ARTUR FELIPE DE
AZEVEDO FERREIRA
arturfelipeazevedo@msn.com
Goiânia, Goiás
(Brasil)
Herculano
Pires e Ramatis
J. Herculano
Pires
(1914-1979),
jornalista,
filósofo, poeta,
tradutor e
pensador
espírita
paulista, é
considerado o
maior pensador
espírita do
Brasil e um dos
maiores
intérpretes do
pensamento
kardeciano.
Chamado de "O
Guarda Noturno
do Espiritismo",
foi um dos
grandes
defensores do
caráter
cultural e
filosófico do
Espiritismo,
tendo travado
memoráveis
polêmicas com
detratores da
Doutrina
Espírita.
Fundador da
União Social
Espírita (atual
USE), entusiasta
da educação
espírita,
Herculano
escreveu mais de
80 obras sobre
inúmeros temas.
Foi presidente
do Sindicato
Estadual dos
Jornalistas de
São Paulo. Eis
algumas delas: O
Reino;
Espiritismo
Dialético; O
Mistério do Ser
Ante a Dor e a
Morte; O
Espírito e o
Tempo; Revisão
do Cristianismo;
Agonia das
Religiões; O
Centro Espírita;
Curso Dinâmico
de Espiritismo;
Mediunidade;
Ciência Espírita
e suas
Implicações
Terapêuticas;
Pesquisa Sobre
o Amor.
Vamos, agora,
aos seus
comentários
críticos sobre
Ramatis e
quejandos:
'Faz-se, em
geral, muita
confusão a
propósito de
Espiritismo. Há
confusões
intencionais,
promovidas por
elementos
interessados em
combater a
propagação
inevitável da
Doutrina, e há
confusões
inocentes,
feitas por
pessoas de
reduzido
conhecimento
doutrinário. As
primeiras, as
intencionais,
não seriam
funestas, porque
facilmente
identificáveis
quanto ao seu
objetivo, se não
houvesse
confusões
inocentes, que
preparam o
terreno para
aquelas
explorações.
Os Centros
Espíritas têm um
grande papel a
desempenhar na
luta pelo
esclarecimento
do povo, devendo
promover
constantes
programas de
combate a todas
as formas de
confusão
doutrinária. Por
isso mesmo,
devem ser
dirigidos por
pessoas que
conheçam a
Doutrina, que a
estudem
incessantemente
e que não se
deixem levar por
sugestões
estranhas.
Quando os
dirigentes de
Centro não se
sentirem
bastante
informados dos
princípios
doutrinários, devem
revestir-se,
pelo menos, da
humildade
suficiente para
recorrerem aos
conselhos
de pessoas mais
esclarecidas e à
leitura de
textos
orientadores.
Há um pequeno
livro de Kardec
que muitos
dirigentes
desprezam,
limitando-se a
aconselhar a sua
leitura aos
leigos e
principiantes:
exatamente “O
Principiante
Espírita”. Esse
livrinho é
precioso
orientador
doutrinário, que
os dirigentes
devem ler
sempre. Outro
pequeno volume
aconselhável é
“O Que É o
Espiritismo”,
também de
Kardec.
Principalmente
agora, nesta
época de
confusões que
estamos
atravessando, os
dirigentes
de Centros,
Grupos
Familiares e
demais
organizações
doutrinárias,
deviam ter esses
livros como
leitura diária,
obrigatória.
Além das
confusões
habituais entre
Umbanda e
Espiritismo,
Esoterismo,
Teosofia,
Ocultismo e
Espiritismo, há
outras formas de
confusão que vêm
sendo
amplamente espalhadas
no meio
espírita. São as
confusões de
origem
mediúnica,
oriundas
de comunicações
de espíritos que
se apresentam
como grandes
instrutores,
dando
sempre respostas
e informações
sobre todas as
questões que
lhes forem
propostas. Um
exemplo marcante
é o de Ramatis,
cujas mensagens
vêm sendo
fartamente
distribuídas.
Qualquer
estudioso da
Doutrina percebe
logo que se
trata de um
espírito
pseudossábio, segundo
a “escala
espírita” de
Kardec. Não
obstante, suas
mensagens estão
assumindo
o papel de
sucedâneos das
obras
doutrinárias,
levando até
mesmo oradores
espíritas
a fazerem
afirmações
ridículas em
suas palestras,
com evidente
prejuízo para o
bom conceito do
movimento
espírita.
