B. O fenômeno de
transfiguração pode
estar associado a um
fenômeno de efeitos
intelectuais?
Pode. O Caso 3 comprova
isso, porque o Espírito
– que fora médico no
século 19 – examinou uma
das pessoas presentes e
fez-lhe importantes
revelações na condição
de médico que fora no
passado.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 3.)
C. Em relação ao médium
Daniel Dunglas Home,
Bozzano cita dois
fenômenos pouco
conhecidos. Quais são
esses fenômenos?
São dois os relatos a
respeito do médium
Daniel Dunglas Home, os
quais se referem ao
fenômeno de alongamento
de seu corpo com a
simultânea
transfiguração
ectoplásmica do rosto.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 4.)
Texto para leitura
15. O Caso 2 foi
extraído do seguinte
episódio do livro The
wisdom of the gods
(A sabedoria dos
deuses), de H. Dennis
Bradley, que teve
ocasião de observar duas
vezes, com o médium Sra.
Scales, o fenômeno de
"transfiguração" por
contração e adaptação
dos músculos do rosto,
fenômeno que, nos
limites indicados, se
mostra sobretudo
frequente nos médiuns de
"possessão ou
incorporação".
16. Eis o seu relato:
"Ela (Cloé, o
Espírito-guia, uma jovem
índia) disse que ‘Annie’
hesitava em
manifestar-se de uma
forma em que não se
manifestara antes. Não
ousava ocupar o corpo do
médium e não sabia se
seria capaz de controlar
e utilizar-se do seu
organismo.
Eventualmente, foi
levada a tentar a
experiência. O médium
caiu sentado na cadeira
e nós esperamos dois
minutos. A Sra. Scales é
uma mulher baixa e
gorda. O tom de sua
pronúncia, para ser
delicado, é o vulgar.
Seu rosto é o que se
pode dizer agradável e
comum. Gradualmente, a
expressão do rosto do
médium se foi mudando
completamente. Era uma
‘transfiguração’. Ao
passo que o semblante
permanecia, os olhos e a
expressão se tornavam
belos. Não era uma
alucinação. Minhas
faculdades de observação
são tão argutas ou mesmo
mais argutas do que
nunca, e eu devo lembrar
que essa maravilhosa
mudança foi vista não só
por mim, mas pela Sra.
Sargeant e em plena luz.
A princípio foi com
grande dificuldade que
as primeiras poucas
palavras foram
articuladas, mas
gradativamente a força
aumentou
consideravelmente e o
Espírito de minha irmã
tornou-se capaz de
assumir completo
controle dos órgãos do
médium. Era minha irmã.
Era seu Espírito usando
o organismo de outro
corpo físico e falando a
mim em sua própria voz.
Não me importo que os
cépticos se riam disto,
mas os que hão estudado
os fenômenos espíritas
sabem e compreenderão.
Eu já lhe falara em voz
independente, na
presença de testemunhas
célebres, em centenas de
vezes. Conheço sua
personalidade, conheço
seu espírito. A voz de
‘Annie’ possuía sua
antiga beleza, sua
tonalidade era
perfeitamente enunciada
da forma que lhe era
peculiar quando neste
planeta.”
17. Prosseguindo, o
relato diz: “Nenhuma
atriz viva poderia
simular essa maravilhosa
personalidade. Ela
conversou comigo acerca
de fatos íntimos de sua
vida terrena... Durante
a nossa maravilhosa
palestra, enquanto usava
o organismo de outra
pessoa, deu-me a mais
íntima e excepcional
prova da sobrevivência.
Nome após nome, fato
após fato foram
mencionados: minha
esposa, Pat, Dennis,
tudo. Havia uma grande
tragédia em sua vida,
citada de forma velada
em Towards the stars.
Essa tragédia, cujos
detalhes nunca foram
publicados e que são
apenas conhecidos de
duas ou três pessoas
vivas, foi por ela
referida... Na manhã
seguinte, telefonei à
Sra. Sargeant a fim de
fazer-lhe uma pergunta
que esquecera. Pedi-lhe
para descrever a voz que
ela passara a ouvir
desde que minha irmã se
incorporara no médium.
