JOSÉ LUCAS
jcmlucas@gmail.com
Óbidos, Portugal
SIT - nova
doença social?
Numa breve
viagem efetuada
em serviço
profissional,
não pude deixar
de constatar o
mundo que me
rodeia, desde o
embarque no
avião, a viagem,
o desembarque,
enfim, as
múltiplas ações
e reações das
pessoas na sua
interação
social.
Confesso que
fiquei
preocupado ao
aperceber-me de
uma nova doença
que afeta a
sociedade
ocidental:
chama-se SIT.
Curiosamente, ao
ler "O Livro dos
Espíritos", de
Allan Kardec,
verdadeira
pérola da
literatura
mundial, onde
está confinada a
parte filosófica
da Doutrina
Espírita (que
não é mais uma
religião nem
mais uma seita,
mas sim ciência,
filosofia e
moral), no seu
capítulo VII,
intitulado "Lei
de Sociedade",
podemos
encontrar
questões
interessantes:
766. A vida
social está na
Natureza?
“Certamente.
Deus fez o homem
para viver em
sociedade. Não
lhe deu
inutilmente a
palavra e todas
as outras
faculdades
necessárias à
vida de
relação.”
767. É contrário
à lei da
Natureza o
isolamento
absoluto?
“Sem dúvida,
pois que por
instinto os
homens buscam a
sociedade e
todos devem
concorrer para o
progresso,
auxiliando-se
mutuamente.”
768. Procurando
a sociedade, não
fará o homem
mais do que
obedecer a um
sentimento
pessoal, ou há
nesse sentimento
algum
providencial
objetivo de
ordem mais
geral?
“O homem tem que
progredir.
Isolado, não lhe
é isso possível,
por não dispor
de todas as
faculdades.
Falta-lhe o
contato com os
outros homens.
No isolamento,
ele se embrutece
e estiola.”
“Homem nenhum
possui
faculdades
completas.
Mediante a união
social é que
elas umas às
outras se
completam, para
lhe assegurarem
o bem-estar e o
progresso. Por
isso é que,
precisando uns
dos outros, os
homens foram
feitos para
viver em
sociedade e não
isolados."
O ser humano,
estimulando a
sua
inteligência,
vai criando e
modificando a
matéria e o
mundo material,
tornando-o mais
agradável para a
sua vida no
quotidiano, que,
por sua vez, se
torna mais
confortável e
mais feliz.
“O homem tem que
progredir.
Isolado, não lhe
é isso possível,
por não
dispor de todas
as faculdades.
Falta-lhe o
contacto com os
outros
homens. No
isolamento, ele
se embrutece e
estiola.” (Allan
Kardec)
Vemos, ao longo
destes últimos
100 anos, um
incremento
fantástico ao
nível
tecnológico,
contribuindo
sobremaneira
para uma maior e
melhor qualidade
de vida do ser
humano.
Curiosamente,
esta tecnologia,
ao invés de
contribuir para
uma partilha
saudável de
vivências entre
os seres
humanos, tem
contribuído para
um uso
desajustado,
levando-o ao
isolamento.
Paradoxalmente,
nestes tempos
que deveriam ser
de alegria, face
ao incremento da
tecnologia, a
sociedade sofre
de grave doença
mortal, a
solidão, mesmo
quando rodeados
de uma imensidão
de pessoas.
Naquele avião
potente, com 200
pessoas a bordo,
meditava
fascinado no
avanço da
tecnologia,
naquele grande
pássaro de ferro
rasgando o ar,
tranquilamente,
e verificava com
alguma tristeza
que, naquela
hora e meia de
viagem, as 200
pessoas iam,
cada uma delas,
imersas no seu
mundo (com
auriculares
ouvindo música
ou outra coisa
qualquer, com
computadores
trabalhando ou
jogando,
agarrados
interminavelmente
aos seus
telemóveis e/ou
agendas
eletrônicas,
dormindo ou
descansando de
olhos fechados),
ao invés de
aproveitarem o
tempo para
conversarem,
fazer novos
conhecimentos,
trocar ideias,
partilhar
opiniões, enfim,
sociabilizarem-se.
Foi aí que me
apercebi da
grave doença,
que se vai
instalando
silenciosamente,
que nos afeta
nos dias de
hoje: a "SIT"
(Solidão,
Isolamento e
Tecnologia).
Se as novas
tecnologias são
uma bênção para
a humanidade, o
seu uso deve ser
efetuado com
parcimônia, de
modo a que o
rumo orientador
de
sociabilização
apontado em "O
Livro dos
Espíritos",
nos itens acima
referidos, não
venha a ser
posto em causa
por este flagelo
que associa a
tecnologia ao
isolamento e à
solidão do ser
humano.