Damos sequência nesta edição
ao
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. O caso XVI apresenta,
além da visão panorâmica
dos episódios passados,
um fato inteiramente
novo. Que fato é esse?
O Espírito comunicante
disse que passaram
diante dos seus olhos,
em traços rápidos e como
que em panorama, os
acontecimentos de sua
vida inteira, seguidos
de outro panorama, onde
se delinearam todas as
circunstâncias, não
ainda vividas, do resto
dessa mesma existência,
tal como deveria
desenrolar-se caso ele
houvesse escapado à
morte e continuado a
viver até o termo
natural de sua vida
terrena.
(A Morte e os seus
Mistérios. Casos de
"visão panorâmica". 3ª
categoria: Caso XVI.)
B. Os fatos de visão
panorâmica, no tocante
aos desencarnados,
verificam-se em que
momento?
A experiência comprova
que a "visão panorâmica"
pode produzir-se por
ocasião da morte ou na
vida espiritual, antes
ou depois do período de
inconsciência ou de
sono.
(Obra citada. Casos de
"visão panorâmica". 3ª
categoria: Caso XVII.)
C. Que descrição fez do
plano espiritual o
escritor George Elliot?
Segundo ele mesmo disse,
foi extraordinário seu
despertar no ambiente
espiritual, onde os
aromas balsâmicos são de
natureza indescritível e
ultrapassam, em
suavidade, os poderes da
compreensão humana.
“Jamais vivente algum
poderá formar concepção
remota desta verdade. É
simplesmente impossível
sugerir uma pálida ideia
desta existência
maravilhosa e torná-la
acessível à mente dos
encarnados”, eis as
palavras por ele ditas.
(Obra citada. Casos de
"visão panorâmica". 3ª
Categoria: Caso XVIII.)
Texto para leitura
335. Caso XVI - Num
opúsculo intitulado How
I became a Spiritualist
(Como me tornei
espiritualista), James
Smith, conhecido
escritor espírita, conta
como ele foi
progressivamente levado
a se interessar pelas
experiências mediúnicas.
Certa noite, ele
deixou-se convencer a
assistir a uma sessão
espírita em que se
manifestou seu próprio
irmão, falecido anos
atrás.
336. Ele assim relatou o
episódio: "O médium,
mergulhado em profundo
sono, volta-se para mim
e diz: - Ao seu lado
está um jovem
extremamente parecido
consigo. Ele se mostra a
mim como se saído da
água e afirma ser seu
irmão. Quando tomou
posse do médium, o
recém-vindo descreveu
sua morte por
afogamento,
acrescentando que, no
momento supremo,
passaram diante de seus
olhos, em traços rápidos
e como que em panorama,
os acontecimentos de sua
vida inteira, seguidos
de outro panorama, onde
se delinearam todas as
circunstâncias, não
ainda vividas, do resto
dessa mesma existência,
tal como deveria
desenrolar-se caso ele
houvesse escapado à
morte e continuado a
viver até o termo
natural de sua vida
terrena".
337. A última afirmativa
do Espírito comunicante
quer dizer que na "visão
espiritual" desfilaram,
em panorama, os
acontecimentos do resto
de sua existência, a
mesma que deveria
realizar-se caso não
sucedesse o acidente
fatal e ocasional de
morte por asfixia. A sua
natureza sugere
considerações novas e
interessantes sobre o
tema do livre-arbítrio,
do destino e da
fatalidade,
considerações que
Bozzano se absteve de
formular, em vista da
insuficiência do
equilíbrio das bases
sobre as quais se
apoiam.
338. Contudo, do ponto
de vista da abstração
filosófica – que permite
dela nos afastarmos, à
vontade, no campo das
ideias – tal indício de
uma nova concepção do
ser, em relação ao
fatalismo, merece,
segundo ele, ser
considerado em face dos
horizontes inexplorados
que permitem ao pensador
entrever.
339. Caso XVII - A Srta.
Lillian Whiting,
conhecida autora em
assuntos espíritas,
relata, na Light,
interessante sessão
realizada por uma de
suas amigas com a
Senhora Keeler, médium
com quem o Dr. Hodgson
realizou longa série de
experiências. A essa
amiga se manifestou uma
entidade desencarnada
pouco antes, a quem ela
perguntou quais haviam
sido suas primeiras
impressões no mundo
espiritual.
340. São as seguintes as
palavras da Srta.
