A. Quem foi Gilberto no
passado?
Gilberto foi no passado
Jean-Marie de Rondelet,
que se tornara amante de
Annette, esposa de seu
amo, Sr. Georges, a
quem ele então servia e
odiava. A indiferença
que ele nutria pela irmã
sofrida e o desprezo
pelo pai azorragado
tinham raízes, pois, no
passado.
(Tramas do Destino, cap.
26, pp. 253 a 255.)
B. Quantos anos Rafael
passou afastado de seu
lar?
Dezesseis anos. Esse foi
o tempo que decorreu
desde o dia sombrio em
que ele saíra de casa
sob o estigma de rudes
incertezas, vencido por
acerbas aflições.
(Obra citada, cap. 26,
pp. 255 a 257.)
C. Dizem que a morte é o
que de pior nos pode
acontecer. O que, na
visão espírita, é pior
do que a morte?
A morte não existe.
Desencarnar significa
reviver. Em verdade,
pior do que a morte é a
persistência no erro, é
a resistência ao bem, é
o cultivo do negro
egoísmo, conservando em
estado de morte aquele
que deveria viver.
(Obra citada, cap. 26,
pp. 257 a 259.)
Texto para leitura
112. Os progressos
de Lisandra -
Reassumindo suas
atividades no Centro
Espírita "Francisco
Xavier", Artêmis e
Hermelinda foram
informadas por Epifânia
quanto ao júbilo do
Mentor, em referência à
forma feliz como
souberam pautar o
comportamento nos dias
lutuosos em que haviam
transformado tristezas
terrenas em alegrias de
imortalidade. Com o
objetivo de estimulá-las
na consecução do
programa renovador da
caridade, a médium
informou-as sobre a
presença de Natércio nas
tarefas recém-criadas na
Fazenda. Quando os
homens compreenderem,
afirmando-o pela
vivência, que nunca
estão a sós, mas sempre
rodeados de Entidades
que se lhes assemelham
e com eles se sintonizam
pela afinidade mental de
gostos e atitudes, sem
dúvida adotarão outros
hábitos de raciocínios,
aspirações e
comportamentos, a fim de
experimentarem e
manterem superior
relacionamento
espiritual, fruindo
disso abençoadas
alegrias, experiências
de paz e felicidade,
porque se alçarão
intimamente a situações
muito diversas das que
lhes são habituais. As
notícias de Lisandra
eram promissoras. A
jovem, não obstante em
processo de recuperação
lenta, dava mostras de
singular renovação. Além
de participar dos
trabalhos espirituais,
lia, agora,
espontaneamente, "O
Evangelho". Estimulada
pela enfermeira, com
quem repartia apreensões
e receios, começou a
meditar nas lições do
Senhor, submetendo-se
ao rigoroso tratamento
com humildade e esforço.
Sob a custódia de
Adelaide e Natércio, com
os sucessivos
tratamentos a que era
conduzida quando em
parcial desprendimento
pelo sono, se liberava
da angústia, e sem a
constrição de Ermínio
Lopez, que recebia
cuidados afetuosos,
experimentava menor
tensão, desaparecendo as
crises de epilepsia
totalmente. Não
defrontando o adversário
de sua paz, diminuíram
os pavores e as fugas
psíquicas, embora
existissem outros
Espíritos que, por lhe
haverem sofrido o jugo
ou o desdém, a
perseguição ou o
sarcasmo, insistiam na
cobrança. Longa seria,
porém, a senda da
ascensão para a
enferma, a quem
Natércio conscientizava
das responsabilidades
assumidas,
apresentando-lhe os
recursos que ela poderia
investir, para
liberar-se quanto antes
da difícil situação. O
Mentor Espiritual
mostrou-lhe que ela
poderia, na conjuntura
expiatória em que o
sofrimento diminuía,
optar por protelar
parte dos débitos
restantes ou pelo
imediato resgate deles.
(Cap. 26, pp. 251 a
253)
113. Rafael recebe alta clínica -
Lisandra optou pela
ascensão e, com a visão
dilatada, considerando
então os acontecimentos
já do ponto de vista
espiritual, aquiesceu em
receber,
espontaneamente, novas
rudes provanças. Ela já
não se evadia à
consciência de culpa,
nem se justificava com
a frivolidade pelos
erros cometidos. Sincero
arrependimento, isento
da ideia pessimista de
infelicidade, deu-lhe
maiores dimensões aos
imperativos de expiação
e ressarcimento.