Não é de hoje
que existem
mensagens dessa
espécie. Desde
todos os tempos,
espíritos mistificadores,
os falsos
profetas da
erraticidade,
como dizia
Kardec, e
espíritos
pseudossábios, que
se julgam
grandes
missionários,
trabalham,
consciente ou
inconscientemente,
na ingrata
tarefa de
ridicularizar o
Espiritismo. Mas
a
responsabilidade
dos que aceitam
e divulgam essas
mensagens não é
menor do que a
dos espíritos
que as
transmitem. Por
isso mesmo, é
necessário que
os confrades
esclarecidos não
cruzem os braços
diante dessas
ondas de
perturbação,
procurando abrir
os olhos dos que
facilmente se
deixam levar por
elas.
O Espiritismo é
uma doutrina de
bom senso, de
equilíbrio, de
esclarecimento
positivo
dos problemas
espirituais, e
não de hipóteses
sem base ou de
suposições
imaginosas. As
linhas seguras
da Doutrina
estão na
Codificação
Kardeciana. Não
devemos nos
esquecer de que
a Codificação
representa o
cumprimento da
promessa evangélica
do Consolador,
que veio na hora
precisa.
Deixar de lado a
Codificação,
para aceitar
novidades
confusas, é
simples
temeridade.
Tanto mais
quando essas
novidades, como
no caso de
Ramatis, são
mais velhas do
que a
própria Codificação.'
Herculano e
as bases para um
pleno
entendimento
doutrinário
'O estudo e os
debates devem
cingir-se às
obras da
Codificação.
Substituir as
obras fundamentais
por outras,
psicografadas ou
não, é um
inconveniente
que se deve
evitar. Seria o
mesmo que, num
curso de
especialização
em Pedagogia,
passar-se a ler
e
discutir assuntos
de Mecânica, a
pretexto de
variar os temas.
O aprendizado
doutrinário
requer unidade e
sequência, para
que se possa
alcançar uma
visão global da
Doutrina. Todas
as obras de
Kardec devem
constar desses
trabalhos, desde
os livros
iniciáticos,
passando pela
Codificação
propriamente
dita, até os
volumes da
Revista
Espírita.
Precisamos nos
convencer desta
realidade que
nem todos
alcançam:
Espiritismo é
Kardec. Porque
foi ele o
estruturador da
Doutrina,
permanentemente
assistido pelo
Espírito
da Verdade.
Todos os demais
livros
espíritas,
mediúnicos ou
não, são
subsidiários.
Estudar, por
exemplo, uma
obra de Emmanuel
ou André Luiz
sem relacioná-la
com as obras
de Kardec, a
pretexto de que
esses autores
espirituais
superam o Mestre
(cujas obras
ainda
não conhecemos
suficientemente)
é demonstrar
falta de
compreensão do
sentido e da
natureza
da Doutrina.
Esses e outros
autores
respeitáveis dão
sua contribuição
para a nossa
maior compreensão
de Kardec, não
podem
substituí-lo. É
bom lembrar a
regra do
"consenso
universal",
segundo o qual
nenhum espírito
ou criatura
humana dispõem,
sozinhos, por
si mesmos, de
recursos e
conhecimentos
para nos fazerem
revelações
pessoais. Esse
tipo
de revelações
individuais
pertence ao
passado, aos
tempos
anteriores ao
advento da
Doutrina.
Um novo
ensinamento, a
revelação de uma
"verdade nova"
depende das
exigências doutrinárias
de:
a) Concordância
universal de
manifestações a
respeito;
b) Concordância
da questão com
os princípios
básicos da
Doutrina:
c) Concordância
com os
princípios
culturais do
estágio de
conhecimento
atingido
pelo nosso
mundo;
d) Concordância
com os
princípios
racionais,
lógicos e
logísticos do
nosso tempo.
Fora desse
quadro de
concordâncias
necessárias, que
constituem o
"consenso
Universal", nada
pode ser aceito
como válido.
Opiniões
pessoais, sejam
de sábios
terrenos ou do
mundo espiritual,
nada valem para
a Doutrina. O
mesmo ocorre nas
Ciências e em
todos os ramos
do Conhecimento
na Terra. Porque
o Conhecimento é
uma estrutura
orgânica,
derivada
da estrutura
exterior da
realidade e
nunca sujeita a
caprichos
individuais.
Por isso é
temeridade
aceitar-se e
propagar-se
princípios deste
espírito ou
daquele
homem como se
fossem elementos
doutrinários.
Quem se arrisca
a isso revela
falta de senso e
falta absoluta
de critério
lógico, além de
falta de
convicção
doutrinária.
