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Clássicos do Espiritismo
Ano 6 - N° 273 - 12 de Agosto de 2012
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


A Morte e os seus Mistérios

 Ernesto Bozzano

(Parte 22)

Damos sequência nesta edição ao estudo do livro A Morte e os seus Mistérios, de Ernesto Bozzano, conforme tradução de Francisco Klörs Werneck.

Questões preliminares

A. O caso XVI apresenta, além da visão panorâmica dos episódios passados, um fato inteiramente novo. Que fato é esse?

O Espírito comunicante disse que passaram diante dos seus olhos, em traços rápidos e como que em panorama, os acontecimentos de sua vida inteira, seguidos de outro panorama, onde se delinearam todas as circunstâncias, não ainda vividas, do resto dessa mesma existência, tal como deveria desenrolar-se caso ele houvesse escapado à morte e continuado a viver até o termo natural de sua vida terrena. (A Morte e os seus Mistérios. Casos de "visão panorâmica". 3ª categoria: Caso XVI.)

B. Os fatos de visão panorâmica, no tocante aos desencarnados, verificam-se em que momento?

A experiência comprova que a "visão panorâmica" pode produzir-se por ocasião da morte ou na vida espiritual, antes ou depois do período de inconsciência ou de sono. (Obra citada. Casos de "visão panorâmica". 3ª categoria: Caso XVII.)

C. Que descrição fez do plano espiritual o escritor George Elliot?

Segundo ele mesmo disse, foi extraordinário seu despertar no ambiente espiritual, onde os aromas balsâmicos são de natureza indescritível e ultrapassam, em suavidade, os poderes da compreensão humana. “Jamais vivente algum poderá formar concepção remota desta verdade. É simplesmente impossível sugerir uma pálida ideia desta existência maravilhosa e torná-la acessível à mente dos encarnados”, eis as palavras por ele ditas. (Obra citada. Casos de "visão panorâmica". 3ª Categoria: Caso XVIII.)

Texto para leitura 

335. Caso XVI - Num opúsculo intitulado How I became a Spiritualist (Como me tornei espiritualista), James Smith, conhecido escritor espírita, conta como ele foi progressivamente levado a se interessar pelas experiências mediúnicas. Certa noite, ele deixou-se convencer a assistir a uma sessão espírita em que se manifestou seu próprio irmão, falecido anos atrás.

336. Ele assim relatou o episódio: "O médium, mergulhado em profundo sono, volta-se para mim e diz: - Ao seu lado está um jovem extremamente parecido consigo. Ele se mostra a mim como se saído da água e afirma ser seu irmão. Quando tomou posse do médium, o recém-vindo descreveu sua morte por afogamento, acrescentando que, no momento supremo, passaram diante de seus olhos, em traços rápidos e como que em panorama, os acontecimentos de sua vida inteira, seguidos de outro panorama, onde se delinearam todas as circunstâncias, não ainda vividas, do resto dessa mesma existência, tal como deveria desenrolar-se caso ele houvesse escapado à morte e continuado a viver até o termo natural de sua vida terrena".

337. A última afirmativa do Espírito comunicante quer dizer que na "visão espiritual" desfilaram, em panorama, os acontecimentos do resto de sua existência, a mesma que deveria realizar-se caso não sucedesse o acidente fatal e ocasional de morte por asfixia. A sua natureza sugere considerações novas e interessantes sobre o tema do livre-arbítrio, do destino e da fatalidade, considerações que Bozzano se absteve de formular, em vista da insuficiência do equilíbrio das bases sobre as quais se apoiam.

338. Contudo, do ponto de vista da abstração filosófica – que permite dela nos afastarmos, à vontade, no campo das ideias – tal indício de uma nova concepção do ser, em relação ao fatalismo, merece, segundo ele, ser considerado em face dos horizontes inexplorados que permitem ao pensador entrever.

339. Caso XVII - A Srta. Lillian Whiting, conhecida autora em assuntos espíritas, relata, na Light, interessante sessão realizada por uma de suas amigas com a Senhora Keeler, médium com quem o Dr. Hodgson realizou longa série de experiências. A essa amiga se manifestou uma entidade desencarnada pouco antes, a quem ela perguntou quais haviam sido suas primeiras impressões no mundo espiritual.

