Grilhões Partidos
Manoel Philomeno de
Miranda
(Parte
15)
Continuamos a apresentar
o
estudo do livro
Grilhões Partidos,
de Manoel Philomeno de
Miranda, obra
psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada
inicialmente no
ano de 1974.
Questões preliminares
A. Que sucedeu aos
familiares de Matias em
decorrência de sua morte
na guerra? E como ele
fez para agir sobre
Ester?
Sua mãe e a irmã Josefa
viviam miseravelmente.
Vendo-as, Matias
sentiu-se desfalecer,
mas aos poucos conseguiu
ordenar as lembranças.
Recordou-se, então, do
capitão. Teria morrido?
Se sua família
enfrentava tal penúria,
certamente ele morrera,
sem poder fazer nada.
Seu pensamento se cravou
nele. Onde andaria? Como
saber? Atormentado por
essa dúvida, se o
capitão estava morto ou
vivo, o ódio o foi
dominando, porquanto, se
ele estivesse vivo,
havia-o traído. Eis a
narrativa de Matias:
"Num momento de ódio
vigoroso, senti-me
desvairar... Aos gritos
e imprecações, desejando
encontrá-lo, senti o
mesmo ímã desconhecido
arrastar-me e
encontrei-me na sala
rica onde ele, mais
velho, forte, feliz,
sorridente, exibia a
filha..." Ao agarrar os
braços de Ester,
percebeu que eles
ficaram nos seus braços.
Foi assim que, sem saber
como, ela agia do modo
como ele queria.
“Entonteci-me e ela
cambaleou... Pensei e
ela atendeu...
Levantei-a e
caminhamos...
Esbofeteei-o e
enlouqueci de ódio, de
vingança, de alegria,
descobrindo-a louca
comigo, misturados.”
(Grilhões Partidos, cap.
19, pp. 170 a 173.)
B. Que explicação deu o
Coronel para o não
cumprimento de sua
promessa?
Ele próprio,
dirigindo-se ao
Espírito, disse que
jamais desejou trair,
desconsiderar, mas
explicou que o fim da
Guerra, o retorno à
pátria, a readaptação e
tantas coisas que
aconteceram fizeram-no
esquecer o compromisso.
Fora traído pela
memória... Jamais se
lembrara da promessa
feita, a não ser agora
quando os fatos foram
relatados pelo antigo
companheiro de armas. E
emocionado, falou-lhe:
"Perdoa-me, tu, que tens
tanto sofrido!
Perdoa-me! Não agi por
mal. Dá-me a
oportunidade de reparar,
antes da minha partida,
tantos danos".
(Obra citada, cap. 19,
pp. 173 a 175.)
C. Além de pedir perdão
a Matias, que lhe propôs
o Coronel Santamaria?
O Coronel disse-lhe que
ele tinha toda a razão
em castigá-lo, mas não a
Ester, e pediu-lhe a
oportunidade, então, de
ajudar Josefa e socorrer
sua mãe. Ele dispunha de
recursos que poderiam
ampará-las. Matias
vacilou, não acreditou
na intenção do Coronel.
Mas este lhe pediu o
endereço de seus
familiares, prometendo
tudo fazer para reparar
o mal involuntariamente
cometido. Depois de
momentos de indecisão, o
Espírito concordou, por
fim, em dar o endereço
de sua casa. "Deus te
pague! e perdoa-me, se
possível..." – pediu-lhe
o Coronel Santamaria de
voz embargada.
(Obra citada, cap. 19,
pp. 175 a 177.)
Texto para leitura
93. O encontro com
a mãe e a irmã -
A entidade continuou
relatando seu drama: "Um
dia, – quando? – não sei
quando, ouvi um choro e
o meu nome sendo
chamado... Tudo em mim
eram dores e eu era
frangalhos... Alguém me
chamava com tanto
desespero que me
despertou, me arrastou.
Subitamente, vi de
joelhos minha mãe
gritando por mim.
Ninguém pode avaliar o
que foi isso". Matias
disse ter corrido para
ela, cambaleante,
dizendo-lhe estar vivo,
doente, mas não morto...
Ela, porém, não o ouvia.
"Eu a sacudi, então,
gritei mais,
desesperei-me... e nada.
Ataquei os transeuntes
para que lhe dissessem
que eu estava vivo...
