A. No caso das
aparições de Katie
King, o fato não
poderia ser atribuído
simplesmente à ação do
duplo fluídico da
médium Cook?
Pelos conhecimentos
que temos das
propriedades do
perispírito, essa
suposição seria
válida, mas as
experiências e os
fatos registrados por
Crookes mostraram que
o duplo fluídico não
exerceu ali nenhum
papel e que a ação era
devida, sem dúvida
nenhuma, a um ser
espiritual,
momentaneamente
materializado.
(O Espiritismo perante
a Ciência, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante a
desencarnação – Sua
composição.)
B. Crookes apurou
diferenças entre a
forma materializada e
a médium?
Sim. Ele notou que
havia entre a médium e
Katie King várias
diferenças. A estatura
era desigual, pois
Katie tinha seis
polegadas a mais que a
Srta. Cook. A pele de
Katie era
perfeitamente suave ao
tato e à vista,
enquanto Miss Cook
possuía uma cicatriz
no pescoço e a pele
áspera. As orelhas de
Katie não eram
furadas, ao passo que
as da senhorita Cook
traziam brincos. A cor
de Katie era muito
branca e a da Srta.
Cook, muito morena. Os
dedos de Katie eram
também muito mais
compridos que os da
Srta. Cook e seu rosto
maior. Havia também,
nos modos e na forma
de se exprimirem,
diferenças notáveis.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante a
desencarnação – Sua
composição.)
C. Apesar de tantas
minúcias, não poderia
Crookes ter sido
joguete de uma ilusão,
de uma alucinação,
admitindo fantasias
como verdades?
Tal ideia, que
agradaria a Jules
Soury, não pode ser
nem ao menos cogitada,
porque o grande sábio
conseguiu também
fotografar o Espírito
de Katie. Ora, se é
possível conceber um
gênio alucinado, é
inteiramente ridículo
pretender que se
possam fotografar
alucinações.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante a
desencarnação – Sua
composição.)
Texto para leitura
631. Em outro texto,
Crookes descreve uma
sessão realizada em
Hackney, em que Katie
King durante cerca de
duas horas passeou
pelo aposento,
conversando
familiarmente com os
presentes. “Muitas
vezes, ao passar,
tomou meu braço, e a
impressão por mim
sentida era a de que
uma mulher viva estava
a meu lado, e não uma
visitante do outro
mundo; esta impressão,
afirmo, foi tão forte
que quase não resisti
à tentativa de repetir
uma recente e curiosa
experiência.”
632. Katie disse,
então, que, desta vez,
julgava poder
mostrar-se ao mesmo
tempo em que a Srta.
Cook, a médium. Eis o
relato feito por
Crookes: “Diminuí o
gás e, em seguida, com
uma lâmpada
fosforescente,
penetrei no gabinete.
Tinha anteriormente
pedido a um dos meus
amigos, hábil
estenógrafo, anotasse
qualquer observação
que eu pudesse fazer,
enquanto estivesse no
gabinete, pois,
conhecendo a
importância das
primeiras impressões,
não queria confiar à
memória mais do que
era necessário. Estas
notas estão, neste
momento, diante de
mim. Entrei na câmara
com precaução; estava
escura e foi tateando
que procurei Miss Cook;
encontrei-a encolhida,
no chão.
Ajoelhando-me, deixei
entrar o ar na lâmpada
e, à sua claridade, vi
esta moça, vestida de
veludo preto, como no
princípio da sessão, e
com a completa
aparência de
insensibilidade. Não
se moveu quando lhe
tomei a mão e lhe
cheguei a lâmpada ao
rosto, mas continuou a
respirar
tranquilamente.
Levantando a lâmpada,
olhei em torno de mim
e vi Katie, em pé,
perto e atrás da Srta.
Cook. Vestia uma
roupagem curta e
flutuante, como já lhe
tínhamos visto,
durante a sessão. Com
uma das mãos da Srta.
