SIDNEY FRANCEZ
FERNANDES
1948@uol.com.br
Bauru, São Paulo
(Brasil)
Um cadáver muito
vivo
1958. Morávamos
em Bebedouro
(SP). Durante o
dia, o trabalho.
À noite, frequentávamos o
centro espírita.
Concentrados,
aguardávamos a
comunicação do
guia espiritual
que iria
encerrar a
reunião. Pai
Ernesto sempre
tinha uma
palavra de
carinho ou
orientação para
todos os frequentadores.
Após as
saudações,
discorreu
brevemente sobre
o tema
evangélico da
noite,
concitando todos
nós à prática do
bem. Ao final,
dirigiu-se
especificamente
a mim e à minha
esposa:
– Zezinho e
Ernestina.
– Estamos
aqui, Pai
Ernesto.
– Josino está
doente! (Josino
era irmão de
Ernestina, minha
esposa.) –
Precisa da ajuda
de vocês lá em
Catanduva. Vocês
precisam
visitá-lo! E
logo!
Josino havia se
mudado para
Catanduva há
três meses, em
busca de
trabalho melhor.
Naquela época as
comunicações e
as estradas eram
muito precárias.
Não tínhamos
notícias do
cunhado desde
sua partida. A
mensagem do
Espírito nos
deixou
profundamente
preocupados.
Crianças
pequenas,
dinheiro curto,
decidimos que na
madrugada do dia
seguinte eu iria
pegar a
jardineira para
Catanduva.
Ernestina
ficaria em
Bebedouro
cuidando dos
pequenos.
E o que
aconteceu
naquela viagem,
ficou para
sempre na
história.
Madrugada,
chovendo muito,
peguei a
jardineira. Como
único meio de
transporte, logo
o veículo ficou
lotado. Estrada
barrenta, um
pinga-pinga em
todas as
fazendas do
trecho. Foi
quando apareceu
Toshio. O
motorista foi
logo falando: –
Japonês, não
há mais lugar
aqui dentro. Só
em cima do
ônibus!
Contrariado,
Toshio não teve
alternativa.
Subiu para o
gradil superior,
onde estavam
amarradas as
malas e as
encomendas. No
meio das
mercadorias,
havia nada menos
do que um
caixão-de-defunto.
E o povo achava
absolutamente
natural aquela
convivência
entre
passageiros e
encomendas. Não
havia outro
jeito!
Espertamente,
para esconder-se
da chuva que não
parava, o
japonês entrou
dentro do
caixão-de-defunto.
Com o sacolejar
do ônibus, bem
acomodado,
Toshio dormiu. E
outros
passageiros
foram recolhidos
durante o
percurso, até
que no teto do
ônibus não cabia
mais qualquer
viva alma.
Ônibus lotado.
Vencendo o
barro, a
jardineira
aproximava-se
valentemente de
Catanduva. Numa
curva mais
acentuada,
Toshio acordou.
Lentamente
levantou a tampa
do caixão e
inocentemente
perguntou aos
demais
passageiros de
cima do ônibus:
– Já parou a
chuva?
Do interior,
vimos uma “chuva
de gente”! Todos
os passageiros
de cima do
ônibus pularam
para o barro da
estrada. Só
sobrou o
japonês.
Espantado,
Toshio tentava
explicar-se ao
motorista, que
parou a
jardineira
imediatamente: –
Eu só perguntei
se a chuva tinha
parado...
A história do
cadáver que
havia renascido
até hoje é
conhecida pelos
mais antigos de
Bebedouro e
Catanduva.
Quando cheguei
para visitar meu
cunhado, logo
constatei que
seu problema era
mais espiritual
do que físico.
Contei a ele que
tinha sabido da
sua doença
através do guia
espiritual do
nosso centro
espírita. Mas a
sua melhora
começou mesmo
quando lhe
contei a
história do
japonês que
havia saído do
caixão-de-defunto,
colocando em
polvorosa os
passageiros que
presenciaram o
“fenômeno”.
As boas risadas
desopilaram seu
fígado. Mas até
hoje há pessoas
que juram ter
visto o cadáver
de um japonês
“renascendo” em
cima de uma
jardineira
barrenta.
Nota do Autor:
Não obstante
esta mesma
história ter
sido veiculada
por muitos
órgãos de
comunicação,
inclusive com
ilustrações,
esta é a
história
original, que me
foi contada pelo
próprio
protagonista do
episódio. As
demais são
reproduções do
original.