Tudo inútil. Fiquei
pior... Ela falava em
pranto: Oh! Senhor, se
meu Matias fosse vivo
nós não estaríamos nesta
miséria: nem eu nem
Josefa..." Foi aí que
se lembrou da irmã. Onde
ela andava? Sentiu-se
então arrastar por
desconhecida força e
levado a uma casa de
cômodos, próxima ao
cais do porto. Mulheres
andrajosas,
descabeladas, ferozes,
ali brigavam e
xingavam... Era uma casa
de prostituição... Ele
subiu as escadas
impelido por uma
desesperada busca e
parou num quarto, que
mais parecia um
chiqueiro. Ali estava
Josefa, sua irmã. Ela
crescera e mudara tanto!
A irmã chorava e parecia
pensar nele, pois ele
sentia pelo coração que
ela o chamava com
saudade e com mágoa...
Matias aproximou-se e
tocou-a... Ela
estremeceu e ficou com
um olhar estranho de
louca enquanto ele a
chamava. Parecia tê-lo
visto, porque deu um
grito e saiu a correr, e
o alvoroço tomou conta
daquele lupanar
infeliz... O Espírito
chorava copiosas
lágrimas. Todos estavam
comovidos, porque a dor
inspira compreensão
fraternal e piedade. O
doutrinador e o grupo
escutavam-no com
simpatia, envolvendo-o
em eflúvios de cordial
e sincera compaixão que
o reconfortavam. (Cap.
19, pp. 170 e 171)
94. Como ocorreu a
subjugação de Ester
- Matias relatou que
desmaiara quando Josefa
saiu a correr. Mais
tarde, quando
despertou, sem saber
onde estava, vagas
recordações o fizeram
refletir... O que ele
sofria no corpo e na
alma, não sabia agora
explicar... Percebeu
então que uma chusma de
desordeiros da mais
baixa classe zombava
dele, com doestos e
gargalhadas
ensurdecedoras. Foi a
duras penas, através
deles, que descobriu
haver morrido: "Aquilo
que eu sofria e ainda
sofro era a morte... Que
horror tomou conta de
mim!" Foi, assim,
ajustando-se à ideia da
morte e compreendendo
por que sua mãe não o
vira. Mas, e a fome, a
sede que sofria? A morte
não acaba com tudo isso?
Vagarosamente, então,
ele conseguiu ordenar as
lembranças. Recordou-se
do capitão. Teria
morrido? Se sua família
enfrentava tal penúria,
certamente ele morrera,
sem poder fazer nada...
Seu pensamento se cravou
nele. Onde andaria? Como
saber? Atormentado por
essa dúvida, se ele
estava morto ou vivo, o
ódio o foi dominando,
porquanto, se ele
estivesse vivo, havia-o
traído... Matias
prosseguiu narrando os
acontecimentos: "Num
momento de ódio
vigoroso, senti-me
desvairar... Aos gritos
e imprecações, desejando
encontrá-lo, senti o
mesmo ímã desconhecido
arrastar-me e
encontrei-me na sala
rica onde ele, mais
velho, forte, feliz,
sorridente, exibia a
filha..." E o Espírito
descreveu o momento
culminante da festa de
quinze anos de Ester:
"Agredi-o diversas
vezes, sem que ele o
percebesse... Havia,
ali, outros mortos
como eu e piores do que
eu, misturados aos
convidados... Quando a
filha começou a
tocar... Da idade de
Josefa e tão
diferente!...
Aproximei-me e senti que
ela me sentiu...
Segurei-a e ela
tremeu... Agarrei-lhe os
braços e percebi que os
seus ficaram nos meus
braços... Entonteci-me e
ela cambaleou... Pensei
e ela atendeu...
Levantei-a e
caminhamos...
Esbofeteei-o e
enlouqueci de ódio, de
vingança, de alegria,
descobrindo-a louca
comigo, misturados...
Assim estamos, e assim
seguiremos..." Dito
isto, Matias,
triunfante, pediu ao
dirigente: "Agora,
pergunte-lhe se sabe
quem sou eu?" (Cap. 19,
pp. 171 a 173)
95. Constâncio
pede perdão a Matias e
promete reparar seu erro
- O doutrinador lhe
respondeu dizendo que
seu drama não era um
caso isolado... A
tragédia do Gólgota
possuía um inocente, que
perdoou... O desespero
do seu próximo acalmava
a sua agonia? A pobre
Ester enlouquecida
recuperava Josefa? A
angústia de D. Margarida
diminuía a pobreza de
sua mãe? "Não estás
vingando-te, estás mais
destruindo e
destroçando os teus. Tu
não amas a família,
nunca a amaste..." –
asseverou o dirigente.
