A. O positivista
Dassier passou a
admitir a existência
do ser póstumo?
Sim. Inicialmente,
Dassier negava que a
sobrevivência fosse
possível; depois,
vencido pela
evidência,
reconheceu o erro e
proclamou a
existência do ser
póstumo, afirmando,
porém, que o
fantasma tem uma
existência
momentânea, devida
ao pouco de força
vital que lhe resta
no corpo depois da
morte, para depois
se dissociar
lentamente e entrar
no grande todo.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap.
III – O perispírito
durante a
desencarnação – Sua
composição.)
B. Com relação à
materialização dos
Espíritos, qual o
nome do sábio que se
destacou nas
pesquisas desse
fenômeno?
Seu nome é William
Crookes, cujos
notáveis trabalhos
nessa área, logo que
apareceram na
Inglaterra, causaram
pasmo geral. Como
ousava um homem
daquele valor
pronunciar-se
afirmativamente
sobre tão
controvertido
assunto e apoiá-lo
com experiências
científicas? O fato
era verdadeiramente
incrível e de todos
os lados se fizeram
ouvir as
vociferações dos
materialistas.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
C. Com qual médium
Crookes obteve as
primeiras
manifestações
tangíveis?
Foi com Daniel D.
Home que ele obteve
as primeiras
manifestações
visíveis e
tangíveis, antes das
famosas aparições
tangíveis do
Espírito de Katie
King.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
Texto
para leitura
614. Dassier,
positivista, negava,
a princípio que a
sobrevivência fosse
possível; depois,
vencido pela
evidência,
reconheceu o erro e
proclamou a
existência do ser
póstumo. Mas, o mais
curioso é que ele
não a admite
indefinidamente.
Crê, no fantasma,
uma existência
momentânea, devida
ao pouco de força
vital que lhe resta
no corpo, depois da
morte. Julga que,
destruído o cérebro,
não pode o morto
fazer ato de
inteligência, ir,
vir, falar...
Ensina-nos que o
fantasma se dissocia
lentamente para
entrar no grande
todo. Em que se
baseia sua
apreciação? Em não
se reproduzirem
sempre as
manifestações.
615. A razão é
especiosa, porque as
manifestações
cessam, em geral,
quando se faz a
vontade do ser
manifestante e desde
então ele não tem
mais motivo algum
para continuar o seu
alvoroço; aliás, as
comunicações que
recebemos, todos os
dias, nos afirmam
que a alma é
imortal, e que, em
vez de se dissolver
lentamente, vai,
pelo contrário,
aumentando moral e
intelectualmente.
Sim, mas Dassier não
acredita nas
comunicações; ele
imagina que elas são
produzidas pelo
duplo fluídico da
pessoa evocadora,
por aquilo que ele
chama o éter
mesmérico.
616. Basta, para
combater esta
infeliz teoria,
chamar a atenção
para o fato de que
os médiuns estão
absolutamente em seu
estado normal quando
obtêm comunicações.
Se só houvesse
relações com o mundo
dos espíritos por
meio de sonâmbulos,
poderíamos admitir a
intervenção da dupla
personalidade, mas
nossos médiuns
permanecem
perfeitamente
acordados e, além
disso, a hipótese de
Dassier não
explicaria mesmo
todos os casos de
mediunidade.
617. Admitamos, por
um instante, que a
personalidade
mesmeriana do médium
esteja agindo; esta
personalidade,
supondo que ela
reproduza exatamente
o físico e
intelectual do
médium, não pode
adquirir, pelo só
fato de sua mudança,
qualidades que ela
antes não possuía.
De fato, como
explicar as
comunicações
recebidas em línguas
estrangeiras, o
hebraico-siríaco de
Des Mousseaux, e as
faculdades do
caixeiro de que fala
Cox, o qual tratava
dos mais altos
assuntos da
filosofia? Não, uma
doutrina como a de
Dassier não é
aceitável e longe de
destruir, como ele
pretende, “as
enervantes
alucinações do
Espiritismo”, vem
confirmar ainda mais
a nossa fé, pelos
numerosos argumentos
que seu livro nos
traz.
618. Assinalemos,
ainda, dois
caracteres do ser
póstumo. Ele se
desloca com tanta
rapidez como o
fantasma vivo. O
irmão do capitão
Kidd, morto no
Oceano Índico, veio
encontrá-lo no
Atlântico, na mesma
noite em que se deu
a morte. Em segundo
lugar, o ser póstumo
parece recear a luz;
evita-a com extrema
prontidão. Todas as
suas manifestações
se dão à noite, e
raramente durante o
dia, e, neste caso,
à aproximação dos
crepúsculos. Dassier
atribui à luz uma
ação
desorganizadora,
devida à extrema
rapidez das
vibrações luminosas.