Cook nas minhas,
ajoelhei-me ainda,
suspendi e abaixei a
lâmpada, tanto para
iluminar o corpo
inteiro de Katie, como
para convencer-me
plenamente de que via,
de fato, a verdadeira
Katie, que tinha
apertado em meus
braços alguns minutos
antes, e não o
fantasma de um cérebro
enfermo. Ela não falou
mais, porém meneou a
cabeça em sinal de
reconhecimento. Por
três vezes examinei,
com cuidado, a Srta.
Cook, encolhida diante
de mim, para
certificar-me de que a
mão que segurava era
bem a de uma mulher
viva, e por três vezes
virei a lâmpada para
Katie, a fim de
examiná-la com atenção
firme, de modo que não
tivesse a menor dúvida
de que ela ali estava,
diante de mim. No fim
a senhorita Cook fez
um leve movimento e
logo Katie me fez
sinal para que eu
saísse; retirei-me
para outra parte do
gabinete e então
deixava de ver Katie,
mas não deixei o
aposento até que a
senhorita Cook tivesse
despertado e que dois
assistentes tivessem
penetrado com a luz”.
633. Poder-se-ia
supor, pelos
conhecimentos que
temos das propriedades
do perispírito, que se
opera simplesmente um
desdobramento da
personalidade da
médium, mas as notas
de Crookes vão
mostrar-nos que o
duplo fluídico não
exerce aqui nenhum
papel e que a ação é
devida a um ser
espiritual,
momentaneamente
materializado.
634. Eis outras
informações de autoria
de William Crookes:
“Antes de terminar
este artigo, desejo
que se conheçam
algumas das diferenças
que observei entre a
Srta. Cook e Katie. A
estatura de Katie é
variável; vi-a, em
minha casa, com mais
seis polegadas que a
Srta. Cook. Ontem, à
noite, com os pés nus
e na ponta dos pés,
tinha 4,5 polegadas
mais que Miss Cook.
Estava com o pescoço
descoberto, a pele era
perfeitamente suave ao
tato e à vista,
enquanto Miss Cook
possui uma cicatriz no
pescoço, que, em
circunstâncias
semelhantes, se vê
distintamente e é
áspera. As orelhas de
Katie não são furadas,
ao passo que as da
senhorita Cook trazem
brincos, comumente. A
cor de Katie é muito
branca e a da Srta.
Cook muito morena. Os
dedos de Katie são
muito mais compridos
que os da Srta. Cook e
seu rosto também
maior. Nos modos e na
forma de se exprimirem
há diferenças
notáveis”.
635. Esses, os fatos
relatados pelo grande
sábio, cuja boa-fé não
pode ser posta em
dúvida. Poderia ter
sido ele joguete de
uma ilusão, de uma
alucinação, tomando
fantasias como
verdades? Tal ideia,
que agradaria a Jules
Soury, não pode,
porém, ser invocada,
porque a carta
seguinte vai dizer-nos
que foi possível
também fotografar o
Espírito de Katie.
Ora, se é possível
conceber um homem de
gênio alucinado, é
inteiramente ridículo
pretender que se
possam fotografar
alucinações.
636. Eis o relato
feito por Crookes:
“Tendo tomado parte
muito ativa nas
últimas sessões de
Miss Cook, e tendo
conseguido obter
numerosas fotografias
de Katie King, à luz
elétrica, pensei que a
publicação de alguns
pormenores seria
interessante para os
espiritistas. Durante
a semana que precedeu
a partida de Katie,
ela deu sessões em
minha casa, quase
todas as noites, a fim
de que a pudesse
fotografar à luz
artificial. Cinco
aparelhos completos de
fotografia foram
preparados para esse
efeito. Eles
consistiam em cinco
câmaras escuras, uma
do tamanho de uma
placa inteira, uma de
meia placa, uma de um
quarto e duas câmaras
binoculares
estereoscópicas, que
deviam ser dirigidas
todas sobre Katie ao
mesmo tempo, cada vez
que ela posasse para
obter o ser retrato.
