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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 233 - 30 de Outubro de 2011

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA 
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)
 
    

Evangelho: alegria e esperança

“(...) eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o
será para todo o povo.”
(Lucas, 2-10.)


Inconformados com os sofrimentos, muitos chegam às Casas Espíritas. Indagam-nos por que o Evangelho não nos fala das alegrias da Terra.

Ali, recebem a Boa Nova, na visão que exige renovação, esforço, mudança de hábitos físicos e mentais. Mas resistem, inconscientes de que não como recusar o amoroso apelo de Jesus.

Por compaixão Ele nos trouxe o Evangelho: a mais bela lição de alegria e esperança, roteiro de luz a nos libertar do egoísmo e das paixões que nos escravizam às tristezas e às dores físicas ou morais, que refletem nossas ações e condição evolutiva. Ao Lhe vivermos os ensinos, males passageiros, desenganos, dores e tudo o mais que nos aflige far-se-ão pequeninos e nada, afinal, nos afastará da alegria íntima de Sua Paz:

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo, 14:27.) “(...) No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jo, 16:33.)

Evangelho quer dizer Boa Nova e fala-nos do reino de Deus, que abrange mundos físicos e espirituais. Não se circunscreve a uma região. Está em toda parte. Nossa conduta não nos permite que o percebamos e se manifeste em nossas vidas.

Ao reviver as lições do Cristianismo Primitivo, esclarece-nos a Doutrina Espírita o porquê de nossos sofrimentos e nos fala da Lei de Causa e Efeito, das vidas sucessivas, da Lei do Mérito (a cada um segundo suas obras), da comunicabilidade dos Espíritos etc. E porque se dirige a enfermos que estão nessa condição exatamente pelo apego às efêmeras alegrias da Terra, fala da dor, do sofrimento. Mas o faz consolando, curando feridas, indicando caminho suave para libertação. Remédio amargo, às vezes, é recurso extremo, mas indispensável. Suportamos desconforto passageiro, para erradicação de males que nos afligem, quando não há outra perspectiva de cura.

Diz ‘O Evangelho segundo o Espiritismo”:1

“A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que vive o homem a braços com tantas misérias.” (Cap. III, item 4.)

“Num hospital, ninguém senão doentes e estropiados; numa penitenciária, veem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões insalubres, os habitantes, em sua maioria, são pálidos, franzinos e enfermiços. Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciária, um sítio malsão (...) e compreender-se-á por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se pode ter por lugares de deleite.” (Idem, item 7.)

 “(...) estais nessa Terra de expiação para concluirdes as vossas provas e (...) tudo o que vos sucede é consequência das vossas existências anteriores (...)”       (Idem, item 27.)

Homens, por que vos queixais das calamidades que vós mesmos amontoastes sobre as vossas cabeças? (...)

“A quem inculpar, senão a vós que incessantemente procurais esmagar-vos uns aos outros? Não podeis ser felizes, sem mútua benevolência; mas como pode a benevolência coexistir com o orgulho? O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males.” (Cap. VII, item 12.)

“(...) ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! Porquanto (...) lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida.” (Cap. IX, item 8.)        

Fala com surpreendente energia, mas eis que, em outra parte, suave, aponta caminhos de alegria e libertação:

“É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida.” (Cap. XIII, item 11.)

Não julgueis (...) que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística. (...) Sede joviais, sede ditosos, (...) segundo as necessidades da Humanidade; (...)” (Cap. XVII, item 10.)        

Ora, o fato de a Terra ser ainda mundo de expiação e provas deve-se a ela ou às ações dos homens? Ela é plena de belezas: quer nas paisagens, quer nos continentes, oceanos e mares, quer nos reinos mineral, animal e vegetal (vejam-se os frutos, seus sabores, formas, cores e qualidades nutrientes). Em tudo, Harmonia e Beleza. Nela, somos a nota dissonante, com mentes enfermas e ações egoísticas. É mais do que tempo de mudar, de renovar.

