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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 262 - 27 de Maio de 2012

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)


 

Crônicas da vida invisível –
Eu e o meu violino


Cheguei há algum tempo do trabalho com minha filha. Após um banho refrescante e um bom lanche gelado para nós duas, com um súbito impulso fui atrás do meu violino novo, guardado carinhosamente num recanto protegido do meu armário embutido.

Como se algo ou alguém me induzisse, tomei da caixa, tirei-o, namorei um pouco este belo e caprichoso instrumento. Ajeitei-o no ombro segundo algumas aulas on-line que andei garimpando na internet; tomei do arco, com uma decisão e desenvoltura íntima que até certo ponto não faziam muito sentido, porque das últimas vezes em que descrevi os mesmos movimentos, como acontece com todo bom principiante, o resultado foi pífio: da primeira, e por mais que passasse o breu na crina, nem um único suspiro consegui arrancar do contato com as cordas. Da segunda, e depois de passar o breu com menos parcimônia e mais decisão, devo ter conseguido algo próximo a um reles eco do que seja o som do instrumento que, solenemente, recusava um entrosamento, um começo de diálogo que fosse com a sua desajeitada dona. É como se o violino, de sua própria índole, se recusasse a interagir com uma instrumentista tão incipiente. Nobre, solene, altivo, aparenta ser destinado, desde a sua fabricação, apenas aos virtuosos, em estranho paradoxo, nunca a alunos novos!

Mesmo assim, aquela pequena vitória me encheu de um certo entusiasmo. Quando meu marido me ligou, contei para ele como criança eufórica: "Hoje Iohan falou comigo! Enfim! Não está mais mudo! Saiu um som!"; "É?!" – Meu marido, o último dos possíveis admiradores de um violino ou de música clássica, todavia complacente com minha euforia como com uma criança pueril diante do saco de pipocas no cinema, comentou, meio sorrindo, e foi só.

Os que leem habitualmente meus artigos talvez se vejam familiarizados com a história deste violino, que batizei de Iohan em homenagem ao autor do meu próximo livro psicografado, um músico e exímio maestro, falecido de maneira lastimável nas décadas passadas, que me honrou transmitindo via mediunidade a sua linda quanto comovente história.

Trata-se de um romance que saiu de maneira inédita, no tempo recorde de um mês, como nunca me acontecera antes desde que principiei o trabalho com os livros espíritas. A empatia foi imensa, instantânea, com este Espírito amigo, apresentado de forma algo surpreendente pelo meu mentor, num período no qual, concluindo uma série de romances da autoria deste último, realizava um paciente laboratório durante o qual vieram à tona livros como Amparadores do Invisível, já com a participação do Espírito Marcus Licínio, e o último lançamento do ano passado, Ecos na Eternidade, de autoria do Espírito Tarsila, ampliando consideravelmente, de forma agradabilíssima, a participação em parceria de sinceros afetos com que trabalho a partir das dimensões invisíveis.

Passadas, portanto, algumas semanas, durante as quais me entretive com uma multiplicidade de ocupações familiares nas minhas férias profissionais, além de com algumas oportunidades de diálogo via psicografia com Iohan, provavelmente em estágio precedente a outras obras – e obedecendo ao aludido impulso na chegada em casa ainda há pouco –, tomei novamente do violino, como se compelida por esquisita compulsão, lembrando-me de um destes diálogos psicográficos, no qual ele me dizia que tinha vontade de me ensinar o instrumento.

Arrumei-o da melhor forma que consegui sob o queixo... e, surpreendentemente, nos primeiros movimentos de condução do arco, tirei logo um som mais potente, coerente com o que são de fato, num violino, as notas iniciais de treinamento de uma aluna desajeitada!

Não podia acreditar no que me acontecia! Na desenvoltura estranha com que, mais segura, empunhava sem nenhum temor o arco; no modo mais preciso com que ajeitei o violino sobre o ombro, ainda que sem o auxílio da espaleira, que até agora não consegui travar a contento no dorso do violino! E na forma como, deslizando os dedos em cada corda, cheguei mesmo a identificar algumas notas e ensaiar – delícia pura! – o esboço de um adágio, pelo qual sempre fui apaixonada!

Compreendi que é ninguém mais do que Iohan quem está aqui, presente, dando demonstração prática do que afirmara ao me dizer textualmente que tinha vontade de me ensinar violino, e me ver acabar o que comecei, pois que "não fora por um acaso” que eu me sentira compelida a comprar sem mais nem menos este instrumento, em decorrência tanto da nossa empatia quanto de um passado artístico em reencarnações, ou vivências espirituais anteriores, das quais agora não há como me lembrar – senão intuir!

Tenho contado ao meu círculo mais pessoal sobre estas aparentes "coincidências", sincronias e fatos admiráveis dentro das minúcias do dia-a-dia, desde que iniciei a convivência com este Espírito querido da minha alma. E o episódio de hoje, como de si só não bastasse para, de uma percepção pessoal, me deslumbrar ainda uma vez, como incessantemente vem acontecendo, ocorreu após um outro, havido mesmo no decorrer do dia de hoje, e correlacionado a esta conjuntura em particular; e que resumirei a seguir, com grande prazer em poder compartilhar com os leitores estas mostras inequívocas da atuação constante destas companhias enternecedoras que nos oferecem afeto, amor, amizade e parceria nas atividades em prol de uma causa comum.

Desde que comecei a trabalhar no recebimento deste livro, e com o passar dos meses influenciada prazerosamente pelo Espírito autor à aproximação de tudo o que se relacionava com o tema e que, por afinidade, já era do meu gosto, sejam música clássica e o próprio violino, me tomei de um impulso esquisito. Sempre que saía para o comércio ou shopping, olhava vitrines de papelarias e lojas de presentes para ver se não achava uma miniatura qualquer, pequena escultura ou semelhante, de um instrumentista tocando violino, à moda daquelas estatuetas encantadoras de cavaleiros medievais ou de soldados romanos.

Procurava, sem nem saber se existia. Achava mesmo que não. Mas cismei com isso, na esperança de adornar a minha casa com um mimo, um elo afetivo palpável para com o querido músico da vida invisível com quem venho interagindo no labor literário espírita. No entanto, já quase desistia, pois não achava em lugar nenhum, em nenhuma das diversas lojas aleatórias onde já buscara o objeto sem sucesso.

Terminaram as férias. Retornei ontem ao trabalho na Justiça. E hoje, no começo do expediente, para o meu estupor, e sem saber nada desta história para além de que eu recebera de um maestro uma nova obra pela qual me tomei de afeição quase obsessiva, uma espécie de irmã de Espírito – que assim considero em função das vezes em que este tipo de sintonia já se estabelecera entre nós – se aproximou de inopino de minha mesa, dizendo, enquanto empunhava uma caixinha enfeitada: "– Olhe! Comprei para você em Brasília. Acho que vai gostar!...".

Antecipadamente agradecida, tomei da caixinha, sorridente, conversando entusiasmada sobre as novidades das férias. E olhei, sem jamais e sequer poder imaginar o que sairia dali, do embrulhinho feito de forma caprichosa.
Pois lá estava em minhas mãos, ante o meu olhar incrédulo e emocionado, o pequeno violinista decorativo com que tanto vinha sonhando!

Grata! Amor, Iohan e Claudinha Fernanda!



 


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