WELLINGTON BALBO
wellington_balbo@hotmail.com
Bauru, SP (Brasil)
A
culpa de Carlos
Margarida era
mulher bela e
inteligente, por
isso despertava
nos homens o
desejo de se
aproximarem dela
para um
relacionamento
amoroso. Aos 27
anos exalava
alegria e
entusiasmo por
onde passava, o
que a deixava
com um certo ar
de diva.
Porém, não
obstante aos
predicados,
Margarida não se
deixava levar
com facilidade.
O homem para
tê-la como
companhia
precisava,
segundo seus
padrões, reunir
atributos dos
mais diversos e,
dentre eles, a
honestidade era
o que mais ela
apreciava. Dizia
às amigas:
– Para que eu
tenha
relacionamento
com alguém, a
beleza importa
pouco, o que
mais me chama
atenção em um
homem é a sua
honestidade.
E as amigas,
caçoavam dela,
perguntando:
–
Defina
honestidade,
Margarida.
– Honestidade é
ser fiel,
íntegro, correto
em todos os
sentidos nesta
vida. Para mim,
o homem honesto
é aquele que não
se vende, não se
corrompe e
combate os seus
vícios.
– Ah, minha
amiga, você quer
um homem
perfeito.
– Não –
respondia
Margarida –,
apenas honesto.
E todas as suas
amigas já haviam
se consorciado,
mas Margarida
ainda não. Sabia
que Carlos, que
morava próximo à
sua casa, a
paquerava há
muito tempo,
contudo, nunca
tiveram, nem ele
tampouco,
coragem para
maior
aproximação.
Era apenas uma
paquera, troca
de olhares, como
ocorre
costumeiramente
com muitos
pretendentes à
paixão.
Por vezes ela
pensava nele e
divagava: – Carlos
me chama
atenção, mas
será que é homem
honesto?
Entretanto, não
havia como
Margarida
confirmar, já
que ele não
tomava a
iniciativa e
ela, muito
tímida, receava
aproximar-se
dele.
Até que um dia,
por conta da
atividade
voluntária em
que trabalhava,
Margarida
conheceu
Augusto.
Rapaz bonito,
boa conversa e
bons princípios.
Margarida
interessou-se
pelo rapaz e ele
por ela.
Descobriu nele
um homem
honesto,
conforme
desejava.
Começaram a
passear para se
conhecerem
melhor, até que
tudo evoluiu
para o namoro.
No entanto,
Carlos, que
nunca tivera
coragem para se
aproximar, ao
ver Margarida de
mãos dadas com
Augusto,
remou-se de
ciúmes. O rapaz,
que era tímido
para estabelecer
uma conversa com
a moça, ficou
desnorteado por
saber que a
perdera. Ao
invés de se
conformar com o
que estava
consumado,
tratou de
considerar
Augusto seu
rival. Um
oponente que
teria de ser
tirado de seu
caminho para que
Margarida
ficasse
novamente
sozinha,
desimpedida,
pois só assim
ele teria
chances.
Começou a pensar
na melhor
maneira de
afastar Augusto
de Margarida,
pois a cada vez
que os via
juntos era como
se fincassem uma
faca em seu
coração.
Ideias nebulosas
começaram a
rondar sua
mente, abrindo
campo para
Espíritos
infelizes que
lhe sugeriam:
– Só há uma
forma de acabar
com esse romance
e tê-la em seus
braços! É
tirando a vida
de Augusto. Tire
a vida de seu
rival e terá
depois todo o
tempo do mundo
para
conquistá-la,
afinal, havia um
interesse da
parte dela por
você. Lembra-se
dos olhares que
trocavam? Então,
não perca tempo.
Elimine este
rapaz que se
coloca em seu
caminho!
Apalermado pelo
ciúme e vibrando
em baixa
frequência,
Carlos captou
facilmente as
sugestões dos
Espíritos menos
felizes e
começou a
arquitetar um
plano para
exterminar o seu
rival.
Tinha ciência de
que não poderia
demorar muito,
porquanto os
laços entre
Margarida e
Augusto corriam
o risco de se
estreitarem
ainda mais com o
passar do tempo.
E foi assim que
Carlos armou uma
cilada para
Augusto e, de
maneira
lamentável e sem
levantar
qualquer
suspeita, pôs
fim à existência
daquele que
considerava seu
rival.