Somos desta opinião,
veremos agora mesmo
por que e em que
condições.
619. Verificamos,
até agora, a
existência da alma
depois da morte,
notamos que ela é
revestida de um
invólucro, e isto
baseando-nos na
observação de fatos,
cuja autenticidade
nos parece bem
estabelecida. Mas os
incrédulos porão à
conta de alucinação
a maior parte desses
fatos.
620. Os fatos de
materialização dos
Espíritos,
assinalados em todos
os tempos, não se
realizavam de modo
regular, e a
singularidade das
circunstâncias em
que se produziam, o
medo de que se viam
tomadas as
testemunhas, eram
razões para que
fossem mal
observados. Graças
ao Espiritismo,
podemos experimentar
hoje, com alguma
certeza; conhecemos,
teoricamente, a
causa desses
fenômenos, e se não
podemos ainda
explicar,
cientificamente,
como se produzem, já
achamos na Ciência
os mais firmes
pontos de apoio.
Vamos recorrer ao
trabalho de Crookes,
Pesquisas sobre o
Espiritismo, que
é a reprodução de
artigos que ele
publicou no
Quartely Review,
reunidos em volume
pela livraria de
ciências
psicológicas.
621. Quando esses
notáveis trabalhos
apareceram na
Inglaterra,
excitaram pasmo
geral. Como ousava
um homem daquele
valor pronunciar-se
afirmativamente
sobre tão
controvertido
assunto e apoiá-lo
com experiências
científicas? O fato
era verdadeiramente
incrível e de todos
os lados se fizeram
ouvir as
vociferações dos
materialistas.
622. Crookes
desdenhou esses
ataques, que não
tinham base, e
respondeu aos que o
acusavam de não ter
suficiente
competência para
pronunciar-se a
respeito dessas
questões: “Parece
que o meu maior
crime é o de ser um
especialista entre
os especialistas!”
Eu, um especialista!
é verdadeiramente
novidade para mim,
que eu tenha
limitado a minha
atenção a um só
assunto especial. O
meu cronista seria
bastante capaz para
dizer-me qual é este
assunto? É a Química
Geral, de que tenho
feito relatórios
desde a criação da
Chimical New
em 1859? É o
thallium a
respeito do qual o
público
provavelmente ouviu
dizer tudo o que lhe
podia interessar? É
a análise química
sobre o qual
publiquei
recentemente um
tratado dos
métodos escolhidos,
o qual é o resultado
do trabalho de doze
anos? É a
desinfecção, a
prevenção e a cura
da peste bovina
sobre a qual
publiquei um relato
que pode se dizer,
popularizou o ácido
carbônico? É a
fotografia, sobre a
qual escrevi
numerosos artigos,
tanto sobre a teoria
quanto sobre a
prática? É a
metalurgia do ouro e
da prata, na qual
minha descoberta do
valor do sódio para
o processo de
amalgamação é
presentemente de
largo emprego na
Austrália, na
Califórnia e na
América do Sul? É a
ótica, ramo para o
qual só me compete
enviar às minhas
memórias sobre
alguns fenômenos da
luz polarizada,
publicadas antes que
eu tivesse vinte e
um anos; a minha
descrição detalhada
do espectroscópio e
meus trabalhos com
este instrumento
numa época em que
ele era quase
desconhecido na
Inglaterra; e a meus
artigos sobre os
espectros solares e
terrestres; a meus
estudos sobre os
fenômenos óticos das
opalas e a
construção do
microscópio
espectral; a minhas
memórias sobre a
medida da
intensidade da luz e
à descrição de meu
fotômetro de
polarização? Ou bem
é a Astronomia e a
Meteorologia a minha
especialidade, pois
que durante um ano
estive no
Observatório
Radcliffe em Oxford,
onde, além de minha
função especial de
superintender a
meteorologia,
partilhara meus
lazeres entre Homero
e os matemáticos em
Magdalen Hall, à
procura dos planetas
e à fixação de sua
passagem com M.
Pogson, agora
diretor do
Observatório de
Madras, e a
fotografia celeste
executada com o
magnífico heliômetro
vinculado ao
observatório. As
fotografias da lua,
tomadas por mim em
1855, no
Observatório de M.
Hartnup, em
Liverpool, foram
durante alguns anos
as melhores
existentes, e a
Sociedade Real me
honrou com uma
gratificação em
dinheiro para
prosseguir meus
trabalhos sobre este
assunto. Estes
fatos, juntos à
minha viagem a Oran,
no ano passado, na
qualidade de membro
da expedição enviada
pelo governo para
ali estudar o
eclipse, e ao
convite que recebi
recentemente para ir
ao Ceilão com o
mesmo objetivo,
pareceriam mostrar
que a Astronomia é a
minha especialidade.
