ALTAMIRANDO
CARNEIRO
alta_carneiro@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
A psicografia
e os eruditos
Deve-se ter
cuidado com a
qualidade do que
é publicado pelo
mercado
editorial
espírita.
Contudo, não se
pode julgar nem
desacreditar a
mediunidade por
esta ou aquela
obra colocada à
venda sem os
devidos
critérios que
lhe autentiquem
a credibilidade
necessária
quanto à autoria
espiritual e ao
médium que a
recebeu.
Queiram ou não,
a comunicação
com os chamados
mortos é tão
velha quanto o
mundo, e está
presente em
todos os atos e
feitos da
Humanidade.
Ah! Esta
teimosia boba
dos pretensos
sábios! Allan
Kardec se
expressou
lindamente, em O
Livro dos
Espíritos,
“Introdução ao
estudo da
Doutrina
Espírita”, item
VII: A Ciência e
o Espiritismo:
“Quando a
ciência sai da
observação
material dos
fatos e trata de
apreciá-los,
abre-se para os
cientistas o
campo das
conjecturas:
cada um constrói
o seu
sistemazinho,
que deseja fazer
prevalecer, e o
sustenta
escarniçadamente.
Não vemos
diariamente as
opiniões mais
contraditórias
serem
preconizadas
como verdades
incontestáveis?
Os fatos, eis o
verdadeiro
critério dos
nossos
julgamentos, o
argumento sem
réplica. Na
ausência dos
fatos, a dúvida
é a opinião do
homem prudente”.
Pesquisas
atestam a
psicografia –
Sobre o assunto,
J. Herculano
Pires assim se
expressa, no
prefácio da obra
Castro Alves
Fala à Terra,
com poemas
recebidos por
Francisco
Cândido Xavier,
Waldo Vieira e
Jorge Rizzini:
“Só admitimos a
poesia mediúnica
se pudermos
admitir a
dualidade
relativa de que
fala J. B. Rhine
(1895-1980) –
entre espírito e
corpo,
consequentemente
entre vida
corporal e vida
espiritual.
Admitida essa
dualidade
(proposta por
Rhine na área
parapsicológica)
somos levados a
compreender que
deve haver uma
dualidade de
condições e de
atitude do ser
nos dois planos
da existência: o
espiritual e o
material. E isso
é tão evidente
que não
precisamos de
indagações
metafísicas para
a sua
compreensão.
Aqui mesmo, na
existência
terrena, a
dualidade
relativa de
comportamento se
manifesta nas
mudanças de
idade, de
ofícios, de
situações
sociais (como a
mudança de
clima, de
cidade, de
país). (...)
Contesta-se a
psicografia
(escrita
espiritual) com
a tese
científica da
escrita
automática
(escrita
psíquica ou
anímica)
levantada por
Pierre Janet
(1859-1947).
Essa
contestação,
porém, é o que
de mais superado
pode haver em
nossos dias,
ante o
desenvolvimento
atual das
pesquisas
psíquicas e
parapsicológicas.
Alegar que um
médium pode
estar
simplesmente a
serviço de seu
inconsciente, ou
mesmo do
inconsciente
coletivo, ou
ainda que se
pode estar
captando
telepaticamente
à distância e em
fontes
desconhecidas o
possível
conteúdo poético
de alguém (vivo
ou morto) é
fazer ficção
científica e não
ciência. Ou, o
que é pior,
simplesmente
buscar uma
evasiva para
negar a
realidade do
fenômeno
espírita.
O inconsciente,
como já o
demonstrou o
Prof. Sérgio
Valle em suas
refutações
médicas ao Prof.
Silva Mello, foi
uma descoberta
(ou uma
revelação) dos
Espíritos antes
de Freud. E,
como
demonstraram
Alexandre
Aksakoff
(1832-1903) e
Ernesto Bozzano
(1861-1943),
confirmando a
tese espírita, a
escrita
automática
corresponde às
funções anímicas
do médium, sem
excluir a
possibilidade da
psicografia, a
qual pode ser
também
automática,
semiconsciente
ou consciente.
Claro que não
vamos debater
aqui o assunto,
que as pesquisas
parapsicológicas
atuais vêm
aprofundando,
mas convém
colocá-lo como
anteparo a algum
pronunciamento
de Sabichão
improvisado,
como dizia
Charles Richet
(1850-1935)”,
explicou
Herculano.
O fato, na
plenitude de sua
realidade – O
jornalista
Manoel
Justiniano de
Freitas Quintão
(1874-1955)
escreveu no
prefácio da obra
Parnaso de
Além-Túmulo:
“Mas
perguntarão:
‘Quem é
Francisco
Cândido Xavier?
Será um rapaz
culto, um
bacharel
formado, um
acadêmico, um
rotulado desses
que por aí vão
felicitando a
Família, a
Pátria e a
Humanidade?’
Nada disso. O
médium
psicógrafo
Xavier é um
rapaz de 21
anos, um quase
adolescente,
nascido ali em
Pedro Leopoldo,
pequeno rincão
do Estado de
Minas Gerais.