Completamente
enfermo
psiquicamente,
compareceu ao
velório para
consolar
Margarida e os
familiares. Ao
deixar o local,
pensou:
– Caminho
livre! Desta vez
a terei em meus
braços!
No entanto,
naquela mesma
noite, Carlos
começou a ter
pesadelos com
pessoas o
acusando de
assassino,
covarde,
fracassado!
Depois do
ocorrido com
Augusto, Carlos
não tivera mais
paz. Os dias
transcorriam
lentamente e a
lembrança do
homem morto não
lhe dava
tréguas.
Não conseguia
mais se
concentrar,
tampouco
trabalhar. Se os
dias eram
tenebrosos, as
noites pareciam
filmes de terror
com pesadelos
assombrosos em
que pessoas
desconhecidas
diziam a ele:
– Assassino,
Assassino,
Assassino!
Procurou ajuda
médica, porém,
nada adiantou.
Sua consciência
é que o acusava
e a culpa o
esmagava.
Carlos
tornara-se refém
de sua
lamentável obra.
Vez ou outra
chorava
arrependido,
questionando a
si mesmo: Por
que o matei? Por
quê?
Em suma, Carlos
não conseguia se
livrar daquele
tormento. O
objetivo de
conquistar
Margarida já não
mais existia,
porquanto a
culpa não lhe
dava qualquer
chance para
seguir a vida em
paz.
Não tardou para
que os
familiares o
internassem em
manicômio, pois,
depois de algum
tempo, Carlos
não mais
raciocinava
direito.
E foi em triste
quarto de um
hospício que,
atormentado pela
culpa e
perseguido pelos
fantasmas
criados pela sua
lamentável
atitude, que
Carlos decidiu
pagar seus
equívocos com a
pior das moedas
existentes na
face da Terra: o
suicídio.
Reflexão:
O ciúme é, não
raro, o agente
causador de
crimes dos mais
diversos. Se
pararmos para
refletir com
exatidão no
relato acima,
veremos que a
mola propulsora
de todas as
ações
lamentáveis foi
justamente o
ciúme que deixou
Carlos cego.
São muitos os
casos em que o
homicídio é
seguido de
suicídio, tudo
por causa do
ciúme doentio.
O ciúme é um
sentimento
universal,
inerente a todos
nós, seres
humanos ainda em
busca do
equilíbrio. Em
nosso estágio
evolutivo atual
é quase
impossível não
sentir ciúme em
maior ou menor
grau.
A grande questão
é aprender a
lidar com ele.
Se o dominamos,
tudo bem.
Mas quando o
ciúme começa a
dominar, a coisa
se complica,
como no caso de
Carlos.
A imaginação
transborda,
fantasias se
misturam à
realidade
formando na tela
mental autêntico
filme de horror.
Certamente, na
alucinação
provocada pelo
ciúme exagerado,
Carlos pensava
assim:
– Ele roubou a
mulher de meus
sonhos, de minha
vida!
Imagino o
transtorno, a
vida insegura e
o receio que
vive quem se
contamina pelo
vírus do ciúme
doentio.
O grave problema
é que o ciumento
julga ser o dono
da pessoa,
considerando-a
objeto de sua
propriedade.
Carlos julgava
que Margarida
era um objeto
seu, por isso
não poderia ser
de mais ninguém.
Há no ciúme um
autêntico
desrespeito à
dignidade
humana.
Daí a
necessidade de
exercitarmos o
autoconhecimento
para sabermos se
não estamos
sendo dominados
pelo ciúme que
vem levando
criaturas a
cometer atos dos
mais insanos,
como na história
de Margarida,
Augusto e
Carlos.
Não era o caso
de Carlos e
Margarida, pois
nem compromisso
tinham. Mas se
você, prezado
(a) leitor (a),
se encontra no
estágio de
bisbilhotar a
carteira do
cônjuge, mandar
alguém lhe
seguir, se o
proíbe de
cumprimentar
amigos, e
chegou inclusive
à agressão, é
hora de
repensar. É
justamente o
momento de
procurar um
auxílio
psicológico, de
se religar
espiritualmente,
de buscar um
momento seu, uma
atividade,
enfim, algo que
lhe dê prazer e
o faça viver
realmente a sua
vida e não a
vida do outro.
