A. Pode ocorrer o
fenômeno da
bicorporeidade sem que a
pessoa esteja
adormecida?
Segundo Delanne,
sim. Mas, então,
quanto mais o duplo
adquire
tangibilidade, mais
o sensitivo se toma
fraco e enlanguecido.
(O
Espiritismo perante
a Ciência, Quarta
Parte, Cap. II -
Provas da existência
do perispírito – Sua
utilidade – Seu
papel.)
B. Como um médium
vidente, ao ver um
Espírito, pode saber
se ele está ou não
encarnado?
A resposta a esta
pergunta foi dada
primeiramente por um
médium vidente
radicado na
Inglaterra. Segundo
ele, cada vez que
lhe aparecia um
Espírito de uma
pessoa viva, notava
que um fio luminoso
partia de seu peito,
atravessava o
espaço, sem se
interromper com os
objetos materiais, e
ia terminar no
corpo, espécie de
cordão umbilical
que unia as duas
partes
momentaneamente
separadas do ser
vivo. Era por esse
cordão fluídico,
cuja existência foi
mais tarde
comprovada, que se
reconhecia se o
Espírito era de uma
pessoa morta ou de
uma ainda viva.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. II -
Provas da existência
do perispírito – Sua
utilidade – Seu
papel.)
C. As partes
constitutivas do
perispírito são
homogêneas? |
Não. O perispírito
não é um corpo
homogêneo; ele
possui partes quase
materiais, que se
referem ao
organismo, e partes
quase imateriais,
que se referem à
alma. O perispírito
é formado de fluidos
em diferentes graus
de condensação,
desde os fluidos
materiais, que
aderem ao cérebro,
até os espirituais,
que se aproximam da
natureza da alma.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. II -
Provas da existência
do perispírito – Sua
utilidade – Seu
papel.)
Texto
para leitura
557. Se nos
reportarmos aos
casos de
sonambulismo lúcido,
narrados por
Charpignon,
compreenderemos a
série ascendente que
se manifesta nesses
diferentes
fenômenos. No
sonambulismo,
natural ou
provocado, a alma se
desprende do corpo,
porque este,
mergulhado no sono,
tem uma vida menos
ativa, o que permite
ao Espírito
escapar-se, por
momentos, do seu
invólucro e ver o
que se passa a
distância.
558. No caso de
desdobramento, a
alma separa-se, no
sono, da mesma
maneira, mas, ora se
materializa de forma
imperfeita, ora toma
um aspecto
inteiramente
material, pode
escrever e falar. Se
o fenômeno é ainda
mais acentuado, a
bicorporeidade se
manifesta sem que o
paciente esteja
adormecido, mas,
então, quanto mais o
duplo adquire
tangibilidade, mais
o sensitivo se toma
fraco e enlanguecido.
559. Estas
observações
confirmam plenamente
o ensino de Allan
Kardec. Encontramos,
com efeito, em O
Livro dos Espíritos
a explicação
racional de todos
esses casos
singulares. A alma é
retida ao corpo por
seu perispírito, que
tem por condutor o
sistema nervoso;
segue-se que todas
as modificações
trazidas a esse
sistema, que tenham
por fim paralisar
sua ação,
favorecerão o
desprendimento da
alma.
560. Eis, com
efeito, o que lemos
na Revue Spirite
de 1859, página 137:
A Sra. Schultz, uma
de nossas amigas,
que é perfeitamente
deste mundo e não
parecia dever
deixá-lo tão cedo,
tendo sido evocada
durante o sono, deu,
mais de uma vez, a
prova da perspicácia
de seu Espírito
nesse estado. Uma
noite, depois de uma
conversa, ela disse:
– Estou fatigada,
durmo, tenho
necessidade de
repouso. Mas,
replicamos-lhe:
– Seu corpo pode
repousar;
falando-lhe, não o
perturbo. É seu
Espírito que está
aqui e não seu
corpo; pode, pois,
entreter-se comigo,
sem que este sofra
por isso. Ela
respondeu: – Faz mal
em acreditar nisso;
meu Espírito se
desprende um pouco
de meu corpo, mas
ele é como um balão
cativo, retido por
cordas. Quando o
balão recebe as
sacudidelas
ocasionadas pelo
vento, o poste que o
prende ressente-se
desses abalos,
transmitidos pelas
cordas. Meu corpo
serve de poste para
o meu Espírito, com
a diferença de que
experimenta
sensações
desconhecidas ao
poste, e que muito
fatigam o cérebro;
eis por que meu
corpo como meu
Espírito têm
necessidade de
repouso. Esta
explicação, na qual
ela nos declarou
que, durante a
vigília, não havia
jamais imaginado,
mostra perfeitamente
as relações que
existem entre o
corpo e o Espírito,
durante o tempo em
que este último goza
de uma parte de sua
liberdade.
