MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Ação e Reação
André Luiz
(Parte
29)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo da obra
Ação e Reação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1957 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Quem foi Adelino no
passado recente?
Quando ainda vigorava a
escravidão no Brasil,
Adelino nasceu como
filho bastardo de um
jovem muito rico que o
recebeu das mãos da
genitora escrava, que
desencarnou ao trazê-lo
à luz. Gaspar, o moço
afazendado que lhe foi o
pai solteiro, era homem
de coração enrijecido,
muito cedo acostumado ao
orgulho tiranizante, em
face da incúria do lar
em que nascera. Abusava
das donzelas cativas a
seu talante e, em muitas
ocasiões, vendeu-as com
os próprios filhos
recém-natos para não
ouvir seus choros e
petitórios. Entretanto,
para o filho Martim – o
mesmo Adelino de agora –
sua ternura e dedicação
não mostravam limites.
Inexplicavelmente para
ele mesmo, amava-o com
desvelado
enternecimento, a ponto
de providenciar-lhe
educação esmerada na
própria fazenda.
(Ação e Reação, cap. 16,
pp. 217 e 218.)
B. O amor do pai era
correspondido por
Martim, seu filho
bastardo?
Sim. Pai e filho
tornaram-se companheiros
inseparáveis nos jogos,
nos estudos, no serviço
e na caça, e Gaspar
tornou-o partícipe de
seu nome e de sua
herança. Tudo correu bem
entre eles até que, aos
43 anos de idade, Gaspar
resolveu casar-se com
uma jovem de grande
metrópole, de nome
Maria Emília, 20 anos de
idade na época. Atraído
pela jovem madrasta,
Martim, que contava
então 21 anos, passou a
experimentar torturantes
conflitos sentimentais.
Ele, que se julgava o
melhor amigo de Gaspar,
entrou a detestá-lo, não
lhe tolerando a posse
sobre a mulher que
desejava, sabendo-se por
ela ardentemente
querido. Maria Emília e
ele entregaram-se,
então, à paixão
desvairada e foi assim
que, auxiliado por dois
capatazes de sua
confiança - Antônio e
Lucídio -, administrou
uma poção entorpecente
no pai, que estava
acamado naquele dia,
provocando em seguida um
incêndio no qual Gaspar
veio a falecer.
(Obra citada, cap. 16,
pp. 217 e 218.)
C. Que atitude tomou
Gaspar logo que se viu
no plano espiritual?
Gaspar, a inflamar-se em
cólera, envolveu o filho
em nuvens de fluidos
inflamados, contra os
quais o infeliz não
possuía defesa.
Apegando-se ao afeto da
mulher, Martim procurou
anestesiar a
consciência e esquecer
tudo... Confiou a
fazenda aos cuidados de
seus dois cúmplices e
demandou a Europa, em
busca de repouso e
distração. Tudo, porém,
debalde... Ao fim de
cinco anos de
resistência, tombou
integralmente vencido,
sob o jugo do Espírito
do pai que o cercava,
incessantemente, apesar
de invisível. Gaspar
aguardou-o no túmulo,
arrastando-o para as
sombras infernais, onde
passou a exercer
pavorosa vingança...
(Obra citada, cap. 16,
pp. 219 e 220.)
Texto para leitura
105. Crime no século
passado - Junto à
porta da casa, três
crianças ocupavam três
leitos: Marisa, uma
loura menina entre nove
e dez anos, filha de
Adelino, de quem a
mãezinha se afastara
havia seis anos, e dois
petizes de tez escura -
Mário e Raul -, dois
enjeitados que ele
adotara por filhos do
coração. Para
possibilitar entendamos
melhor o caso Adelino,
Silas relatou: "Em
meados do século
precedente, Adelino era
filho bastardo de um
jovem muito rico que o
recebeu das mãos da
genitora escrava, que
desencarnou ao trazê-lo
à luz. Martim Gaspar, o
moço afazendado que lhe
foi o pai solteiro, era
homem de coração
enrijecido, muito cedo
acostumado ao orgulho
tiranizante, em face da
incúria do lar em que
nascera. Abusava das
donzelas cativas a seu
talante e, em muitas
ocasiões, vendeu-as com
os próprios filhos
recém-natos para lhes
não ouvir os choros e
petitórios. Temido na
casa grande da qual se
fizera absoluto senhor,
por morte do velho pai,
que, em vão, buscara
tardiamente
controlar-lhe os
instintos, sabia usar o
tronco e o chicote, sem
qualquer compaixão. Era
execrado pela maioria
dos servos e bajulado
de quantos lhe obtinham
os favores, a troco de
lisonja servil.
Entretanto, para o filho
Martim – o mesmo Adelino
de agora – a sua ternura
e dedicação não
mostravam limites.
Inexplicavelmente para
ele mesmo, amava-o com
desvelado
enternecimento, a ponto
de providenciar-lhe
educação esmerada na
própria fazenda". Silas
disse então que pai e
filho tornaram-se
companheiros
inseparáveis nos jogos,
nos estudos, no serviço
e na caça e Gaspar
tornou-o partícipe de
seu nome e de sua
herança. Pai e filho
contavam,
respectivamente, 43 e 21
anos de idade, quando
Gaspar resolveu casar-se
com uma jovem de grande
metrópole - Maria
Emília -, na época com
20 anos, que desenvolveu
sobre o enteado estranha
fascinação. Martim,
amado pelo pai e atraído
pela jovem madrasta,
passou a experimentar
torturantes conflitos
sentimentais. Ele, que
se julgava o melhor
amigo de Gaspar, entrou
a detestá-lo, não lhe
tolerando a posse sobre
a mulher que desejava,
sabendo-se por ela
ardentemente querido.
