No ano de 1997 lançamos o
livro “Um Minuto com Chico
Xavier”, em que apresentamos
uma coleção de casos sobre a
vida de Chico, tirados de
outras obras e muitos de
relatos feitos por pessoas
que conviveram com ele. Foi
o caso de Da. Iracy Kárpáti,
uma senhora paulistana, hoje
já na pátria espiritual, que
conhecemos em Londrina. Ela
estava com 82 anos e tinha
vindo fazer palestras na
nossa região.
Uma das histórias que ela
nos contou foi esta:
“- Sabe, um dia, foi no
final da década de 40, eu
estava no saguão do Hotel
Minas Gerais, lá em Pedro
Leopoldo, conversando com
uma amiga, Aurora, de Santo
André, quando o Sr. José de
Paula chegou para nos
chamar. Disse que Chico
queria nos ver. Já eram mais
de 22 horas. Chovia muito.
Passamos por uma pensão e
Maria de Lourdes foi
conosco. Ela era de São
Paulo. José de Paula não nos
disse o motivo, mas, se
Chico chamou, quem éramos
nós para não obedecer...!
Morava nos fundos da casa da
irmã. Eram dois cômodos e um
banheiro. Entramos. Chico
nos abraçou muito
carinhosamente e foi para um
quartinho, onde se deitou.
José de Paula vedou tudo com
cobertores, pediu que nos
puséssemos em prece e apagou
as luzes. Nós só podíamos
ver algo quando relampejava
lá fora.
Foi então que tudo
começou... Uma luz
verde-esmeralda começou a
preencher todo o recinto.
Vinha do quarto onde Chico
havia ido se deitar. Comecei
a chorar... Eu me sentia
diferente. Nunca tinha
sentido aquilo antes, em
toda a minha vida.
De repente, uma mulher
linda, iluminada, adentrou a
salinha onde nós estávamos.
Ela levitava e irradiava uma
luz que não ofuscava e que,
de alguma forma, parecia
alimentar a gente,
fortificar...
Então, aquela mulher, que
depois fiquei sabendo ser o
espírito de irmã Scheilla,
abriu uma das mãos e pétalas
de rosas começaram a cair,
inundando o ambiente com um
perfume impressionante.
Depois, ela levantou os
braços e uma faixa luminosa
surgiu, com os dizeres:
“Deus é amor”.
Em seguida, ela se dirigiu
até onde nós estávamos e,
para cada um, ela entregou
um presente, que ela
materializava na hora. Para
uma, um colar de pérolas,
para outra, um botão de
rosas brancas, com orvalho e
tudo, como se tivesse
acabado de ser colhido...
Ela se aproximou de mim com
uma estrela na palma de uma
de suas mãos e colocou
aquela estrela sobre meu
peito – a estrela tinha uma
força magnética muito
intensa – e me disse, num
sotaque alemão: “L’Irracy,
L’Irracy... seu caminho será
de estrelas e de flores, mas
também de muitas dores”.
Eu tinha ido ao Chico para
me tratar de um câncer já em
estado avançado e, ante
aquelas palavras, eu comecei
a chorar sem parar. Ela
passou suas mãos em meu
rosto e começou a secar
minhas lágrimas. Depois,
colocou-as sobre meu peito,
onde estava aquela estrela e
me disse: -“Há muito eu
esperava esse encontro. Você
não imagina o que você
significa para mim! Venho
como uma mensageira para te
dar força e coragem. Você
vai sarar, você vai ver,
porque Jesus te ama!”
Nesse momento ela foi para
um canto da sala e começou a
fazer uma preleção sobre o
perdão, sobre o amor...
Falou do Evangelho, da luta
daqueles que largam sua
casa, sua família,
desprendem-se de seus bens e
vão para outras terras levar
a mensagem de Jesus...
Falou quase uma hora...
De repente, ela parou de
falar, voltou-se para José
de Paula e disse-lhe: -
“Precisamos encerrar. Acabou
de desencarnar, lá nos
trilhos (na favela) um
irmãozinho nosso. Precisamos
ajudar”.
Então, para tristeza minha,
ela retirou todos os
presentes que havia nos
dado, inclusive a estrela
que estava magneticamente
presa ao meu peito, e nos
disse: - “Apressem-se! Vão
fazer o que é preciso ser
feito: a Caridade!”
E ela voltou para o
quartinho onde o Chico
estava.
O ambiente voltou a
escurecer. Um pouco depois,
Chico saiu dali, muito
emocionado, abraçou-nos e
convidou-nos para que
fôssemos ágeis.
Já eram mais de duas horas
da manhã.
Chovia muito. E nós, sem
saber se estávamos no céu ou
na Terra, fomos, debaixo de
chuva, até a favela. No
caminho, por orientação de
Chico, compramos algumas
coisas: álcool, pães, velas,
leite... E, orientados por
“Seu” Emmanuel, fomos direto
para um barraquinho.
Quando chegamos lá, naquele
único cômodo humilde, um
corpo de um homem estava no
chão, sem vida, e duas
mulheres, ajoelhadas ao seu
lado, choravam, sob a luz de
uma vela, enquanto faziam
suas orações. Ele tinha
acabado de desencarnar.
Então o Chico entregou os
alimentos àquelas mulheres,
pediu que elas se
desinfetassem com o álcool e
disse-lhes para que não se
preocupassem, que chamassem
a funerária, porque ele e
José de Paula se
encarregariam do que fosse
necessário.
Daí, Chico fez uma prece
muito linda e todos saímos,
abraçados, sob a forte
chuva, com uma emoção
indescritível em nossos
corações.”