A. A terapêutica em
casos como o de Lisandra
deve iniciar-se de que
forma?
Ela deve iniciar-se
sempre pela
conscientização do
paciente,
reeducando-se-lhe a
vontade, disciplinando-o
e motivando-o à
aquisição de ideias
nobres, mediante o
exercício de leituras
salutares, diálogos
otimistas e positivos,
oração e reflexões
nobres, passando-se à
fluidoterapia ou
realizando-a
simultaneamente, pelo
processo dos passes, da
água fluidificada,
utilizando-se a
laborterapia e, em casos
mais graves, os
específicos da técnica
psiquiátrica.
(Tramas do Destino, cap.
7, págs. 64 e 65.)
B. Qual é o maior
inimigo do paciente
auto-obsidiado?
O maior inimigo do
paciente auto-obsidiado
é a sua consciência de
culpa, de que não se
esforça, realmente, por
libertar-se, conseguindo
merecimentos pelo uso
bem dirigido da força
que empreende para a
regularização de erros
pungentes.
(Obra citada, cap. 7,
págs. 66 e 67.)
C. O que é mais nefasto:
as doenças do corpo ou
as doenças morais?
As doenças morais são
mais nefastas, porque
decompõem o homem de
dentro para fora, ao
inverso das outras, de
ordem física.
(Obra citada, cap.
8, págs. 71 a 73.)
D. Que idade tinha
Lisandra quando foi
acometida da hanseníase?
Lisandra apareceu com os
alarmantes sinais da
hanseníase quando
contava 22 anos.
(Obra citada, cap. 9,
págs. 77 a 79.)
Texto para leitura
28. O maior
inimigo do
auto-obsidiado -
No tratamento da
obsessão, não há dúvidas
quanto aos promissores e
relevantes resultados
que se obtêm através da
renovação íntima do
enfermo, da radical
mudança dos velhos
hábitos para as
realizações
edificantes, e os
exercícios da caridade
ao próximo, que, em
última análise,
representam caridade
para consigo próprio. O
conhecimento da
reencarnação, fora dos
núcleos espíritas, vai
lentamente propondo
mudanças auspiciosas na
forma de encarar um
sem-número de
ocorrências, sugerindo
práticas não ortodoxas
diante de enfermos e
perante enfermidades
tidas como verdadeiros
flagelos sociais que
ainda prosseguem como
tais. Não está longe o
dia em que as "ciências
da mente" recorrerão ao
Espiritismo, verdadeira
"ciência da alma e da
vida", para beberem na
sua fonte os informes
que lhes faltam, de
cujos resultados se
felicitará a
Humanidade,
colocando-se
definitivamente a
luminosa ponte que
ligará a Ciência à
Religião, originando-se
daí uma nobre filosofia
de vida para o ser
humano, que, então, se
sentirá mais feliz e
mais irmão do seu
próximo, conforme a
previsão estatuída nos
ensinos evangélicos.
Lisandra, auto-obsidiada
pelas evocações
inconscientes, anulava
os esforços do médico e
dos familiares, por
enjaular-se na
obstinação cega de ser
e permanecer inditosa.
Todo problema deve
constituir um repto ao
valor moral do homem, a
fim de ser solucionado.
Submeter-se passivamente
a qualquer conjuntura de
dor, ignorância e sombra
resulta de tácita
covardia moral ante a
luta, na qual todos
devem investir esforços
para superar as
dificuldades e
instaurar triunfos que
produzem seres ditosos.
O maior inimigo do
paciente auto-obsidiado
é a sua consciência de
culpa, de que não se
esforça, realmente, por
libertar-se, conseguindo
merecimentos pelo uso
bem dirigido da força
que empreende para a
regularização de erros
pungentes. No capítulo
das auto-obsessões
aparece vasta gama de
alienados, egoístas,
narcisistas,
hipocondríacos,
exibicionistas etc., em
cuja gênese da
enfermidade se fixam
complexas matrizes para
a fascinação e a
subjugação, que procedem
dos Espíritos infelizes
que lhes são afins ou se
lhes vinculam por
processos cármicos
redentores. A
psicoterapia do
Evangelho é, porém, em
toda e qualquer
injunção, o mais eficaz
medicamento para a alma
e, consequentemente,
para a vida. (Cap. 7,
págs. 66 e 67).
