GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
Sonambulismo não
é desdobramento
“Por que você
não usa o termo
‘desdobramento’,
adotado por
André Luiz? Não
acha mais
adequado que o
termo
‘sonambulismo’,
usado por
Kardec? Penso
que Kardec usou
o termo naquela
época por ser a
melhor relação
possível entre a
observação e o
cotidiano, mas
acho o termo
adotado por
André Luiz mais
acorde com a
atualidade.”
Eis, acima,
indagação de
companheiro
espírita, após
ler nosso
estudo:
Sonambulismo
natural em
Reuniões
Mediúnicas.
Ofereci a ele a
seguinte
resposta:
Sonambulismo e
desdobramento
não são
sinônimos. Um e
outro são
faculdades
anímicas. Mas
não são a mesma
coisa.
Tanto é que
André Luiz –
citado na
pergunta –
utilizou as duas
palavras, em sua
obra1,
não como
sinônimas, mas
em situações
distintas.
Analisemos o
assunto.
Independentemente
de serem, ou
não, sonâmbulos,
desdobram-se
letárgicos e
catalépticos,
assim como todos
nós, quando
dormimos; e os
médiuns em
geral, antes da
ocorrência de
qualquer
fenômeno
mediúnico. O
fato de a pessoa
ser sonâmbula
facilitará esse
desdobramento.
E, nessa
condição, suas
percepções são
ampliadas:
“Em geral, suas
ideias são mais
justas do que no
estado normal, e
mais amplos seus
conhecimentos,
porque sua alma
está livre. Numa
palavra, ele
vive
antecipadamente
a vida dos
Espíritos.”2
Hermínio C.
Miranda, num
pequeno grande
livro3,
afirma que “alma
e espírito são e
não são a mesma
coisa. (...) A
alma é a
personalidade e
o espírito, a
individualidade.”
Se bem entendi a
hipótese que ele
nos apresenta e
desenvolve, a
personagem
‘dorme’ quando o
sensitivo está
em
desdobramento. A
partir daí, não
é mais a alma
(Espírito
encarnado) que
se manifesta,
mas a
individualidade
(Espírito),
agora livre dos
condicionamentos
que o corpo lhe
impõe, com
‘apenas’ cinco
sentidos.
Então, o fato de
o médium ser
sonâmbulo é que
enseja a ele
entrar no
transe anímico
– expressão do
autor citado, na
mesma obra –, a
partir do qual
ocorre o
desdobramento
espiritual, ou
seja, o
desdobramento,
nele, é
consequência da
faculdade
sonambúlica.
Esta facilita
a ocorrência
daquele.
“Luciano,
mergulhado num
transe de perfil
nitidamente
anímico, no qual
seu espírito,
dono de todo um
acervo
mnemônico,
falava através
de seu próprio
corpo físico,
como uma espécie
de médium de si
mesmo.”
(Palavras do
escritor, à
página 31,
referindo-se a
Luciano dos
Anjos.)
Já Martins
Peralva4,
registra que:
“Antônio Castro:
é médium
sonâmbulo.”
E, na mesma obra
e Capítulo (XV),
à pág. 86,
afirma: “O
capítulo
‘Desdobramento
em Serviço’,
‘(...) esclarece
essa singular
mediunidade,
realmente
pouco comum
entre nós.”
(...) “Médium
de desdobramento
é aquele cujo
Espírito tem a
propriedade ou
faculdade de
desprender-se do
corpo, (...).”
(Grifos nossos.)
Com todo o
respeito que
dedico aos
escritos do
nobre e
estudioso autor
– ora na Pátria
Espiritual –,
ouso discordar
dele nos dois
casos: de que o
desdobramento é
raro e em
afirmar que há
médium de
desdobramento.
A meu ver, ele
se equivoca
duplamente.
Primeiro, ao
afirmar que o
desdobramento é
pouco comum
entre nós –
situação real,
quem sabe, no
passado. Mas
tudo evolui; e
mudanças
ocorrem. Há que
se preparar para
elas e para
novos
aprendizados.
Percentualmente,
talvez o seja,
mas em números,
num universo de
200 milhões de
brasileiros; ou
de 7 bilhões de
habitantes, na
Terra, existe em
grande número de
pessoas
sonâmbulas!
E, ainda que
continuasse
rara, necessita
e merece ser
estudada,
compreendida,
até para
auxiliar médiuns
que a detém e
que sofrem, em
muitos casos,
enormemente, por
não haver quem
conheça um pouco
dessa faculdade,
e os auxilie e
oriente!
Entendo, isto
sim, que a
faculdade é
pouco conhecida,
porque pouco ou
raramente
estudada, daí a
dificuldade de
muitos
dirigentes de
reuniões
mediúnicas em
identificá-la.
Aliás, a própria
Doutrina
Espírita é pouco
estudada por
grande maioria
daqueles que nos
dizemos
espíritas! E
mais ainda,
especialmente
por muitos que
dirigem ou atuam
em Reuniões
Mediúnicas; ou
até assumem
responsabilidades
ainda maiores no
Movimento
Espírita.