Porque, venhamos
e convenhamos,
em realidade,
nada nem ninguém
nos pertence.
Pessoas
transitam pela
nossa vida,
trocam
experiência
conosco e seguem
seu caminho,
enfim, não nos
pertencem.
Cuidemos, pois,
de nossos
sentimentos para
que não venhamos
a ser dominados
pelo ciúme,
candidatando-nos
a penosos
estágios de
reabilitação em
que o sofrimento
e a dor serão
nossos
companheiros por
longo tempo.
Mensagem:
Todo ato
cometido que
burla as Leis
Divinas não
ficará impune no
tribunal de
nossa
consciência.
Seremos, pois,
cobrados por nós
mesmos. Mas,
como Deus é Pai
de infinito amor
e misericórdia,
sempre deixa-nos
aberta a porta
do
arrependimento.
Nesta porta
entram apenas
aqueles que
querem se
reabilitar do
mal que
cometeram.
Mas não basta
apenas
arrepender-se. É
preciso um pouco
mais:
arrependimento,
expiação e
reparação são os
estágios
necessários para
aqueles que de
fato almejam
estar quites com
as Leis de amor
que harmonizam o
universo.
No caso de
Carlos, por ter
cometido aquele
crime estaria
ele destinado ao
suicídio como
forma de
reparação ao mal
cometido?
Obviamente que a
resposta é
negativa. Só
pagamos o mal
com o bem.
O apóstolo Pedro
afirma que o
amor cobre a
multidão dos
pecados.
Ora, assim
sendo, qual a
melhor maneira
de cobrirmos os
nossos equívocos
neste mundo,
sejam eles quais
forem?
A resposta já
foi dada por
Pedro:
praticando o
amor.
No premiado
filme “Gandhi”,
do ano de 1982,
contém belíssima
mensagem sobre o
amor deixada
pelo Mahatma.
Certamente esta
mensagem tocará
muitos corações
que se
equivocaram nos
caminhos da
existência, mas
que podem,
obviamente, dar
a volta por cima
e não deixar que
a culpa os
corroa ao ponto
de levá-los ao
suicídio:
“Um pai
desesperado,
olhos esgazeados
e coração
atormentado,
chega até a
Grande Alma da
Índia e diz
temer ir para o
inferno, pois
esmagou a cabeça
de uma criança.
Questionado por
Gandhi a razão
de ato tão
bárbaro, o
desesperado pai
em prantos
explica:
– Os muçulmanos
mataram meus
filhos, toda
minha família.
Gandhi, então,
em momento
capital de sua
existência, pois
jejuava para que
os conflitos
entre hindus e
muçulmanos
cessassem, deu
bela lição
àquele pai e a
todos os outros
que ainda se
debatem com seus
velhos
fantasmas:
– Conheço uma
fórmula para que
você não vá para
o inferno, meu
filho. Adote uma
criança cujos
pais foram
mortos em
combate. Mas há
uma condição:
Ela deve ser
muçulmana e você
terá que
educá-la dentro
dos princípios
desta religião”.
Perceba, caro
leitor, que o
amor deve sempre
falar mais alto
em todas as
circunstâncias.
Reflita na
beleza da
mensagem legada
por Gandhi.
Obviamente que,
como já
dissemos,
Carlos, mesmo
modificando suas
disposições
íntimas, teria
que colher o
fruto de seu
plantio. Mas
poderia abrandar
essa colheita
com o exercício
do amor. No
entanto,
enlouquecido,
distante dos
valores
evangélicos,
optou pelo
caminho mais
difícil: o
suicídio.
Uma pena! Muitos
são os Carlos
que enceguecidos
pelo ciúme e
acusados pela
culpa adentram a
porta enganosa
do suicídio como
salvação de seus
sofrimentos.
Ledo engano!
Só o amor, caro
leitor, só mesmo
o amor regado a
muita oração e
disciplina para
não recair nos
mesmos equívocos
é que poderá
trazer
resquícios de
paz a quem se
deixou dominar
pela dupla
tenebrosa que
atende pelos
nomes de ciúme e
culpa.
(Extraído do
livro “Evite a
rota do
suicídio”, de
Wellington
Balbo/Arlindo
Rodrigues/Alfredo
Zavatte.)