29. Progressos no
tratamento dos
hansenianos - No
Hospital, Rafael fez-se
mais arredio e
completamente
antissocial, mesmo entre
os que lhe compartiam a
enfermidade, pelo
impositivo coletivo dos
resgates imperiosos.
Apesar da gentileza e da
assistência fraternal
recebida do enfermeiro
Cândido, ele entregou-se
a crua melancolia e a
funda revolta. Tudo
quanto se encontrava em
potencial nos recessos
do ser – que trazia em
germe as pesadas cargas
da animosidade e da
acrimônia – contribuiu
para que se consumisse
na combustão da prova,
por ele recebida com
rebeldia superlativa.
Rafael estava longe do
espírito de resignação e
humildade. Ânimo
exacerbado, quase
violento, fez-se
elemento pernicioso no
Hospital, implicando
com médicos, enfermeiros
e funcionários. Como não
conseguisse ocultar a
mágoa da vida, gerou um
clima de hostilidade
contra ele próprio. Nem
Cândido, que era amado
pelos demais enfermos e
o atendia com
devotamento de irmão
leal, não logrou
modificar-lhe as
disposições íntimas.
Alegre, sem cultivar a
balbúrdia, o enfermeiro
era bondoso sem alarde e
trabalhava por todos
por espontâneo
interesse, sem receber
quaisquer estipêndios,
além dos parcos
vencimentos com que
provia, com nobreza, a
subsistência própria e
a de seus familiares.
Pai extremoso, era
conhecida a sua
compostura moral,
tornando-se homem de
conduta padrão no lar e
na rua, exemplo de
discreto e humilde
cultor dos caracteres
do verdadeiro homem de
bem. Naquele tempo fora
descoberta e
iniciava-se uma nova
terapêutica à base das
sulfonas, que se
apresentavam como um
filão de esperanças
para os hansenianos.
Rafael, contudo,
recebeu tais notícias
com sarcasmo e
mordacidade infelizes,
no seu habitual estado
de rancor pela vida. Ao
mesmo tempo, a técnica,
a serviço da saúde,
transformava os velhos
Hospitais em Colônias
alegres, onde se podiam
formar grupos e
comunidades
equilibrados,
seguindo-se no Brasil
experiências realizadas
com êxito em outros
países. Assim, os
pacientes do Lazareto
foram transferidos de
local, desfrutando todos
de uma ampla área verde
e urbanizada, onde
recomeçariam o ciclo da
vida ao ritmo da
esperança nova, com
possibilidades de
egressão. Já se
assinalavam, assim, as
primeiras licenças e as
liberações dos pacientes
que se tornaram "não
contagiantes",
permitindo-se seu
retorno ao convívio
social. Claro que muitos
eram rechaçados e
volviam à Colônia,
deprimidos, enquanto
outros, menos
mutilados, que podiam
ocultar o mal, se
reintegravam à
sociedade. (Cap. 8,
págs. 69 a 71)
30. A
doença segue o seu curso
- Agrilhoado pela lepra
mista, isto é, a nervosa
e a tuberosa, Rafael não
fruía a ventura de pelo
menos amainar a morfeia,
já que se lhe afigurava
impossível debelá-la.
Ignorava e teimava por
ignorar o valor da
contribuição pessoal,
através do cultivo das
forças superiores pelo
pensamento edificado no
bem, suscetíveis de
reativar as energias
físicas e mentais, como
se adquirem créditos,
graças à submissão
resignada com que se
minoram os gravames
sofridos e se
reorganizam os
mapeamentos do
determinismo espiritual,
modificando-se, não
raro, os quadros
patológicos, as linhas
do destino, as
diretrizes da vida.
Aspirando as vibrações
inferiores e mefíticas
que dele mesmo emanavam,
mais sucumbia com o
corpo em deformação e a
alma mutilada,
encarcerada na concha
do orgulho ferido. Suas
alegrias eram a
correspondência do lar,
na qual a esposa e os
familiares ocultavam as
agonias sofridas,
apresentando-lhe um
quadro irreal de ventura
que, em verdade, não
existia. Era esta uma
forma de animá-lo,
fortalecendo-o para a
esperança que ele se
negava. Suas missivas
eram, por outro lado,
sombreadas por
perspectivas negras,
carregadas de fel. Desde
o princípio proibira,
terminantemente, a
família de visitá-lo, o
que seria uma terrível
ofensa para ele.
