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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 268 - 8 de Julho de 2012

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com

Brasília, DF (Brasil) 
 

Práticas salutares na condução de trabalhos espíritas


No cotidiano das casas espíritas, nos vemos na condução de diversas tarefas, seja como coordenador, seja como companheiros de trabalho que contribuem para o sucesso da empreitada. Cada ação que vemos no portfólio da casa espírita é fruto do esforço de pessoas articuladas, na construção do trabalho no bem, inspirados no ideal de Jesus.

Por seu turno, o trabalho espírita tem um caráter voluntário, ou seja, a pessoa se apresenta livremente para ali trabalhar e dali pode se ausentar com a mesma autonomia. Isso não implica, entretanto, a falta de compromisso com as tarefas assumidas, ainda que as relações não sejam coercitivas, como em determinados ambientes profissionais. É um arranjo laboral peculiar, que demanda profunda reflexão.

Lidar com voluntários exige todo um tato, uma ciência de saber adequar às demandas da tarefa as características e disponibilidades de cada um da equipe. Pensando nisso, as breves linhas desse artigo pretendem apontar algumas práticas salutares na condução de trabalhos espíritas, que amealhei na vivência em várias casas e ainda, na vivência profissional, e que servem de base para a reflexão dos coordenadores e trabalhadores da casa e da causa e que podem, ainda, se colocadas em prática, fortalecer o convívio fraterno e o respeito mútuo, no eterno exercício da convivência:


1)                ABRA VOLUNTARIADO - ao compor um grupo para uma atividade específica, fora da rotina, não convoque A ou B. Abra voluntariado. Não temos como saber se uma determinada pessoa, sempre calada, acalenta em seu coração o desejo de participar desse ou daquele trabalho e imagine, até, surpreender a todos. Não podemos confiar cegamente na nossa capacidade de julgar as pessoas e seu potencial, nem adivinhar o que as pessoas querem;


2)                REUNIÕES - Reunião tem pauta, que deve ser preferencialmente construída pelos envolvidos anteriormente. Tem horário de início e fim. A reunião serve para se falar e se ouvir, construindo encaminhamentos e deliberações sobre determinadas questões, coletivamente. Boas reuniões dinamizam as tarefas e fortalecem os grupos. Reuniões conduzidas de forma equivocada se tornam um martírio;


3)                REFERÊNCIAS - Seguindo o adágio popular, “repreensões em particular e elogios em público”. Fortalecer o uso da palavra “nós” quando referendando o trabalho e coletivizar sempre as conquistas. Homenagens em público devem evitar comparações e ferir as suscetibilidades, preferindo a injustiça de incluir o que nada fez à situação de esquecimento do trabalhador;


4)                DIVERSIDADE DOS CARISMAS - Respeite a diversidade de cada um, com seus problemas familiares, limitações de diversas ordens, níveis de comprometimento e, ainda, o grau de maturidade na tarefa espírita. A grande magia é orquestrar todas essas diferenças na construção do trabalho no bem. Difícil, mas não impossível, se nos dispusermos a isso;


5)                RESULTADO COM AS PESSOAS - Resultados são importantes, mas levando em consideração as pessoas envolvidas. De pouco adianta um evento bem feito, uma distribuição eficiente de bolsas, se junto disso levarmos discussões e mágoas, atropelando pessoas e sentimento. O trabalho é a prioridade, mas deve sempre se considerar que ele é feito por pessoas e para as pessoas;


6)                PRESTAR CONTAS - Cotizações dos trabalhadores para o financiamento de eventos deve ser sempre objeto de prestação de contas, clara e transparente. Na escolha de fornecedores de vulto, apresente também os critérios que foram usados na escolha desses, para evitar interpretações equivocadas. Essa salutar prática garante um ambiente de confiança mútua na equipe;


7)                PALAVRINHAS MÁGICAS - Por favor, por gentileza, obrigado, com licença, desculpe-me. Palavras mágicas que ensinamos aos alunos na evangelização infantil e que operam verdadeiros prodígios na prática cotidiana, principalmente em momentos de grande tensão;


