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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 273 - 12 de Agosto de 2012

MILTON SIMON PIRES 
cardiopires@gmail.com

Porto Alegre, RS (Brasil)
 

A Doutrina Espírita e o Conceito de Tempo Uma Revolução em Silêncio


De que modo existem aqueles dois tempos
o passado e o futuro se o passado já não existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se fosse sempre presente e não passasse para o pretérito, já não seria tempo, mas eternidade!

Foi dessa maneira devastadora para todos os filósofos e que até hoje não teve contestação, à altura, que Santo Agostinho, no Livro XI de Confissões, nos colocou o problema de definir o que é o tempo.

O presente artigo tem por objetivo apresentar algumas considerações a respeito desse problema fundamental para Filosofia e as oportunidades e desafios que o Espiritismo nos oferece ao abordá-lo.

Cada vez que nos perguntamos o que vem a ser exatamente o tempo ficamos impressionados – a quantidade de respostas é inversamente proporcional à capacidade de esclarecimento. Desde as condições meteorológicas até o processo de envelhecimento, passando pelas piadas daqueles que nos mostram seus relógios, as pessoas nos dão longas explicações que a rigor não têm significado algum. Mais do que isso, nos impressionamos com a convicção de respostas que frequentemente apelam para noção de "senso comum" e que demonstram aquela que talvez seja a única verdade sobre a questão – também estabelecida pelo bispo de Hipona –: se nos perguntam o que é o tempo, sabemos; se tivermos que explicar o que é, já não sabemos.

É a partir deste ponto que eu gostaria de começar este breve exercício de entendimento. O conceito de tempo como uma espécie de "ordem interna" do processo racional foi magistralmente tratado por Kant em sua Crítica da Razão Pura. Na parte que toca à Estética Transcendental, parece ser evidente que a simples noção daquilo que venha a ser o tempo prescinde de uma experiência prévia, e ele é definido como uma espécie de "verdade intuída". Sem ser um filósofo profissional e muito menos ter a certeza de ter compreendido bem um livro como esse, me parece que o tempo funciona como uma espécie de "pano de fundo" para um teatro em que o ator principal é a nossa própria razão. Parto aqui da ideia de que tudo aquilo que entendemos como racional precisa ser entendido no tempo e não a partir dele. Tudo que nos cerca nos parece passível de ser analisado racionalmente à medida que estabelecemos relações de causa e efeito entre os fenômenos que observamos. Sem a noção de antes e depois, não é, a meu ver, possível ser racional em sentido algum. 

A verdadeira revolução que a Doutrina Espírita coloca para esse problema (definição do que é o tempo) é a ideia da reencarnação. Toda nossa vida é pautada pela ideia de finitude. Aceitando ou não, todos nós sabemos que um dia vamos morrer e o universo moral em que vivemos tem seus conceitos inevitavelmente fundados nisso. Nossa espécie construiu seus ideais de beleza, amor, verdade, e, acima de tudo, justiça em função de sermos mortais. Extrapolamos nossas noções de certo ou errado conforme o tempo em que estivemos aqui. Conversando com amigos ou simples conhecidos, nos surpreendemos às vezes dizendo de forma amarga: – Não há justiça nesse mundo. Veja o exemplo de "fulano", que trabalhou toda vida, nunca fez mal a ninguém, sofreu como um cão e morreu na miséria. Não é fácil ser filósofo num momento assim, mas num exercício muito rápido é possível ver que toda essa "verdade" exposta de maneira tão cruel depende de aceitar como resolvido um problema que não está nem próximo disso. Se não, vejamos: como posso dizer que não há justiça nesta vida quando não sei exatamente o que é o tempo? Se a própria noção geral do que é justiça depende unicamente da minha vida aqui nessa Terra, e que essa vida é a única que eu tenho, como posso aceitar um Deus que me faz nascer, morrer, e viver na mais perfeita injustiça? Coloca-se aí o problema de que, se Deus existe, ele não é justo, mas, se ele não é justo, então, não é Deus.

A revolução a que faço referência no título deste trabalho é o advento da noção de reencarnação. Resgatada e codificada de forma tão brilhante por Kardec, ela não é nova na história humana, pois a necessidade que todos nós temos de dar um sentido ao sofrimento e entender aquilo que vivemos é anterior ao Espiritismo.

Iluminados pela mensagem deixada por Cristo, que tem como fundamento o princípio filosófico de que o fim do corpo não é o do espírito, temos na ideia de reencarnação toda uma verdadeira "revolução" naquilo que entendemos como justiça. Este é o fato fundamental, pois eu afirmo que todo ser humano, acreditando ou não em Deus, sabendo ou não o que é o tempo, está, como diria Sartre, "condenado a ser livre" e, para isso (acréscimo meu), a buscar aquilo que pensa ser justo.

"Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei" é o lema desta revolução que se fez em silêncio, que mudou o que pensamos sobre o que é a justiça e o que é o tempo, e nos mostra, de maneira quase geométrica, que fora da caridade não há salvação.


O autor é médico em Porto Alegre, RS.

 


 


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