Para falar a
verdade, poucos
homens de ciência
prestam-se menos do
que eu à acusação de
ser um especialista
entre os
especialistas.”
623. Juntemos a este
magnífico conjunto
de descobertas a da
matéria radiante, e
poderemos
ousadamente caminhar
atrás de um tal
homem, sem temer os
sarcasmos dos
ignorantes, que não
nos poderiam
atingir.
624. Foi estudando
com Home que Crookes
obteve as primeiras
manifestações
visíveis e
tangíveis. Já
referimos que ele
vira mão luminosa
escrever
rapidamente,
elevar-se e
desaparecer.
Prosseguindo nas
experiências, teve
ocasião de verificar
formas e figuras de
fantasmas. Esses
fenômenos foram,
segundo ele próprio,
os mais raros que
testemunhou. As
condições
necessárias para sua
produção parecem tão
delicadas, basta tão
pouca coisa para
contrariar a
manifestação, que
raras foram as
ocasiões de os ver
nas condições de
verificação
suficiente.
625. Crookes
menciona dois casos:
“Ao declinar do dia,
durante uma sessão
de Home em minha
casa, vi agitarem-se
as cortinas de uma
janela, que distava
cerca de 8 pés de
Home. Uma forma
sombria, obscura,
semitransparente,
semelhante a uma
forma humana, foi
vista por todos os
assistentes, de pé,
perto da janela, e
agitava a cortina
com a mão. Enquanto
a olhávamos,
desvaneceu-se, e a
cortina deixou de
agitar-se.”
626. O caso que se
segue é ainda mais
interessante. Como
no caso precedente,
Home era o médium:
“Uma forma de
fantasma adiantou-se
do canto do
aposento, apanhou um
acordeom e, tocando
esse instrumento,
deslizou pelo
quarto. Essa
forma foi, durante
muitos minutas,
vista por todas as
pessoas presentes,
percebendo-se,
também, ao mesmo
tempo, o médium Home.
O fantasma, em
seguida,
aproximou-se de uma
senhora, que estava
sentada a certa
distancia dos demais
assistentes; a
senhora deu um
pequeno grito e o
fantasma
desapareceu”.
627. Como já
dissemos, houve
lutas apaixonadas,
polêmicas violentas
nos jornais
ingleses, e foi por
essas dissensões que
tivemos a felicidade
de ver Crookes
intervir no debate,
com uma série de
cartas, onde expôs
os resultados a que
chegou, em companhia
de Miss Florence
Cook.
628. Eis como se
procede, comumente,
para se obterem as
materializações de
Espíritos, e assim
poderá o leitor
acompanhar a
discussão. Em um
quarto qualquer,
suspende-se, em
diagonal, num dos
cantos, uma cortina,
que se pode mover
sobre varões. Nesse
reduto se coloca o
médium, depois de
examinado dos pés à
cabeça; os presentes
assentam-se em
círculo, com as mãos
unidas; fecham-se
todas as portas. Ao
fim de certo tempo,
aparece o Espírito,
vindo do gabinete, e
passeia no espaço
deixado pelos
assistentes.
629. Eis a primeira
carta publicada por
Crookes: “Senhor:
Esforcei-me quanto
pude para evitar a
controvérsia em
assunto tão
inflamável como os
chamados fenômenos
espiritistas. Exceto
pequeno número de
casos em que a
eminente posição de
meus adversários
poderia dar a meu
silêncio outros
motivos que não os
verdadeiros, nunca
repliquei aos
ataques e falsas
interpretações que
minha ligação com
essa causa fizeram
dirigir contra mim.
O caso, porém, muda
de figura, desde que
algumas linhas de
minha parte possam
afastar injustas
suspeitas, lançadas
sobre alguém. E
quando esse alguém é
uma mulher jovem,
sensível e inocente,
julgo especialmente
um dever trazer o
peso do meu
testemunho em favor
daquela que creio
injustamente
acusada. Entre todos
os argumentos
apresentados de uma
parte e outra, com
referência aos
fenômenos obtidos
pela mediunidade da
senhorita Cook, vejo
estabelecidos poucos
fatos que possam
levar o leitor a
dizer, admitindo-se
que ele possa ter
confiança no juízo e
na veracidade do
narrador: ‘Enfim,
eis uma prova
absoluta!’ Vejo
muitas falsas
asserções, muitos
exageros não
intencionais,
conjeturas e
suposições sem fim,
insinuações de
fraude, facécias
vulgares; mas não
vejo ninguém
apresentar-se com a
afirmação positiva,
baseada na evidência
dos próprios
sentidos, de que,
quando a forma que
dá pelo nome de
Katie está no
quarto, o corpo da
senhorita Cook está
ou não, no mesmo
tempo, no gabinete.