Cinco banhos
sensibilizadores e
fixadores foram
empregados, e
numerosas placas de
vidro foram limpas
previamente, prontas
para servir a fim de
que não houvesse
hesitações nem atrasos
durante as operações
fotográficas, que eu
próprio executava
assistido por um
auxiliar. Minha
biblioteca serviu de
câmara escura; ela
tinha uma porta de
dois batentes que se
abria sobre o
laboratório; um desses
batentes foi retirado
de seus gonzos, uma
cortina foi suspensa
em seu lugar para
permitir a Katie
entrar e sair
facilmente. Os nossos
amigos que estavam
presentes achavam-se
sentados no
laboratório diante da
cortina, e as máquinas
fotográficas estavam
colocadas um pouco
atrás deles, prontas
para fotografar Katie
quando ela saísse, e a
tomar fotografias
igualmente do interior
do gabinete, toda vez
que a cortina fosse
afastada com essa
finalidade. Cada noite
havia quatro ou cinco
exposições de chapas,
o que dava, pelo
menos, quinze provas
por sessão. Algumas se
estragaram no
desenvolvimento,
outras, ao graduar a
luz. Apesar de tudo,
tenho 44 negativos,
alguns medíocres,
outros nem bons nem
maus, e outros
excelentes. Eis aqui
dois certificados sob
juramento, de que
estas experiências
foram realizadas nas
melhores condições;
eles foram publicados
em 1875, numa brochura
intitulada Procès des
Spirites”.
637. Ao relato se
acrescentou, de fato,
uma declaração
assinada por William
Henry Harisson,
atestando a realidade
dos fenômenos
espíritas descritos,
bem como outro
depoimento, firmado
pelo jornalista
Edwards Dawson Rogers,
da cidade de Londres,
que certificou ter
visto frequentemente o
fenômeno do
espiritualismo chamado
materialização e o
aparecimento de uma
segunda forma humana,
que não a do médium,
sair de uma pequena
câmara ou gabinete, na
qual o médium havia
sido preso. “Vi isto
mais de uma vez em
condições rigorosas de
experimentação
impostas pelo
professor Crookes, o
ilustre químico e
membro da Sociedade
Real da Grã-Bretanha,
em que era impossível
praticar qualquer
engano. A aparição
passeava no meio dos
experimentadores
sentados diante do
gabinete, com eles e
sendo tocada por eles.
Certa vez, estando
desse modo ocupada a
aparição, o professor
Crookes entrou no
gabinete e afastou a
cortina que mantinha o
médium (culto da
assistência); vimos,
então, ao mesmo tempo,
o médium e a aparição
materializada.”
638. Na sequência de
seu relato, Crookes
diz que Katie pediu
aos assistentes que
ficassem sentados; só
ele não foi incluído
nesta medida, porque,
já havia algum tempo,
ela lhe havia dado a
permissão de fazer o
que quisesse, tocá-la,
entrar e sair do
gabinete, quando
entendesse. “Segui-a
ao gabinete e vi, em
algumas ocasiões, a
ela e à médium, ao
mesmo tempo, porém, as
mais das vezes, só
encontrava a médium,
em letargia,
repousando no chão;
Katie e seu costume
branco haviam
instantaneamente
desaparecido.”
639. Sobre a médium
Florence Cook, o sábio
disse o seguinte:
“Durante os últimos
meses, a Srta. Cook
fez-me numerosas
visitas em casa, e aí
ficava semanas
inteiras. Ela só
trazia consigo uma
pequena bolsa, que não
fechava à chave;
durante o dia estava
constantemente em
companhia da Sra.
