A seção de
cartas de
“O
Consolador”
Habitualmente,
leio a seção de
cartas de nosso
periódico
eletrônico “O
Consolador”.
Interessantíssimas
as questões ali
trazidas, mas o
mais curioso é
que essa breve
amostra
indicou-me que
os que rompem o
inatismo e
enviam um e-mail
para o editor
são, em sua
maioria, não
espíritas, que
navegando na
internet à busca
de sanar suas
dúvidas e seus
problemas,
muitos deles
espirituais,
aportam em nossa
revista.
Uma interpolação
estatística
poderia nos
levar a crer
também que
muitos
interessados no
Espiritismo, por
curiosidade,
problemas
espirituais, ou
ainda, chocados
com a perda de
um ente querido,
buscam o
conteúdo
espírita
disponível na
rede mundial de
computadores,
entre eles o
periódico
consolador já
citado.
Mas o que há de
peculiar nisso?
As pesquisas
recentes do
Censo de 2000
indicam que, no
Brasil, apenas
1,3% dos
habitantes se
declaram
espíritas,
ratificado por
dados da
Fundação Getúlio
Vargas de 2009,
que indicam
1,65%, grandezas
que não
chegariam a 4
milhões de
pessoas em
termos
absolutos. De
uma fila de 100
pessoas, no
Brasil, não
teríamos duas
espíritas, na
chamada “maior
nação espírita
do planeta”.
Ainda que se
reputem essas
pesquisas como
plenamente
confiáveis, tais
grandezas
conflitam com
outros números,
tais como
pesquisa da
agência
internacional
Reuters, que
indica que 12%
da população
acreditam em
reencarnação;
bilheterias de
“Nosso Lar” e
“Chico Xavier”
na casa de 3,5
milhões de
expectadores, em
um país que
somente 8% dos
municípios
(2009) têm sala
de cinema; dados
da revista
Isto É de
2009 indicam que
45% dos livros
religiosos
vendidos nas
grandes
livrarias são
espíritas;
somente Chico
Xavier publicou
451 obras; a
existência de
centenas de
sites espíritas
e, por fim,
temos mais de 10
mil centros
espíritas
cadastrados na
FEB em todo
Brasil,
informações
todas essas
colhidas na
internet de
fontes
razoavelmente
confiáveis.
Esses dados,
analisados em
conjunto, ainda
que careçam as
conclusões aqui
apresentadas de
estudos mais
apurados,
reforçam a tese
de que uma
grande
quantidade de
espíritas não
declarados
consome a nossa
produção
literária,
cinematográfica
e de internet.
Não existe
livraria de
Shopping a que
eu vá que não
tenha uma seção
de livros
espíritas,
novelas de
grande audiência
abordam nossas
temáticas,
municípios a que
compareço a
trabalho sempre
têm casa
espírita,
jornaleiros
pululam de
revistas
especializadas
sobre
Espiritismo, mas
o percentual de
menos de 2% de
declarados se
apresenta
cientificamente
ratificado.
Penso que duas
questões se
escondem na
análise desse
fenômeno.
Primeiro, a
matriz
sincrética de
nosso povo nos
permite, sem dó
de consciência,
assistir a
palestras e
tomar passes na
quinta e
comparecer à
missa no
domingo, com
direito a enviar
os filhos à
catequese para a
primeira
comunhão,
dizendo na roda
de amigos que
sua religião é o
Catolicismo, mas
acha muito
bonito o
Espiritismo, que
o ajudou muito
na perda de sua
vó.
Da mesma forma,
devido ao
aspecto pouco
convencional do
Espiritismo,
campeia uma
visão entre
alguns de que o
Espiritismo é
uma crença, já
que não tem
rituais e
sacerdotes, e
que isso lhe
permitiria
conviver
harmoniosamente
na prática
religiosa com
outras
denominações,
atendendo a
convenções
sociais na
prática
religiosa.
Essas duas
questões
basilares, em
minha opinião,
somadas ainda a
um resquício de
medo e
preconceito com
as religiões que
envolvem a
mediunidade,
reforçam a
teoria de que os
que consomem a
produção
espírita e creem
em seus
postulados,
mesmo que
parcialmente,
são
geometricamente
superiores aos
que se declaram
espíritas
formalmente.
Após iniciarmos
a reflexão na
seção de cartas
de “O
Consolador”,
aportamos nesse
ponto e nos
perguntamos o
que essa
conclusão traz
de implicações
na nossa
vivência do
movimento
espírita.
Simples! As
nossas peças de
comunicação na
imprensa
espírita, no
mural da casa
espírita etc.
devem ter em
mente essa
realidade, a
existência da
figura do
simpatizante,
que ao contrário
do católico
declarado e não
praticante
presente na
cultura pátria,
o simpatizante é
um praticante
não declarado.
Ele lê, vai a
palestras,
dissemina a
doutrina, como
fonte de
conhecimentos
filosóficos, mas
não se vê como
membro daquele
segmento.
Trazer esse
simpatizante
para dentro do
Espiritismo
"declarado” é
complexo, dados
os componentes
culturais e
familiares
envolvidos na
prática
religiosa em
nosso país, além
de tudo que já
foi exposto.
Penso que
oferecer
material de
qualidade, em
uma linguagem
simples (como
faz “O
Consolador”),
deve ser uma
preocupação do
divulgador
espírita, dado o
caráter
esclarecedor e
consolador de
nossa doutrina.
Continuarão
esses
simpatizantes
lendo livros
espíritas (ainda
que alguns
padeçam de
incoerências
doutrinárias),
vivenciando
fenômenos e
buscando consolo
nos ombros de
amigos espíritas
e em nossas
palestras.
Afinal, nós
encarnados e
desencarnados
não escrevemos
apenas para os
espíritas
assíduos e, sim,
para aqueles que
têm necessidade
de conhecimento
esclarecedor.
Precisamos
enxergá-los em
suas demandas...
O assunto é
palpitante e
demanda dados
mais precisos e
estudos mais
aprofundados.
Mas fica a
impressão de que
a força da
doutrina
suplanta os
dados
estatísticos,
pelo
enraizamento de
seus conceitos
basilares na
produção
literária e
cinematográfica
nacional e
internacional,
nas discussões
científicas de
telejornais e
nos programas de
auditório, entre
outros espaços,
como fornecedora
de respostas
límpidas e
plausíveis aos
questionamentos
de sempre da
humanidade,
ecoando em nossa
mente as
palavras de Léon
Denis, de que “o
Espiritismo não
é a religião do
futuro e sim o
futuro das
religiões”.