Parece que toda a
questão se encerra
nestes estreitos
limites. Prove-se
como um fato uma ou
outra das duas
alternativas
precedentes, e todas
as outras questões
subsidiárias serão
afastadas. A sessão
se fazia em casa do
Sr. Luxmore e o
gabinete (espaço
reservado ao
médium), era uma
sala separada por
uma cortina do
aposento da frente,
no qual se achava a
assistência.
Inspecionada a sala
e examinadas as
fechaduras, a
senhorita Cook
penetrou no
gabinete. Ao fim de
pouco tempo,
apareceu a forma de
Katie, ao lado da
cortina, donde logo
se retirou, dizendo
que sua médium não
se achava bem, nem
podia ser posta em
profundo sono, de
maneira a poder
afastar-se dela sem
perigo. Eu estava
colocado a alguns
pés da cortina,
atrás da qual Miss
Cook se sentara; e
podia ouvir-lhe,
frequentemente, os
gemidos e suspiros,
como se ela
sofresse. Esse
continuou por
intervalos, durante
quase todo o tempo
da sessão, e em
certo momento,
quando a forma de
Katie estava diante
de mim, no quarto,
ouvi distintamente o
som de um soluço
dolente, idêntico
aos que Miss Cook
fazia ouvir, por
intervalos, no curso
da sessão, e que
vinha de trás da
cortina onde ela
estava assentada.
Declaro que a figura
era cheia de vida e
tinha a aparência de
realidade, e tanto
quanto pude ver à
luz um pouco
indecisa, seus
traços
assemelhavam-se aos
da Srta. Cook; mas a
prova positiva dada
por um dos meus
sentidos, de que o
suspiro provinha da
senhorita Cook, no
gabinete, quando a
figura estava fora,
essa prova é
bastante forte para
ser desfeita por uma
simples suposição
contrária, ainda que
bem sustentada.”
630. O testemunho de
Crookes é uma
garantia da exatidão
dos fatos; vamos
ainda ver que essas
manifestações, um
tanto vagas, se
foram acentuando,
até levar Crookes a
dizer, numa carta
seguinte: “Sou feliz
por haver obtido,
enfim, a prova
absoluta de que
falava na carta
precedente. Por
enquanto não falarei
da maior parte das
provas que Katie me
deu nas numerosas
ocasiões em que a
senhorita Cook me
favoreceu com
sessões em minha
casa, e não
descreverei senão
uma ou duas das que
tiveram lugar
recentemente. Desde
alguns anos,
experimentava com
uma lâmpada de
fósforo, consistindo
numa garrafa de 6 ou
8 onças que continha
um pouco de óleo
fosforado e
permanecia
solidamente
arrolhada. Eu tinha
razões para esperar
que à luz desta
lâmpada alguns dos
misteriosos
fenômenos do
gabinete pudessem
tornar-se visíveis e
a própria Katie
esperava obter o
mesmo resultado. A
12 de março, durante
uma sessão em minha
casa, e depois de
ter Katie passeado
por entre nós e nos
haver falado,
durante algum tempo,
retirou-sé para trás
da cortina, que
separava meu
laboratório, onde
estava a
assistência, de
minha biblioteca,
que temporariamente,
fazia as vezes de
gabinete. Pouco
depois, ela me
chamou e disse: –
Entre no quarto e
levante a cabeça da
médium, que
escorregou para o
chão. Katie estava,
então, diante de
mim, vestida com sua
roupa branca
habitual e toucada
com seu turbante.
Dirigi-me
imediatamente para a
biblioteca, a fim de
levantar Miss Cook,
e Katie deu alguns
passos de lado para
que eu passasse. Com
efeito, Miss Cook
tinha escorregado,
em parte, de cima do
canapé, e sua cabeça
estava em penosa
posição. Coloquei-a
no canapé e tive,
apesar da
obscuridade, a viva
satisfação de
verificar que Miss
Cook não estava
vestida com a roupa
de Katie, mas trazia
seu trajo ordinário
de veludo preto e se
encontrava em
profunda letargia.
Não haviam decorrido
cinco minutos, entre
o momento em que vi
Katie, de vestuário
branco, diante de
mim, e o em que
levantei Miss Cook
para o canapé,
retirando-a da
posição em que se
encontrava”.
(Continua no próximo
número.)