8)                GRUPO FORTE - o foco nos trabalhos espíritas não é um dirigente forte e sim um grupo forte. O grupo coeso e estruturado forma uma rede resistente às intempéries. A delegação de responsabilidades ao longo do grupo fortalece a todos. O coordenador deve sempre lembrar que, pelas contingências da vida, ele pode se ausentar de uma hora para outra e a máquina tem que continuar girando, coordenada por ele ou por outro;


9)                GESTÃO PARTICIPATIVA - Planejamento de atividades e a sua correspondente avaliação, bem como a tomada de decisões relevantes, devem sempre que possível contar com a discussão no grupo. Nessa discussão encontraremos visões diversas, várias cabeças pensando, o que favorece o processo de construção das tarefas de forma mais eficaz. Além disso, a gestão participativa envolve a todos, fazendo com que cada um se sinta parte da tarefa, fortalecendo o envolvimento e comprometimento;


10)            SEM EXCLUSÕES DISCRIMINATÓRIAS - Critérios como idade, nível de conhecimento doutrinário, tempo de casa etc. devem ser usados com muito carinho quando na segregação de grupos para participação de tarefas. É muito fácil sermos burocráticos e criarmos uma regra de exclusão, sem pensarmos nem bem por quê. Mas uma regra dessas pode matar a motivação para o trabalho, e isso e um bem inestimável;


11)            SENTIMENTOS DIVISORES - Ciúme, inveja e ambição são sentimentos presentes em qualquer grupo humano. Difícil eliminá-los... Mas é possível trabalhar com eles, não os desprezando e buscando agir, pontualmente e globalmente, na mitigação de seus efeitos nas tarefas;


12)            AUSÊNCIAS - A ausência no trabalho tem vários motivos... Alguns reveláveis, outros não. Nessa hora, do coordenador é exigida uma paciência extra para entender o que está se passando e para deixar o ausente à vontade, mesmo que a sua ausência se faça sentida, diante dos compromissos que sempre existem;


13)            PREFERÊNCIAS E DECEPÇÕES - Natural que uma pessoa tenha simpatias e decepções com as outras no decorrer dos trabalhos. É da natureza humana, nas lutas diárias. Mas, de público, devemos evitar essas manifestações, muitas vezes construídas em nosso íntimo, sem reflexos na realidade exterior;


14)            ALARMISMO E GESTÃO DE RISCO - Muitas vezes, como coordenadores, nos colocamos como profetas do apocalipse. Superdimensionamos os riscos e nos vemos afogados diante do medo das coisas darem erradas, transferindo isso ao grupo. A avaliação dos riscos deve ser feita de forma serena, porém conservadora, engendrando as respostas adequadas ao impacto e à probabilidade de uma ocorrência infeliz. Se der errado algo, faz parte do jogo. O mais importante é a consciência tranquila de que nos prevenimos, de maneira razoável;


15)            RESPEITO À FAMÍLIA - Trazer filhos à reunião, não poder comparecer por conta do marido de outra religião, entre outras, são situações cotidianas que exigem nossa maturidade para entender essas peculiaridades e se adaptar a elas. Se a família da pessoa causa embaraços no trabalho, não seremos nós a piorar essa situação;


16)            INTELECTUAL E O BRAÇAL - Supervalorizar o trabalho intelectual em detrimento do trabalho braçal é um hábito infeliz. Ambos têm a sua importância e o trabalho, globalmente, não se faz sem esses componentes. Importante, nos momentos de exaltação púbica, nos lembrarmos dos “invisíveis”, das tarefas ditas menores, que contribuem silenciosamente para o sucesso da casa; e


17)            QUEM CHEGA E QUEM VAI - É preciso valorizar quem chega e a despedida dos que vão. São momentos singelos o “Bem-vindo” e o “até breve”, e marcam a relação da pessoa com o grupo, merecendo, se cabível, até uma pequena confraternização para exaltar a situação. Grupos valorosos são reconhecidos nesses momentos.

São medidas simples, que cotidianamente contribuem para a construção de grupos coesos, operosos e fraternos, verdadeiras oficinas de transformação interior e usinas de amor ao próximo, onde frequentamos 10, 20 anos com gosto e, quando saímos, nos lembramos sempre com muito carinho.

Assim, é fundamental no trabalho espírita pensarmos no grupo, nas suas dificuldades e nas suas relações, pois a nossa ação é sempre em equipe, do lado de cá e do lado de lá, como bem nos demonstra a literatura espírita.



 


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