O filme chinês “A Vida sobre um Fio”, de Chen Kaige, registra em duas canções:

1ª:     Quando aprenderemos a nos amar uns aos outros,

          A ajudar-nos uns aos outros,

          A respeitar-nos uns aos outros,

          A nos dar uns aos outros,

          A salvar-nos uns aos outros,

          A estendermos a mão uns aos outros?!

          Quando aprenderemos a parar de odiar-nos uns aos outros,

          A ser sinceros com nós mesmos,

          E a ser humanos, novamente,

          Com os nossos pés no chão,

          Aceitando todos os desígnios do céu,

          Sendo humanos, finalmente?!”

2ª:     Um dia, todos nós cantaremos,

          Não haverá mais tristeza, nem lágrimas,

          Levantaremos nossas vozes e cantaremos com alegria!”

O Evangelho, por outras palavras, diz o mesmo, e é remédio indolor, suave. Nele, nenhuma contraindicação. nos preceitua a vivência do Amor, em sua plenitude: a Deus, ao próximo e a nós. Sim, amor a nós mesmos. Como agimos, revelamos não nos amar. Nossos pensamentos, ações e vícios geram os males que nos inquietam, roubando-nos a paz que acalentamos nos corações.

Nesta e em vidas anteriores, tivemos meios de nos corrigirmos, sem o concurso da dor. Esta é recurso extremo e varia ao infinito em suas gradações. A gravidade do corretivo depende de nossa maior ou menor rebeldia. Variadas doenças comprovam isso. Abençoemos o tratamento. Sejamos gratos e dóceis ao Médico Sublime.

Emmanuel2 nos diz:

“Grande injustiça comete quem afirma encontrar no Evangelho a religião da tristeza e da amargura. (...) o Cristianismo, em sua essência, é a revelação da profunda alegria do Céu entre as sombras da Terra”.

No texto, tece nobres comentários sobre as alegrias que ele contém. E no Cap. 38 do mesmo livro, diz:

“A nova (...) explica o Evangelho não como um tratado de regras disciplinares, nascidas do capricho humano, mas como a salvadora mensagem de fraternidade e alegria, comunhão e entendimento, abrangendo as leis mais simples da vida”.

O Evangelho é pleno de lições de rara beleza: o mais belo poema de todos os tempos. Nele, Jesus nos conclama ao aprendizado:

“(...) Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Lc 4:9.) “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso”. (Mt, 6-22.)

Qualquer remédio se revela eficaz, ou não, se aplicado segundo a prescrição.

Àqueles que ainda não compreendemos as alegrias do Evangelho, convém aviarmos suas receitas de luz. Assimilando-lhes os tesouros que encerra, nossos corações transbordarão de plena paz. Da paz de Deus, que excede todo o entendimento (...)”. (Paulo, Filipenses, 4-7.)

Nesse sentido, quantos testemunhos nos dá o Apóstolo Paulo, em suas epístolas!

O Evangelho é, pois, hino à liberdade e à alegria; e roteiro para conquistá-las.

A tristeza está em nós, nos nossos corações, no nosso olhar. Para convertê-la em alegria, cumpre-nos aprender a amar, pois que o amor é “o alimento das almas”.3

Enfatiza o Espírito Humberto de Campos4:

“(...) Ficaria o Evangelho como o Livro mais vivaz e mais formoso do mundo, constituindo a mensagem permanente do céu, entre as criaturas em trânsito pela Terra, o mapa das abençoadas altitudes espirituais, o guia do caminho, o manual do amor, da coragem e da perene alegria.”

 

Referências bibliográficas:

1. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, 82ª ed. FEB, Rio, 1981;

2. Roteiro, Emmanuel/Francisco C. Xavier, Capítulos 14 e 38, 4ª ed. FEB, Rio, 1978;

3. Nosso Lar, André Luiz/Francisco C. Xavier, Cap. 18, 37ª ed. FEB, Rio, 1989;

4. Boa Nova, Humberto de Campos/Francisco C. Xavier, 13ª ed. FEB, Rio, 1979.

 

 


 


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