A. Cândido teve no
passado algum
relacionamento com
Rafael?
Sim. Cândido foi uma de
suas vítimas no passado.
Ele sofrera-lhe, à
época, rude perseguição
que resultou em morte
impiedosa, mas não
agasalhou o desejo da
vingança, liberando-se,
por sua vez, da insânia
passada em hostes
bárbaras, quando da
invasão da Europa.
(Tramas do Destino, cap.
27, pp. 263 a 265.)
B. O matrimônio na Terra
é precedido de algum
compromisso de ordem
espiritual?
Evidentemente.
Compromissos de
sublimação, dor,
reajustamento e sombra,
cuja violação sempre
acarreta consequências
penosas para os
consortes, precedem à
união dos corpos. Não se
deve nunca postergar o
exame da
responsabilidade na
construção da família.
Os filhos, a
possibilidade de
recebê-los, convém
merecer cuidadoso exame
dos candidatos ao
matrimônio, que não se
devem deixar envolver
pelas modernas teorias
anticoncepcionais,
engendradas pelo egoísmo
e pelo utilitarismo, com
respaldo na
irresponsabilidade do
dolce far niente,
sob a desculpa
injustificável da
explosão demográfica.
(Obra citada, cap. 28,
pp. 269 e 270.)
C. O lar tem algum papel
relevante na construção
de um mundo melhor?
Sim. O matrimônio é
excelente oportunidade
para a elaboração da
família, a construção da
sociedade. No lar
encontram-se os fatores
causais do mundo melhor
ou desafortunado do
futuro, conforme a
diretriz que se
estabeleça para a
família.
(Obra citada, cap. 28,
pp. 270 a 272.)
Texto para leitura
116. É preciso
avançar, sem olhar para
trás - O Cristo
pairava naquele grupo de
almas afeiçoadas ao
Evangelho. Todos
provinham de
experiências aflitivas
em que temperaram o
ânimo nos altos-fornos
dos testemunhos bem
vividos, compreendendo,
desse modo, as reais
finalidades da
reencarnação. O
mergulho na carne não
constitui,
exclusivamente, uma
punição, processo de
resgate de débitos, mas
também santa
oportunidade de
crescimento e
autorrealização. O corpo
é patrimônio divino de
que nos devemos utilizar
com respeito,
consagrando-o aos
misteres enobrecedores
aos quais se destina.
Instrumento de ascensão,
é também campo feliz,
quando amparado pelo
amor, para efusões
ditosas, por cujo
intermédio a
paternidade estreita a
vida nos braços da
redenção, facultando-se
aos desafetos
reencontros e
reequilíbrios que os
fazem amparar-se
mutuamente,
restabelecendo vínculos
despedaçados e
reestruturando
realizações em soçobro.
Na família Ferguson, o
sofrimento abriu as
áreas de semeação, em
que o arado das
expiações e das
provações sulcou a terra
adusta para a
sementeira divina do
Evangelho da Vida.
Rafael, realmente
vitorioso sobre si
mesmo, guardava na face
e no corpo os sinais e
as mutilações das
batalhas que tivera de
travar. Quando o homem
mau se decide à bondade,
é ardente na
recuperação do tempo
malbaratado e na
redenção de si mesmo.
Tudo investe e nada teme
até o encontro marcado
com a consciência
liberada. "O reino dos
céus deve ser tomado de
assalto", porque, em
modorrenta decisão,
desperdiçam-se
oportunidades antes de
se colimar a meta. É
preciso, pois, que os
discípulos do Consolador
decidam-se, sem "olhar
para trás", ao avanço
que pretendem
empreender. Era o que
ocorreu com Rafael, que
não malograra apenas em
Dax, como Sr. Georges,
pois que, antes dessa
existência, estivera
como governante mais
arbitrário decidindo
destinos na velha
fortaleza que se
destaca, ainda, sobre a
cidade... Volvendo aos
mesmos sítios, para
recuperar-se, fracassou,
agravando mais ainda
suas responsabilidades,
em face dos novos
delitos que o tornaram
inditoso precito. (Cap.