Isto fiz para afastar
qualquer possível dúvida
quanto ao tom ter sido
produzido pela minha
imaginação. A Sra.
Sargeant disse,
descrevendo a voz da
minha irmã, que o seu
falar era lento e a
enunciação das palavras
excepcionalmente suave e
clara. Essa era a voz
característica de
‘Annie’, quando na
Terra."
18. No episódio exposto,
a "transfiguração" do
rosto se mostra menos
desenvolvida que no Caso
1, limitando-se a uma
transformação da
expressão animada de um
semblante, mas em
compensação há a
transformação da
tonalidade vocal, com
perfeita reprodução da
voz de uma defunta,
transformação que
representa um
notabilíssimo fenômeno
em demonstração da
realidade da
incorporação mediúnica
ocorrida. E, como uma
laringe não pode mudar
de tom sem ter
experimentado uma
correspondente contração
muscular de adaptação,
dever-se-á reconhecer
que, no caso em apreço,
a "transfiguração" se
verificou de modo
especial sobre a laringe
do médium.
19. Observa-se a tal
respeito que, na
hipótese de um real
fenômeno de possessão
mediúnica, dever-se-ia
presumir que tais
processos de
transformação temporária
dos órgãos dos médiuns
nos órgãos homólogos do
defunto comunicante são
obra de um despertar
automático daquela
misteriosa "força
organizadora" que plasma
os seres vivos, "força
organizadora" que, sendo
uma faculdade do
Espírito, sobreviveria à
morte do corpo e, em
consequência, operaria
nos casos análogos aos
expostos, determinando
os fenômenos de
transfiguração dos
órgãos e dos membros dos
médiuns, sem que
necessário fosse
pressupor uma ação
direta, intencional, dos
defuntos comunicantes.
Ao mesmo tempo, os
automatismos de tal
natureza, reprodutores
da voz ou do rosto de um
defunto, implicariam e
demonstrariam a
realidade do fenômeno da
possessão ou
incorporação temporária,
no médium, do Espírito
que se diz presente.
20. O Caso 3 foi colhido
à "Light" e quem o narra
é o Dr. Ellis Powell,
personalidade bastante
conhecida no campo das
investigações
metapsíquicas.
21. Eis o relato: "Há
algumas semanas
achava-me em Preston, e
tive ocasião de entrar
em relação com a
personalidade mediúnica
do ‘doutor Bancroft’, a
qual se manifesta por
intermédio do médium H.
B. Tyler, de Preston, e
a forma por que se
manifesta é o ‘transe’
do médium, com
transfiguração completa
do rosto. O doutor
Bancroft informou ter
sido médico de grande
clientela e falecido no
ano de 1837. Forneceu
detalhes sobre sua
própria carreira
terrena, os quais foram
reconhecidos
verdadeiros,
compulsando-se
publicações médicas do
período indicado. Havia
quatro pessoas presentes
além do médium: minha
mulher, minha irmã,
minha mãe e eu. Não se
fizeram preparativos
especiais. Sentamo-nos
em semicírculo em torno
do médium, sem abaixar
as persianas, de modo
que o sol dardejava no
quarto. Depois de cerca
de dez minutos de uma
conversação de ordem
geral, o médium deu
sinais de passar ao
estado de ‘transe’ e com
isto assistimos a um
fenômeno estupefaciente:
no espaço de três ou
quatro minutos seu rosto
se transformou a tal
ponto que, se não
houvesse assistido por
inteiro ao processo de
transfiguração,
observando-a de perto e
em plena luz, não o
teria mais reconhecido
pelo mesmo indivíduo.
Ocorrido isto, o doutor
Bancroft beijou as mãos
das três senhoras com
estudada cortesia do
século décimo oitavo, e
logo depois iniciou o
seu trabalho de médico
consultado.”
22. Na sequência do
relato, diz o Dr.