561. M.
R., antigo ministro
dos Estados Unidos
junto ao Rei de
Nápoles, disse
conhecer na
Inglaterra um médium
vidente, dotado de
grande poder, que,
cada vez que lhe
aparecia um Espírito
de uma pessoa viva,
notava que um fio
luminoso partia de
seu peito,
atravessava o
espaço, sem se
interromper com os
objetos materiais, e
ia terminar no
corpo, espécie de
cordão umbilical
que unia as duas
partes
momentaneamente
separadas do ser
vivo. Nunca ele o
notou quando a vida
corporal não existia
mais e por este
sinal é que
reconhecia se o
Espírito era de uma
pessoa morta ou de
uma ainda viva. A
existência deste
cordão fluídico foi
constatada com muita
frequência depois
dessa época.
562. A
comparação, tão
justa, do balão
cativo mostra a
íntima união do
corpo e do
perispírito, de tal
sorte que toda
modificação de um
repercute no outro.
563. Nas narrativas
que temos
reproduzido, uma
coisa parece
estranha: é a
facilidade com que o
duplo fluídico passa
através dos corpos
materiais. Sem
dúvida, há aí um
fenômeno
extraordinário, mas
não sem analogia na
natureza. A luz e o
calor se propagam
através de certas
substâncias, a
eletricidade caminha
ao longo de um
conduto e sabemos,
pelas experiências
de Cailletet e de
Sainte-Claire
Deville, que os
gases passam
facilmente através
das paredes de um
tubo fortemente
aquecido.
564. Todos os corpos
são porosos; não se
tocando, suas
moléculas podem dar
passagem a um corpo
estranho. Os
Acadêmicos de
Florença tinham
demonstrado este
ponto, fazendo
violenta pressão
sobre a água
encerrada em uma
esfera de ouro; ao
fim de pouco tempo
via-se o líquido
transudar por
pequenas gotas, na
superfície da
esfera.
565. Verificamos,
por esses diferentes
exemplos, que a
matéria pode
atravessar a
matéria. Nos casos
que acabamos de
citar, é preciso
empregar a pressão
ou o calor para
dilatar as
substâncias que se
quer fazer
atravessar por
outras. Isto é
necessário, porque
as moléculas do
corpo que atravessa,
não adquirindo o
grau suficiente de
dilatação, ficam
cerradas umas contra
as outras. Mas, se
supusemos um estado
da matéria em que as
moléculas sejam
muito menos
aproximadas e
eminentemente
tênues, poderá ela
atravessar todas as
substâncias, sem
necessidade de
manipulação. É o que
se dá com o
perispírito que,
formado de moléculas
menos condensadas
que a matéria que
conhecemos, não pode
ser detido por
nenhum obstáculo.
566. Uma segunda
propriedade do
perispírito parece
inexplicável.
Dificilmente se
compreende que um
vapor muito
rarefeito, um fluido
imponderável possa,
apesar de sua
tenuidade, conservar
determinada forma.
Quando a fumaça se
escapa da fornalha,
não tarda a
espalhar-se na
atmosfera,
tornando-se aos
poucos invisível.
Como pode o
perispírito, que é
formado de matéria
infinitamente mais
rarefeita,
apresentar-se, no
entanto, com um
aspecto nitidamente
determinado?
567. Uma experiência
curiosa vai
elucidar-nos:
Admitindo a ideia da
matéria, William
Thompson, para
explicar o retorno
de uma substância a
seu estado primitivo
quando ela se
desprende de uma
combinação,
assemelha os
movimentos do meio
elástico, a que ele
chama matéria, ao
dos turbilhões de
fumo, em forma de
rolos, que se veem
produzir na
combustão do
hidrogênio
fosforado, ou
algumas vezes
escapar-se da
chaminé de um
locomotiva, quando
ela parte.
Imaginou-se, então,
um aparelho que
permite obter esses
rolos à vontade e,
dando-lhes grandes
dimensões, foi
possível
estudar-lhes a
forma. Uma caixa de
madeira, perfurada
na parte anterior
com uma abertura
circular, encerra
dois vasos, um dos
quais contém uma
solução de álcali
volátil, e o outro,
ácido clorídrico. Os
gases que se escapam
dessas soluções
produzem,
combinando-se,
abundantes fumaças
que enchem a caixa.