Maria Emília e ele
entregaram-se à paixão
desvairada e foi assim
que Martim, auxiliado
por dois capatazes de
sua confiança - Antônio
e Lucídio -, e com
aprovação da madrasta,
administrou uma poção
entorpecente no pai, que
estava acamado naquele
dia, provocando em
seguida um incêndio no
qual o mísero Gaspar, em
horríveis padecimentos,
veio a falecer. (Cap.
16, pp. 217 e 218)
106. Remorso e
sofrimento além-túmulo
- Morto o pai, Martim
apoderou-se-lhe dos
haveres e tentou a
felicidade junto com
Maria Emília, mas o
genitor desencarnado, a
inflamar-se em cólera,
envolveu-o em nuvens de
fluidos inflamados,
contra os quais o
infeliz não possuía
defesa... Apegando-se
ao afeto da companheira,
Martim procurou
anestesiar a
consciência e
esquecer... esquecer...
Confiou a fazenda aos
cuidados de seus dois
cúmplices e demandou a
Europa, em busca de
repouso e distração.
Tudo, porém, debalde...
Ao fim de cinco anos de
resistência, tombou
integralmente vencido,
sob o jugo do Espírito
do pai que o cercava,
incessantemente, apesar
de invisível.
Abriu-se-lhe a pele em
chaga, como se chamas
ocultas o requeimassem.
Circunscrito ao leito de
dor e constantemente
empolgado pelo remorso,
recapitulava mentalmente
a morte do pai, em urros
de martírio selvagem...
Não sabia, desse modo,
senão chorar, gritando a
esmo o arrependimento de
que se via possuído, no
que foi interpretado à
conta de louco pela
própria companheira, que
se dava pressa em
reconhecer-lhe a suposta
alienação mental, de
modo a inocentar-se
perante os amigos e
servidores. Foi
algemado a semelhante
suplício que Martim
recebeu escárnio e
abandono, dentro do
próprio círculo
doméstico, vindo a
expirar em tremenda
flagelação. Gaspar
aguardou-o no túmulo,
arrastando-o para as
sombras infernais, onde
passou a exercer
pavorosa vingança... O
desditoso filho
desencarnado sofreu
terríveis humilhações e
indescritíveis
tormentos, durante onze
anos consecutivos, em
cárceres de treva, até
que, amparado por
Mensageiros de Jesus,
ingressou na Mansão, em
lamentável situação.
Tendo entrado em
sintonia com o pai,
sequioso de vindita,
através das brechas
mentais do remorso e do
arrependimento tardio,
fora hipnotizado por
gênios perversos que o
fizeram sentir-se
dominado de chamas
torturantes. Fixada a
imagem dele em
semelhante quadro de
angústia, o próprio
Martim nutria com o
pensamento culposo as
labaredas em que se
torturava sem
consumir-se, até que foi
aliviado e socorrido
pelos benfeitores
através de recursos
magnéticos que lhe
sanaram o doloroso
desequilíbrio. (Cap. 16,
pp. 219 e 220)
107. Os cúmplices
reúnem-se no mesmo lar
- Devotado, na Mansão,
aos serviços mais duros,
Martim conquistou com o
tempo apreciáveis
lauréis que lhe
permitiram voltar à
esfera humana, para
iniciar o pagamento da
larga dívida em que se
onerou. Atirado a
imensas dificuldades
materiais, desde cedo
cresceu órfão de pai...
Custodiado por
benfeitores da Mansão,
foi conduzido a uma
casa espírita, ainda
muito jovem, onde a
leitura dos princípios
espíritas constituiu
para ele recordações
naturais dos
ensinamentos
assimilados na Mansão.
Disciplinou-se e,
apesar dos entraves
orgânicos, dedicou-se ao
serviço de
representação
comercial, de cujos
labores retirava os
recursos, que sabia
repartir com numerosos
necessitados, reservando
para si tão-somente o
indispensável. Trilhando
o caminho da
simplicidade e da
renúncia edificante,
modificou as impressões
de muitos companheiros
de outro tempo, que nas
baixas camadas da sombra
se lhe haviam
transformado em
perseguidores e
desafetos. Ajudando aos
outros, Martim - agora
Adelino - desbastava,
dia a dia, o montante
dos seus débitos, uma
vez que a Misericórdia
do Pai permite que os
nossos credores atenuem
o rigor da cobrança
sempre que nos vejam
oferecendo ao próximo
necessitado aquilo que
lhes devemos... Desse
modo, ele resgatava o
pretérito, ganhava
tempo e adquiria novas
bênçãos, porquanto
atraíra para junto de
si, como filha, a antiga
madrasta, reencarnada
para reeducar-se ao
calor de seus exemplos
nobres, e os dois
antigos cúmplices -
Antônio e Lucídio -,
recolhidos por ele como
filhos adotivos. "Como é
fácil de reconhecer –
acentuou Silas –, nosso
irmão, através da
responsabilidade
espírita-cristã,
corretamente sentida e
vivida, conquistou a
felicidade de
reencontrar os laços do
pretérito criminoso para
o necessário reajuste,
ao passo que, se
houvesse desertado da
luta pela irreflexão da
companheira <que o
abandonou> ou se
tivesse cerrado a porta
do coração a dois
meninos infelizes, teria
adiado para futuros
séculos o nobre trabalho
que está fazendo
agora..." (Cap. 16, pp.
220 a 222) (Continua no próximo
número.)