27, pp. 261 e 262)
117. O caso
Artêmis-Rafael se aclara
- Em desdobramentos
naturais pelo sono,
Rafael recordava os
deveres a que se devia
impor e fixava na
consciência atual o
impositivo do trabalho,
a fim de que as
realizações
beneficentes
conseguissem diminuir as
consequências aziagas
dos disparates morais e
desaires criminosos em
que se envolvera
variadas vezes. Por
vezes, Adelaide e
Natércio conduziram-no
aos sítios de desdita
nas mais baixas esferas
espirituais, onde
cômpares de antigas
loucuras padeciam,
carecendo de socorro.
Vítimas das
circunstâncias,
apresentavam-se
enlouquecidos pelo ódio
que os comburia,
dementados pela
monoideia de vingança
em deformidades
perispirituais
estarrecedoras, como
decorrência das próprias
construções mentais. O
antigo senhor da
fortaleza sombria
atemorizava-se,
formulando projetos, sob
a inspiração do Cristo,
com olhos postos no
futuro. Do passado,
acompanhava-o Artêmis,
que lhe fora esposa fiel
durante as mais
arbitrárias imposições
da selvageria de que era
objeto, e perseverava,
constante, procurando
atenuar os males que
perpetrava, como
cireneia bondosa junto
aos infelizes e por eles
intercessora, quando a
cidade pertencia ao
Viscondado de Béarn, nos
idos do século XIV,
tempo em que a fortaleza
fora levantada. A dor
sublimada içara-a à luz,
enquanto o marido
mergulhara no abismo,
aonde ela foi buscá-lo
para erguê-lo na
presente encarnação,
nele colocando, pelas
mãos de Cândido, uma de
suas vítimas do passado,
a mensagem libertadora
do Espiritismo. É da lei
que a vítima socorra o
agressor, porque a
claridade mergulha no
fosso para clareá-lo e o
auxílio sempre é
proporcionado por quem
se encontra em posição
melhor e mais feliz.
Cândido sofrera-lhe, à
época, rude perseguição
que resultou em morte
impiedosa, mas não
agasalhou o desejo da
vingança, liberando-se,
por sua vez, da insânia
passada em hostes
bárbaras, quando da
invasão da Europa.
Progredindo e emulado
pelo amor, não tivera
dificuldade em aceitar a
Revelação Espírita. Ao
ensejo dos sacrifícios
de Artêmis, em Dax, no
passado medieval,
Hermelinda fora sua irmã
dedicada e a substituíra
pelo matrimônio imposto
por Rafael, após a
desencarnação da
primeira, sucumbindo
também sob os maus
tratos e imposições do
caprichoso e infeliz
esposo. Renascera agora
para ajudar,
vinculando-se pela
consanguinidade ao
antigo verdugo e
voltando a ser a irmã
incomparável da cunhada.
A programática dos
mapeamentos
reencarnatórios examina
os antecedentes e as
possibilidades
ajustáveis para os
misteres elevados,
quando estão em jogo
tentames relevantes de
grupos espirituais em
processo redentor.
Foram, portanto, – e
sempre o são –
conjugados esforços,
examinadas
circunstâncias, a fim de
que o desertor do dever,
o defraudador, não tenha
como eximir-se à
responsabilidade da
refrega. (Cap. 27, pp.
263 a 265)
118. O trabalho de
Rafael - O
ex-hanseniano não
passaria despercebido
onde se apresentasse,
tal a inconfundível
expressão facial e as
mutilações nos dedos.
Receou, pois, aparecer
no Centro, explicando
temer ferir a
sensibilidade do próximo
e expor os familiares a
sofrimentos e
humilhações
desnecessárias. Artêmis
e Hermelinda
demoveram-no, contudo,
dessa ideia, após
ouvirem a sempre
carinhosa e devotada
Epifânia. "Se aqui não
viermos, para onde
iremos?", considerou a
médium, e Rafael
aquiesceu, passando a
frequentar o Núcleo,
vencendo o
constrangimento inicial
e reencontrando a
naturalidade, no que os
confrades o auxiliaram.