Desejava ser recordado
conforme vivera em casa,
não como um pária, um
réprobo assinalado pelas
deformações que lhe
afeavam a aparência e o
corpo. A vaidade fútil e
vã permanecia nele mais
terrível e odienta do
que a doença em si. As
doenças morais são mais
nefastas, porque
decompõem o homem de
dentro para fora, ao
inverso das outras, de
ordem física. Foi
nessa época que Cândido
lhe confidenciou ser
espírita,
esclarecendo-o, em
contínuas conversações,
quanto aos postulados
centrais da Doutrina
codificada por Kardec e
insistindo no tema e
ensino das leis de causa
e efeito, fatores
centrais e causais para
as reencarnações, por
cujo mecanismo se podem
explicar todos os
problemas humanos e
sociais vigentes na
Terra. Rafael o ouvia
com respeito e
admiração, mas,
fixando-se nas ideias
negativistas de sempre,
acabou tornando-se fácil
joguete de seus inimigos
desencarnados que o
espreitavam e
perseguiam,
estabelecendo-se nele
dolorosa parasitose
obsessiva que o
apoquentava,
induzindo-o a uma
posição odienta entre
todos, a um passo da
loucura total. (Cap. 8,
págs. 71 a 73)
31. Objetivo das
vicissitudes da vida
- Sofrendo a compulsão
expiatória a que se
submetiam, a família e
Rafael reconquistavam
pela dor os recursos que
a insânia os fizera
malbaratar, com as
decorrentes
complexidades que se
expressaram na
perversidade e
exploração que impuseram
aos que lhes deveriam
compartir os bens. A
carga de culpas agora os
alcançava como medida
salvadora com que se
enriqueceriam de bens
morais para as provas
futuras. Era natural,
pois, que transitassem
entre desassossegos, na
expectativa de novas e
desesperadoras
surpresas. Kardec tece
os seguintes comentários
à questão no 399 d' O
Livro dos Espíritos: "As
vicissitudes da vida
corpórea constituem
expiação das faltas do
passado e,
simultaneamente, provas
com relação ao futuro.
Depuram-nos e
elevam-nos, se as
suportamos resignados e
sem murmurar". Muitas
vezes o Espírito
conserva a intuição das
expiações a que deve
submeter-se, vivendo à
espera da ocorrência
saneadora, o que já
constitui um sofrimento.
Quando em estado de
sono, parcialmente
lúcido, inteira-se do
que lhe cabe ressarcir e
anela mesmo pelos meios
com que se pode liberar
da constrição do
remorso, ante a
percepção dos gozos e
venturas que o aguardam,
cessada a pena. Noutros
casos, roga que lhe
antecipem a
regularização das
dívidas e a chegada dos
sofrimentos,
prometendo-se coragem e
valor ante os sucessos
dolorosos. Nesses
momentos de maior
sintonia com a
responsabilidade, seu
anjo guardião lhe
transmite altas dosagens
de emulação e
vitalidade para não
deperecer, sustentando
pelos poderosos fios do
pensamento um vigoroso
intercâmbio com as
nascentes superiores da
vida. Era o caso de
Artêmis e Hermelinda,
que, por procederem de
estirpe espiritual
elevada, dispunham de
mais amplas
possibilidades e fruíam,
assim, de maior dosagem
de forças morais para
sustentar-se nas
aspérrimas conjunturas
que as alcançavam. (Cap.
9, págs. 75 e 76)
32. Lisandra é
também hanseniana
- D. Adelaide, mãe de
Artêmis, reintegrara,
ao desencarnar, as
hostes a que se
vinculava antes da
reencarnação, podendo
auxiliar, assim, as
sofridas mulheres. Era
ela uma espécie de anjo
tutelar, instando pela
ascensão dos entes
queridos ainda
imantados à
retaguarda. Em sua
última existência
carnal, vivendo entre a
gente simples do
interior, descobrira
excelente campo de
trabalho em que
materializara, pela
vivência, as virtudes da
fé e da caridade,
tornando-se verdadeira
mãe espiritual de
homens, mulheres,
crianças e velhinhos
desvalidos, para os
quais as arcas do seu
amor estavam sempre
abertas de par em par.
Sob sua inspiração, a
fraternidade, na
Fazenda, substituíra a
arrogância e o
preconceito decorrentes
das diferenças
econômicas; a fé
religiosa, espontânea e
simples aquecera os
corações; o trabalho
enflorescera as almas.