Whiting: "A entidade se
lembra de ter
atravessado um período
de longa inconsciência.
Depois do que despertou
subitamente ao som de
uma voz que conhecia, ao
que se seguiu música
paradisíaca, tudo tão
surpreendente de maneira
a não poder ela
compreender como essa
música e voz se fizessem
ouvir no seu aposento.
Então, ela viu surgir
uma árvore de luz que,
gradualmente, se tornara
resplandecente. A
seguir, apareceram-lhe
rostos de numerosas
pessoas queridas, gente
falecida havia muitos
anos. Diante de tal
espetáculo, foi tomada
de surpresa e, quase
apavorada, se perguntava
o que podia ter
acontecido e qual o
significado de tudo
isso. De repente,
foi-lhe revelado que
acabara de passar pela
transformação a que as
vivos chamam morte.”
341. Nesse momento, a
relatora reproduz as
palavras exatas da
entidade, que se
exprimiu da seguinte
forma: "Num relâmpago,
tudo o que eu fizera
durante a vida e tudo o
que eu realmente havia
sido me foram mostrados
em panorama
perfeitamente igual ao
que se espera na hora do
Juízo, porque,
realmente, na visão que
sucessivamente se
desenrolava diante de
mim, nos êxitos e
insucessos de minha
vida, eu avaliava
exatamente o Bem e o Mal
que estavam contidos
nela."
342. Neste caso, a
"visão panorâmica" não
se produziu na ocasião
da morte, mas já na vida
espiritual, depois do
período de inconsciência
ou de sono. E o
desenrolar da visão está
descrita pela entidade
como a "hora do Juízo",
hora em que a
significação intrínseca
moral e real das ações
praticadas na existência
terrena se revela
inexoravelmente e é
desvendada ao
protagonista
desencarnado.
343. Observa Bozzano que
todos estes detalhes
estão de acordo com as
doutrinas das escolas
ocultistas no que se
refere à distinção
estabelecida entre a
"visão panorâmica'' que
se produz na iminência
da morte e a que se
produz já na existência
espiritual. A primeira é
uma síntese
recapitulativa; a
segunda tem o caráter de
"julgamento com a sua
sanção", que se
desenrola
automaticamente em
virtude da natureza
intrínseca do Espírito e
que é o prelúdio de seu
destino, ou "gravitação"
do Espírito para a
esfera a que está
destinado; isto se
produz unicamente pela
aplicação do princípio
que governa o universo
físico e psíquico: a lei
das afinidades.
344. Caso XVIII – Este
caso foi colhido nos
Proceedings of the S. P.
R. Sabe-se que, em
certas sessões em que
operava como médium a
Sra. Piper,
manifestou-se uma
entidade que afirmou ser
o conhecido escritor
inglês George Elliot.
Assim, na sessão de 5 de
março de 1897, Elliot
descreve ao Dr. Hodgson
o seu despertar no mundo
dos Espíritos:
"Experimentei,
repentinamente, a mais
bela a mais
indescritível sensação
de liberdade a que se
possa aspirar. Reconheci
que os ideais de minha
vida haviam sido
literalmente grosseiros
em confronto com os
verdadeiros ideais.
Apenas separado do
corpo, que sempre fora
um enigma para mim, tive
a prova de ter-me sempre
enganado em minhas
suposições. Pouco depois
desse momento, surgiram
ao meu Espírito, e num
relâmpago, as
recordações de minha
vida inteira. Cada
palavra, cada
pensamento, que passara
pelo meu cérebro, cada
ato de minha existência,
desfilaram diante de mim
como em maravilhoso
panorama. Nada mais
extraordinário do que
meu despertar no
ambiente espiritual,
onde os aromas
balsâmicos são de
natureza indescritível e
ultrapassam, em
suavidade, os poderes da
compreensão humana.
Jamais vivente algum
poderá formar concepção
remota desta verdade. É
simplesmente impossível
sugerir uma pálida ideia
desta existência
maravilhosa e torná-la
acessível à mente dos
encarnados. Para
compreendê-la, seria
preciso conhecê-la.
Durante minha vida,
frequentemente me
absorvi em profundas
meditações e deixava meu
pensamento rumar para o
fantástico, presumindo
que algo deveria existir
para lá do sepulcro, mas
eu não conseguia
formular uma ideia...