Evidentemente, a boa
disposição não anulava
os camartelos da saudade
da família no espírito
sofrido. O conforto da
fé e a presença da
caridade cristã de que
era objeto impediam,
porém, que a revolta e a
mágoa lhe tisnassem as
esperanças, fazendo-a
mergulhar ainda mais no
poço do desespero e do
azedume, de que saía
agora para a largueza da
planície em sol da saúde
mental. Lisandra já se
interessava pelos demais
pacientes e, quando seu
estado o permitia,
acompanhava Lisabete,
procurando ser útil. Do
Leprocômio, as notícias
de Rafael eram
igualmente auspiciosas:
ele melhorava a olhos
vistos. A hanseníase
regredia e as
deformações minoravam.
Todos lhe abençoavam a
amizade espontânea, o
interesse fraternal com
que se preocupava pelos
demais. Um ano após a
viagem de Lisandra,
Rafael teve alta
clínica. A notícia o
aturdiu. O Dr. Armando
Passos agira com
prudência, para evitar a
surpresa de uma
desilusão. A família foi
notificada pelo médico
em júbilo, que se
comprometeu a acompanhar
o amigo de volta ao lar,
produzindo nas almas
simples e sinceras uma
inaudita emoção de
felicidade. Gilberto,
apesar de feliz com a
notícia, deixou-se
apossar de terrível
angústia íntima que
procurou dissimular.
Naquela mesma noite, no
Centro Espírita,
enquanto Epifânia
atendia os sofredores
que lhe buscavam o
concurso espiritual, com
sincera humildade o moço
relatou o drama à
médium, sem omitir os
sentimentos que nutria
pelo pai e dos quais se
envergonhava,
rogando-lhe orientação e
ajuda. Epifânia não se
furtou a confortá-lo,
pois sabia ser ele a
reencarnação de
Jean-Marie de Rondelet,
que se tornou amante de
Annette, esposa de seu
amo, Sr. Georges, a
quem ele então servia e
odiava. A médium,
telementalizada por
Natércio, elucidou,
dizendo-lhe: "A
experiência carnal numa
família constitui
ensancha de aprendizagem
e reparação. A
indiferença que você
nutre pela irmã sofrida
e o desprezo pelo pai
azorragado são
procedentes, embora não
justificáveis; provindos
do passado próximo,
devem ser sanados agora,
ante a medicação
oferecida pelo
Espiritismo. Você tem
sabido valorizar o
tempo e lutar contra as
tenazes da inferioridade
que teimam por puxá-lo
para baixo, enquanto as
esperanças do Senhor o
impelem para cima. Não
decaia neste momento.
Refugie-se na oração e
veja o genitor com os
olhos da piedade... A
renovação que ele se
impôs e as dores
superlativas que
sofreu, estoico,
credenciam-no, agora, ao
seu amor. Antes,
merecia já a sua
devoção e afeição
filiais, pela gratidão
que lhe deve ao corpo
sadio com que marcha
para o futuro... Hoje,
adicione o respeito
pelas lutas que ele
travou, as renúncias e
angústias a que se
impôs, e o amor
santificado lhe
substituirá a
melancolia evocativa do
lúgubre passado..."
(Cap. 26, pp. 253 a 255)
114. Rafael
retorna ao lar -
Epifânia fez breve
pausa, colocou
fraternalmente a destra
sobre o ombro do rapaz,
refundindo-lhe as
energias pelo toque
direto, e concluiu:
"Diminuem as
responsabilidades que
você abraçou com
nobreza em relação aos
familiares. Todavia, tal
compromisso – de que
você se libera em parte,
com o retorno do genitor
– não cessa, antes se
estende, devendo você,
agora, assumi-lo em
relação a outrem..."
Gilberto corou,
compreendendo a
insinuação, e agradeceu
emocionado os
ensinamentos recebidos
da médium. Informou, em
seguida, que agora
poderia consorciar-se
com Tamíris, porque,
estando o pai em casa,
sua ausência teria
então menor efeito
negativo. A aura
psíquica, a afetividade
espontânea e o interesse
amigo da médium,
telecomandada por
Natércio, magnetizaram o
jovem que, ao influxo
dessas energias
benéficas, refez-se,
retirando-se renovado.
No dia convencionado,
Dr. Armando Passos e
senhora conduziram o
ex-hanseniano de volta
ao lar. Cândido e esposa
o aguardavam,
participando dos júbilos
familiares. E Epifânia,
convidada por Artêmis,
compareceu, levando
festivo bolo
comemorativo. A chegada
do chefe da casa foi
emocionante!...
Dezesseis anos se haviam
passado desde o dia
sombrio em que ele saíra
sob o estigma de rudes
incertezas, vencido por
acerbas aflições.