Na Casa Espírita, os
homens devem valer pelos
seus requisitos
interiores, jamais
pelas lantejoulas e
aparatos externos. A
caridade da discrição
nunca deve ser esquecida
no culto das realizações
cristãs. A crítica
mordaz, a censura azeda,
a observação infeliz não
podem receber acolhida
onde se cultiva a
mensagem do Evangelho. A
fraternidade na palavra
abre os braços para o
posicionamento do
coração e a atitude da
mente, em ação
benemérita. Onde se
agasalha a parasitose
moral, não vigem as
medidas profiláticas do
espírito do Senhor. No
"Francisco Xavier", as
atividades e os estudos
doutrinários não
ofereciam ensejo à
ociosidade. Assim, o Sr.
Ferguson encontrou ali
estímulos para
prosseguir na tarefa,
engajando-se em serviço
modesto, nos dias em que
a esposa e a irmã se
apresentavam para as
realizações a que ali se
entregavam. A
mediunidade de
Hermelinda desdobrava-se
no ministério
desobsessivo e também
na tarefa dos passes, em
que ajudava ao lado de
Artêmis, que ganhou a
alcunha delicada de
"irmã doçura" pela forma
carinhosa com que
recebia todos. Rafael
não esqueceu também os
seus irmãos
hansenianos. Uma
compulsão de saudade e
amor tisnava-lhe a dita.
Receava pelo
prosseguimento das
realizações do "Clube do
Otimismo". Ofereceu-se,
assim, para ajudar nos
trabalhos da Colônia,
dois dias da semana,
indo cedo e voltando ao
entardecer. Dr. Armando
concordou, eufórico, com
a oferta, e desde então,
nos dois dias dentre os
que não trabalhava na
Casa Espírita, o
ex-leproso da alma
adentrava-se pela
Colônia de agonia, para
ajudar, em nome de
Jesus, retribuindo, em
parcelas de amor, quanto
recebera em bênçãos
eternas de felicidade.
(Cap. 27, pp. 265 a
267)
119. Gilberto e
Tamíris se casam
- Pairava na família
agora uma psicosfera de
paz, conquistada a preço
elevado de silêncios,
sacrifícios e dedicação
pelo próximo. As
notícias de Lisandra
eram auspiciosas. A
jovem, a instância de
Lisa, cooperava na
enfermagem auxiliar, o
que lhe constituía
terapêutica valiosa,
confiando poder retornar
ao aconchego da família
na primeira
oportunidade. Suas
cartas estavam agora
repassadas de esperanças
e otimismo. Lisandra
parecia haver
ressuscitado,
readquirindo forças
para prosseguir nos
cometimentos que lhe
estavam destinados. Seis
meses após o retorno de
Rafael, Gilberto e
Tamíris se consorciaram,
numa cerimônia pura e
simples. Adelaide estava
feliz e, quando se fazia
a recepção de confrades
e amigos mais chegados
no lar da noiva, ela
suplicou, em comovida
oração, bênçãos e amparo
divino para os
consortes, tendo em
vista a gravidade com
que o Plano Espiritual
considera os
esponsalícios,
especialmente quando
realizados entre aqueles
que se identificam com
os postulados da
Doutrina Espírita.
Sabemos que precedem à
união dos corpos
compromissos de
sublimação, dor,
reajustamento e sombra,
cuja violação sempre
acarreta consequências
penosas para ambos os
consortes. Para se
evitarem os desaires e
choques que,
naturalmente, ocorrem
numa convivência a dois,
o companheirismo durante
o noivado é de
fundamental
importância, facilitando
maior e melhor
identificação pessoal,
bem como ensejando a
reeducação dos futuros
nubentes, que se
compreenderão desde
logo, sem as surpresas
que decorrem das uniões
precipitadas. Os
nubentes devem saber
também que a progenitura
é decorrência natural da
comunhão física, através
do que retornam aqueles
com os quais todos nos
encontramos
comprometidos, a fim de
facultar-lhes o cadinho
das abençoadas
experiências terrenas.