Allan Kardec
dedicou trinta e
uma questões –
as de números
425 a 455 –, com
mais duas
subquestões, ao
tema, em O
Livro dos
Espíritos5;
os itens 172 a
174, em O
Livro dos
Médiuns; e
inúmeros artigos
na Revista
Espírita, ao
longo de vários
anos! São
algumas
citações, para
não nos
alongarmos
demais. Como se
vê, para ele o
assunto não é
menor e,
portanto, merece
ser estudado e
compreendido.
Em segundo
lugar, ao chamar
essa faculdade
(de
desdobramento)
de mediunidade.
O simples fato
de um médium,
detentor da
faculdade
sonambúlica,
achar-se em
transe anímico
– ou seja,
desdobrado – não
indica que haja
Espírito a
manifestar-se
por ele. Não se
encontra, nesse
momento
particular,
incorporado por
qualquer
Entidade. Não
existe, pois,
médium de
desdobramento.
Existem médiuns
que possuem a
faculdade
sonambúlica.
Quando entram no
transe anímico,
desdobram-se e
se manifestam
eles mesmos, sem
a interferência
de outro
Espírito. Não
há, pois, no
fato, o
exercício da
mediunidade; há,
sim, uma
‘vivência’
sonambúlica, se
assim podemos
dizer.
A ausência de
estudo dessa
faculdade,
repito, é erro
extraordinário,
pelos recursos
que apresenta no
socorro a
espíritos
sofredores, seja
porque o médium,
desdobrado,
desloca-se a
regiões
distantes, ou
próximas, onde
existam intensos
sofrimentos,
seja porque
permite – quando
os Mentores
Espirituais
concordam com a
aplicação desse
recurso –
submeter o
espírito rebelde
à regressão de
memória, quando
incorporado ao
médium em transe
sonambúlico – e,
em casos assim,
ele atua na
condição de
médium,
exercitando a
psicofonia
sonambúlica
(Ver o Cap. 8 da
obra de André
Luiz, acima
indicada; e,
ainda, o item
173, de O
Livro dos
Médiuns, de
Allan Kardec).
No item 172
deste último
livro, o
Codificador
registra que:
“O
sonambulismo
pode ser
considerado como
uma variedade da
faculdade
mediúnica,
ou melhor, são
duas ordens de
fenômenos que
frequentemente
se acham
reunidos.”
Nesse mesmo item
172, diz ainda
Allan Kardec:
“Mas, o Espírito
que se comunica
com um médium
comum também
pode fazê-lo com
um sonâmbulo;
aliás, o estado
de emancipação
da alma
provocada pelo
sonambulismo
facilita essa
comunicação.”
(Sublinhamos).
Porque a
faculdade
sonambúlica
favorece a
incorporação,
requer daqueles
que a possuem
vigilância igual
ou ainda maior
do que a de
quaisquer
médiuns;
sobretudo no que
se refere ao
aprimoramento
moral, eis que
ficam mais
sujeitos à
obsessão. É o
que se conclui
com a leitura de
André Luiz –
obra citada1,
Cap. 10:
Sonambulismo
torturado.
Referindo-se à
enferma “(...)
Aulus acentuou:
– É um caso
doloroso como
o de milhares de
criaturas.”
(p. 89) –
Grifamos.
O nobre Espírito
não usou a
palavra
‘alguns’, mas
‘milhares’; ou
seja, há número
considerável de
pessoas passando
pela provação do
“sonambulismo
torturado”. No
caso em estudo,
a mulher deveria
receber o
perseguidor como
filho, mas, ao
engravidar,
provocou o
aborto,
descumprindo
compromissos
espirituais,
advindo daí sua
enfermidade. (p.
91).
Em situações
semelhantes,
certamente
haverá grande
número de
doentes mentais
reiteradamente
internados em
clínicas
especializadas,
espíritas, ou
não.
Sonâmbulos são
médiuns
independentemente
de ‘entrarem’ no
transe anímico
e, nessa
condição,
incorporam,
“(...) como
qualquer médium
comum (...)”,
entidades
sofredoras, ou
não – mas o
fazem também no
decorrer desse
transe, quando
desdobram-se e
ocorre a
psicofonia
sonambúlica.
Passam, assim,
do transe
anímico ao
transe
mediúnico.
Como vimos,
sonambulismo não
é ‘apenas’
desdobramento.
E, portanto, nem
essas faculdades
são iguais, nem
as expressões
que as
identificam são
sinônimas!
Referências:
1. XAVIER,
Francisco C.
Nos Domínios da
Mediunidade.
Pelo Espírito
André Luiz. 9.
ed. - Rio de
Janeiro: FEB,
1979. Cap. 3, 8
e 11.
2 – KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Médiuns.
Tradução Evandro
Noleto Bezerra.
1. Reimpressão.
Rio de Janeiro:
FEB, 2009.
Segunda parte,
Cap. XIV, Item
172.
3 – MIRANDA,
Hermínio C. O
que é Fenômeno
Anímico. São
Bernardo do
Campo: CORREIO
FRATERNO, 2011.
Páginas 19 e 31.
4 – PERALVA,
Martins.
Estudando a
Mediunidade.
7. ed. Rio de
Janeiro: FEB,
1979. Cap. VII,
p. 44.
5 – KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Espíritos.
Trad. Evandro
Noleto Bezerra.
1ª edição
Comemorativa
do
Sesquicentenário.
Rio de Janeiro:
FEB, 2006. Q.
455 e 425.