Naquela oportunidade, os
pequenos sinais
exteriores retratavam a
hanseníase do espírito,
ao passo que agora as
expressivas marcas e
mutilações da
enfermidade orgânica
traduziam a liberação
de todo o mal drenado da
alma... Após as
saudações afetuosas e os
abraços cordiais, Rafael
não pôde ocultar o
sentimento de saudade
pela ausência da filha.
Artêmis percebeu-lhe a
sombra da tristeza na
face e apressou-se a
dizer: "Na glória da
nossa redenção,
continuemos convertendo
as tristezas e amarguras
da Terra em esperanças e
alegrias que um dia
fruiremos na
Espiritualidade..."
Essas palavras,
inspiradas por
Adelaide, produziram o
efeito pretendido. Ato
contínuo, a esposa de
Rafael pediu que
Epifânia expressasse por
eles as gratidões e os
júbilos ao Senhor pela
concessão com que Ele
enriquecia suas vidas,
aduzindo: "Os
verdadeiros cristãos não
podem nunca se olvidar
da gratidão,
especialmente às fontes
sublimes da Misericórdia
Divina, na hora da
alegria. Na lição dos
dez leprosos curados,
jamais nos esqueçamos de
que apenas um voltou a
Jesus para agradecer..."
(Cap. 26, pp. 255 a
257)
115. O êxito
requer perseverança,
continuidade, labor
- Epifânia
concentrou-se e, pela
psicofonia, Natércio se
fez intermediário de
todos, na oração
refazente. Quando esta
terminou, pairavam na
psicosfera, saturada de
harmoniosas vibrações de
difícil definição,
dúlcidos e blandiciosos
eflúvios de reconforto e
revigoramento
espiritual. No silêncio
que se seguiu, todos
repassavam mentalmente
as lutas travadas e a
presença da ajuda
celeste, a par dos
resultados felizes, e
sentiam que as dores
suportadas não eram
preço demasiado ante
tantos júbilos. Com a
sabedoria que lhe é
peculiar, o Instrutor
asseverou: "Somos
viandantes da infinita
jornada dos séculos...
Não nos encontramos
juntos pela primeira
vez. Nossos passos
cruzaram-se
anteriormente,
redescobrindo uns as
pegadas de outros na
mesma senda... Até
agora, bem pouco
aproveitamos das
concessões superiores
do Senhor de nossas
vidas. Postergamos a
redenção, fascinados
pela ilusão; cedemos à
glória transitória a
coroa da felicidade
permanente; preferimos a
asfixia dos vales
estreitos à atmosfera
pura dos elevados
montes; por tais razões,
embora a ânsia de
liberdade, debatemo-nos
no presídio das
limitações que
mantivemos; sonhando com
os céus transparentes e
luminosos, vivemos em
charneca sombria e
pesada... Novamente
chega até os nossos
ouvidos a voz de Jesus
chamando-nos, em doce
entonação, ressumbrando
oportuna advertência. A
chancela da aflição nos
assinala o cerne da
alma, e o Seu bálsamo
nos diminui a inclemente
ardência, acalmando-nos.
Pelo que mais
aguardamos? Até quando
Ele esperará pelo
nosso teimoso adiamento
de adesão definitiva à
verdade?" Após ligeira
pausa, que todos
aproveitaram para
meditar sobre as
palavras do Instrutor,
este prosseguiu: "Somos
unânimes em identificar
os gravames e os
insucessos, reclamar
contra os erros e as
dores; no entanto, quão
pouco temos proscrito a
insensatez e as
justificativas indébitas
do campo das nossas
realizações! Este é para
nós um momento muito
valioso, de profunda
significação. A terra
ingrata e ardente,
perfurada sem desânimo,
retribui a insistência
com débil filete de
água, que se converte em
fonte generosa. As
sombras densas, em
conjugação teimosa, não
apagam flébil lamparina.
Letra a letra se compõe
o livro nobre. Passo a
passo o viandante vence
a distância. Nenhum
milagre, nem feito
prodigioso. Todo
ministério ditoso impõe
perseverança,
continuidade, labor bem
dirigido, a fim de
lograr êxito". E, após
diversas outras
considerações, o
Instrutor aduziu: "Quem
se entrega a Jesus e
segue-lhe os
ensinamentos encontra
meios e forças para o
soerguimento redentor.
Diz-se que a morte é o
que de pior nos pode
acontecer. Para nós,
todavia, desencarnar
significa reviver. Em
verdade, pior do que a
morte é a persistência
no erro, é a resistência
ao bem, é o cultivo do
negro egoísmo,
conservando em estado de
morte aquele que deveria
viver". (Cap. 26, pp.
257 a 259) (Continua no próximo
número.)