Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do livro O
Espiritismo perante a
Ciência,
de Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme devant la
science,
publicada originalmente
em Paris em 1885.
Questões preliminares
A. Em que consistem os
fenômenos de transporte?
Dá-se esse nome aos
fenômenos pelos quais um
objeto qualquer é
conduzido pelos
Espíritos de um lugar
para outro. Para se
obterem fenômenos dessa
ordem, é preciso contar
com médiuns que Erasto
chamava de sensitivos,
ou seja, dotados no mais
alto grau das faculdades
medianímicas de expansão
e penetrabilidade,
porque o sistema nervoso
desses médiuns,
facilmente excitável,
lhes permite, por meio
de certas vibrações,
projetar em torno, com
profusão, fluido
animalizado.
(O Espiritismo perante a
ciência, Quinta Parte,
Cap. III – Médiuns
videntes e médiuns
auditivos.)
B. O fluido vital, que é
fornecido pelos médiuns,
é essencial à produção
do fenômeno de
transporte?
Sim. O fluido vital é,
segundo Erasto,
necessário à produção de
todos os fenômenos
medianímicos.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
C. Os fatos são
realmente úteis para
convencer os incrédulos?
São úteis, mas, se não
houvesse outros meios de
convicção, o Espiritismo
não teria hoje a
centésima parte dos
adeptos que tem. Por
causa disso, Erasto
propõe-nos: “Falai ao
coração; é por aí que
fareis as mais sérias
conversões. Se
acreditais seja útil,
para certas pessoas,
agir pelos fatos
materiais,
apresentai-os, ao menos,
em circunstâncias tais
que não possam dar lugar
a falsas interpretações;
é preciso, sobretudo,
que não vos afasteis das
condições normais dos
fatos, porque os fatos
apresentados em más
condições fornecem
argumentos aos
incrédulos, em vez de
convencê-los”.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
Texto para leitura
931. Vejamos agora algo
sobre os fenômenos de
transporte (apport),
quando um objeto
qualquer é conduzido
pelos Espíritos de um
lugar para outro. Nessas
experiências, convém
operar com pessoas
absolutamente idôneas e
em locais conhecidos
pelos experimentadores.
Tais recomendações têm
por fim acautelar os
espíritas contra as
fraudes, que nunca
faltam, quando se trata
de fatos
extraordinários.
932. Sobre o assunto
tenhamos em mente o
conselho do Espírito de
Erasto, que assim se
manifestou sobre os
transportes: “É preciso,
necessariamente, para se
obterem fenômenos dessa
ordem, contar com
médiuns, a que chamarei
sensitivos, ou seja,
dotados no mais alto
grau das faculdades
medianímicas de expansão
e penetrabilidade,
porque o sistema nervoso
desses médiuns,
facilmente excitável,
lhes permite, por meio
de certas vibrações,
projetar em torno, com
profusão, fluido
animalizado”.
933. Segundo Erasto, as
naturezas
impressionáveis, as
pessoas cujos nervos
vibram ao menor
sentimento, à mais leve
sensação, que qualquer
influência moral ou
física, interna ou
externa, sensibiliza,
são indivíduos muito
aptos a se tornarem
excelentes médiuns para
os efeitos físicos de
tangibilidade e
transporte. Com efeito,
seu sistema nervoso,
quase inteiramente
desprovido do invólucro
refratário, que isola
esse sistema na maior
parte dos encarnados,
torna-os próprios ao
desenvolvimento desses
diversos fenômenos.
934. Em consequência,
com um sensitivo dessa
natureza e cujas outras
faculdades não sejam
hostis à entrada no
estado mediúnico (ou a
mediunização),
obter-se-ão mais
facilmente os fenômenos
de tangibilidade, as
pancadas nas paredes e
nos móveis, os
movimentos inteligentes
e mesmo a suspensão no
espaço da mais pesada
matéria inerte.
935. Ocorre que da
produção desses
fenômenos à obtenção dos
transportes há uma
grande distância, porque
no fenômeno de
transporte não somente o
trabalho do Espírito é
mais complexo, mais
difícil, mas muito mais
que isso: o Espírito só
pode operar por
intermédio de um único
aparelho mediúnico, isto
é, vários médiuns não
podem concorrer
simultaneamente para a
produção do mesmo
fenômeno.
936. Acontece também
que, ao contrário, a
presença de certas
pessoas antipáticas ao
Espírito que opera pode
entravar radicalmente
sua operação. A esses
motivos, acrescente-se
que os transportes
necessitam sempre uma
maior concentração e ao
mesmo tempo maior
difusão de certos
fluidos e que, enfim,
eles só podem obter-se
com os mais bem dotados
médiuns, aqueles, numa
palavra, cujo aparelho
electromediúnico seja
mais bem condicionado.
937. Em face do exposto,
os transportes são e
permanecerão
excessivamente raros.
Ademais, esses fenômenos
se revestem de tal
natureza que, nem só
todos os médiuns não são
próprios a sua produção,
como os próprios
Espíritos não os podem,
todos, produzir.
938. É preciso que entre
o Espírito e o médium
influenciado haja certa
afinidade, certa
analogia, em uma
palavra, certa
semelhança, que permita
à parte expansível do
fluido perispirítico do
encarnado unir-se,
combinar-se com a do
Espírito que quer fazer
um transporte. Essa
fusão deve ser tal que a
força resultante se
torne, por assim dizer,
uma – como acontece com
as duas porções de uma
corrente elétrica,
agindo sobre o carvão,
que produzem um só foco,
uma claridade única.