Powell: “Tive o cuidado
de nada dizer acerca dos
sintomas de minha
moléstia e da sua
presumida natureza, pois
que ele próprio
descreveria tudo, e com
isso me poria em
situação de poder julgar
se estava ou não
plenamente informado a
respeito. Tomou-me uma
das mãos por alguns
instantes, e logo
começou a descrever, de
modo exatíssimo,
estupefaciente, os
sintomas do meu mal, que
me mantinham sob viva
preocupação. Depois me
dirigiu perguntas, as
quais subentendiam
conhecimento a meu
respeito que ninguém no
mundo podia saber. Em
seguida, assegurou-me
que em mim não existiam
moléstias orgânicas, mas
que se tratava de uma
desordem funcional
acentuada, que descreveu
em termos de fisiologia.
Depois ditou as
prescrições. Tal
consulta de além-túmulo
não foi só grandemente
benéfica a minha saúde,
mas revelou-se
extremamente
interessante como
exemplo magnífico da
capacidade de um
‘Espírito-curador’ para
diagnosticar e descrever
não só o significado
preciso dos sintomas de
um mal, mas as causas
originárias dos próprios
sintomas, sem a mínima
indicação da parte do
consulente..."
23. Na narrativa acima
não se encontram
indicações que autorizem
a presumir que a
transfiguração ocorrida
fosse algo mais que uma
simples transformação do
rosto do médium, por
contração e adaptação
dos músculos faciais.
Não obstante deve-se
admitir que, se não
houve manipulação
ectoplásmica do rosto, o
fenômeno de contração e
adaptação muscular
atinge, no caso em
apreço, a máxima
eficiência realizável
com meios de tal
natureza, visto que o
narrador declara que, se
não tivesse assistido
por inteiro ao processo
de transformação, não
teria mais reconhecido o
médium no personagem que
se achava diante de si.
24. Nota-se que também
neste caso sobressaem
particularidades de
identificação pessoal da
entidade comunicante,
embora não se possa
considerá-las
suficientes, pois se
compreende que, à
distância de um século,
não é possível
identificar de maneira
adequada a personalidade
de um defunto que viveu
modesta e obscuramente.
Não é este, porém, o
tema do presente
trabalho, pelo que
limitar-me-ei a repetir
que o caso em apreço é
um bom exemplo de
transfiguração, em que
se pode supor atingidos
os limites extremos da
deformabilidade
realizável mediante o
muito simples auxílio da
contração e adaptação
dos músculos faciais.
25. O Caso 4 refere-se a
Daniel Dunglas Home e os
famosos alongamentos de
seu corpo, os quais
constituem já um
princípio de manipulação
ectoplásmica do corpo do
médium. Os dois
episódios relatados
foram extraídos de um
longo estudo publicado
no vol. IV do "Journal
of the Society of
Psychical Research", de
julho de 1889.
26. Eis o primeiro
relato, de autoria do
General Boldero: "Em
poucos minutos Daniel
Dunglas Home caiu em
profundo ‘transe’.
Levantou-se e passeou em
volta durante breves
instantes; depois veio a
mim, tomando-me pela
mão, e aludindo a si
próprio na terceira
pessoa, disse: ‘Deverás
observar os pés de Dan
(Home) e verificar que
ele não se move do chão,
e dirás aos outros que
observem atentamente sua
cabeça.’ Assim fiz,
enquanto ao mesmo tempo
se assistia ao
espetáculo do seu corpo
alongar-se até atingir a
um comprimento maior de
nove polegadas ou um pé.
Quis abaixar-me e
controlar-lhe os
calcanhares, que
pousavam regularmente no
soalho. A luz de um bico
de gás iluminava em
cheio a sua pessoa. Era
um espetáculo
extraordinário. O médium
murmurou: ‘Agora
aproxima-te mais.’ Ele
permanecia sempre com a
estatura aumentada de um
pé. Tomou minhas mãos,
levou-as aos dois lados
do próprio corpo, um
pouco acima dos quadris,
onde encontrei um vácuo
correspondente entre o
cós das calças e a
barriga. Assim
continuou: ‘Palpa Dan, a
fim de que fiques
plenamente satisfeito.’
Pousei as mãos sobre
seus flancos e senti que
as suas carnes se
contraíam. Fitei Home:
voltara à estatura
normal! Mas logo renovou
a prova: novamente seu
corpo se alongou, e
senti suas carnes se
distenderem sob minhas
mãos, para depois se
contraírem novamente,
apenas retomada por ele
a estatura normal. Vê-lo
alongar-se e diminuir-se
daquela forma, com os
pés sempre imóveis no
chão, era um espetáculo
estupefaciente...".