O Espiritismo
não é
uma doutrina
fechada ou
estática, mas
aberta ao
futuro. Não
obstante, essa
abertura
está necessariamente
condicionada às
regras de
equilíbrio e de
ordem que
sustentam a
verdade e a
eficácia da sua
estrutura
doutrinária.
Como a Química,
a Física, a
Biologia e as
demais Ciências,
o Espiritismo
não é
imutável, está
sujeito às
mudanças que
devem ocorrer
com o avanço do
conhecimento
espírita.
Mas, como em
todas as
Ciências, esse
avanço está
naturalmente
subordinado às
exigências
do critério
racional, da
comprovação
objetiva por
métodos
científicos e do
respeito ao
que podemos
chamar de
"natureza da
doutrina".
Introduzir na
doutrina
práticas
provenientes de
correntes
espiritualistas
anteriores a ela
seria o mesmo
que introduzir
na Química as
superadas
práticas da
Alquimia. As
Ciências são
organismos
conceptuais da
cultura humana,
caracterizados
pela sua
estrutura
própria e
pelas leis
naturais do seu
crescimento,
como ocorre com
os organismo
biológicos.
Todos nós ainda
trazemos a
"herança
empírica" do
passado anterior
ao
desenvolvimento
da cultura
científica, e
somos às vezes
tentados a
realizar
façanhas
cientificas para
as quais
não estamos
aptos. E como
todos somos
naturalmente
vaidosos,
facilmente nos
entusiasmamos
com a suposta
possibilidade de
nos tornarmos
renovadores
doutrinários.
Nascem daí as
mistificações
como a de
Roustaing,
tristemente
ridícula, a que
muitas pessoas
se
apegam emocionalmente,
o que as torna
fanáticas e
incapazes de
perceber os
enormes
absurdos nelas
contidos. Até
mesmo pessoas
cultas,
respeitáveis,
deixam-se levar
por
essas mistificações,
por falta de
humildade
intelectual e de
critérios
científicos.
Espíritos opiniáticos
ou sectários de
religiões
obscurantistas
aproveitam-se
disso para
introduzir essas
mistificações em
organizações
doutrinárias
prestigiosas,
com a finalidade
de ridicularizar
o Espiritismo e
afastar dele as
pessoas sensatas
que sabem
subordinar
a emoção à razão
e que muito
poderiam
contribuir para
o verdadeiro
desenvolvimento
da doutrina.
Por tudo isso,
as manifestações
mediúnicas em
sessões
doutrinárias
devem ser
recebidas sempre
com espírito
crítico.
Aceitá-las como
verdades
reveladas é
abrir as portas
à mistificação,
à destruição da
própria
finalidade
dessas sessões.
Também por isso,
o dirigente
dessas sessões
deve ser uma
pessoa de
espírito
arejado,
racional,
objetivo,
capaz de
conduzir os
trabalhos com
segurança.
Kardec é sempre
a pedra de toque
para
verificação das
supostas
revelações que
ocorrem. O
pensamento
espírita é
sempre racional,
avesso ao
misticismo. Os
espíritos
comunicantes, em
geral, são de
nível cultural
mais ou
menos semelhantes
ao das pessoas
presentes. Não
devem ser
encarados como
seres
sobrenaturais, pois
não passam de
criaturas
humanas
desencarnadas,
na maioria
apegadas aos
seus preconceitos
terrenos; a
morte não
promove ninguém
a sábio nem
confere aos
espíritos
autoridade
alguma em
matéria de
doutrina. Por
outro lado, os
espíritos
realmente
superiores só se
manifestam
dentro das
condições
culturais do
grupo, não tendo
nenhum interesse
em destacar-se
como geniais
antecipadores de
descobertas
científicas que
cabe aos
encarnados e não
a eles fazerem.
A ideia do
sobrenatural,
nas relações
mediúnicas, é a
fonte principal
das
mistificações.
Homens e
espíritos
vaidosos se
conjugam nas
tentativas
pretensiosas de
superação doutrinária.
Se não temos
ainda, no mundo
inteiro,
instituições
espíritas à
altura
da doutrina,
isso se deve
principalmente à
vaidade e à
invigilância dos
homens e
espíritos que se
julgam mais do
que são. Nesta
hora de muitas
novidades, é bom
verificarmos que
as maiores delas
já foram
antecipadas pelo
Espiritismo. É
ele, o
Espiritismo, a
maior
novidade dos
novos tempos. Se
tomarmos
consciência
disso,
evitaremos os
absurdos que
hoje infestam o
meio doutrinário
e facilitaremos
o
desenvolvimento
real da doutrina
em
bases racionais.'