Aqui, como já vos disse,
tive uma visão de minha
vida inteira e
recordei-me de todos os
pensamentos que surgiram
fugidiamente em meu
Espírito... Em seguida,
fui presa pelo tormento
dos remorsos que,
contudo, não duraram
muito tempo..., talvez a
duração de alguns de
vossos dias. Decorrido
esse tempo, senti-me
invadido por uma
sensação de extrema
felicidade como igual eu
não havia nunca
experimentado durante
minha existência
terrena. Nada mais
perturbava a minha alma.
Senti-me livre,
exultante! E entoei um
hino de amor,
compreendendo que,
também eu, constituía
uma partícula integrante
do amor universal!"
345. Novamente, neste
caso, a experiência da
"visão panorâmica"
produziu-se depois da
crise da morte e, também
nesta circunstância,
manifestou-se o
"tormento dos remorsos",
em seguida ao desenrolar
da visão.
346. No texto intitulado
“Conclusões”, Bozzano
diz que pelos fatos
apresentados seu
objetivo foi demonstrar
o valor teórico de que
se revestem os fenômenos
da "visão panorâmica",
valor que permanecera
até então mal
compreendido, pois que
fisiologistas e
psicólogos sempre
fizeram alusão a essa
categoria de fatos,
concedendo-lhe, porém,
significação
estritamente limitada à
pesquisa dos
automatismos
subconscientes de
natureza
psicofisiológica.
347. No entanto, os
fenômenos em questão,
juntamente com seus
análogos, porém muito
menos sugestivos, da "hipermnésia"
e da "criptestesia",
concorrem para
demonstrar, de maneira
cientificamente
resolutiva, a
existência, na
subconsciência humana,
de uma "memória
sintética", perfeita e
indelével, susceptível
de emergir, em toda a
sua plenitude, em raras
ocasiões, que, em regra
geral, são determinadas
pela iminência do perigo
de morte. Esta última
característica deveria
levar os homens de
ciência a serem mais
reservados nas suas
fórmulas explicativas,
quando procurarem
esclarecer o problema.
348. Tudo tendia para
demonstrar que as
faculdades supranormais
subconscientes eram
faculdades espirituais
sensório-psíquicas,
existindo em estado
latente na
subconsciência humana.
Em face disso,
dever-se-ia presumir que
acontecia o mesmo com a
"memória sintética", que
evidentemente aí existe
em estado latente,
aguardando o momento de
emergir e de se
manifestar no ambiente
espiritual.
349. Semelhantes
induções, rigorosamente
lógicas, trouxeram à luz
um outro problema. Se
era assim como foi dito,
se a "memória sintética"
devia ser considerada
como uma reserva
mnemônica perfeita,
destinada a sobreviver à
morte do corpo, neste
caso, ela não podia
residir nos centros
corticais, bem como as
faculdades supranormais
subconscientes não
podiam ser – como não
eram – função do órgão
cerebral.
350. Isto, para as
faculdades supranormais
subconscientes, era
fácil de demonstrar,
visto que elas eram
independentes da lei de
seleção natural e
emergiam em razão
inversa da atividade da
consciência normal.
Sobre este ponto, e para
a "memória sintética",
tal indução era menos
evidente, ainda que,
entretanto, o fato mesmo
de sua existência
subconsciente, em
condições perfeitas e
permanentes, devesse
levar racionalmente a
julgar a que a "memória
sintética" devia ser
função de alguma coisa
permanente.
351. Com efeito,
psicólogos e filósofos
não haviam deixado de o
observar e, há pouco, o
Dr. Geley havia escrito
a respeito: "Para que
esta recordação seja
vivificada, é preciso,
com toda evidência, que
ela esteja ligada a
alguma coisa de
permanente. A
criptomnésia, como a
criptopsiquia, demonstra
a insuficiência absoluta
da concepção
organocêntrica".
352. Isto é
rigorosamente verdadeiro
e é impossível aos
contraditores refutar
tal afirmativa,
solidamente fundada nos
fatos, afirmativa que me
lembra a experiência de
"autoscopia" sonambúlica
do Dr. Sollier, já
citada por Bozzano em
sua monografia sobre os
"Fenômenos de bilocação",
pois que ela se mostra
admiravelmente de acordo
com a afirmação do Dr.
Geley, assim como com os
ensinos das escolas
ocultistas, que situam a
sede das faculdades
sensório-psíquicas no
"corpo astral".
(Continua no próximo
número.)