JOSÉ ANTÔNIO
VIEIRA DE PAULA
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR
(Brasil)
Tolstoi e o
mecanismo
da
prece
No excelente
livro
“Ressurreição e
vida” (FEB), o
Espírito Leão
Tolstoi, através
da mediunidade
de Yvonne A.
Pereira, narra o
momento de seu
despertar no
mundo
espiritual, após
a morte de seu
corpo físico.
Nessa narrativa,
apresenta-nos
importantíssima
explanação sobre
o mecanismo da
prece, quando
relata o
resultado de
suas orações a
favor de um
amigo, Boris
Pietrovitch, que
sempre
encontrava nas
férias, na
cidade de Odessa,
na Rússia, e que
desencarnara
muito jovem.
Vejamos o que
nos conta
Tolstoi:
Ao realizar a
grande viagem do
plano terrestre
para o
invisível,
exatamente
naqueles dias
tão chocantes,
quando, ainda,
titubeantes, de
tudo receamos e
permanecemos
atemorizados, na
expectativa do
que se irá
seguir, recebi a
visita de Boris,
tal qual como
quando em Odessa...
- Nunca te
esqueci, Niki,
acredita... –
asseverou-me,
apertando-me as
mãos
efusivamente,
como se ainda
fôssemos
cidadãos
terrenos. – Há
sessenta e dois
anos que
abandonei no
túmulo aquele
boneco de
argila, cálcio,
ferro,
hidrogênio,
oxigênio, etc.,
que foi o meu
corpo físico...
e, no entanto,
recordo-me
perfeitamente
dos mínimos
detalhes das
nossas
palestras...
- Deus te salve,
“paizinho”!
Fazes-me imenso
bem com tua
visita! É
consolador
testemunhar, na
hora crítica do
nosso ingresso
no plano etéreo,
que um amigo do
passado conserva
por nós a
boa-vontade de
sempre...
Rogo-te não me
deixes agora,
nesta emergência
em que me
encontro...
- Não, não te
deixarei, se
assim
preferes... Mas
vim
especialmente
para agradecer
as amorosas
orações que me
dirigiste quando
da minha partida
para este
plano...
Produziram um
bem inefável à
minha alma...
Fizeram-me
companhia em
momentos
precários de
indecisão...
Reconfortaram-me,
provando a
lealdade do
coração amigo
que não me
esquecia, antes
me desejava
felicidade e
paz...
- Pois ouvias,
então os meus
singelos votos a
Deus em tua
intenção?...
- Como não?!
Ouvia-os, sim!
Compreendia-os,
assimilava-os,
fortalecia
minhas
resoluções ao
seu influxo
benévolo e
consolava-me com
a tua doce
lembrança, pois
estavas presente
a meu lado,
quando oravas,
falavas-me,
aconselhavas-me,
revigorando-me
as forças sempre
que formulavas
teus votos...
Enfim, eu te
via! E, às
vezes, era como
se estivéssemos
no salão de tua
tia ou no teu
quarto, como
naquelas tardes
de Odessa,
quando
conversávamos
saboreando
chá...
Fiquei
estupefato com
semelhante
revelação!
Esqueci
momentaneamente
a minha crítica
situação de
recém-falecido e
solicitei dele,
alheado também
ao fato de que
eu era um ancião
e ele um jovem
quase
adolescente:
- Conta-me isso,
“paizinho”...
Sabes que gosto
de assuntos que
transcendam ao
habitual... O
fato de me veres
presente quando
eu orava por
ti... Vinhas
mim?... Ou era
eu que ia a ti,
telepaticamente?...
- Sim, estavas
presente... A
princípio, eu
mesmo não
percebia como as
coisas se
passavam... Mas,
depois passei a
compreender...
Dava-se o
seguinte: se
pensavas em mim
com amor e
saudade, um jato
de
fosforescência
adamantina
desprendia-se do
teu coração e do
teu cérebro, os
quais mais não
eram que os
órgãos
correspondentes,
terrenos, de
vibrações
superiores, cuja
origem é a
alma... O jato
fosforescente
era,
efetivamente,
uma vibração,
uma irradiação
de forças
poderosas do ser
psíquico,
rastilho
magnético que se
distendia à
minha procura
para me ajudar a
caminhar para
Deus...