Conseguira, assim,
imprimir na família o
respeito ao próximo,
fosse qual fosse a sua
posição, transmitindo
aos filhos, além do
exemplo vivo, as
virtudes do coração de
que Artêmis se fizera
atestado inequívoco.
Hermelinda se lhe
vinculava afetivamente
por vida precedente,
havendo nela os "plugs"
da emotividade e da
sintonia perfeita com
que lhe recebia a
inspiração. Diferentes
eram os casos de
Lisandra, Gilberto e
Rafael, que, emaranhados
entre si pela trama dos
sucessivos amores e
desventuras que
perpetraram e em que se
mancomunaram, possuíam
menos resistências
morais, enovelados na
expiação educadora, que
a pouco e pouco os
adestrava para
cometimentos mais
relevantes. Oito longos
anos se haviam passado,
quando Lisandra – cujo
quadro psíquico
apresentava sensível e
contínuo agravamento –
apareceu com os
alarmantes sinais da
hanseníase. Contava
então 22 anos. A jovem
não era portadora de
beleza física ou de
magnetismo pessoal
expressivo; ao
contrário, dela emanavam
– como resultado de seus
deslizes espirituais do
passado – vibrações
desconcertantes que
desagradavam quantos lhe
privassem da
convivência. Arredia,
pouco loquaz, tornara-se
tímida e não fruíra das
alegrias da mocidade,
recolhida aos muros da
desolação em que
refundia a vida. Não
poderia, pois, ser maior
o drama que a notícia
produziu em Artêmis, que
não se esquecera da
ameaça de suicídio feita
por Rafael, se um dia
viesse a descobrir o
infortúnio da filha ou
de outro da casa por sua
suposta culpa. (Cap. 9,
págs. 77 a 79)
33. Lisandra é
tratada em casa
- O médico, Dr. Armando
Passos, que acompanhava
a dolorosa via crucis da
família, sabendo da
ameaça de Rafael, disse
a Artêmis que o enfermo,
que ele conhecia de
perto, era capaz de
cumprir, de fato, a
ameaça. Era preciso ter,
portanto, muito cuidado.
"Transferir Lisandra
para outra cidade" –
considerou Artêmis –
"será condenar-me à
morte. Só a divina
providência nos sustenta
neste demorado transe, e
não sei quanto
aguentarei." "E ela,
cuja saúde mental não é
das melhores, como
suportar sem sucumbir
na loucura total, longe
da nossa vigília e
paciência?" O médico
ficou sinceramente
condoído ante as
vicissitudes da família.
Superados os dias das
ambições e vencidos os
trâmites das humanas
vaidades, ele refundira
os conceitos sobre a
vida e tornara-se,
verdadeiramente, um
sacerdote da saúde, não
mais um profissional
mecânico junto aos
pacientes. A vida lhe
trouxera regular cópia
de decepções e o
sobrecarregara com
necessários e ingentes
infortúnios, como são
chamadas as provações
pelos homens, quando um
dos filhos fora vítima
de terrível acidente
automobilístico do qual
saíra paralítico, por
seccionamento medular,
na região da coluna
cervical. Decorridos
alguns minutos de
silêncio, ele informou à
genitora de Lisandra:
"Há na atualidade, e já
de algum tempo, uma
forte corrente
científica que luta por
não isolar o hanseniano,
mantendo-o na
convivência familiar.
Sabemos que o contágio
normalmente se dá no
período da infância,
ficando o bacilo
inoculado por muito
tempo. Como não há
criança em casa,
poderemos examinar a
possibilidade de
utilizar a terapêutica
de ambulatório, desde
que a doente seja
necessariamente mantida
em compartimento à
parte..." Tudo foi feito
como sugeriu o médico,
que, dias depois, foi
pessoalmente à
residência da família
informar que Lisandra
ficaria aos seus
cuidados, em casa mesmo,
obedecendo a um rigoroso
programa. Rafael não
seria notificado, senão
quando o quadro pudesse
sugerir um prognóstico
menos sombrio ou
liberativo. A enferma
foi instalada no amplo
cômodo arejado, com
janelas abertas para o
quintal, o que não se
diferenciava muito de
sua situação anterior à
nova doença, visto que
ela já vivia, de certo
modo, semiencarcerada há
muitos anos em seu
próprio lar. (Cap. 9,
págs. 79 a 81)(Continua no próximo
número.)