Clissia Rezende, de Campo
Grande-MS, em carta dirigida
a esta revista, publicada na
seção de Cartas da edição
237, depois de citar dois
textos – um de Kardec, o
outro de Léon Denis –,
afirma ter entendido que o
Espiritismo, por meio de
suas maiores autoridades,
“nega a revelação divina
encontrada nas Escrituras,
relegando-as ao nível de uma
mera compilação de fatos
históricos e lendários”. E
acrescenta: “É curioso,
entretanto, que querendo
dizer-se cristão, o
Espiritismo frequentemente
lance mão das Escrituras,
citando-as com profusão
quando lhe convém. Isto
significa que para os
espíritas não faz diferença
se a Bíblia é ou não a
Palavra de Deus – desde que
possam usá-la quando desejam
dar à sua crença uma
aparência cristã, ou seja,
citando passagens isoladas
que parecem dar apoio às
teorias espíritas. Quando,
porém, o ensino claro das
Escrituras refuta essas
mesmas teorias, dizem então
que elas não são a Palavra
de Deus pela qual devemos
testar o que cremos”.
Dito isso, conclui a
leitora: “Portanto, o
Espiritismo não é uma
religião cristã, pois nega a
inspiração do Livro que é a
base do cristianismo, assim
como os seus ensinos.
Gostaria de respostas pra
isso”.
Procuraremos, da forma mais
didática possível, responder
à leitora.
Toda vez que alguém se
refere à Bíblia ou às
Escrituras, como fez a
leitora, é preciso primeiro
dizer a que livros se
refere. Está ela falando da
Bíblia judaica, da Bíblia
católica ou da Bíblia
protestante?
Sim, porque Bíblia não é um
livro, mas uma coleção de
livros. De origem grega, a
palavra bíblia significa “os
livros”. Os antigos a
chamavam de Escrituras, e é
assim que costumamos a ela
nos referir quando desejamos
falar do Antigo Testamento.
Para os cristãos, a Bíblia
encontra-se dividida em duas
unidades: o Antigo
Testamento e o Novo
Testamento.
A Bíblia aceita pela Igreja
Católica compõe-se de 72
livros: 45 livros do Antigo
Testamento e 27 livros do
Novo Testamento, conforme
estabelecido no Concílio de
Trento, que decidiu incluir
as Lamentações de Jeremias
no livro do mesmo profeta.
Para os judeus estão
excluídos da Bíblia o Novo
Testamento e todos os livros
do Antigo Testamento cujos
originais foram escritos em
grego e deles traduzidos.
Assim, os judeus não aceitam
os livros de Judith, Tobias,
Livros I e II dos Macabeus,
Sabedoria, Eclesiástico e
Baruc. Os protestantes
também não aceitam esses
livros, notando-se que no
livro de Ester há trechos
que são rejeitados ao mesmo
tempo por protestantes e
judeus, que os consideram
apócrifos.
Rejeitar a Bíblia, ou parte
dela, torna o indivíduo
não-cristão?
As religiões derivadas da
Reforma luterana não são
cristãs?
Quando a Igreja Católica e
as chamadas igrejas
evangélicas não obedecem ao
rito da circuncisão,
constante das leis mosaicas,
deixam, por isso, de ser
cristãs?
Jesus, ao desrespeitar o dia
do sábado, como a lei
mosaica determina, deixou
também de ser cristão?
Todas as perguntas colocadas
acima mostram que uma pessoa
ou uma doutrina podem
desaprovar parte das
chamadas Escrituras e nem
por isso perder a condição
de cristã. A propósito,
cristão é o nome que se dá
àquele que segue o
Cristianismo, cuja doutrina
está contida por inteiro em
o Novo Testamento, que, em
muitos pontos, está em
desacordo com o Antigo
Testamento.
As perseguições aos
primeiros cristãos foram
feitas justamente porque os
partidários da lei mosaica
entendiam que a doutrina
cristã se opunha aos
preceitos que Moisés, usando
o nome de Deus, havia
proclamado.
A lei do olho por olho, o
apedrejamento da mulher
adúltera, o banimento dos
leprosos, o menosprezo aos
estrangeiros, o apego às
práticas exteriores do
culto, eis normas legais
vigentes nas chamadas
Escrituras – isto é, no
Antigo Testamento – que o
Cristo veio revogar,
mostrando a
incompatibilidade daquelas
ideias com a nova ordem
estabelecida pelo Evangelho
do Reino.
Concluindo, sugerimos à
leitora que leia o item 59
d´O Livro dos Espíritos,
em que Allan Kardec, embora
apontando os equívocos
constantes do Antigo
Testamento, faz importante
reverência à Bíblia, quando
indaga: “Dever-se-á daí
concluir que a Bíblia é um
erro? Não; a conclusão a
tirar-se é que os homens se
equivocaram ao
interpretá-la. Escavando os
arquivos da Terra, a Ciência
descobriu em que ordem os
seres vivos lhe apareceram
na superfície, ordem que
está de acordo com o que diz
a Gênese, havendo apenas a
notar-se a diferença de que
essa obra, em vez de
executada milagrosamente por
Deus em algumas horas, se
realizou, sempre pela sua
vontade, mas conformemente à
lei das forças da Natureza,
em alguns milhões de anos”.
Recomendamos também à
leitora e aos nossos
estimados leitores que leiam
o Editorial da edição 48
desta revista, que
transcreve o que Ezer
Weizman, ex-presidente de
Israel, disse em dezembro de
1997 sobre o que pensa do
Antigo Testamento. Eis o
link que remete ao texto
citado:
http://www.oconsolador.com.br/48/editorial.html
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