939. Por que essa união?
Por que essa fusão,
perguntareis? É que,
para a produção desses
fenômenos é preciso que
as qualidade essenciais
do Espírito motor sejam
aumentadas com algumas
das do mediunizado, já
que o fluido vital,
necessário à produção de
todos os fenômenos
medianímicos, é apanágio
exclusivo do encarnado
e, por consequência, o
Espírito operador é
obrigado a impregnar-se
dele. Só então ele pode,
com o auxílio de certas
propriedades do meio
ambiente, isolar, tornar
invisíveis e fazer
moverem-se certos
objetos materiais e os
próprios encarnados.
940. Além das
dificuldades inerentes a
esse classe de
fenômenos, Erasto diz
que os Espíritos a eles
se prestam muito pouco,
pois que motivam da
parte deles um trabalho
quase material, o que
lhes constitui um
aborrecimento e uma
fadiga. Por outro lado,
acontece ainda isto: é
que muito
frequentemente, apesar
de sua energia e de sua
vontade, o estado do
próprio médium lhes opõe
uma barreira
intransponível.
941. Se os fatos
tangíveis que consistem
na produção de pancadas,
movimentos e suspensão,
são fenômenos simples,
que se operam pela
concentração e dilatação
de certos fluidos, e
podem ser obtidos pela
vontade e o trabalho dos
médiuns que sejam aptos
a produzi-los, quando
estes são secundados por
Espíritos amigos e
benévolos, os fenômenos
de transporte são
múltiplos, complexos,
exigem o concurso de
circunstâncias
especiais, não podem
operar-se senão por um
único Espírito, um só
médium, e necessitam,
afora as condições da
tangibilidade, uma
combinação toda
particular para isolar e
tornar invisível o
objeto ou os objetos que
constituem o motivo do
transporte.
942. Para resumir: se os
fatos de tangibilidade
são frequentes, os de
transporte são muito
raros, porque as
condições são muito
difíceis; por
consequência, nenhum
médium pode dizer “a tal
hora e em tal momento,
obterei um transporte”,
porque, muitas vezes, o
próprio Espírito se vê
impedido de o fazer.
943. Acrescente-se ainda
que tais fatos são muito
difíceis em público,
visto que aí se
encontram, quase sempre,
elementos energicamente
refratários, que
paralisam os esforços do
Espírito e, com mais
forte razão, os do
médium.
944. É certo, porém, que
esses fenômenos se
produzem espontaneamente
e, muitas vezes, sem a
vontade dos médiuns, sem
premeditação, quase
sempre em particular, e
raramente quando eles
estão prevenidos; donde
se deve concluir que há
motivo legítimo de
suspeição, quando um
médium se gaba de os
obter à vontade, ou de
dar ordens aos
Espíritos, como a
servidores, o que é
simplesmente absurdo.
945. Tenhamos, ainda,
como regras gerais que
os fenômenos espíritas
não foram feitos para
serem dados em
espetáculos e para
divertir os curiosos. Se
alguns Espíritos a tal
se prestam, só o fazem
para os fenômenos
simples e não para os
que, como os de
transporte, exigem
condições excepcionais.
946. É preciso
lembrar-nos também que,
se é absurdo repelir,
sistematicamente, todos
os fenômenos de
além-túmulo, não o é
menos aceitá-los todos
cegamente. Quando um
fenômeno de
tangibilidade, de
aparição, de
visibilidade ou de
transporte se manifesta
espontaneamente ou de
maneira instantânea,
aceitemo-lo; mas não o
aceitemos às cegas; que
cada fato sofra um exame
minucioso, aprofundado,
severo. O Espiritismo,
tão rico em fenômenos
sublimes e grandiosos,
nada tem a ganhar com
essas pequenas
manifestações que hábeis
prestidigitadores podem
imitar.
947. Alguns poderão
argumentar que os
fenômenos são úteis para
convencer os incrédulos;
mas, ninguém ignore, se
não houvesse outros
meios de convicção, o
Espiritismo não teria
hoje a centésima parte
dos adeptos que tem.
948. Fechando suas
considerações, Erasto
propõe-nos: “Falai ao
coração; é por aí que
fareis as mais sérias
conversões. Se
acreditais seja útil,
para certas pessoas,
agir pelos fatos
materiais,
apresentai-os, ao menos,
em circunstâncias tais
que não possam dar lugar
a falsas interpretações;
é preciso, sobretudo,
que não vos afasteis das
condições normais dos
fatos, porque os fatos
apresentados em más
condições fornecem
argumentos aos
incrédulos, em vez de
convencê-los”.
949. Deve-se notar com
que sabedoria esse
Espírito nos premune
contra o entusiasmo
errôneo dos fanáticos.
Essas prescrições são
adotadas por todos os
espíritas sérios, e
nesse número podemos
contar o Sr. Vincent,
que publicou, sobre os
transportes, uma
interessante brochura em
1882.
950. Digamos desde logo
que se acham excluídas
as hipóteses de fraude e
embuste, visto que as
precauções tomadas por
Vincent apagam esses
receios. Além disso,
sendo notória a
honestidade do narrador,
podemos, sem hesitação,
admitir-lhe o
testemunho. Aliás, o que
ele conta tem sido
obtido muitas vezes, e
as revistas espíritas
estão cheias de exemplos
semelhantes; damos,
porém, preferência a
esse escritor, não só
pela maneira científica
por que conduziu suas
experiências, como
também pela notável
coincidência que existe
entre as condições por
ele observadas e as
descritas pelo Espírito
Erasto, como sendo
indispensáveis.
(Continua no próximo
número.)