27. O relato seguinte,
de autoria do Sr.
Hawking Simpson, refere
também o fenômeno de
alongamento do corpo com
transfiguração
ectoplásmica do rosto.
28. Ei-lo: “No ano de
1868 eu quis investigar
os fenômenos que se
produziam com a
mediunidade de Daniel
Dunglas Home... Em uma
sessão realizada sob boa
luz, tive oportunidade
de controlar o fenômeno
do alongamento e
contração do seu corpo;
e isto repetidas vezes e
em rápida sucessão, no
centro do quarto. Daniel
Dunglas Home estava em
‘transe’, mas falava sem
interrupção. Pus-me
diante dele,
introduzindo os meus pés
sob a ponta de seus pés;
vale dizer que ele
estava com os
calcanhares no soalho e
os próprios pés sobre o
peito dos meus. Depois
coloquei sobre as nossas
cabeças um grande
caderno de música e
entreguei-me à
observação do seu rosto;
ao mesmo tempo Lorde
Crawford (depois Lorde
Lindsay) apalpava-lhe os
músculos e as pernas,
vigiando atentamente a
barriga do médium, que
se elevava lentamente
duas três polegadas
acima da cintura para,
após, voltar ao
primitivo tamanho.
Depois trocamos de
incumbência e eu
encarreguei-me de vigiar
os músculos, as pernas e
as vestes do médium,
porém mais
estupefacientes ainda se
mostraram as
transformações do rosto,
o qual alternadamente se
fazia mais largo e longo
e em seguida muito
menor; enfim, voltava às
dimensões normais. No
primeiro caso seu rosto
parecia aumentar e
adquirir gradativamente
volume em cada uma de
suas partes; depois
também gradativamente se
reduzia, tornando-se
cada vez menor, e os
seus traços diminuíam,
caso em que a pele do
rosto ficava
profundamente contraída
e flácida. Depois disso
foi levitado e vimo-lo
oscilar no ar como um
pêndulo, assim se
transportando até o
divã. Ninguém se lhe
achava próximo. Quando
desceu sobre o divã,
despertou bruscamente e
correu ao jardim onde
foi acometido de
vômitos. Enquanto se
produziam os fenômenos
falou sempre na terceira
pessoa, como se tivessem
estado presentes
diversas entidades
espirituais que o
dirigissem. Com efeito,
elas assim se exprimiam:
"Agora faremos isto e
aquilo outro com Dan...
etc., etc...".
29. Tendo em vista este
último episódio, não
padece dúvida de que, no
caso de Daniel Dunglas
Home, não se tratava de
transfiguração por
contração e adaptação
dos músculos faciais,
mas de um verdadeiro e
adequado processo de
concentração ou
manipulação ou
materialização
ectoplásmica, o que é
sobretudo demonstrado
pela importante
particularidade da pele
do rosto do médium, nos
processos de diminuição
do mesmo rosto, se
mostrar profundamente
contraída e flácida,
indício certo de
subtração de substância
ectoplásmica, em
quantidade considerável,
das tecidos do rosto do
médium.
30. Do ponto de vista do
significado teórico do
fenômeno de
transfiguração, nota-se
uma radical diferença
entre as modalidades com
que ele se produzia com
Daniel Dunglas Home e as
com que se produz quase
sempre com os outros
médiuns, isto é, ao
passo que, com estes
últimos, se observa
quase constantemente que
a transfiguração implica
uma tentativa mais ou
menos bem sucedida de
representar o rosto de
um defunta que se diz
presente, no caso de
Home, ao contrário, é
claro que as
personalidades
mediúnicas operantes se
propunham exclusivamente
transformar o rosto do
médium, variando-lhe as
dimensões, ora
aumentando-as, ora
reduzindo-as
notavelmente, e isto em
correspondência com o
outro fenômeno
simultaneamente operado
do alongamento e redução
do seu corpo.
(Continua na próxima
edição.)