Uma pancada seca,
aplicada sobre a
armação que forma a
parede oposta à
abertura, impele a
fumaça, que se
escapa produzindo
uma bela coroa que
se propaga em linha
reta.
568. Helmholtz, que
observou os
turbilhões, mostrou
que as partículas de
fumo rolam sobre si
mesmas e executam
movimentos de
rotação, que vão do
interior ao
exterior, no sentido
da propagação, e em
torno de um eixo
circular que forma,
por assim dizer, o
núcleo dos
turbilhões. Daí,
Helmholtz passa ao
caso de um meio em
que não houvesse
atrito algum; mostra
que os rolos se
deslocarão e mudarão
de forma, sem que
nada venha destruir
as ligações que
existem entre as
partes constituintes.
569. Deduzimos daí
que existem estados
da matéria em que
uma dada forma se
conserva
indefinidamente, com
a condição de que
esta matéria seja
submetida a uma
força constante e
não experimente
nenhum atrito. É o
que acontece com o
perispírito, cuja
matéria rarefeita
pode ser encarada,
por sua natureza
etérea, como
desprovida de
atrito; podemos,
pois, conceber que
ela conserva um tipo
determinado, em
virtude de sua
constituição
molecular.
570. Experiências
efetuadas na
Inglaterra mostraram
que, se se
deformarem esses
rolos, eles tenderão
a retomar a forma
circular; se lhes
colocar no trajeto
uma lâmina, eles
contorná-la-ão,
sem se deixarem
cortar,
oferecendo, assim, a
imagem material de
alguma coisa
invisível e
insecável. Demais,
dois rolos,
movendo-se na mesma
linha, podem
atravessar-se sem
perderem a
individualidade que
lhes é própria; o
rolo atrasado
contrai-se, quando
sua velocidade
aumenta; atravessa o
que o precede,
depois se dilata por
sua vez e assim por
diante. Assim, esses
anéis se penetram
mutuamente, passam
através um do outro,
sem nada perder de
sua autonomia, sem
serem mesmo
deformados. A
matéria, nesse
estado pouco
rarefeita, que está
longe de atingir a
extrema tenuidade do
perispírito, goza,
pois, de
propriedades que nos
revelam leis ainda
pouco conhecidas que
dirigem as evoluções
do duplo fluídico;
compreenderemos sem
dificuldade, por
analogia, que o
perispírito possa
atravessar todos os
corpos, como a luz
passa através dos
corpos
transparentes.[i]
571. Nos exemplos
citados até aqui,
vemos a alma e seu
envoltório, mas não
podemos ainda
determinar todas as
propriedades deste
corpo fluídico,
porque ele está
ligado ao organismo
material e não goza
inteiramente de sua
liberdade de ação.
Para conhecer a sua
composição e seu
funcionamento é
preciso estudar a
alma quando,
desembaraçada de seu
invólucro grosseiro,
ela se move
livremente no
espaço.
572. Geoffroy
Saint-Hilaire dizia:
“O tipo segundo o
qual a vida forma o
corpo desde a origem
é também aquele
segundo o qual ela o
entretém e repara. A
vida é, ao mesmo
tempo, formadora,
conservadora e
reparadora, sempre
conforme esse modelo
ideal, regra
invariável de todos
os seus atos”.
573. Esse modelo
ideal está contido
no ser material que
se transforma sem
cessar? Não,
evidentemente; ele
lhe é exterior, ou
antes, é nele que se
vêm incorporar as
moléculas materiais;
ele é esboço
fluídico do ser. Se
refletirmos, com
efeito, nas
transformações
múltiplas,
incessantes, às
quais está o corpo
submetido,
compreenderemos a
necessidade dessa
força diretriz que
indica aos átomos
materiais o lugar
que eles devem
ocupar. Como
conceber que o
cérebro, instrumento
tão frágil, tão
complicado, cuja
substância se renova
continuamente, possa
funcionar de maneira
constante, se não
existisse um modelo
fluídico no qual as
moléculas materiais
se vêm incorporar?
574. Com a morte do
corpo, não mais
existindo esse
duplo, tudo sucumbe,
se degrada e
destrói, em curto
lapso de tempo. É
este esboço fluídico
que, diferindo
segundo os
indivíduos, conserva
a estrutura
particular de cada
um, as formas gerais
do corpo e da
fisionomia que o
fazem reconhecer
durante o curso de
sua existência.