Filho de pais
pobres, não pôde
ir além do curso
primário dessa
pedagogia
incipiente e
rotineira, que
faz do
mestre-escola,
em tese, um
galopim
eleitoral e não
vai, também em
tese, muito além
das quatro
operações e da
leitura corrida,
em borrifos de
catequismo
católico, de
contrapeso.
Órfão de mãe aos
cinco anos, o
pai infenso a
literatices e,
ao demais,
premido pelo
ganha-pão, é bem
de ver-se que
não teve, que
não podia ter o
estímulo
ambiente, nem
uma problemática
hereditariedade,
nem um, nem dez
cireneus que o
conduzissem por
tortuosos e
torturantes
labirintos de
acesso aos
altanados passos
do Olimpo para o
idílico convívio
de Calíope e
Polímnia. Tudo
isso é o próprio
médium que no-lo
diz, em
linguagem
eloquente,
porque simples
como a própria
alma cedo
esfolhada de
sonhos e
ilusões, para
não pretender
colimar renomes
literários.
(...) Nós mesmos
vimos, certa
vez, em S.
Paulo, o médium
Mirabelli cobrir
18 laudas de
papel almaço, no
exíguo tempo de
13 minutos
marcados a
relógio,
enquanto conosco
dissertava em
idioma diverso
da mensagem
escrita. É um
fato. Do seu
mecanismo
intrínseco e
extrínseco,
porém, nada nos
disse o médium.
Agora, diz-nos
este que também
as produções são
recebidas de
jato. Não há
ideação prévia,
não há
encadeamento de
raciocínios,
fixação de
imagens. É tudo
inesperado,
explosivo,
torrencial! Do
que escreve e
sabe que está
escrevendo,
também sabe que
não pensou e não
seria capaz de
escrever. Há
vocábulos de
étimo que
desconhece; há
fatos e recursos
de hermenêutica,
figuras de
retórica, que
ignora, teorias
científicas,
doutrinas,
concepções
filosóficas das
quais nunca
ouviu falar, de
autores também
ignorados e
jamais lidos!
Como explicar,
como definir e
transfixar a
captação, a
realização
essencial do
fenômeno? Só o
médium poderia
fazê-lo, e por
isso ele o faz a
seguir, de
maneira
impressionante,
e de modo a
satisfazer aos
familiares da
Doutrina. Aos
outros, aos
céticos,
fica-lhes a
liberdade de
conjeturar, para
melhor explicar,
sem contudo
negar, porque o
fato aí está na
plenitude de uma
realidade, e um
fato, por mais
insólito que
seja, vale
sempre por mil e
uma teorias, que
nada explicam,
antes
complicam...”
Surpresa e
admiração de
Menotti Del
Picchia –
Menotti Del
Picchia
(1892-1988),
jornalista e
membro da
Academia
Brasileira de
Letras, assim se
expressou, sobre
a Antologia do
Mais Além –
psicografias do
também
jornalista Jorge
Rizzini
(1924-2008) –,
obra que contém
poemas de 44
autores
brasileiros,
portugueses e
norte-americanos:
“Jorge Rizzini
repete em mim, o
mesmo pasmo e
admiração que me
causou Chico
Xavier quando me
apresentou uma
antologia
poética ditada
pelos mortos.
‘Antologia do
Mais Além’ é a
mensagem póstuma
que Rizzini
publica como
recebida de
alguns gloriosos
artistas, dos
quais vários
conheci em vida.
O processo pelo
qual o poeta
recebeu esses
versos é para
mim um mistério.
Cabe-me, porém,
sinceramente
dizer – dada
minha já tão
longa
experiência
literária – que
cada uma dessas
criações, como o
belo Terceiro
Soneto do meu
inesquecível e
tão querido
Guilherme de
Almeida, guarda
o sabor de seu
estro e, talvez,
no original, a
umidade da tinta
com que foi
transportado do
céu para esta
dorida terra.
Que direi dos
outros? O que
mais impressiona
no caso é que a
variedade da
inspiração dos
demais poetas,
cada um com um
caráter e um
estilo, figure
nas páginas da
Antologia,
marcando cada
um, em suas
estrofes, as
características
da sua
personalidade.
Assim é a Lira
Mágica, de
Humberto de
Campos, um dos
poetas mais
brilhantes e
mais populares
do seu tempo.
Assim a sátira
de Arthur
Azevedo, Por que
seria?, na qual
o mais delicioso
dos humoristas
continua, pelo
que nos mostra
Rizzini, a fazer
suas diabruras
no seu atual
mundo misterioso
e fluido. Seja
como for –
expliquem os
cientistas
parapsicológicos,
hoje tão
interessados nos
fenômenos que
escapam à
terrestre
concepção da
nossa cotidiana
realidade, ou
exultem os
crentes na
sobrevivência
das almas com a
inefável
recreação que
nos oferecem
esses admirados
e queridos vates
mortos – a
Antologia que
nos dá Rizzini é
uma das obras
que surge para
deleitar os
enamorados da
Poesia e exaltar
a fé nos que
acreditam que a
consciência
humana atravessa
as divisas da
Eternidade”.