340. São as seguintes as palavras da Srta. Whiting: "A entidade se lembra de ter atravessado um período de longa inconsciência. Depois do que despertou subitamente ao som de uma voz que conhecia, ao que se seguiu música paradisíaca, tudo tão surpreendente de maneira a não poder ela compreender como essa música e voz se fizessem ouvir no seu aposento. Então, ela viu surgir uma árvore de luz que, gradualmente, se tornara resplandecente. A seguir, apareceram-lhe rostos de numerosas pessoas queridas, gente falecida havia muitos anos. Diante de tal espetáculo, foi tomada de surpresa e, quase apavorada, se perguntava o que podia ter acontecido e qual o significado de tudo isso. De repente, foi-lhe revelado que acabara de passar pela transformação a que as vivos chamam morte.”

341. Nesse momento, a relatora reproduz as palavras exatas da entidade, que se exprimiu da seguinte forma: "Num relâmpago, tudo o que eu fizera durante a vida e tudo o que eu realmente havia sido me foram mostrados em panorama perfeitamente igual ao que se espera na hora do Juízo, porque, realmente, na visão que sucessivamente se desenrolava diante de mim, nos êxitos e insucessos de minha vida, eu avaliava exatamente o Bem e o Mal que estavam contidos nela."

342. Neste caso, a "visão panorâmica" não se produziu na ocasião da morte, mas já na vida espiritual, depois do período de inconsciência ou de sono. E o desenrolar da visão está descrita pela entidade como a "hora do Juízo", hora em que a significação intrínseca moral e real das ações praticadas na existência terrena se revela inexoravelmente e é desvendada ao protagonista desencarnado.

343. Observa Bozzano que todos estes detalhes estão de acordo com as doutrinas das escolas ocultistas no que se refere à distinção estabelecida entre a "visão panorâmica'' que se produz na iminência da morte e a que se produz já na existência espiritual. A primeira é uma síntese recapitulativa; a segunda tem o caráter de "julgamento com a sua sanção", que se desenrola automaticamente em virtude da natureza intrínseca do Espírito e que é o prelúdio de seu destino, ou "gravitação" do Espírito para a esfera a que está destinado; isto se produz unicamente pela aplicação do princípio que governa o universo físico e psíquico: a lei das afinidades.

344. Caso XVIII – Este caso foi colhido nos Proceedings of the S. P. R. Sabe-se que, em certas sessões em que operava como médium a Sra. Piper, manifestou-se uma entidade que afirmou ser o conhecido escritor inglês George Elliot. Assim, na sessão de 5 de março de 1897, Elliot descreve ao Dr. Hodgson o seu despertar no mundo dos Espíritos: "Experimentei, repentinamente, a mais bela a mais indescritível sensação de liberdade a que se possa aspirar. Reconheci que os ideais de minha vida haviam sido literalmente grosseiros em confronto com os verdadeiros ideais. Apenas separado do corpo, que sempre fora um enigma para mim, tive a prova de ter-me sempre enganado em minhas suposições. Pouco depois desse momento, surgiram ao meu Espírito, e num relâmpago, as recordações de minha vida inteira. Cada palavra, cada pensamento, que passara pelo meu cérebro, cada ato de minha existência, desfilaram diante de mim como em maravilhoso panorama. Nada mais extraordinário do que meu despertar no ambiente espiritual, onde os aromas balsâmicos são de natureza indescritível e ultrapassam, em suavidade, os poderes da compreensão humana. Jamais vivente algum poderá formar concepção remota desta verdade. É simplesmente impossível sugerir uma pálida ideia desta existência maravilhosa e torná-la acessível à mente dos encarnados. Para compreendê-la, seria preciso conhecê-la. Durante minha vida, frequentemente me absorvi em profundas meditações e deixava meu pensamento rumar para o fantástico, presumindo que algo deveria existir para lá do sepulcro, mas eu não conseguia formular uma ideia... Aqui, como já vos disse, tive uma visão de minha vida inteira e recordei-me de todos os pensamentos que surgiram fugidiamente em meu Espírito... Em seguida, fui presa pelo tormento dos remorsos que, contudo, não duraram muito tempo..., talvez a duração de alguns de vossos dias. Decorrido esse tempo, senti-me invadido por uma sensação de extrema felicidade como igual eu não havia nunca experimentado durante minha existência terrena. Nada mais perturbava a minha alma. Senti-me livre, exultante! E entoei um hino de amor, compreendendo que, também eu, constituía uma partícula integrante do amor universal!"