Crookes e de mim, ou
de qualquer outro
membro de minha
família; não dormia
só; faltava-lhe,
absolutamente, a
oportunidade de
preparar, mesmo em
caráter ligeiro, algo
que se prestasse a
representar o papel de
Katie King. Preparei e
dispus, eu mesmo, a
minha biblioteca e o
gabinete escuro, e, de
hábito, depois que a
Srta. Cook jantava e
conversava conosco um
pouco, dirigia-se
diretamente para o
gabinete; a seu
pedido, eu fechava à
chave a segunda porta
e guardava a chave
comigo durante toda a
sessão: abaixava-se,
então, o gás e deixava
Miss Cook na
obscuridade. Entrando
no gabinete, Miss Cook
estendia-se no chão,
com a cabeça numa
almofada, e caía logo
em letargia”.
640. Falando sobre as
sessões fotográficas,
Crookes revelou que
durante essas sessões
Katie envolvia a
cabeça da médium em um
chale, para impedir
que a luz lhe caísse
no rosto. “Eu
levantava,
frequentemente, uma
ponta da cortina,
quando Katie estava
perto e em pé. As sete
ou oito pessoas que se
achavam no laboratório
podiam ver, ao mesmo
tempo, Miss Cook e
Katie, ao clarão da
luz elétrica. Nós, no
momento, não
divisávamos o rosto da
médium, por causa do
chalé, mas lhe
percebíamos as mãos e
os pés, notávamos que
ela se agitava,
penosamente, sob a
influência dessa luz
intensa e, por
instantes,
ouvíamos-lhe os
gemidos. Tenho uma
chapa em que Katie e a
médium estão
fotografadas juntas,
mas Katie está
colocada diante da
cabeça de Miss Cook.
Enquanto eu tomava
parte ativa nessas
sessões, a confiança
que Katie tinha em mim
aumentava
gradualmente, a ponto
de só querer dar
sessões quando eu me
encarregava dos
dispositivos a tomar,
dizendo que me
desejava sempre perto
dela e do gabinete.
Estabelecida a
confiança e estando
ela convencida de que
eu cumpriria minhas
promessas, os
fenômenos aumentaram
de intensidade e tive
provas, impossíveis de
obter se me houvesse
aproximado da
sensitiva de modo
diferente. Ela me
interrogava
frequentemente a
respeito das pessoas
presentes às sessões e
sabia a maneira como
elas seriam colocadas,
porque nos últimos
tempos se tornara
muito nervosa em
consequência de certas
sugestões mal-avisadas
que aconselhavam
empregar a força para
proceder com maneiras
mais científicas de
pesquisar.”
641. Uma das
fotografias mais
interessantes é aquela
em que Crookes está em
pé, ao lado de Katie,
tendo ela o pé nu em
determinado ponto do
assoalho. Ele fez que
Miss Cook se vestisse
como Katie; ela e ele
se colocaram então na
mesma posição e foram
fotografados pelas
mesmas objetivas,
colocadas
absolutamente como na
outra experiência, e
clareadas pela mesma
luz. Colocando uma
sobre outra as duas
fotografias, vê-se que
os retratos coincidem
perfeitamente quanto à
estatura, etc., mas
Katie é mais alta meia
cabeça que Miss Cook,
e perto desta parece
uma mulher corpulenta.
642. Escreveu Crookes:
“Em muitas provas, a
largura do seu rosto e
o tamanho de seu corpo
diferem essencialmente
da médium e as
fotografias fazem ver
muitos outros pontos
de diferença. Mas a
fotografia é tão
impotente para pintar
a beleza perfeita do
rosto de Katie, como
são as palavras para
descrever-lhe o
encanto das maneiras.
A fotografia pode, é
verdade, desenhar-lhe
a atitude, mas como
poderia reproduzir-lhe
a pureza brilhante da
cor, a expressão, sem
cessar variável, dos
traços, ora velados de
tristeza, ao narrar
algum acontecimento de
sua vida passada, ora
risonhos, cheios da
inocência de uma
jovem, divertindo meus
filhos, ao contar-lhes
os episódios de suas
aventuras na Índia? Eu
vi Katie tão bem,
quando iluminada pela
luz elétrica, que me é
fácil acrescentar
alguns traços às
diferenças já
estabelecidas num
precedente artigo,
entre ela e a médium”.
(Continua no próximo
número.)