– Se é
verdade que a cada um é
dado segundo suas
necessidades e/ou
méritos, qual parece ser
o melhor proceder para
as pessoas que se
interessam por política
saudável e consciente:
viver sua vida privada
da melhor maneira
possível ou dedicar seu
tempo às questões
políticas, sociais etc.?
Raul Teixeira:
Essas coisas se acham
interligadas desde que o
velho Platão estabeleceu
que o ser humano é um
animal político. Em
todas as nossas ações na
sociedade está o sabor
da nossa participação
política. Mesmo aqueles
que se dizem apolíticos
já estão apresentando a
sua posição política.
Eles são apolíticos e
essa é uma posição
política: eles querem
dizer que não se
envolvem, e isto é um
posicionamento dos mais
horrendos, por sinal.
É como se nós vivêssemos
numa casa e, quando
alguém nos apontasse
para a necessidade da
sua higiene a gente
dissesse “eu não quero
nem saber, eu sou a
moradia”; quando alguém
nos dissesse que
precisamos pintar: “eu
não quero nem saber, eu
detesto moradias”;
quando alguém falasse
que a casa está caindo:
“não é nem comigo”. Será
com quem? Com os
vizinhos? Então
normalmente quando as
pessoas dizem que são
apolíticas elas podem
querer dizer que são
apartidárias, aí sim.
Há pessoas que gostam de
esportes mas não torcem
por time nenhum, gostam
de todos; há pessoas que
gostam de política,
enquanto ciência,
enquanto doutrina,
enquanto filosofia, mas
abominam partidarismos
políticos. Então essa
pessoa terá, na sua vida
comum, posturas
políticas que conhece,
em função do seu
filosofar político, mas
não está dando
importância a esses
partidarismos que,
principalmente no
Brasil, perderam a sua
grandeza ideológica,
passaram a ser tendas de
conveniência que as
pessoas não respeitam.
É impossível que alguém
que seja socialista
hoje, amanhã já será
capitalista. É sinal que
ele nunca foi nada, era
daqueles que tiram
proveito do
posicionamento político
da sociedade.
Então será importante
que nós trabalhemos em
torno de uma ideologia
política, de uma
doutrina política. O que
é importante para nosso
Estado, para a nossa
cidade? Se sabemos
disso, então vamos
trabalhar para isso,
seja na minha ação
voluntária na sociedade,
seja na minha ação
profissional, seja na
minha ação de cidadania
elegendo meus
representantes nas Casas
de Leis dos poderes
constituídos. Vou fazer
valer a minha
participação de forma
consciente, lúcida,
madura, sem vender meu
voto, sem trocá-lo por
conveniências. Quando
fizermos isso, estaremos
mostrando uma maturidade
nas nossas concepções
políticas. Quando
estiver vendendo meu
voto por isso ou por
aquilo, eu ainda não
terei alcançado a
política enquanto
doutrina, enquanto
filosofia; estarei nas
bases da politicagem,
querendo tirar
proveitos. E se eu quero
tirar proveito à custa
do erário, eu vou ter
que devolver. Não
esqueçamos que tudo
aquilo que eu ganhar
fora dos esforços do meu
trabalho, terei que
devolver, não me
pertence. Tudo que
alguém me der e que
também a ele não
pertença terei que
devolver. Teremos sido
receptores de artigos
furtados ou roubados e
deste modo seremos réus
de juízo também.
Logo,
nossa participação
política não será apenas
no dia de eleição ou nos
dias de eleições.
Participação política é
saber cobrar as coisas
que estão acontecendo
erradamente na
sociedade, saber ir para
os jornais, saber ir ao
nosso Vereador, ao nosso
Deputado, ao nosso
Governador, escrever nos
jornais, na coluna dos
eleitores, participar
dizendo, falando, não
adotar aquela postura
“não vai adiantar nada”.
Não vai adiantar se meia
dúzia fizer, mas se a
nossa Associação de
bairro, Associação de
moradores, a OAB, os
órgãos, as Igrejas, se
nós nos unirmos enquanto
organismos da sociedade,
as coisas mudam. Essa é
a fé do indivíduo
político. Ele sabe como
cobrar, ele sabe como
pressionar. É importante
que saibamos cobrar os
nossos direitos. Não
podemos olvidar o
cumprimento dos nossos
deveres. Então, quem
cumpre deveres e cobra
seus direitos é um
cidadão politicamente
correto.
Extraído de entrevista
publicada pelo jornal
Mundo Espírita de
setembro de 2000.
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