345. Novamente, neste caso, a experiência da "visão panorâmica" produziu-se depois da crise da morte e, também nesta circunstância, manifestou-se o "tormento dos remorsos", em seguida ao desenrolar da visão.

346. No texto intitulado “Conclusões”, Bozzano diz que pelos fatos apresentados seu objetivo foi demonstrar o valor teórico de que se revestem os fenômenos da "visão panorâmica", valor que permanecera até então mal compreendido, pois que fisiologistas e psicólogos sempre fizeram alusão a essa categoria de fatos, concedendo-lhe, porém, significação estritamente limitada à pesquisa dos automatismos subconscientes de natureza psicofisiológica.

347. No entanto, os fenômenos em questão, juntamente com seus análogos, porém muito menos sugestivos, da "hipermnésia" e da "criptestesia", concorrem para demonstrar, de maneira cientificamente resolutiva, a existência, na subconsciência humana, de uma "memória sintética", perfeita e indelével, susceptível de emergir, em toda a sua plenitude, em raras ocasiões, que, em regra geral, são determinadas pela iminência do perigo de morte. Esta última característica deveria levar os homens de ciência a serem mais reservados nas suas fórmulas explicativas, quando procurarem esclarecer o problema.

348. Tudo tendia para demonstrar que as faculdades supranormais subconscientes eram faculdades espirituais sensório-psíquicas, existindo em estado latente na subconsciência humana. Em face disso, dever-se-ia presumir que acontecia o mesmo com a "memória sintética", que evidentemente aí existe em estado latente, aguardando o momento de emergir e de se manifestar no ambiente espiritual.

349. Semelhantes induções, rigorosamente lógicas, trouxeram à luz um outro problema. Se era assim como foi dito, se a "memória sintética" devia ser considerada como uma reserva mnemônica perfeita, destinada a sobreviver à morte do corpo, neste caso, ela não podia residir nos centros corticais, bem como as faculdades supranormais subconscientes não podiam ser – como não eram – função do órgão cerebral.

350. Isto, para as faculdades supranormais subconscientes, era fácil de demonstrar, visto que elas eram independentes da lei de seleção natural e emergiam em razão inversa da atividade da consciência normal. Sobre este ponto, e para a "memória sintética", tal indução era menos evidente, ainda que, entretanto, o fato mesmo de sua existência subconsciente, em condições perfeitas e permanentes, devesse levar racionalmente a julgar a que a "memória sintética" devia ser função de alguma coisa permanente.

351. Com efeito, psicólogos e filósofos não haviam deixado de o observar e, há pouco, o Dr. Geley havia escrito a respeito: "Para que esta recordação seja vivificada, é preciso, com toda evidência, que ela esteja ligada a alguma coisa de permanente. A criptomnésia, como a criptopsiquia, demonstra a insuficiência absoluta da concepção organocêntrica".

352. Isto é rigorosamente verdadeiro e é impossível aos contraditores refutar tal afirmativa, solidamente fundada nos fatos, afirmativa que me lembra a experiência de "autoscopia" sonambúlica do Dr. Sollier, já citada por Bozzano em sua monografia sobre os "Fenômenos de bilocação", pois que ela se mostra admiravelmente de acordo com a afirmação do Dr. Geley, assim como com os ensinos das escolas ocultistas, que situam a sede das faculdades sensório-psíquicas no "corpo astral". (Continua no próximo número.)



 


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