A fé verdadeira a alma
consola, a falsa crença
a transtorna
A religião não é para
beneficiar a Deus, mas a
nós mesmos e ao nosso
semelhante. “Vigiai e
orai” (Mateus 26: 41).
Assim os nossos louvores
a Deus não O fazem
melhor ou mais feliz,
pois Ele é imutável.
Também os pecados não
são males para Deus.
Aliás, se os pecados
fossem, como se diz, uma
dor de cabeça para Deus,
Ele seria o ser mais
infeliz e mais
desgraçado do Universo!
Para certas pessoas,
tudo é pecado, o que é
uma espécie de
superstição ao
contrário. Para elas, o
carnaval é pecado.
Quando eu era criança,
em Lafaiete (MG), os
padres faziam do
carnaval um pecado
monstruoso. Eles exigiam
dos fiéis adorações ao
Santíssimo Sacramento,
de manhã à noite,
durante o carnaval, em
desagravo a Deus, que
estaria sofrendo muito
nesse período. Ficava no
ar a sensação de que
Deus corria o grande
perigo de cair de seu
trono, se não houvesse
tais adorações a Ele!
Hoje, eu creio que a
grande ojeriza dos
padres contra o carnaval
se devia a um fator
egoístico inconsciente
deles. Como eles não
podiam brincar no
carnaval, eles não
queriam que ninguém
brincasse também, com o
pretexto de que tudo era
pecado, tudo era do
diabo! Por isso, para
muita gente, inclusive
para mim, o carnaval até
virou um trauma! As
pessoas orientadas pelos
padres confundiam
alegria com pecado, e
tristeza com virtude. No
entanto, dom Hélder, um
arcebispo muito à frente
de seu tempo, já dizia
que o carnaval era a
alegria do povo. E o
apóstolo Paulo,
engrandecendo os
coríntios, afirmou que
eles, mesmo quando
entristecidos, estavam
sempre alegres. (2
Coríntios 6:10.) E ele
ensina que devemos
alegrar-nos com os que
se alegram, e chorar com
os que choram. (Romanos
12:15.)
Mas não condeno ninguém,
apenas estranho que,
ainda hoje, existam
pessoas religiosas
fundamentalistas com uma
mentalidade semelhante à
daquela época.
E se erros religiosos
foram criados em minha
geração, que diríamos,
então, dos ocorridos nos
longínquos tempos do
Cristianismo? É por isso
que defendo uma reforma
racional das doutrinas
cristãs semelhante à de
Kardec, o codificador da
doutrina espírita.
Não sou contra nenhuma
igreja cristã. Apenas
demonstro que, para que
o Cristianismo continue
indo em frente, levando
a verdadeira mensagem do
Nazareno para todos os
povos, urge que venha
essa reforma, que,
inclusive, dará um chega
pra lá no ateísmo. Sei
que muitos padres,
pastores e bispos
gostariam de dizer de
público o que digo,
mesmo não concordando
totalmente com as minhas
ideias, mas eles não o
podem fazer como alguns
me falam,
reservadamente, pois têm
que obedecer à sua
hierarquia religiosa.
Uma fé verdadeira,
raciocinada e sem
mistério, é sempre
salutar para nós. Mas,
mesmo com seus erros,
são imensuráveis os
benefícios que toda
religião presta à
humanidade. Porém, é
imprescindível que as
religiões se adaptem às
novas verdades que vão
surgindo, à proporção
que a evolução da
mentalidade cultural dos
povos vai acontecendo,
para que as religiões
não se tornem obsoletas
e como que instrumentos
de males, como traumas,
para os seus fiéis, mas
apenas instrumentos de
consolo. E, com São
Paulo, alegremo-nos com
os que se alegram também
no carnaval!