Profundamente marcantes são
as cartas pessoais que Chico
escreveu durante os anos de
1943 a 1964 ao então
presidente da Federação
Espírita Brasileira, Wantuil
de Freitas, seu amigo
pessoal.
Essas cartas foram enviadas
à conhecida trabalhadora
espírita Suely Caldas
Schubert, que as estudou e
as comentou,
transformando-as no livro
“Testemunhos de Chico
Xavier”, editado pela
própria FEB.
Apresentaremos, na coluna
desta semana, a carta em que
Chico comenta a aproximação,
em sua vida, do Espírito
André Luiz, que mais tarde
escreveria várias obras
mediúnicas que ficariam
conhecidas como coleção
“Nosso Lar”.
Nessa missiva, datada no dia
12 de outubro de 1946,
iremos encontrar profundos
ensinamentos, que só
corroboram as análises
feitas pelo egrégio
codificador do Espiritismo,
Allan Kardec, sobre a
mediunidade em ação.
Explica Allan Kardec, em sua
obra “O que é o
Espiritismo”, no segundo
capítulo – dos médiuns –,
que a comunicação só é
possível se houver perfeita
sintonia entre o médium e o
Espírito comunicante, sem o
que a mensagem poderá ser
contaminada pela mente do
intermediário, ou mesmo
mistificada por entidades
infelizes que se divertem
intrometendo-se em assuntos
que deveriam pautar pela
seriedade. No entanto, o
mesmo codificador nos diz
que, não havendo essa
perfeita sintonia, ela
poderá ser desenvolvida com
o tempo e com a ajuda dos
benfeitores espirituais. E
isso fica evidente nas
palavras de nosso querido
Chico. Não podemos deixar de
observar, também, quando
adentramos os momentos
finais da carta, a humildade
verdadeira de que se
revestia esse diferenciado
trabalhador da seara do
Cristo, iluminando, com seu
exemplo de bondade e
abnegação, o Espiritismo no
solo da pátria brasileira.
Vejamos o que escreveu o
médium de Pedro Leopoldo a
Wantuil de Freitas:
‘... Noto, contudo, que
Emmanuel, desde fins de
1941, se dedica,
afetuosamente, aos trabalhos
de André Luiz. Por essa
época, disse-me ele a
propósito de “algumas
autoridades espirituais” que
estavam desejosas de algo
lançar em nosso meio, com
objetivos de despertamento.
Falou-me que projetavam
trazer-nos páginas que nos
dessem a conhecer aspectos
da vida que nos espera no
“outro lado”, e, desde
então, onde me concentrasse,
via sempre aquele
“cavalheiro espiritual” que
depois se revelou por André
Luiz, ao lado de Emmanuel.
Assim decorreram quase dois
anos, antes do “Nosso Lar”.
‘Dentro de algum tempo,
familiarizei-me com esse
novo amigo. Participava de
nossas preces, perdia tempo
comigo, conversando.
Contava-me histórias
interessantes e muitas vezes
relacionou recordações do
Segundo Império, o que me
faz acreditar tenha sido
ele, André Luiz, também
personalidade da época
referida. Achava estranho o
cuidado dele, o interesse e
a estima; entretanto,
decorrido algum tempo,
disse-me Emmanuel que estava
o companheiro treinando para
se desincumbir de tarefa
projetada e, de fato, em
1943, iniciava o trabalho
com “Nosso Lar”.
‘Desde então, vejo que o
esforço de Emmanuel e de
outros amigos nossos
concentrou-se nele,
acreditando, intimamente,
que André Luiz está
representando um círculo
talvez vasto de entidades
superiores. Assim digo
porque, quando estava
psicografando o
“Missionários da Luz”, houve
um dia em que o trabalho se
interrompeu. Levou vários
dias parados. Depois,
informou-me Emmanuel, quando
o trabalho teve reinício,
que haviam sido realizadas
algumas reuniões para o
exame de certas teses que
André Luiz deveria ou
poderia apresentar ou não no
livro. Em psicografando o
capítulo Reencarnação, do
mesmo trabalho, por mais de
uma vez vi Emmanuel e
Bezerra de Menezes,
associados ao autor,
fiscalizando ou amparando o
trabalho.
‘Esta é a razão pela qual,
segundo creio, não tem o
nosso amigo trazido a sua
contribuição direta. Isto é
o que eu acredito, sem saber
se está certo, porque no
meio destas realizações eu
estou como um “batráquio na
festa”.