575. Vimos na
primeira parte que
os materialistas não
podem explicar a
transformação da
sensação em
percepção. Pois bem,
com a noção do
perispírito tudo se
torna simples e
compreensível.
Sabemos que os
nervos sensitivos
terminam em uma
parte do cérebro
chamada tálamos
óticos; aí, cada
aparelho sensorial
possui um núcleo de
células ganglionares,
ligado à periferia
cortical por fibras
brancas. Lembrado
isto, vejamos como
as excitações
exteriores penetram
e se encaminham no
organismo quando se
trata de um fenômeno
auditivo ou visual,
que põe em atividade
as células da retina
ou do nervo
auditivo. Que se
passa, então, na
intimidade dos
condutores nervosos?
576. Essas
excitações,
seguidamente
transmitidas, põem
logo em jogo as
atividades
específicas, isto é,
as propriedades
especiais das
diversas células que
compõem os núcleos
dos tálamos óticos.
As células do centro
ótico, entrando em
vibração, as
transmitem à camada
cortical pelas
fibras radiantes e,
aí chegadas, essas
vibrações, que são,
até esse momento,
simples movimentos
moleculares,
encontram o duplo
fluídico e lhe
comunicam a
impressão. Desde
então, este
movimento
ondulatório se
propaga até a alma
que tem dele
consciência. É a
esse conhecimento
que se chama
percepção; ele não
poderia efetuar-se
se o intermediário
fluídico não
existisse.
577. É preciso não
esquecer que o
perispírito não é um
corpo homogêneo; ele
possui partes quase
materiais, que se
referem ao
organismo, e partes
quase imateriais,
que se referem à
alma. Comparemo-lo a
um vapor contido num
tubo, para melhor
compreensão. Esse
vapor, muito
condensado na base,
se vai rarefazendo a
medida que se eleva.
Existe, assim, uma
série de estados
intermediários,
desde a
materialidade até a
espiritualidade.
578. Em resumo, o
perispírito é
formado de fluidos,
em diferentes graus
de condensação,
desde os fluidos
materiais, que
aderem ao cérebro,
até os espirituais,
que se aproximam da
natureza da alma. De
sorte que, se uma
vibração impressiona
um nervo sensitivo,
este a transmite aos
tálamos óticos, que
a refletem para o
sensório; aí chegada
essa vibração, age
sobre o fluido
perispiritual, que
aos poucos adverte o
Espírito.
(Continua no próximo
número.)
[i] Podemos
aproximar
destas
observações
as curiosas
experiências
que Zöllner
fez em
companhia de
Slade.
Ei-las,
segundo a
narração de
Eugéne Nus:
“Zöllner,
tendo
arranjado
dois anéis
de madeira,
torneada e
inteiriça
com um
diâmetro
interior de
74
milímetros,
passou por
eles uma
corda de
violino,
fixou a
corda com
cera, pelas
extremidades,
na mesa.
Sobre a cera
apôs seu
selo,
deixando os
anéis livres
na corda.
Era desejo
dele ver os
anéis
entrelaçarem-se.
Sentou-se à
mesa, ao
lado de
Slade, e pôs
as mãos
sobre a
corda no
ponto
sinetado.
Uma pequena
mesa estava
diante dos
anéis. Após
alguns
minutos de
expectativa
– escreveu
Zöllner –,
ouvimos, na
pequena mesa
redonda
junto a nós,
um ruído,
como se
pedaços de
madeira
batessem uns
nos outros.
Levantamo-nos
para
pesquisar a
origem deste
ruído e, com
grande
surpresa,
encontramos
os dois
anéis (que,
cerca de
seis minutos
antes,
estavam
enfiados na
corda de
violino) em
volta do pé
central da
pequena
mesa, em
perfeito
estado.
Dessa forma
– acrescenta
Zöllner –,
uma
experiência
anteriormente
preparada
não saiu
conforme
fora
prevista; os
anéis não
foram
entrelaçados
um no outro,
e, sim,
transferidos
da corda de
violino para
o pé da mesa
redonda
feito de
bambu.
Houve, neste
caso,
desintegração
momentânea
da matéria
dos anéis e
recomposição
desses
mesmos anéis
em torno do
pé da mesa.
Ainda que
extraordinários
possam
parecer
esses fatos,
eles são,
entretanto,
reais, a
menos que se
acuse o
ilustre
sábio de
mentir ao
público.”