Conduzida pela
fluidez das
energias
etéricas a que
todo o Universo
é subordinado
(digo, a Terra e
todas as demais
obras da
criação), essa
tua vibração
advertia minhas
sensibilidades,
onde quer que me
encontrasse...
Eu ouvia como
que me chamarem,
prestava
atenção, tal
como, na Terra,
se presta
atenção a um
rumor que, a
princípio,
apenas adverte,
mas que se
confirma em
seguida... Então
reconhecia a tua
“voz”, isto é, a
tua vibração,
que se me
afigurava tua
voz, que eu tão
bem conhecera;
ouvia o que
dizias,
comovia-me,
chorava de
enternecimento...
Às vezes, até
conversávamos
como outrora,
através de
nossos
pensamentos: era
quando oravas
recordando
nossos debates
filosóficos à
hora do chá com
biscoitos... E,
completamente
harmonizado com
as tuas
vibrações, eu
passava a
enxergar também
a tua imagem
refletida no
longo jato
luminoso que de
ti se
desprendia,
embora nem eu
nem tu nos
arredássemos do
local onde
estivéssemos,
porquanto esse
jato, em sendo
uma irradiação,
não somente
tinha o poder de
transmitir o som
como de
reproduzir a
imagem de quem a
produzia, visto
que é a própria
natureza íntima
do seu produtor
que se
distende... E
assim eu te via,
ouvia,
compreendia teus
pensamentos e
sentimentos,
reciprocamente
recordávamos o
passado e
ressurgiam, por
uma associação
de ideias,
relembradas, a
sala de tua tia,
em Odessa, o
“samovar”
fumegante, o
chá, os tabletes
de açúcar, os
biscoitos,
nossos livros,
nossas
palestras, os
debates em torno
do Evangelho...
- A princípio,
sonhava
frequentemente
contigo... –
lembrei eu.
- Não era sonho:
eram visitas que
mutuamente nos
fazíamos... Às
vezes, elas
partiam de ti
para mim...
comumente era eu
que te buscava,
fiel ao hábito
da juventude...
- Mas por que
depois
escassearam os
tais sonhos...
- Não
escassearam: as
visitas assim
feitas
prosseguiram.
Unicamente, teu
cérebro,
fatigado pelo
acervo de
preocupações e
trabalho
intelectual, já
não registrava
lembranças ao
despertares do
sono... Durante
esses sessentas
e dois anos em
que estivemos
separados pela
morte, nossa
afeição
fortaleceu-se
por uma
assistência
mútua contínua,
graças ato teu
sono, que nos
permitia
convivência mais
assídua... E as
amorosas orações
que fazias
estabeleceram o
elo de atração
para essa
reconfortadora
possibilidade...
A exposição de
Boris
Pietrovitch
edificou-me e
louvei então os
momentos gratos
em que nos
demorávamos em
palestras
culturais sadias
e também aqueles
em que, pensando
nele, logo
depois de sua
morte,
concentrava-me
no trabalho da
prece a seu
favor, com o
coração dorido
de saudade.
Suave reconforto
adoçou as
incertezas do
meu Espírito, ao
obter tais
informações.
Meditei, então,
em que a prece,
observada com
verdadeiro
desprendimento e
amor, poderá não
só alargar o
círculo afetivo
entre os homens
e os Espíritos,
mas também
alimentar o
prosseguimento
dos elos
amorosos entre
estes e aqueles,
sem que a morte
consiga efetuar
entre os mesmos
uma ingrata e
dolorosa
interrupção. E
pensei comigo
mesmo.
- Se os homens
soubessem
verdadeiramente
orar; se
compreendessem o
incomensurável
poder da oração
e do que será
capaz de
realizar a
conjugação do
coração e do
pensamento que
se dispõem a
orar, não teriam
os pobres
mortais razões
para tanto
chorarem os seus
mortos,
desesperando-se
ante os túmulos
silenciosos!