Não se deve nunca
postergar o exame da
responsabilidade na
construção da família.
Os filhos, a
possibilidade de
recebê-los, convém
merecer cuidadoso exame
dos candidatos ao
matrimônio, que não se
devem deixar envolver
pelas modernas teorias
anticoncepcionais,
engendradas pelo egoísmo
e pelo utilitarismo, com
respaldo na
irresponsabilidade do
dolce far niente,
sob a desculpa
injustificável da
explosão demográfica.
(Cap. 28, pp. 269 e
270)
120. A
programação dos destinos
- Importa considerar
também que a ausência de
descendentes pelo corpo,
decorrente de abusos
pretéritos que
lesionaram o perispírito
e impossibilitam a
fecundação, ou geram a
esterilidade, não isenta
ninguém da paternidade
ou maternidade
espirituais, levando os
casais à condição de
pais abnegados de filhos
levados à orfandade
social, com o que se
credenciam à reconquista
dos valores malbaratados
e das bênçãos da
procriação outrora
vilipendiada. Gilberto e
Tamíris estavam
conscientes quanto aos
deveres e funções
decorrentes do
matrimônio. A
programação dos destinos
– com exceção dos pontos
capitais de cada vida –,
ajustada aos impositivos
redentores
indispensáveis à
readaptação das ações
anteriores, sofre
sucessivas alterações
resultantes do
comportamento, das
realizações, conquistas
ou prejuízos a que
estamos sujeitos. No
tracejamento dos
compromissos humanos,
são previstas várias
opções, em razão das
atividades e injunções
que se criam durante a
vilegiatura corporal.
Construtor do destino,
cada um o altera
consoante lhe apraz,
desde que não se
encontre na expiação
irreversível, que
funciona como cárcere
compulsório do
defraudador renitente
que engendrou, por
teimosia ou revolta, a
constrição que o
reeduca. Como ninguém se
encontra destinado à
dor, ao abandono, à
infelicidade, as
ocorrências afligentes
são-lhe recursos
salvadores de que se
deve utilizar para
crescer e aprimorar-se
em espírito. De igual
modo, as manifestações
propiciatórias de
felicidade, saúde,
inteligência, afetos,
independência econômica,
longe de constituir
prêmio ao merecimento,
revelam-se como
empréstimo para
investimentos
superiores, de que todos
são convocados à
prestação de contas,
posteriormente. A vida
física constitui-se de
oportunidades, valiosas
todas, com que o
espírito se defronta,
para seu aprimoramento
e ascensão. O matrimônio
é, pois, oportunidade
para a elaboração da
família, a construção da
sociedade. No lar
encontram-se os fatores
causais do mundo melhor,
ou desafortunado, do
futuro, conforme a
diretriz que se
estabeleça para a
família. Mesmo
considerando a vasta
cópia de Espíritos
necessitados de
reencarnações
compulsórias, nenhum
deles, entretanto,
retorna ao mundo carnal
para promover a
desordem, estimular a
anarquia, fomentar a
anticultura ou a
perversão de valores. Ao
contrário; a vida
material representa
ensejo para que recebam
diretrizes, educação,
disciplina, orientação
com que aplainem as
arestas do primarismo,
almejem melhor posição
moral, aspirem a mais
amplas concessões da
vida. Não fossem as
dores acerbas no lar
dos Fergusons, e os
ímpetos de violência, as
induções criminógenas
remanescentes do passado
tê-lo-iam comprometido
muito mais, conspirando
contra a felicidade que
agora se permitiam
anelar, antegozando-a
já em larga escala.
Afeiçoando-se ao bem do
próximo, descobriam a
técnica de fomentarem o
próprio bem. (Cap. 28,
pp. 270 a 272)
(Continua no próximo
número.)