O Espírito retrucou
dizendo que amava e
sempre amou os seus. O
doutrinador foi
incisivo: "Quem ama
auxilia na dor, não foge
para cometer crimes e
negar assistência. Será
amor deixar a irmãzinha
num prostíbulo, a fim de
levar outra jovem ao
Hospício? Que
diferença há entre
aquele que corrompeu
Josefa e tu que
infelicitas Ester?"
Matias respondeu: "Eu
faço justiça!" Sobreira
replicou: "Não
confundas justiça com
indignidade e covardia
moral, atacando nas
sombras. Se amasses,
verdadeiramente, aos
teus, procurarias
socorrê-los, deixando
que Deus cuidasse dos
demais, porquanto Ele é
o Pai Único de todos..."
Matias começou a chorar
um pranto diferente.
Sobreira, inspirado
por Bezerra, perguntou,
nesse instante, se o
Coronel Santamaria
desejaria falar ao
Espírito. "Sim, –
respondeu, com hesitação
na voz, o Coronel – eu
gostaria de poder dizer
quanto estou também
sofrendo. Sou réu, não
de um crime
conscientemente
praticado... Recordo-me
do irmão... Matias, que
serviu comigo... Jamais
desejei trair,
desconsiderar...
Prometi-lhe fazer alguma
coisa, caso ele não
voltasse..." O pai de
Ester disse então que o
fim da Guerra, o retorno
à pátria, a readaptação
e tantas coisas que
aconteceram fizeram-no
esquecer o compromisso.
Fora traído pela
memória... Jamais se
lembrara, só agora
quando os fatos foram
relatados pelo antigo
companheiro de armas.
E, emocionado,
falou-lhe: "Perdoa-me,
tu, que tens tanto
sofrido! Perdoa-me! Não
agi por mal. Dá-me a
oportunidade de
reparar, antes da minha
partida, tantos danos".
A atitude do genitor de
Ester infundia
respeito. Todos estavam
emocionados, mas Matias
respondeu: "Não o
perdoarei!". (Cap. 19,
pp. 173 a 175)
96. Matias recua e
fornece o endereço da
mãe - O Coronel
disse-lhe que ele tinha
toda a razão em
castigá-lo, mas não a
Ester, e pediu-lhe a
oportunidade, então, de
ajudar Josefa e socorrer
sua mãe. Ele dispunha de
recursos que poderiam
ampará-las. Matias
vacilou, não acreditou
na intenção do Coronel.
Mas este lhe pediu o
endereço de seus
familiares, prometendo
tudo fazer para reparar
o mal involuntariamente
cometido. Depois de
momentos de indecisão, o
Espírito concordou, por
fim, em dar o endereço
de sua casa. "Deus te
pague! e perdoa-me, se
possível..." – pediu-lhe
o Coronel Santamaria de
voz embargada. Matias
não assumiu, porém,
qualquer compromisso.
Sentia-se muito
cansado... Philomeno
acorreu a cooperar na
indução hipnótica do
comunicante,
desligando-o com
especial carinho dos
liames que o prendiam ao
médium Joel, em
profundo transe
inconsciente. Em
seguida, Matias
adormeceu. Na sequência,
Bezerra de Menezes
procedeu às instruções
finais, através da
psicofonia de
Rosângela: "Como se faz
necessário punçar o
abscesso para drená-lo,
restabelecendo a
vitalização das células
e evitando que
apodreçam,
indispensável que, em
momentos próprios, se
deixem que extravasem
das infecções morais a
purulência e a vasa
pestilencial
depositadas no espírito
lúrido, vencido...",
acentuou o Benfeitor
Espiritual. Após sua
mensagem, Sobreira orou,
encerrando o edificante
cometimento espiritual.
Radiosa luz adentrou-se
pelo recinto durante a
prece. Flocos delicados
ali caíam suavemente,
desfazendo-se ao contato
com os corpos. As
harmonias do ambiente
repetiam as células do
Cristianismo primitivo,
nas noites inesquecíveis
do intercâmbio
espiritual que as
sustentavam, quando
visitadas pelos
Embaixadores do Senhor,
nos dias do
testemunho... (Cap. 19,
pp. 175 a 177) (Continua no próximo
número.)