho, voltou à
casa por volta de
meia-noite, hora em
que, no verão, ainda
faz claro na Suécia,
de forma que se pode
ler a mais delicada
impressão.
– Quando cheguei –
diz ele –, em meu
domínio, meu pai
veio a meu encontro,
à entrada do parque;
vestia como de
hábito e segurava
uma bengala,
esculpida por meu
irmão.
Cumprimentei-o e
conversamos muito
tempo junto.
Chegamos, assim, até
a sua casa e à
entrada do seu
quarto. Quando
entrei, vi meu pai
despido, deitado na
cama, e
profundamente
adormecido; no mesmo
instante, a aparição
se desvanecera.
Pouco tempo depois
meu pai acordou e
olhou-me com ar de
interrogação.
– Meu caro Eduardo –
disse-me ele –,
bendito seja Deus,
que te vejo são e
salvo; fui
atormentado em um
sonho, por tua
causa; parecia-me
que tinhas caído n'água
e que estavas
prestes a afogar-te.
Ora, nesse dia –
acrescenta o Barão –
eu tinha ido com um
dos meus amigos ao
rio, para pescar
caranguejos, e quase
fui arrastado pela
correnteza. Contei a
meu pai que vira sua
aparição à entrada
da casa e que
tínhamos conversado
bastante tempo. Ele
me respondeu que se
davam muitas vezes
fatos semelhantes.”
552. Esta narrativa
apresenta
circunstância bem
notável. O fantasma
humano fala
com seu filho,
durante muito tempo.
Vimos, há pouco, que
a mão perispiritual
do passageiro era
real, que escrevia;
aqui é o órgão vocal
que funciona;
podemos, pois,
concluir que em
ambos os casos o
perispírito se tinha
materializado, pelo
menos em parte. O
duplo fluídico
reproduz
absolutamente, como
se vê, todas as
partes do corpo do
paciente, é dele a
cópia exata, ou
antes, como veremos
adiante, o esboço
imponderável sobre o
qual se modela o
corpo do encarnado.
553. Sir Robert
Dale-Owen era
embaixador dos
Estados Unidos em
Nápoles. Em 1845 –
conta esse diplomata
–, existia na
Livônia o colégio de
Neuwelke, a doze
léguas de Riga e a
meia légua de Wolmar.
Aí se encontravam 42
pensionistas, a
maior parte de
famílias nobres, e
entre as inspetoras
figurava Emilie
Sagée, francesa de
origem, com 32 anos
de idade, de boa
saúde, mas nervosa,
e com um
procedimento digno
dos maiores elogios.
Poucas semanas
depois de sua
chegada, notou-se
que, quando uma
aluna dizia tê-la
visto num lugar,
outra, muitas vezes,
afirmava que ela
estava em lugar
diferente.
554. O fenômeno se
produziu de diversas
maneiras, durante o
tempo em que Emilie
ali esteve
empregada, isto é,
de 1845 a 1846, no
espaço de ano e
meio; houve
intermitências de
uma a muitas
semanas.
Verificou-se que
quanto mais distinto
e de aparência
material era o
duplo, tanto mais
sofredora,
mortificada e
abatida estava a
personalidade real;
ao contrário, quando
o duplo esmaecia,
via-se a paciente
readquirir suas
forças. Emilie,
entretanto, não
tinha nenhuma
consciência desse
desdobramento, e só
o conhecia por ouvir
dizer; nunca vira o
duplo, nunca
suspeitara do estado
em que ficava. Tendo
o fenômeno
inquietado os pais,
estes retiraram as
filhas e a
instituição faliu.
555. Evidencia-se um
fato desta
narrativa: a relação
íntima que existe
entre o estado do
corpo e o duplo.
Quando o perispírito
se torna menos
vaporoso, mais
sólido, o corpo
enfraquece; quando
se toma fluídico, o
organismo material
retoma forças. Isto
indica que existe um
laço entre o corpo e
o duplo. Dassier
denomina-o tecido
vascular invisível.
Kardec ensina há
muito tempo que,
durante o sono, a
alma se desprende do
corpo, mas que lhe
fica sempre ligada
por um cordão
fluídico e que, se
ele se rompesse, a
morte do paciente
seria instantânea.
556. Emilie Sagée,
de constituição
muito nervosa, era
sujeita ao
desprendimento da
alma, mas o fato é
notável porque o
desdobramento se
dava mesmo durante a
vigília, enquanto
que, de ordinário,
ele só se opera
quando o corpo está
mergulhado no sono. (Continua no próximo
número.)